Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
victorhugo.martinez@rai.usc.es
Resumo:
JEL- K11,Q01,Q28,Q56.
1
Articulo Presentado en el VIII Encuentro de la Sociedad Brasileña de Economía Ecológica
(ECOECO), Agosto 2009, Cuiabá, Mato Grosso.
2
Bolsista MAE-AECID, pesquisador na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutorando em
Economia Aplicada na Universidade de Santiago de Compostela (USC).
3
Professor do Departamento de Economia Aplicada da Universidade Federal de Bahía (UFBA)
Introdução:
Com este propósito o presente trabalho se divide em três partes e uma conclusão. Na
primeira parte, apresenta-se de forma sucinta as causas sugeridas por Hardin no
processo de degradação dos recursos naturais, avaliando-se a pertinência da metáfora
da Tragédia dos Comuns. Na segunda, apresentamos as idéias forças que estruturam o
argumento The Tragedy of Commons (1968), chamando a atenção sobre a relevância
dos regimes de propriedade em relação a administração de recursos naturais. Na
terceira parte apresenta-se as críticas ao frame de Hardin, focando a referida crítica
sobre os pontos mais fracos do argumento do autor norte-americano, em particular
sobre os direitos de propriedade, para passar em seguida as conclusões.
1. O Cenário de Hardin.
The Tragedy of the Commons (1968) constitui uma exame crítico da relação
do ser humano com a natureza. Hardin assume a existência de uns padrões
demográficos que elevam a pressão sobre os recursos naturais, sendo essa enorme
pressão exercida por uma população crescente, da que se derivam atividades de
produção e consumo perversas que corrompem a ordem natural. Deste jeito, se
produzem fortes desequilíbrios na relação entre homens e natureza , já que as
atividades necessárias para o suporte da população provocam um deterioração
progressiva dos recursos naturais, a partir do nível de exploração que ultrapassa a
capacidade de carga do meio ambiente. O panorama exposto por Hardin é
desalentador e suas conclusões apocalíticas. O Autor norte-americano é alinhado com
2
o pensamento neo-malthusiano que, de um lado, advoga um controle demográfico
para evitar a catástrofe malthusiana, e do outro lado, propõe ações de controle sobre
os recursos naturais para evitar a degradação dos recursos, sendo o segundo vetor o
que foca a atenção de este artigo.
A idéia central exposta em The Tragedy of the Commons (1968) é que quando um
recurso natural renovável é utilizado por um coletivo, sem restrições na entrada, sem
restrições no uso, e sem custos para os usuários, então dito recurso será sobre-
explorado, levando a dita Tragédia dos Comuns. Esta colocação de Hardin se apoiá
em dois pontos: i) o crescimento da população mundial aumenta a pressão sobre os
aludidos recursos ii) o regime de propriedade comum, favorece a sobreexploração dos
recursos naturais. De forma que, nesta situação, os agentes envoltos na exploração
dos recursos comuns procuram maximizar a sua utilidade individual
independentemente, de tal jeito que a soma de todas as utilidades maximizadas
individualmente resultam em uma pressão excessiva sobre o recurso natural, levando
a degradação ou desaparição do mesmo ,i.e., A Tragédia dos Comuns4.
4
The Tragedy of Commons (1968), foi escrita como uma critica ao pensamento clássico,
particularmente ao pensamento de Adam Smith e a sua concepção da Mão Invisível. Hardin negava a
possibilidade de mercados auto-regulados onde a procura do beneficio individual derivasse em um
beneficio coletivo. A maximização das utilidades individuais na exploração dos recursos naturais é a
pedra angular da crítica de Hardin ao pensamento de Smith, já que é essa procura de bem-estar
individual a que dirige a sociedade a uma tragédia coletiva.
3
medidas para frear a degradação progressiva dos recursos naturais, sugerindo que se
use a propriedade privada e/ou estatal e, é dela que passamos a tratar.
4
estes regimes coincidem com a propriedade privada e com o Estado. Em outras
palavras, para Hardin o ponto chave no caso dos regimes de propriedade, é a
definição dos direitos e obrigações dos participantes, deste modo se obtém uma
regulação que poderia ser providenciada por sistemas de propriedade estatais ou
privados, os quais forneceriam de moderação e ordem a exploração dos recursos
naturais, frente a anarquia do regime de propriedade comum aceitado (erradamente)
por Hardin.
Neste ponto e avançando para a segunda parte do seu argumento, Hardin entende que
é necessária a intervenção institucional para restringir o uso dos recursos naturais,
instaurando o conceito de Coerção Mútua, único tipo de coerção que Hardin
5
Em The Tragedy of Commons: Twenty-Two Years Later, os autores Feeny, Berkes, McCay e
Acheson documentam diferentes experiencias (bem e mal sucedidas) sobre recursos naturais geridos
sob diferentes formas de propriedade.
5
recomenda (Hardin, 1968: 1247). Assim o autor norte-americano se apóia na idéia da
coerção mutuamente acordada, assumindo que a liberdade de gestão dos recursos
naturais é inadmissível, e portanto é necessário admitir certo controle institucional
para preservar os recursos naturais e fazer um uso mais eficiente dos mesmos. No
cenário de Hardin os mecanismos de ação institucional são as medidas coercitivas, as
quais procuram uma moderação no uso e exploração dos recursos e permitem evitar,
no possível, a proibição, induzindo a moderação e influindo na atitude dos agentes
econômicos de tal jeito que se modificam comportamentos ambientais daninhos, i.e.,
explorações insustentáveis.
Resumindo: Hardin ao focar a atenção nos direitos de propriedade, assim como nas
suas implicações ambientais e sócio-econômicas, desvela sua importância e em
decorrência seu papel central na gestão, exploração e conservação dos recursos
naturais
3. A QUESTÃO DA PROPRIEDADE.
6
ii) rivalidade (Feeny et al, [1990] 1995: 54),de tal jeito que dependendo do regime de
propriedade em tela, estas caraterísticas serão mais ou menos agudas, já que tal como
evidenciou Ronald Coase em The Lighthouse of Economics (1974) não existe um
bem que seja em sua essência público. Numa outra direção avançou-se no
estabelecimento das evidências pelas quais a própria natureza dos regimes de
propriedade determinam as obrigações e direitos dos agentes econômicos implicados
no uso de recursos ambientais, os quais a depender do modo que são definidos
estabelecem mecanismos que levam ou não a exploração sustentável. Ou seja, os
direitos de propriedade bem definidos estabelecem em que condições e por quem (e
por quem não) podem ser utilizados os recursos e em que intensidade.
i) Livre acesso
O regime de livre acesso é aquele no que não existem direitos de propriedade. Este
regime de (não)propriedade provoca o livre acesso ao recurso, e portanto,
impossibilita a existência de uma regulação na exploração dos recursos naturais. É
assim que entendemos a cita […]...everybody's property is nobody's property."
(Bromley & Cernea, 1989: 19). É exatamente nestas circunstâncias de acesso, uso e
exploração não regulados, onde as “trágicas” hipóteses de Hardin tomam mais força e
não sob as condições de propriedade comum aceitas pelo autor norte-americano , ou
dito com outras palavras, o grande erro de Hardin é identificar uma situação
desregulada de livre acesso, com um regime de propriedade comum, o qual, sim,
responde a uma regulação concreta que define o acesso uso e exploração dos recursos
naturais comunais.
7
ii) Propriedade Comum
Os direitos sobre os recursos naturais pertencem a um coletivo que regula o uso dos
mesmos, e que excluí a outras pessoas de fora da comunidade. Nesse sentido a
propriedade comum reserva o direito de explotação do recurso para uns poucos e
admite o direito de poder excluir a outros do uso dos recursos. No interior da própria
comunidade os direitos sobre os recursos não são nem exclusivos nem transferíveis,
são frequentemente direitos de acesso e uso iguais para os membros da comunidade
(Feent et al, [1990] 1995: 55). Sob estas caraterísticas a propriedade comum é em
essência, a propriedade privada de um grupo, e nesse sentido são as decisões do
grupo as que determinam quem deve ser excluso (Bromley & Cernea, 1989: 15).
Portanto o regime da propriedade comum, em base a sua definição, esta caraterizado
pela capacidade de exclusão de um grupo sobre outros, e ademais este garante a
exploração exclusiva do recurso por parte de um grupo reduzido. Nesse sentido a
afirmação de Bromley e Cernea de que a propriedade comum é uma variação do
regime de propriedade privada, onde os decisores na gestão e exploração do recurso
são os membros do grupo, toma sentido.
Está idéia de propriedade privada, sendo um pouco radical deve ser matizada, já que
os regimes de propriedade respondem ante uma amalgama de normas, leis, tradições
que dependendo dos contextos sócio-econômicos e institucionais definem as
obrigações e responsabilidades dos agentes participantes, matizando a capacidade de
exclusão e de exclusividade aceita pela definição anterior .
8
iv) Propriedade Estatal
Os recursos naturais também podem não só ser regulados pelo Estado através dos
direitos de propriedade, mas o próprio direito de propriedade pode passar a ser
exercido pelo Estado. De tal jeito que o Governo não só estabelece quem e de que
modo deve explorar os recursos naturais, definindo os direitos de exploração e de
exclusão relativos o recurso, mas o próprio governo se converte no agente que o
exerce.
O autor concretiza o seu frame sob um suposto regime de propriedade comum, e sob
este cenário assevera que a exploração abusiva dos recursos naturais renováveis
dirigiram a sociedade a uma tragédia ambiental e econômica. Repassando os
9
diferentes tipos de regime de propriedade expostos acima, as caraterísticas que coloca
Hardin coincidem com as do regime de livre acesso e não com as de propriedade
comum.
10
nega a natureza organizativa de um grupo de propriedade comum, limitando a sua
capacidade para administrar o uso dos recursos.
4. CONCLUSÕES:
Com The tragedy of Commons (1968) Hardin faz uma primeira chamada de atenção
ao tópico ecologista, de tal jeito que as suas aportações derivaram em duas direções:
Em primeiro lugar, Hardin atraí o interesse sobre o regimes de propriedade e a sua
11
importância no modo em que são geridos os recursos naturais. Como já foi explicado
acima, a caraterização da visão de Hardin em relação os regimes de propriedade,
estava fundamentada em supostos inadequados, o que supõe um profundo erro de
base e depreciam as conclusões do autor, mas serve como um marco válido para o
começo da discussão sobre que regime de propriedade deve ser adotado para gerar,
do modo mais eficiente possível, a exploração dos recursos naturais. Portanto a
marginalização do regime de propriedade comum proposta por Hardin era
inadequada. Além dos reconhecidos erros de Hardin , a contribuição essencial no
caso dos regimes de propriedade, é a necessidade de estabelecer de um modo claro os
direitos e obrigações dos participantes nas exploração dos recursos, para obter uma
regulação que forneça moderação e ordem a exploração dos recursos naturais.
É assim que The Tragedy of the Commons (1968) se consolidou como um artigo que
deve ser revisado a hora do desenvolvimento da discussão sobre a gestão dos recursos
12
naturais e sobre os direitos de propriedade , uso e exploração relacionados com os
referidos recursos.
Agradecimentos:
O trabalho de Víctor Hugo Martínez Ballesteros foi financiado por uma bolsa do
Ministério de Assuntos Exteriores e Cooperação Internacional Espanhol, Agencia
Espanhola de Cooperação Internacional. Bolsas MAE-AECID.
Bibliografia:
COASE, R.H.([1960] 1988.) “The Problem of the Social Cost”. In The firm, the
market, and the law, 95-156 Chicago: University of Chicago Press.
HARDIN, G. (1968). “The Tragedy of Commons”. Science, v. 162 (1968), pp. 1243-
1248.
HARDIN, G. (2005). “Carrying Capacity and Quality of Life”, The Social Contract,
Summer, 2005, pp 233-236.
PIGOU, A.C .(1920) “La Economía del Bienestar”, M.Aguliar, Madrid, 1946.
13
PIPES, R.(2001) “Propriedade & Liberdade”, Editora Record, Rio Janerio, 2001.
14