Comitê Editorial:
Celso Lafer
Marcelo de Paiva Abreu
Gelson Fonseca Júnior
Carlos Henrique Cardim
A reflexão sobre a temática das relações internacionais está presente desde os pensadores
da antigüidade grega, como é o caso de Tucídides. igualmente, obras como a Utopia, de
Thomas More, e os escritos de Maquiavel, Hobbes e Montesquieu requerem, para sua
melhor compreensão, uma leitura sob a ótica mais ampla das relações entre estados e
povos. No mundo moderno, como é sabido, a disciplina Relações Internacionais surgiu
após a Primeira Guerra Mundial e, desde então, experimentou notável desenvolvimento,
transformando-se em matéria indispensável para o entendimento do cenário atual.
Assim sendo, as relações internacionais constituem área essencial do conhecimento que
é, ao mesmo tempo, antiga, moderna e contemporânea.
Cada um dos livros da coleção contará com apresentação feita por um especialista que
situará a obra em seu tempo, discutindo também sua importância dentro do panorama
geral da reflexão sobre as relações entre povos e nações. Os Clássicos IPRI destinam-se
especialmente ao meio universitário brasileiro que tem registrado, nos últimos anos,
um expressivo aumento no número de cursos de graduação e pós-graduação na área de
relações internacionais.
Coleção Clássicos IPRI
TUCÍDlDES G. W. F. HEGEL
“História da Guerra do Peloponeso” “Textos Selecionados”
Prefácio: Hélio Jaguaribe Organização e prefácio: Franklin Trein
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Reitor: Professor LAURO MORHY
Diretor da Editora Universidade de Brasília: ALEXANDRE LIMA
Conselho Editorial
Elisabeth Cancelli (Presidente), Alexandre Lima, Estevão Chaves de Rezende Martins,
Henryk Siewierski, José Maria G. de Almeida Júnior, Moema Malheiros Pontes,
Reinhardt Adolfo Fuck, Sérgio Paulo Rouanet e Sylvia Ficher.
HISTÓRIA DA GERRA DO
PELOPONESO
Tradução do Grego:
Mário da Gama Kury
Prefácio:
Helio Jaguaribe
A presente edição foi feita em forma cooperativa pela Editora Universidade de Brasília com
o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI/FUNAG) e a Imprensa Oficial do
Estado de São Paulo.
Todos os direitos reservados conforme a lei. Nenhuma parte desta publicação poderá ser
armazenada ou reproduzida por qualquer meio sem autorização por escrito da Editora
Universidade de Brasília.
Equipe técnica:
EIITI SATO (planejamento editorial)
EUGÊNIA DÊ CARLI DE ALMEIDA (Edição gráfica)
ISABELA MEDElROS SOARES (Mapas e revisões)
RAINALDO AMANCIO E SILVA (programação visual)
ISBN: 85-230-0204-9
CDU – 94(38)
SUMÁRIO
LISTA DOS MAPAS ...................................................................................... XXI
LIVRO PRIMEIRO
LIVRO SEGUNDO
LIVRO TERCEIRO
LIVRO QUARTO
LIVRO QUINTO
LIVRO SEXTO
LIVRO SÉTIMO
LIVRO OITAVO
PREFÁCIO
Tucídides e a História da
Guerra do Peloponeso
Helio Jaguaribe
INTRODUÇÃO
1 No presente texto utilizar-se-á a letra “H” para designar a obra de Tucídides, números em
romano e em arábico para indicar, respectivamente, o Livro e o CAPÍTULO em referência.
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TUCÍDIDES
A OBRA
ANTECEDENTES REMOTOS
ANTECEDENTES PRÓXIMOS
5 H. I. 134.
33
6 A contribuição básica era de 460 talentos anuais de prata. O talento ático pesava 25,8kg. As
pequenas cidades tinham o direito de se reunirem para, coletivamente, pagar essa contribuição.
7 Essa tese, cerca de cem anos mais tarde, seria, de forma teoricamente correta mas praticamente
8 O assassino, Aristodicus de Tânagra, era agente de uma das sociedades secretas a serviço dos
interesses da oligarquia ateniense.
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de Péricles. Címon, cuja fidelidade a Atenas não foi afetada por seu
ostracismo, voltaria, dez anos mais tarde, a ser novamente convocado,
sendo-lhe conferida a tarefa de ajustar um armistício com Esparta, o
que brilhantemente logrou, com a Trégua de Cinco Anos, de 451.
Concomitantemente com o ostracismo de Címon procedeu-se à
ruptura da aliança com Esparta, substituída pela aliança com Argos,
hostil a Esparta e com os tessalianos. Seguiu-se-lhe a aliança com
Mégara, então em disputa territorial com Corinto, a mais importante
aliada de Esparta. Era a completa reversão da política de Címon,
orientação esta que caracterizaria a longa (461-430) liderança de
Péricles.
O período que se segue, de 460 a 446-5, será marcado por
iniciativas atenienses que alteraram, significativamente, o equilíbrio
de forças entre a Liga de Delos (império ateniense) e a Liga do
Peloponeso, sob a liderança de Esparta, conduzindo a hostilidades entre
aliado dos dois bandos que culminaram com a direta confrontação de
Esparta com Atenas.
Entre as ocorrências mais relevantes mencione-se a construção
por Atenas de longos muros (H.I., 103) ligando Mégara a seu porto de
Nisea9, em que se instala uma guarnição ateniense. Concomitantemente,
Egina, prejudicada em seu comércio com o oriente pela Liga de Delos,
adere à Liga do Peloponeso, reunindo uma grande frota no golfo
Sarônico. Atenas toma a iniciativa e ataca a frota de Egina, derrotando-
a e pondo, em seguida, cerco à cidade.
Nessa mesma oportunidade Inaros, chefe líbio que se aproveitara
da instabilidade que se sucedeu à morte de Xerxes, em 465, para
mobilizar uma grande revolta no Egito, proclamando-se o novo faraó,
9 Somente em 457 os atenienses construíram sua própria grande muralha, conectando Atenas com
o porto do Pireu.
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ANTECEDENTES IMEDIATOS
10 Sobre a motivação de Péricles na decretação do bloqueio de Mégara vejam-se EE. Adock, pg.
187 e segts. in ).B.Bury, S.A. Cock e EE.Adock, edits., Alhens, vol. V de The Cambridge Andenl Hislory,
Cambridge, Uno Press, 1966 e Edouard Will, Le Monde Grec el L’Orienl, pg. 298 e segts., Tomo I.
Peuples el Civilisalions Paris, PUF, (1972), 1994.
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11 Péricles não supunha que Esparta viesse a contar com financiamento persa.
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12 Gado e ovelhas foram transportados para locais seguros na Eubéia e ilhas adjacentes.
43
com êxito a paz de cinqüenta anos, que veio a ser designada por seu
nome, celebrada em 421.
A PAZ DE NÍCIAS
(H. V, 18-19)
A paz negociada por Nícias em 421, que levou seu nome, foi
proposta por cinqüenta anos e consistia, basicamente, no reconhecimento
do Império Ateniense na área iônia, conservando Niséia até que os
beócios devolvessem Platéia. As cidades da Calcídice seriam
autônomas, mas tributárias de Atenas. Anfípolis devolvida a Atenas.
Os membros da Liga de Delos ficaram proibidos do uso de armas,
enquanto pagassem tributo, contra Argilos, Stágiros, Ácantos, Stolos,
Olintos e Spártolos. Os lacedemônios e seus aliados restituiriam
Pânacton aos atenienses. Os atenienses restituiriam Corifásion, Citera,
Mêtana, Ptêleon e Atalantes. Os prisioneiros de ambos os lados seriam
devolvidos.
A resistência de assinar, o tratado, entre membros da Liga de
Peloponeso por parte de Corinto, Mégara, Élis e Beócia e as disposições
hostis de Argos levaram os espartanos, numa política de defesa
preventiva, a firmar com Atenas um tratado de aliança também por
cinqüenta anos (H.V, 22 a 24).
A paz de Nícias, entretanto, se ressentiu desde o início da não
participação das cidades precedentemente mencionadas, e logo em
seguida, de algumas violações. O sucessor de Brasidas, Clearidas, se
recusou a devolver Anfípolis, que seu predecessor havia conquistado
do próprio historiador. Os Beócios, no ano seguinte, obrigados a
devolver Platéia aos atenienses, antes de fazê-Io destruíram a cidade.
Ante tal fato e nesse mesmo ano de 420 Corinto decidiu retirar-
se da Liga Argiva. Atenas formou então, por cem anos, a Quádrupla
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APRESENTAÇÃO
DO TRADUTOR
Mário da Gama Kury
1. O AUTOR
juntamente com VI, capítulo 54 - a motivação real da ação dos tiranicidas Harmôdios e Aristógiton,
reverenciados como heróis.
52
5 Xenofonte, que viveu entre 428/ 427 a.c. e 354 a.c., relatou nos livros I e 11 de suas Helênicos a
continuação da guerra do Peloponeso a partir de 411 a.c., onde é interrompida a história de
Tucídides, até 403 a.c.; Xenofonte leva a sua história dos acontecimentos na Hélade até 362 a.c.,
com uma lacuna correspondente aos anos 403-401 a.c., complementada por parte de sua Anábose
quanto às atividades dos helenos na Ásia.
6 É certo que Maquiavel não conhecia o grego.
7 Um erudito tradutor e comentador italiano da obra de Tucídides, Amedeo Peyron, estabelece
um certo paralelo entre o nosso autor e Maquiavel (páginas 39 e 40 do primeiro volume de sua
tradução, Turim, 1861).
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2. A OBRA
utilidade, dos mesmos, pois apesar deles a guerra se estendeu por vinte
e sete anos. Um indício ponderável do uso dessas transcrições (da
mesma forma. que dos discursos, do diálogo e das exortações) como
recurso contra a monotonia das narrações de batalhas e de seus
preparativos, é o fato de as mesmas, de um modo geral, só ocorrerem
nos livros onde não há discursos.
Apesar de certas peculiaridades que às vezes tornam necessária
redobrada atenção na leitura de sua obra, como por exemplo o acúmulo
de orações subordinadas em longos parágrafos9, o estilo de Tucídides é
perfeitamente adequado às manifestações de seu espírito objetivo e
analítico, e ao mesmo tempo às suas preocupações estéticas; a harmonia
é completa entre a forma e o fundo; sua arte, como seu pensamento, é
austera e vigorosal0. O agradável que não instrui não o atrai, ao contrário
do que ocorria com seus predecessores e continuou a ser praticado por
seus sucessores11. Sua imaginação, embora altamente desenvolvida, é
rigorosamente governada pela razão, pela busca do útil e do verdadeiro.
Apesar disto, Tucídides possui e, quando as situações justificam, revela
repetida e magistralmente o dom do patético em seu mais alto grau
(por exemplo, no relato da peste em Atenas, no livro I, e na tragicidade
autor para dar a seu estilo a excelência sempre louvada: 1) vocabulário invulgar; 2) grande variedade
de figuras; 3) austeridade da harmonia das frases; 4) velocidade do pensamento (§ 24 da mesma
obra, página 363 da edição citada).
11 Alfred Croiset, na introdução à sua edição comentada do texto dos dois primeiros livros da
História, lembra que os gramáticos antigos diziam de Tucídides que “o leão raramente consentia
em sorrir” (página 92 da primeira edição, Paris, 1886).
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3. A TRADUÇAO
12 Ufe of Lord Macaulqy, volume 1, página 499. O mesmo Macaulay diz de Tucídides: “He is the
greatest historian that ever lived” (citado por C. F. Smith na introdução à sua edição da História,
página XVI).
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13 K.O. Müller, autor de uma das mais conhecidas histórias da literatura grega (citado por Alfred
Croiset na página 122 da obra já mencionada), diz do original que às vezes as longas frases de
Tucídides são obscuras, e para bem apreender o seu conteúdo em todos os detalhes, para
discernir a conexão de todas as idéias, deve-se lê-las duas vezes. Se esta observação judiciosa se
aplica ao original, com dupla razão é pertinente quanto à tradução.