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O MÉTODO STS (Strength Training Strategies) DE

MUSCULAÇÃO TERAPÊUTICA APLICADO AO FUTEBOL

LUCAS, R.W.C, 2007.

INTRODUÇÃO

A aplicação da musculação no futebol possui pouca descrição na literatura,


onde já se verificou a sua importância, principalmente porque o treinamento de
reforço muscular e manutenção da força são os objetivos desse tipo de
trabalho, que quando aplicados com carga personalizada e respeito à
individualidade biológica, e da posição que o jogador ocupa em campo, são
suficientes para evitar lesões e promover uma rápida recuperação, que o
calendário exige. Faremos aqui referência, e uma introdução a uma
metodologia de musculação que deve ser mais aproveitada pelo treinamento
físico do futebolista, tendo em vista a sua facilidade de aplicação e baixo custo,
revertendo assim positividade até para as equipes menores e que não
possuem tanto poder financeiro para equiparem academias de musculação.

O MÉTODO STS (Strength Training Strategies)

A partir da década de 90, houve um aumento significativo de produções


científicas que comprovassem os benefícios dos exercícios resistidos
(glicolíticos) sobre as populações especiais, onde se enquadram os Idosos,
Diabéticos, Hipertensos e Obesos. Já que a referência de exercício para esta
população seria a aplicação de exercícios aeróbios (oxidativos), poucas eram
as metodologias que direcionavam seus focos para o exercício resistido, ou
musculação propriamente dita.
Aproveitando estes referenciais científicos, foi moldado o Método STS
(Strength Training Strategies) de Musculação Terapêutica. Onde o STS é a
abreviação da aplicação de “estratégias para a aplicação de treinamentos e
tratamentos de força”, já que o termo “Strength Training” era, e ainda o é,
encontrado em grande número de artigos científicos relativos ao exercício
resistido. O que este Método possui como fundamento e estratégia, é a
aplicação de 05 (cinco) pilares neuro-fisiológicos, que foram discutidos
exaustivamente, ao longo de 10 anos (de 1989 a 1999) pela equipe de
profissionais do Centro Brasileiro de Fisioterapia (CEBRAF), para que atingisse
o formato atual. Os fundamentos são:

1. Execução de movimentos funcionais;


2. Controle contínuo da freqüência cardíaca;
3. Comando verbal;
4. Estímulo pelo toque; e
5. Estímulo óculo-motor.

A Metodologia STS pode ser aplicada de forma completa, ou em partes.


Como exemplo de execução completa, é a atuação do profissional de
educação física em aplicação de sessão de Personal Training, ou de um
fisioterapeuta na aplicação da cinesioterapia contra-resistida de uma sessão de
fisioterapia. O mesmo profissional da fisioterapia pode aplicar padrões de
movimento com os fundamentos do STS, sem caracterizar uma sessão com
todos os fundamentos. Da mesma forma, em uma sessão de aula de grupo, em
academia, o profissional de educação física pode aplicar muitos fundamentos
do STS, como em uma sessão circuito.

O que caracteriza principalmente o método é que o mesmo se vale da


monitorização contínua da freqüência cardíaca enquanto o paciente realiza os
padrões funcionais de exercício, não permitindo que a mesma fique abaixo ou
acima da faixa de treinamento.

A ênfase do Método STS de Musculação Terapêutica consiste em permitir


que indivíduos sedentários, ou clinicamente sedentários, obtenham um perfil de
trofismo muscular de aspecto funcional. Isto quer dizer, que na realidade se os
mesmos se encontram com uma capacidade de trofismo e força abaixo do
normal, o método procura somente normalizá-los.

O que surpreende nesta metodologia, é que a mesma não só esta sendo


aplicada às populações para as quais inicialmente foi moldada. O que
observamos, é que até no treinamento desportivo existem benefícios de
aumento de performance, produzidos pelo método. E no futebol, em função de
ser um esporte de padrões de movimentos mistos, isto é, utilização de
movimentos funcionais (da corrida), com movimentos não funcionais, tais como
o chute e o cabeceio, existe a potencialização do rendimento pela fisiologia que
acompanha os pilares do Método.

Assim podemos dizer que o Método S.T.S. potencializa o gasto


energético com segurança, com exercícios aeróbios e anaeróbios
concomitantes. E por realizar somente movimentos funcionais, estimula o
sistema neuro-motor a manter por um tempo maior o resultado tensional e
metabólico, do exercício contra-resistido.

PADRÕES DE MOVIMENTO

São chamados de padrões de movimentos os exercícios do Método


S.T.S. Estes padrões não são fixos, isto é, os exercícios não são iguais, eles
podem aumentar ou diminuir o seu grau de dificuldade.

Com um grau de dificuldade mais baixo diminui-se a carga física de


trabalho imposto, e um grau de dificuldade mais alto aumenta-se a carga física
de trabalho imposto. O maior ou menor grau de dificuldade é verificado pelo
aumento ou diminuição da freqüência cardíaca monitorada. Existem padrões
de massa e padrões alternados.

Nos padrões de massa os membros movimentam-se juntos. São


considerados padrões "primitivos” de movimento, de acordo com o processo
neuro-evolutivo.
Os padrões são executados de forma seqüencial e progressiva, onde a
freqüência cardíaca máxima atingida pelo padrão subseqüente seja, se
corretamente utilizado, maior que o anterior. Isto só não vai ocorrer quando
mudarmos a postura. Como exemplo, passamos da postura bípede ortostática
para a postura sentada ou deitada. Mas uma vez na mesma postura esta regra
deve ser seguida. As exceções são tão somente colocadas estrategicamente a
se permitir uma recuperação cardíaca dentro da sessão de exercícios sem
deixar de se executar um trabalho muscular localizado.

Todo o processo de execução do método é registrado em um gráfico por


dia de sessão (software), neste gráfico procura-se ressaltar, em caracteres de
cor vermelha os erros, ou situações fora do normal obtidos na sessão, com o
objetivo de corrigi-lo na sessão subseqüente.

As sessões são realizadas de forma diária intercalada, sendo o ciclo


composto de sessões de padrões diferentes, ou seja, um dia de membros
superiores por um dia de membros inferiores/abdominais. Sendo que o método
completo compõe 16 (dezesseis) padrões. Para o ciclo de trabalho no futebol, a
periodização vai depender do calendário, e o que se propõe é a substituição de
um dia de musculação tradicional, por um dia de musculação terapêutica.

Para o futebolista, não compomos o quadro de treinamento com padrões


de membros superiores (exceto para goleiros) , assim, em referência aos 04
(quatro) primeiros padrões de membros inferiores/abdominais: são realizados
em postura deitada, sendo os dois primeiros em decúbito dorsal, e os dois
subseqüentes em decúbito ventral.

As variações nas posturas iniciais devem ser o mais próximo possível das
posturas neuromotoras. Isto quer dizer que os mecanismos de facilitações
neurológicas que acontecem com os movimentos funcionais devem ser
reproduzidos, o máximo possível, nos padrões do Método STS. Como exemplo
citamos o padrão de tríplice flexão por tríplice extensão que acontece durante a
marcha. Assim, se necessitarmos executar um padrão onde acontece a flexão
do quadril, é interessante também executar a flexão do joelho e do tornozelo.
Pois neste exemplo teremos perfis de irradiação neurológica nos segmentos
distais, semelhantes ao ato de caminhar e correr.

Mostramos padrões de grau médio de dificuldade:

Fig 01. Quadríceps I. Q1. Padrão de massa, com


caneleiras, cotovelos fletidos, antebraços apoiados no solo,
flexão de quadris e joelhos, dorsi-flexão do pé, calcanhar
sem apoiar no solo; movimentação extensora de joelho.
Modelo de Posição Inicial.

Fig 02. Quadríceps I. Q1. Posição Final.


Fig 03. Quadríceps II. Q2. Padrão alternado, com
caneleiras, cotovelos fletidos, antebraços apoiados no solo,
flexão de quadris e joelhos, dorsi-flexão do pé, calcanhar
sem apoiar no solo; movimentação extensora de joelho.
Posição inicial a mesma de Q1.

Fig 04. Isquiotibial I. IT1. Padrão de massa, quadris em


abdução à 450 , joelhos sem apoiar no solo e estendido
dorsi-flexão do pé; movimentação flexora de joelho até 450 .
Fig 05. Isquiotibial I. IT1. Padrão de massa, quadris em
abdução à 450 , joelhos sem apoiar no solo e estendido dorsi-
flexão do pé; movimentação flexora de joelho até 450 .

Fig 06. Isquiotibial II. IT2. Padrão alternado, quadris em


abdução à 450 , joelhos sem apoiar no solo e estendido dorsi-
flexão do pé; movimentação flexora de joelho até 450.
Posição Inicial a mesma de IT1.
Fig 07. G/S - Gastrocnêmio/sóleo - Realizado em postura
bípede ortostática ou sentado. Um grau médio de dificuldade
é realizado com halteres livres em MMSS, postura bípede
ortostática, pés afastados na largura dos ombros, joelhos
semi-fletidos; movimentação de gastrocnêmio e sóleo com
elevação e abaixamento do corpo, sem apoiar o calcanhar
no solo.

Os três últimos padrões, que constituem em padrões de abdominais, não


concorrem à seqüência da linha gráfica, pois existem diversos graus de
dificuldades. Porém devem possuir sempre:

ABD1 - Abdominal I - Padrão isométrico.

ABD2 - Abdominal II - Padrão com componente rotatório.

ABD3 - Abdominal III - Padrão sem componente rotatório.


Fig 08. Abdominal I. ABD 1 Fig 09. Abdominal II. ABD 2 Fig 10. Abdominal III. ABD 3

PRESCRIÇÃO DE CARGA

Para ser submetido ao Método S.T.S., o atleta precisa possuir o valor da


sua freqüência cardíaca máxima, obtida através de teste ergoespirométrico (de
preferência). Uma vez sabendo-se qual a freqüência, calcula-se a freqüência
mínima, para se caracterizar o início dos exercícios em uma faixa leve de
trabalho. Por exemplo, se a freqüência cardíaca máxima de um determinado
atleta for 190 bpm, e necessitarmos treiná-lo em uma faixa cardíaca do treino
de 60% a 85% da sua freqüência cardíaca máxima, teremos um limite inferior
de 114 bpm e superior de 152 bpm, e logicamente um trabalho moderado de
133 bpm em média de freqüência cardíaca. Isso utilizando esta fórmula de
predição, mas costumamos utilizar o protocolo suposto de Karvonen, que leva
em consideração a frequência cardíaca de reserva:

Limite Inferior = (FCM - FCRep) x (60%) + FCRep

Limite Superior = (FCM - FCRep) x (85%) + FCRep

É importante não permitir que o atleta deixe a sua freqüência cardíaca ficar
abaixo do limite inferior da freqüência de treino no intervalo de repouso entre as
series de exercício, caso este esteja prestes a acontecer deve-se iniciar nova
série.

A carga externa é traduzida pela utilização de halteres livres e


caneleiras. A carga máxima a ser utilizada é de 05 (cinco) Kilogramas, tanto
para halteres como para caneleiras.
SÉRIES, REPETIÇÕES E INTERVALOS

Seguindo o que prescreve "O Guia Completo de Treinamento de Força" de


ANITA BEAN (1999) o número de séries do método é em número mínimo de
03 (três) e o máximo de 05 (cinco). O número de repetições é de no mínimo 08
(oito) e no máximo 12 (doze). Ainda existe o perfil de padrões em circuito onde
o número de séries é de no máximo 02 (duas) e o número de repetições é de
24 (vinte e quatro) ou 36 (trinta e seis).

Os intervalos entre as séries devem ser baseados no cálculo da Faixa


de Treinamento, isto é, não devemos deixar a freqüência cardíaca no intervalo
ficar em patamares menores que o limite inferior. Para isto normalmente o
intervalo não deve ser menor que 30 (trinta) segundos e não deve ser maior
que um minuto e trinta segundos. Por isso todo o trabalho é realizado com
monitoração cardíaca constante.

CONCLUSÃO

A aplicação do Método STS de Musculação Terapêutica, constitui-se em


uma alternativa segura e eficiente, para os atletas de futebol, tanto das
categorias de base como profissionais, para treinamento, manutenção ou
recuperação física, por apresentar perfis neurofisiológicos de aplicação, e
conseqüentemente possibilitar um mínimo de trabalho, com o máximo de
aproveitamento, isto é, baixo destreino. Acreditamos que a utilização por um
número maior de clubes ou atletas, desta metodologia, permitira um incremento
científico ao futebol brasileiro.
REFERÊNCIAS

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<http://www.esafex.com/musculacao_terapeutica/metodo.htm>. 30 março 2007.

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