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JOUNAL DE LECTURE: A Aventura das línguas no ocidente- origem, história e

geografia.

Mesmo antes de iniciar a leitura de forma efetiva o título do livro despertou em mim
curiosidade sobre as relações e comparações que seriam propostas entre as línguas.
O texto começa pelo estudo analítico do que seria a base para as línguas românicas, o
latim. O autor através da pintura de um pano de fundo histórico nos situa no começo do
latim: “Já em sua forma familiar, e no início apenas oral, essa língua evoluiu e diversificou-
se, permitindo o nascimento da grande família das línguas românicas”. (pg. 87 l 10-12);
percebo o uso do termo “evoluiu” empregado pelo autor para tratar dos desdobramentos
do latim; a mim parece um tanto inadequado falar de “evolução” das línguas uma vez que
essa idéia incute em si certo julgamento, como se a língua saísse de um patamar menor
para alcançar um maior ou como se essa não estivesse pronta e evoluísse para sua
forma finita; dentre os muitos estudiosos que tratam dessa questão Coseriu (1979) me
parece bastante pertinente quando diz que “ a língua nunca está pronta. Ela é sempre
algo por refazer” assim, penso fazer mais sentido dizer que as línguas estão vivas e se
modificam do que falar em evolução.
Voltando para o texto que dizia ser o latim de início apenas uma língua oral, de
camponeses romanos que posteriormente resultaria no latim clássico escrito, me lembrei
da questão sempre presente no estudo de qualquer língua, a oralidade x escrita: a
modalidade oral é na maioria das vezes menos prestigiada que a escrita, todavia muitos
dialetos e algumas línguas se baseiam apenas na forma oral e nem por isso são línguas
menos completas, algumas dessas usam de artifícios como a musicalidade e a prosódia.
A oralidade nas línguas tem papel fundamental a medida que é ela que possibilita a
interação de uma língua com a outra e a partir desse ponto que surgem novas formas.
Como língua de camponeses o latim trazia em seu vocabulário e em seus primeiros
registros escritos muitas palavras que “refletiam de modo figurado a onipresença da vida
rural” (pg. 90 l 2) bem como os numerais que também remetem a essa mesma origem.
Fiquei interessada em observar que da passagem da oralidade para os primeiros registros
a função referencial foi predominante: os termos criados e a linguagem eram centrados na
transmissão objetiva de informação sobre o contexto, no caso o rural: não era de se
esperar o contrário já que, segundo Saussure a língua é fundamentalmente um
instrumento de comunicação e já que a comunicação se dava no campo nada mais
esperado que vocábulos que configurassem esse “recorte de mundo rural” feito pelos
camponeses.
Seguindo, o autor começa a tratar das conquistas e invasões territoriais de que
participaram Roma e como essas repercutiram no latim; diz que da expansão romana
para território grego as palavras “emprestadas” eram principalmente da vida cotidiana,
como por exemplo “BAL(I)NEUM” que modernamente nos deu o nosso tão conhecido
“BANHO”; julgo estranho pensar que com toda a vivacidade das línguas e constantes
transformações uma palavra tão usada como esta tenha se conservado em seu
significado e mudado muito pouco em sua forma d escrita ao longo de tantos e tantos
anos. Curioso também é poder entender a composição das palavras pois até ler esse
estudo eu admitia prefixos, sufixos e raízes sem sequer me dar conta do porque ou de
onde que eles vieram, para mim foi uma novidade saber que o sufixo “na” é herança do
Etrusco.
Continuando, o texto passa a contar sobre as duas formas de latim que passam a existir
simultaneamente: o clássico e o vulgar, esse último sendo o de menor prestígio e pelo
qual se emprestou a maioria dos vocábulos das línguas românicas atuais. Ainda que
naquela época não existisse a Sociolingüística ficam bem definidos dois pólos que
designavam as variantes de maior e menor prestígio tão estudadas por essa ciência;
muito tempo nos separa dessa época e dessas formas de latim, contudo consigo enxergar
um paralelo entre essas com as formas atuais do Português, o Português Padrão (PP) e o
Português Não Padrão (PNP), o primeiro sendo a variante mais prestigiada utilizada na
escrita e a segunda a menos prestigiada usada no cotidiano, na conversação diária.;
ainda no paralelo, ao me debruçar sobre o PNP e sua desenvoltura oral dentro da língua
percebo que é a partir da interação de diferentes dialetos contidos nele que surgem novas
expressões, gírias e novas formas que somam-se ou modificam a língua de forma
gradativa; não seria diferente com o latim: foram das interações do latim vulgar com
outras línguas que surgiram novas formas e expressões que futuramente remontariam ao
início das formas das línguas latinas.
Ainda falando da criação da línguas românicas me lembro de uma passagem do livro que
me parece caber perfeitamente nessa questão, que ilustra características da oralidade
como peça chave na construção das línguas latinas:
“As línguas oriundas do latim diferenciam-se também
claramente do latim clássico por múltiplas formas expressivas, pela
abundância dos diminutivos, das formas compostas e figuradas, das
formas analíticas, entendidas mais rapidamente, e das formas
intensificadoras” (pg. 101 l 17-20).

Entretanto o autor imediatamente faz uma ressalva, diz que o ponto de partida para essas
línguas foi a forma vulgar mas que muitos dos termos eruditos presentes nelas vêm da
forma clássica do latim, isso me parece bastante óbvio já que também usamos de tal
estratégia: quando nos encontramos num contexto que requer maior erudição das
palavras recorremos ao “arcabouço mental “ onde estão guardados os vocábulos de
maior prestígio, assim como nós tais línguas precisando de termos mais eruditos para
suas formas registradas voltaram-se a modalidade clássica do latim.
Depois de comentar algo mais sobre o latim e suas diferentes pronuncias, o que ao meu
ver não acrescentou muito e não me pareceu uma questão bastante relevante, o autor
termina esse capítulo e inicia o trato com as línguas românicas modernas, dentre essas o
que ele começa dizendo a respeito do Português é mais uma vez tecido em meio a uma
contextualização histórica, no caso em especial a historicidade parece ter tido bastante
influência sobre a língua. Me senti um pouco confusa ao começar a leitura desse capítulo,
ao ver que o autor não segue uma linha de raciocínio clara e coesa para estudar o
nascimento da língua Portuguesa, ele inicia por um panorama histórico, fala sobre a
formação do reino de Portugal mas não chega a tratar da língua propriamente dita , logo a
seguir introduz as influências que contribuíram no léxico português, assim eu não soube
se deveria assumir que ele estivesse falando das influências no Galego-português ou no
Português. Prosseguindo a leitura encontrei algumas passagens fragmentadas ao longo
do texto que ajudam a entender na definição do nascimento do Galego Português:
“O latim tinha adquirido uma fisionomia que o diferenciava
ao mesmo tempo da língua falada por seus vizinhos
leoneses e castelhanos e da língua das populações moçárabes
meridionais. Assim nascia uma língua literária, o Galego- Português.”
(pg. 178 l 1-4)
Através das freqüentes invasões e expansões territoriais o latim caracterizou-se
diferentemente de modo que originou o Galego-Português que viria mais tarde dar no
nosso Português e isso só ocorreu devido a diferente forma de categorizar o mundo que a
população daquela região adotou, creio que essa foi a maneira pela qual as distinções
começaram a surgir e o Galego “desprendeu-se do Latim”, nas palavras de Saussure
sobre esse processo: “a língua é um produto social da faculdade da linguagem e um
conjunto de convenções necessárias adotadas pelo corpo social para permitir o exercício
dessa faculdade nos indivíduos” (1969).
Depois de ler sobre as influências árabes e etruscas na língua Portuguesa pude conferir
nas influências francesas que a origem do nosso atual sufixo “agem” tem pé na marca
sufixal provençal “age” ; intrigante é notar que essa influência, ao contrário do que foi
verificado até agora, se inseriu mais intensamente através da forma escrita e não pela
oralidade que seria a forma mais “maleável” e mais propícia para esse tipo de interação:
segundo o texto essa herança provençal veio com as peregrinações e abadias que
possibilitaram as cópias, traduções ou mesmo produções de obras, portanto com a
modalidade escrita. Contudo no desenrolar do texto nota-se que do Latim ao Português o
plano da oralidade foi fundamental em tais trocas e construções vocabulares; essas
construções singulares a língua portuguesa. Se compararmos nossa língua as outras
latinas notamos que apenas o Português apresenta a queda das consoantes “ele” e “ene”
oriundas do latim quando entre duas vogais. Ainda que seja possível a escrita interferir e
interagir em tais processos continuo a pensar que seja a oralidade a maior responsável
por mudanças nos termos ou em parte deles como esta do latim ao português, se
dependêssemos apenas da modalidade escrita para tanto provavelmente as línguas
românicas não teriam tantos traços singulares.
Mais a frente o autor aponta para as influências das descobertas marítimas na
constituição de nossa língua, diz que os crioulos são fruto dos descobrimento e que muito
de nosso atual vocabulário é formado também por conta deles; acho válido essa
proposição a medida que as descobertas, não só marítimas mas de forma geral, não são
ferramentas para o novo , mesmo porque o novo não existe, é uma construção, mas para
revelar no outro o que até então estava encoberto, o que dele é para você uma novidade
e vice-versa; assim foram possíveis as trocas culturais e como conseqüência o
surgimento de novos dialetos (crioulos) e novas marcas lexicais.
O texto ainda relata que com as descobertas e colonizações “o Português foi
progressivamente implantado nas colônias (...) se tornou objeto de estudo intensivo” (pg.
187 l 12-15) ao ler essa última parte as palavras “objeto de estudo intensivo” me
atentaram para a relação da língua com o poder de dominação: essa seria uma forte arma
no que diz respeito a subordinação do colonizado em ter que aprender uma nova língua e
deixar a sua para trás, ao fazê-lo ele também apreende toda a ideologia cultural e política
do colonizador tornando-se de fato subordinado a ele.
Algumas considerações finais a respeito das diferentes pronuncias do Português de
Portugal e do Brasileiro são feitas e assim termina o capítulo.
Ao concluir a leitura pude também concluir a importância pedagógica da análise do latim
para se entender etimologicamente e historicamente o surgimento não só do Português
como o das demais línguas latinas; esse estudo se faz bastante válido já que
proporcionou a mim a oportunidade de conhecer como surgiram as línguas e assim fica
mais fácil entender a gramática e suas atuais estruturas.
Bibliografia:

FIORIN, José Luiz. Introdução a Lingüística I. São Paulo, Contexto 2007.


FIORIN, José Luiz. Introdução a Lingüística II. São Paulo, Contexto 2007.
PRETI, Dino. Estudos da língua oral e escrita. Rio de Janeiro, Lucerna 2004.
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de lingüística geral. São Paulo:Cultrix/ Edusp,
1969.
TEYSSIER, Paul. História da língua portuguesa. São Paulo, Martins Fontes 2007
WALTER, Henriette. A aventura das línguas no ocidente- origem, história e
geografia. São Paulo,Mandarim 1997.

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