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Março 2009-03-15
Tudo o que ocorre na nossa mente mais não é do que percepções. No entanto
compreendemos que existe uma diferença entre sentir e pensar. Segundo Hume,
esta diferença é explicada porque existem duas classes de percepções: as
impressões e as ideias. Estas duas percepções distintas (sentir e pensar)
constituem todo o conteúdo da nossa mente.
As ideias são conteúdos mentais subjectivos que podem ser simples (memória)
ou complexos (imaginação), sendo por isso menos vividas ou intensas. As ideias
complexas consistem na imaginação uma vez que, o nosso pensamento recorre à
imaginação para combinar ideias simples, formando as ideias complexas. Assim, o
pensar é uma questão de ideias uma vez que, quando pensamos ou imaginamos
algo estamos a lidar com ideias e não directamente com impressões. -» São como
que marcas deixadas pela impressão, uma vez estas desaparecidas (as impressões)
Impressões: Caracterizam-
se pela sua intensidade e Ideias: São cópias das
impressões; menos vívidas
Sensações Simples
Sentimentos Complexas
externas: (memória):
internos: (imaginação
auditivas, ideia de
emoções e ): ideia de
visuais, cavalo, de
2. desejos cavalo
tácteis, coisa com
alado, etc..
olfactivas e 2. Justifica a importância das asas, etc..
impressões na teoria do
gustativas conhecimento de Hume
Qualquer ideia tem origem numa impressão e deve poder relacionar-se com a
impressão correspondente, ou seja, todas as ideias são cópias das impressões não
havendo, por isso, ideias que não sejam precedidas por impressões. A origem e o
fundamento das nossas ideias e crenças só podem encontrar-se nas nossas
impressões. É por isso que um cego de nascença não tem ideia do que seja a cor
azul ou outra cor qualquer. Assim, não existem ideias que não tenham sido
formadas através da experiência.
Quem não sente não pode conceber a ideia que lhe corresponde
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P.s. Ao analisarmos uma crença temos que ter em conta a nossa razão pode
associar ideias provenientes de diferentes impressões e conceber uma ideia
composta ou complexa de algo inexistente. Mas, todos os constituintes dessa ideia
começaram por ser impressões. Por esta razão, Hume patenteia a preocupação de
analisar as nossas ideias complexas para: determinar as ideias simples que as
constituem; verificar se essas ideias simples têm ou não uma impressão que lhes
corresponda; concluir se são ideias falsas de coisas que não existem na realidade,
por não se fundamentarem numa impressão correspondente. Exemplo: A ideia
complexa de uma cavalo alado (impressão de cavalo+ser com asas). Esta ideia é
resultado do trabalho de combinação da mente e é falsa por não existir qualquer
impressão que corresponda ao dito animal.
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Uma conjunção constante acontece quando verificamos que sempre que ocorre
uma causa, ocorre o efeito. No entanto, isto não implica que tal se verifique no
futuro. Isto só aconteceria se existisse uma conexão necessária, ou seja, se a causa
produzisse inevitavelmente o efeito. Assim, a nossa crença de que há conexões
necessárias remonta da observação de conjunções constantes, ou seja, ao
observarmos repetidamente uma conjunção constante entre certos eventos ou
objectos gera-se em nós a expectativa, hábito mental, de que o mesmo irá ocorrer
inevitavelmente no futuro (conexão necessária). -» Acreditamos que o futuro é igual
ao passado
A nossa crença de conexão necessária gera um hábito mental que leva a nossa
mente a projectar no mundo a conexão necessária entre causa e efeito, ou seja,
esta conexão não existe na realidade mas sim apenas na nossa mente. Portanto, a
causalidade, que supostamente nos permite compreender muito do que acontece
no mundo, não passa de uma mera ilusão, ou seja, a causalidade é uma ficção
criada pela razão. Sendo assim, uma vez que o empirismo defende que as causas e
os efeitos não podem ser conhecidos pela razão, só pela experiência, esta nossa
conexão necessária não é um conhecimento pois vai para além da experiência (não
podemos fazer a impressão de algo que ainda não aconteceu).
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Hume não é um céptico mas sim um céptico moderado. O cepticismo afirma que
devemos abandonar as nossas crenças intuitivas na existência do mundo exterior
ou na existência de relações causais reais. No entanto, este filósofo afirma que se
abandonasse-mos tais crenças tal tornaria a nossa vida impossível, pondo em causa
o nosso instinto de sobrevivência. Devemos então confiar que a nossa percepção
não nos engana por questões práticas pois, existe algo mais forte do que qualquer
especulação filosófica a indicar-nos que não devemos abandonar essas crenças. No
entanto, a nossa capacidade de conhecimento tem limites, pelo que devemos
moderar sempre as nossas opiniões e ponderar cuidadosamente as nossas
decisões.
Segundo Hume, na nossa mente apenas temos percepções, sendo elas a origem do
nosso conhecimento do mundo. No entanto a percepção de um objecto e o próprio
objecto não são a mesma coisa. Por exemplo: as nossas percepções de uma árvore
são diferentes consoante nos aproximamos ou nos afastamos dela (ao longe
parece-nos mais pequena do que ao perto), no entanto não nos acreditamos que a
própria árvore mude de tamanho à medida que nos afastamos ou nos aproximamos
dela.
Hume conclui que a crença na realidade de conexões causais não tem justificação
racional, dado que apenas observamos conjunções constantes. Contudo há ainda
algo que carece de explicação, as próprias conjunções constantes que observamos
na natureza. Tal só pode ser explicado pela resposta mais plausível de todas, que é:
as conjunções constantes ocorrem precisamente porque há conexões causais reais
na natureza. Contudo, Hume, afirma que se não tivermos uma prova irrefutável da
existência de tais conexões causais, não devemos aceitar que tal crença está
racionalmente justificada.
Critica: Não se deve pensar que uma crença só está racionalmente justificada se
tivermos a seu favor uma prova irrefutável, uma vez que é perfeitamente racional
aceitar entre várias explicações disponíveis, a que parece mais plausível –
Argumento a favor da melhor explicação ou Abdução -. No entanto, não se podem
excluir logicamente todas as outras explicações alternativas. Assim, uma vez que
não é irracional aceitar a explicação mais plausível, a nossa crença na realidade das
conexões causais e do mundo exterior está racionalmente justificada, apesar de não
haver uma demonstração lógica irrefutável a seu favor.
Descartes refere que a ideia de Deus consiste numa crença fundacional, isto é,
constitui uma intuição racional que se impõe ao nosso pensamento de uma forma
absolutamente clara e evidente, pelo que se torna impossível duvidarmos
racionalmente dela. Este principio é, então, usado por este racionalista como uma
verdade inabalável e que constitui a base de todo o nosso conhecimento e garante
a verdade de todas as outras ideias que concebemos clara e distintamente. É,
portanto, um alicerce fundamental do conhecimento.
Contudo, sob o ponto de vista de Hume, a ideia da existência de Deus constitui uma
ideia complexa, isto é, que resulta da combinação de várias ideias simples, que têm
origem na experiência (são cópias de certas impressões), como a bondade, a
inteligência e sabedoria. Este, segundo o critério de verdade empírico, não pode ser
tomado como uma crença indubitável e verdadeira, uma vez que não pode ser
justificada com base na nossa percepção, visto que não há nenhuma impressão
sensível que lhe corresponda directamente e que fundamente e autentique a sua
veracidade. A ideia da existência de Deus corresponde, portanto, a uma ideia
abstracta que não apresenta quaisquer boas razões que nos levem a confiar na sua
credibilidade. Assim, podemos concluir que, enquanto que segundo Descartes esta
é uma crença indubitável/fundacional e um alicerce de todo o nosso conhecimento,
para Hume esta pode não passar de uma mera ilusão criada pela nossa imaginação,
não sendo merecedora da nossa confiança.
Hume -» Considera que a justificação por si encontrada nem sempre é infalível, pelo
que admite que todo o conhecimento que ultrapasse o que os sentidos nos
permitem legitimamente justificar (confiança limitada na nossa capacidade de
conhecimento). Refere que apenas o conhecimento a posteriori é substancial
(reconhece o a priori -» limita a relação de ideias), concluindo que as crenças
básicas são de natureza empírica. Valoriza a experiência e o raciocínio indutivo.
Admite que alguns argumentos cépticos são insuperáveis.
• Senso Comum
O senso comum, tal como foi referido, carece de explicação e boas razões que o
fundamentem, dado que cada individuo vai admitindo como verdades as ideias de
uma maioria – este é transmitido de geração em geração -. Este facto conduz,
portanto, ao conformismo, desfavorecendo a autonomia e espírito critico, e revela a
autoridade da tradição sobre uma comunidade. Na realidade, uma crença deste tipo
dificilmente consegue resistir a um exame critico mais minucioso que lhe seja
aplicado, o que demonstra a sua falibilidade, resultante de um carácter
essencialmente acrítico. Assim, concluímos que neste tipo de saber, predomina e é
favorecida a descrição de algo em detrimento da sua explicação e uma grande falta
ou sistematização e organização, já que se limita a “coleccionar” factos bastante
dispersos que, por vezes, são até contraditórios entre si.
• Conhecimento Cientifico