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O livro está esquecido

Debati-me com muitas dificuldades na selecção de um dos contributos dos(as) colegas


para comentar.
Senti-me tipo Alice no País das Maravilhas, perdida no meio de um imenso bosque
com muita sinalética mas que não me indicava o caminho a seguir.
Ah!!! E por companheiro fiel, durante esta tarefa e que provavelmente não me largará
até ao final desta formação, tive o Sr. White Rabbit que fez questão em carregar
durante todo o tempo o seu enorme relógio fazendo-me lembrar que eu estava muito
atrasada!!! Uma grande luta afinal… entre a baralhação/fluidez de pensamento e a
calma reflexiva/relógio com pilhas carregadas!
Depois de toda esta “história” apraz-me referir que os trabalhos dos(as) colegas que
consegui ler me trouxeram novos conhecimentos e diferentes modos de interpretar a
realidade com que cada um de nós se depara no dia-a-dia.
No meio desse bosque que percorri aceleradamente parei!
O que me fez então parar e reflectir?
Na tabela matriz, da colega Olga Veloso, linha “BE e os novos ambientes digitais”, a
célula da coluna “Ameaças” estava preenchida com a seguinte frase: O LIVRO ESTÁ
ESQUECIDO.
Várias perguntas me ocorreram de imediato. Será que a nossa colega Olga sente, na
sua prática diária, que os nossos alunos/utilizadores estão a perder o prazer de ler em
papel? De fazer requisições? De comprar livros?
Nesta “paragem pelo meu bosque” aproveitei para relembrar algumas leituras sobre
esta temática e acredito que, tal como escreveu Derrida (2001), as novas dinâmicas
comunicacionais que suportam a escrita não anunciam o fim do livro ou a morte do
leitor. Acredito que ele existirá como sempre
"coexistência e sobrevivência estrutural de modelos
passados no momento em que a génese faz surgir
novas possibilidades."
(Derrida, J. 2001:30)
Provavelmente muitos dos nossos alunos, ainda não descobriram o prazer de ler, e
esse prazer é transversal a todas as idades. Penso que teremos que lhes proporcionar
caminhos para a descoberta desse prazer, ler para saber mais, para compreender, para
reflectir, para partilhar, para sonhar…
Talvez nas BE´s do 1º Ciclo exista mais facilidade em seleccionar leituras de acordo com
o gosto dos alunos e dos professores, pois não há leituras obrigatórias, como acontece
nos Ciclos subsequentes. No entanto, será que as leituras obrigatórias nos outros
Ciclos não sejam apelativas aos alunos pelo simples facto de serem obrigatórias?
Daniel Pennac (1998) é dessa opinião. Para este autor, os alunos são quase sempre
reticentes a qualquer leitura, mas por outro lado conseguem ficar encantados com
histórias contadas pelo professor, para posteriormente virem a adquirir os livros em
questão para saber a continuação do enredo antes de professor o ler na aula seguinte.
Então o que terá acontecido para uma mudança de atitude dos alunos, face às leituras
propostas pelo professor?
Socorrendo-me de novo a Pennac (1998) a resposta parece ser simples: as histórias
ouvidas e lidas não faziam parte do Currículo Escolar. As leituras obrigatórias não têm
nada de diferentes relativamente a outras; apenas “desenvolvem” nos alunos o medo
de não conseguirem compreender e têm medo de errar.
Na escola lê-se para aprender; na profissão lê-se para actualizar e aumentar os
conhecimentos; no dia-a-dia lêem-se informações úteis e muito variada, mas onde fica
o tempo para ler por prazer? Na maioria das vezes esse prazer fica renegado para
quando houver tempo e, depois, acaba-se por ocupar o tempo com outros prazeres,
mais sociais, mais consumistas e menos solitários.

Penso que a nossa colega, ao implementar o modelo de auto avaliação vai deixar de
ter esta “ameaça”. Só entendo a utilização e implementação desta modelo no sentido
em que este possa permitir a cada escola conhecer o impacto que as actividades
realizadas pela e com a Biblioteca Escolar irão ter no processo de ensino –
aprendizagem, ou seja usá-lo como um instrumento que permitirá aumentar as Boas
Práticas e alterando consequentemente as atitudes e competências dos alunos, no
âmbito da leitura e das literacias.
Os pontos de partida para o meu trabalho, são normalmente, fundamentados nas
“ameaças e fraquezas”, entendo-os como a alavanca necessária para efectuar a
mudança e exercitar procedimentos e práticas com o objectivo de elevar as literacias
da comunicação, melhorar o desempenho e os resultados escolares dos alunos.
Como diz Ross Todd (2008) só com base na recolha sistemática de evidências (quer em
quantidade, quer em qualidade) é possível recolher informações consistentes que
podem provar o impacto que as práticas da BE têm nas aprendizagens e na Escola,
marcando, assim, a diferença.
Para terminar esta breve e simples reflexão/revisão literária, trata-se de reconhecer
com Derrida(2001) que é uma nova economia que se estabelece. Uma nova economia
que

"faz coexistir de um modo dinâmico uma


multiplicidade de modelos, de modos de
arquivo e de acumulação. E que isso é, desde
sempre, a história do livro."
(Derrida, J. 2001:29)
Bibliografia consultada:

 DERRIDA, Jacques (2001). Le livre à venir. Paris: Éditions Galilée.


 PENNAC, Daniel (1998). Como um Romance. Porto: Asa.
 TODD, Ross (2003).Learning in the information age school: opportunities,
outcomes and options. Presented at the 2003 IASL Conference, Durban, South
Africa. Disponível na Internet:
 http://www.iasl-slo.org/conference2003-virtualpap.html.

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