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O Mundo de Janus

REVOLUCIONÁRIO? / REVOLUTIONARY?
Abstract:

To change the concepts in order to reach the full expression and pratices of our
sexual behaviour has been a task assumed by many and many people in every time of the
humanhood history.
With BDSM is the same: we wish that someday it could be considered
revolutionary, to change the misconcept that considers the many of our praticies compared
to another disgusting and outraging paraphilias.
But if that´s true that this discussion will lead us to figth for IDC 10 F65 change is
necessary to overcome the prejudices that exists in the BDSM and make it a place where
freedom at least become true.

Tem horas que nós, como todos, criamos as nossas fantasias acercada daquilo que
nos atraí, nos encanta, enfim, que amamos. É como estarmos enamorados onde o amado ou
a amada não têm defeitos (apesar de terem), os filhos são os mais lindos (apesar de
eventualmente não serem) e por aí vaí.
Totalmente compreensível essa postura já que é difícil , e eu sou o primeiro a
assumir, que nos acordem dos nossos sonhos e digamos: - Poxa, amigão, grato por isso, viu?
como se nada tivesse acontecido. Aviso aos navegantes: além de não ser assim, tenha pouca
esperança que alguém vá ouvir suas razões.
Porque tanta enrolação para comentar o assunto do artigo de hoje? Primeiramente,
não acredito ser enrolação mas já uma declaração de que as contestação serão plenamente
acatadas e até espero que elas aconteçam, vindas de diversas fontes que costumeiramente
por aqui aparecem.
Acho interessante que uma das questões que levanta-se costumeiramente é a de se
o BDSM possa ter provocado uma revolução em termos de comportamente sexual . Fico
pensando que o termo "revolução", sociologicamente, foi muito mal usado e, normalmente,
confunde-se com o ato de serem criadas alternativas, novas formas ou mesmo, sistematizado
formas antigas em novas roupagens.
Também há uma grande confusão entre explicações filosóficas que mais tendem a
complicar a questão do que simplificá-la, principalmente porque tentam disfarçar os claros
limites dessa questão aplicada ao meio.
Acredito perfeitamente pertinente a definição de "revolução" dada pela Wikipédia:

"Revolução é uma ruptura abrupta do sistema jurídico, político, social, econômico


ou cultural vigente, com a subsequente formação de um novo sistema.
Em geral, uma revolução fica caracterizada quando o espaço de tempo em que as mudanças
ocorrem é curto, pois, se longo, as mudanças passam desapercebidas e acabam sendo
consideradas apenas um processo evolutivo."

Uma definição que comporta várias facetas e, ao meu ver, colocam em xeque a
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intenção de quem queira conotar o BDSM como revolucionário. E a questão que se coloca,
também, é se nos diz respeito tentar provocar uma revolução,ou mesmo, se nos convém
enquanto grupo ou pessoas, tentar provocar esse estado de ruptura abrupta.
Quanto tento verificar o que está em meu entorno, vejo que conseguir uma ruptura
não é nada perto de sermos suficientemente competentes para fazer uma nova proposta de
manifestação sexual.

A começar por um fato que costumamos deixar um tanto de lado, talvez por uma
visão muito à frente sem nos reportarmos ao passado, a de que o BDSM não criou
nenhuma das manifestações que estão comportadas nesse acrônimo e nem nas que orbitam
por elas.
O máximo que possamos eventualmente ter feito for ter dado à essas formas de
manifestar prazer, um estatudo mais conforme com os tempos atuais, colocando na equação
, ao menos na teoria, muito de segurança, consensualidade, Sanidade e por aí vai, seja qual
forma a construamos.
Bondadge, Sadismo, Masoquismo, Dominação, Submissão e tantos outros conceitos
e práticas estão disseminadas na história da humanidade ao longo do tempo mesmo
admitindo que tenham outro caráter e outra "finalidade" , nenhuma, felizmente, ligada ao
motivo pelo qual praticamos o BDSM, ou seja, o prazer.
O que dizer da hierarquia? Desde que o mundo é mundo, a questão da hierarquia é
a que constitui e que dá lógica aos agrupamentos humanos organizados e, no nosso caso,
uma hierarquia monarquica ou eclesiástica reflete, sem dúvida, a forma que adotamos.
Creiam-me, não qualquer crítica ao sistema, ao contrário, apenas nos resta apurar que as
formas pré-existentes são desse caráter e poderiam, mesmo assim, propor uma renovação
contanto ESTATUÍSSEM (desculpem as maiúsculas) de forma clara e inequívoca, uma
abordagem que nos deviasse das formas tradicionais de concepção do sexual/erótico/afetivo
e aí residem minhas dúvidas em diversos pontos, alguns dos quais eu abordarei no contexto
desse artigo.
A primeira questão que me sucede é de haver, por parte de alguns praticantes com
os quais tenho conversado, uma resistência enorme a questão de uma prática libertina
dentro do BDSM , ou melhor colocando, o BDSM enquanto prática libertina.
Algumas das pessoas manifestam a impossibilidade do BDSM ser uma prática
libertina por ter como seu princípio central uma lógica hierárquica e litúrgica. Ao meu ver,
há uma grande dificuldade em assimilar a questão do libertino em sua própria origem.
Lembremos que o conceito da libertinagem, do libertino, pode ser marcado como
pertencente ao século XIII, onde a revolução francesa propunha (e efetivamente fez) o
rompimento não apenas com a aristocracia vigente mas com seus padrões morais,
colocando, assim, essa missão contestatória como sua própria essência.
A leitura dos romances de Sade nos deixa clara essa opção em contextar, expor ao
ridículo e ironizar da moralidade hipócrita que vigia, estatuindo que apenas com o
rompimento da ordem vigente poderia emergir uma outra que permitisse uma emancipação
(que não veio) dos grilhões que acompanharam a humanidade em sua história.
Nem é preciso dizer que essa é uma tarefa difícil até porque bem sabemos quais
são os entraves e os preconceitos que sofremos enquantos BDSMistas nessa sociedade
repleta de hipocrisia mas para sermos realmente revolucionários é absolutamente necessário
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estatuirmos tais transformações e , em seguida, defende-las aberta e francamente.
No entanto, nos apropriando de um ensino do Mahatma Gandhi, nada poderemos
fazer , nada poderemos dizer de transformador se mantivermos em nosso meio, os mesmos
elementos de exceção que a moral clássica faz, ou seja, um movimento que visaria
desligitimar algumas manifestações claramente qualificáveis como BDSMistas e indivíduos
cuja forma de conceber as práticas e os comportamentos sejam colocados em plano inferior
ou não pertencerem "verdaeiramente" ao meio.
Como constumo dizer e repetir, e repetirei mais uma vez aqui, dizer entre
"verdaeiro" e "falso" implica em dizer, claramente e sem discussões que tal coisa é a verdade
e o que se excetua de tal princípio, é falso. Temos esse consenso? Acredito que não; é
desejável esse consenso? Espero que não.
O que já temos, as linhas mestras, já são suficientes para abarcar uma série de
práticas de forma legítima e construtiva para o bem do próprio meio. Porque romper essa
possibilidade de manifestação que agrupa goreanos, sádicos, sensualistas, fetichistas e uma
série de denominações importantíssimas em nossas práticas?
Porque simplesmente nos arrogarmos a guaridães da "pureza" do BDSM sendo que
de tantas manifestações que surgiram ao longo do tempo e surgirão daqui para a frente
estaremos condenando várias pessoas e grupos à um processo que, sem meias palavras,
simplesmente é segregacionistas.
Acredito que , na verdade, para construir um processo de mudanças realmente visando a
superação dos entraves que encontramos na nossa prática diária, existem tarefas que
deveríamos eleger como prioritárias na minha visão e que comportam mais união do que
divisão:

1. Reforçar os grupos que vêm a propor mudanças no CID-10 F65 no sentido de , a


exemplo dos homossexuais , as práticas que estão contidas no BDSM sejam retiradas do
código internacional de doenças deixando de ser considerados, portanto, "merecedores" de
ser comparados , de modo nada abonador, com os pedófilos, só para dar um exemplo.
2. A legitimação de grupos e de opções individuais abertas ou liminarmente
segregadas enquanto "falsos BDSMistas" sendo que esses grupos apenas propõem outro
entendimento das práticas dentro dos princípios de Sanidade e Segurança tão necessários
para que a nossa escravidão moderna seja ao menos tolerada.
3. O estabelecimento cada vez mais disseminado de grupos e foruns de discussão
sobre elementos relevantes do BDSM com vistas a criar uma massa crítica que nos permita
não apenas responder a ataques mas dar conta dos desafios no sentido de sermos
considerados como praticantes de uma forma legítima de manifestação da sexualidade.

Acredito que o quanto mais conseguirmos superar os preconceitos que ainda


acontecem no nosso meio em qualquer lugar, nos fortalecemos em nossas convicções e em
nossos métodos, tão mais estaremos preparados para fazer essa mudança rápida e profunda
na forma que a cultura e a sociedade nos vê e nos sente.
Quem sabe, um dia, poderemos contar que participamos de um movimento que
mudou sim a história da vida humana, não coma a pretensão de um soberbo mas com a
humildade de alguém que entendeu que toda a forma de amar (e o BDSM assim o é) é bela,
válida e podermos nos irmanar com tantos que promoveram as mesmas lutas em seus
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respectivos setores em prol de um mundo onde cada um possa curtir, nas palavras de
Caetano, "a dor e a delícia de ser quem se é".
Aí a tal "revolução" estará consumada . Por enquanto, ainda ensaiamos passoas
tímidos no caminho.
Saudações BDSM.

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