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Resumo
Este trabalho pretende buscar compreender de que modo as crianças inseridas em seus
contextos percebem e concebem sua idéia de favela. A busca para se alcançar esse objetivo, se dará
através do desenho infantil como um instrumento de interlocução com os sujeitos a fim de que se
aproxime da questão investigativa. Ressalta-se que o objeto encontra-se nas crianças e não na favela
como um espaço urbano. Dessa forma, foco de análise se dará naquilo que as crianças apresentarão
acerca de seus pensamentos sobre a favela. Para tanto, o referencial teórico estará na discussão de Yi-
Fu Tuan sobre Topofilia, espaço, lugar e percepção. A topofilia permite pensar os gostos, cheiros e
sensações sobre um lugar, e como se dão essas sensações sobre a favela? A partir dessa relação entre
experiência e percepção, como a favela é percebida pelas crianças?
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DIAS, Juliana Madalena. O Lugar da Favela: reflexões a partir do olhar da criança.. Mestrado em curso, já
qualificada no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora, e inserida no
grupo de pesquisas História ensinada, Memória e Saberes escolares, ambos sob orientação da professora Drª
Sonia Regina Miranda.
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O Lugar da Favela: reflexões a partir do olhar da criança
Juliana Maddalena Dias2
Introdução:
Referencial:
Procuro nesta pesquisa olhar a realidade com os óculos de onde venho e me formo: A
Geografia. No entanto, não encontro na realidade somente uma no singular e sim, muitas Geografias.
Foi preciso, assim, me reconhecer e identificar com aquela que servirá de caminho para ler
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DIAS, Juliana Madalena. O Lugar da Favela: reflexões a partir do olhar da criança.. Mestrado em curso, já
qualificada no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora, e inserida no
grupo de pesquisas História ensinada, Memória e Saberes escolares, ambos sob orientação da professora Drª
Sonia Regina Miranda.
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geograficamente a realidade pesquisada. Este encontro se deu na Geografia de Percepção com a leitura
de Y-Fu Tuan.
Questão:
Metodologia:
A partir dessa questão outras se levantaram em torno da descrita tensão. Como os alunos
percebem a favela? Será como que esta criança que se forma e constitui sua identidade neste lugar, o
percebe em reportagens que somente o associam à violência? Qual será sua representação sobre aquele
espaço? E uma criança que pode viver cotidianamente na favela e outra que pode nunca ter ido a uma,
como ficam suas noções sobre o mesmo lugar? De onde vêem os fios que compõem sua noção? Dessa
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forma, mesmo que a favela seja uma realidade distante, como a criança a concebe em sua formação?
Quais seriam os filtros identitários que as crianças carregam ao olhar para a favela?
Com essa pesquisa procura-se compreender como as crianças, sujeitos e atores sociais,
percebem e representam uma parcela do espaço urbano: as favelas. Além disso, procuro identificar se
existe alguma diferenciação na concepção e na representação de seu espaço vivido em relação ao
espaço geograficamente distante de sua realidade.
A justificativa para a escolha do olhar da infância se sobrepõe em uma tripla idéia da criança:
Primeiramente porque a criança é um ator social inserida em num contexto urbano com qual mantém
relações, portanto, como percebem esse cenário de profundas transformações sociais? O segundo
motivo encontra-se com a faixa etária da criança, ou seja, ela está em fase de formação pessoal e
escolar, dessa forma, quais são as representações de favela que têm em sua formação? Quais são hoje
as práticas de memória que fundamentam essas representações? E o terceiro, pouco mais futurista,
alcança o crescimento da criança, logo, qual o fio formador de identidade ela, provavelmente,
carregará em sua vida? E como abordar tal assunto com crianças?
O primeiro impasse é adequar o tema – favela com os sujeitos pesquisa – crianças, portanto, essa
adequação será feita através da linguagem. Ou seja, a linguagem deverá ser um instrumento facilitador
e de aproximação entre os indivíduos, para que dessa forma, o objetivo pleiteado possa ser alcançado.
Neste sentido, quantas vezes ficamos horas diante de um papel esperando pelo encontro das palavras?
Quantas vezes o silêncio cala o turbilhão de palavras ao redor? Quantas vezes ouvimos que “uma
imagem vale mais do que mil palavras”? Quantas vezes... Mas, em que estas questões se aproximam
de minha pesquisa?
Acredito e busco a menor artificialidade possível em uma pesquisa, ainda que não seja na
quantidade desejada e mesmo que seja numa porção ínfima do tempo. Quando me refiro à
artificialidade, imagino a rigidez e a não espontaneidade pertinentes à pesquisa. Mas, quando me refiro
a uma menor artificialidade, estou admitindo sua participação na pesquisa, no entanto, também vejo
espaço para alguma metodologia que fuja dos enquadramentos formais e busque o sorriso, a conversa
e, desse modo, o encontro com o outro. Poderiam questionar-me dizendo que a formalidade também
ofereceria tal encontro, mas, provavelmente sem a leveza do sorrir e, quando destaco o sorrir, estou
enfatizando que desejo o sujeito seja investigado por sua contribuição oral e, também, pela corporal.
Ou seja, se o momento investigativo gera a tensão da artificialidade, então essa tensão refletida no
corpo também é passível de ser analisada. Dessa forma, a temática a ser tratada aqui é o possível
instrumento de pesquisa e, portanto, uma prévia metodológica daquilo que pretendo buscar em campo.
Para isso destaco a escolha do instrumento, portanto, a alternativa metodológica escolhida que
aproximará o pesquisador do sujeito e servirá como instrumento de interlocução, será o desenho
infantil.
De acordo com Vygotsky3, “O desenho é uma linguagem gráfica e que surge tendo base a
linguagem verbal” (1994, p.149), a partir desse ponto a idéia metodológica seria perceber através das
representações dos desenhos como as crianças concebem a idéia de favela. Após a elaboração dos
desenhos, as crianças terão a oportunidade de falar sobre o que representaram graficamente.
Para isso, os sujeitos escolhidos foram alunos, tanto de escola pública e como de particular,
de 11-12 anos, idade equivalente à 6ª série, uma etapa cujo conteúdo programático de Geografia é
congruente ao tema. Quando destaca-se o anseio por investigar essa temática antes de ter sido estudada
na escola, destaca-se e valoriza-se a experiência que a criança tece e acumula em seus espaços e nas
relações que estabelece, assim, serão elas o foco de observação, e não uma discussão conceitual e
geográfica sobre a favela. Trabalhar com a faixa etária antes do estudo formal sobre o tema é
possibilitar extrair as percepções dos alunos sobre sua realidade urbana sem (reduzidos) os meios
balizadores dos saberes escolares que não se apresentam nesse foco de análise.
Além disso, a escolha consiste em refletir sobre crianças. A escola, neste viés, será como
um meio de aproximação do aluno-sujeito, e não como foco de análise. O objetivo da divisão é
simples: contraste econômico que influencia o local e tipo de moradia, que interfere na escolha escolar
da criança e que permite diferentes trânsitos e acessos aos espaços da cidade, e, portanto, em tese, em
sua experiência com o lugar. Uma vez que a Geografia subjetivista, segundo Andrade4 (1992) “será
realizada de forma diferente entre indivíduos, sobretudo quando oriundos de classes diferentes - os
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valores sociais variam de uma classe para outra – de origens diferentes – se oriundos do campo ou da
cidade ou de nações diferentes” (p.113).
Conclusões:
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