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O PERFIL DA MORTALIDADE POR CAUSAS NA BAIXADA

FLUMINENSE, 1996-2002*

Aline de Moura SouzaI

Palavras-chave: mortalidade; causas de morte; Baixada Fluminense; políticas públicas

Os grandes avanços nas condições de saúde da população não significam que as diferenças
econômicas e sociais, apresentadas pelas regiões brasileiras foram minimizadas. As
transições demográfica e epidemiológica transformaram a estrutura da mortalidade, com a
diminuição da ocorrência de algumas causas de óbitos e no aumento de outras. Na atualidade
as doenças do aparelho circulatório têm se mantido como a principal causa de morte; as
causas externas apresentaram ao longo dos anos um aumento significativo; e as doenças
infecciosas e parasitárias e as perinatais tiveram uma grande diminuição. No Estado Rio de
Janeiro a transição da mortalidade culminou em maior número de óbitos entre a população
idosa e altos índices de mortalidade por doenças crônicas e degenerativas e causas externas,
no entanto, a heterogeneidade interna do Estado e mesmo da região metropolitana é muito
grande. Assim, é importante conhecer o perfil da mortalidade na Baixada Fluminense e
compreender as condições sócio-econômicas e epidemiológicas em que vive sua população.
O objetivo do trabalho é traçar um panorama da evolução da mortalidade na Baixada
Fluminense, analisando as causas de óbitos e as relacionando com suas condições sócio-
econômicas. São apresentadas análises sobre as condições sócio-econômicas dos municípios
dessa região e sobre a mortalidade proporcional e taxas brutas de mortalidade. Para a análise
são utilizadas informações sócio-econômicas para os anos de 1991 e 2000, mormente
baseadas em dados censitários, e informações sobre oito causas de mortalidade do período de
1996 a 2002, a partir Sistema de Informação de Mortalidade (SIM). Os resultados alcançados
indicam que a mortalidade nos municípios da Baixada Fluminense tem passado pelas
transições demográfica e epidemiológica, mas existe uma diferenciação interna muito grande,
colocando sua população em diferenciados níveis de vulnerabilidade. As condições sócio-
econômicas da população assim como a infra-estrutura, ou falta desta, nos municípios da
região determinam a maior ou menor ocorrência de determinadas causas de óbitos evitáveis
que deveriam estar sendo foco de políticas públicas mais eficientes.

*
Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú-
MG- Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2002
I
Mestranda da Escola Nacional de Ciências Estatísticas-ENCE
O PERFIL DA MORTALIDADE POR CAUSAS NA BAIXADA
FLUMINENSE, 1996-2002

Aline de Moura SouzaI

1 Introdução

Os grandes avanços alcançados nas condições de saúde da população brasileira ao


longo dos últimos anos, não significaram que as diferenças econômicas e sociais,
apresentadas pelas regiões brasileiras, vieram a ser minimizadas. Isto deve- se ao fato de que
os diferenciais históricos, econômicos e sociais interferem na dinâmica de uma dada região e
determinam o nível de desenvolvimento que por ela será alcançado, e transformam a estrutura
populacional e os padrões de morbimortalidade, sendo essa mudança nos padrões
populacionais e de morbimortalidade denominadas, respectivamente, de transição
demográfica e epidemiológica. As transições demográfica e epidemiológica transformaram a
estrutura da mortalidade, significando na diminuição da ocorrência de algumas causas de
óbitos e no aumento de outras(PAES, 2000, p.1).
A Baixada Fluminense, situada na região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro,
consiste em uma região que, devido ao seu processo de ocupação, apresenta um cenário de
baixo desenvolvimento econômico e precárias condições de saúde. Seu processo de ocupação
é dado em dois momentos: a distribuição de sesmarias em todo o recôncavo da Baía da
Guanabara, fato decorrente da fundação da cidade do Rio de Janeiro em 1565, e através da
implantação do transporte ferroviário, que permitiu a ligação com a cidade do Rio de Janeiro.
A ocupação da Baixada Fluminense se deu basicamente devido à implantação do transporte
ferroviário. Quando da instalação da rede ferroviária, na segunda metade do século XIX, a
Baixada Fluminense, que outrora teve os engenhos de açúcar e o ciclo do café e do ouro
como impulsionadores da abertura de novos caminhos em sua região, já se encontra em um
processo de declínio agrícola e, impulsionada por outros fatores como o impaludismo
(malária), sua população começa a se deslocar para a cidade do Rio de Janeiro, em franca
ascensão econômica devido à instalação de indústrias dos setores têxteis e de alimentos.
Porém o deslocamento de toda essa população para a região central da cidade do Rio de
Janeiro faz com que o espaço se torne escasso, e algumas áreas da cidade são extremamente
dispendiosas para trabalhadores braçais. A solução é realizar uma desaglomeração
populacional dessa região central. Assim, devido às estradas de ferro, foi possível uma
expansão da rede urbana, e assim áreas antes destinadas a citricultura passam a dar espaço às
“cidades- dormitórios”: locais de residência de população numerosa e de poucos recursos,
que se desloca diariamente para vários pontos do Grande Rio de Janeiro(SCHNOOR, 1975,
pág. 30).
Contudo, o intenso processo de crescimento demográfico, experimentado pela região da
Baixada Fluminense durante o século XX, não foi acompanhado por uma melhora nas
condições de saúde, habitação e infraestrutura básica, como foi experimentado pela média
dos municípios brasileiros e pelos demais municípios da região metropolitana do Rio de
Janeiro. Algumas ações na área de saúde reduziram problemas graves na área de saúde, mas
foram muito pontuais, podendo ser citado como exemplo a hanseníase, que mesmo tendo
alguns programas de âmbito governamental em seu combate, a ação da sociedade civil
apresenta resultados muito mais efetivos do que os programas desenvolvidos pelo governo.
Além disso, observa-se que o risco de morte por causas evitáveis ainda é muito alto na região.

I
Mestranda da Escola Nacional de Ciências Estatísticas-ENCE

1
Portanto, a identificação das maiores causas de morte da região podem direcionar políticas
públicas mais eficazes na área de saúde.
O objetivo deste trabalho é traçar um perfil das condições de saúde da população dos
municípios pertencentes à Baixada Fluminense através da análise da evolução da mortalidade
por causas de morte, no período de 1996 a 2002, relacionando o perfil sócio- demográfico e
econômico com o estado atual de saúde da população da região e identificando situações de
risco na área da saúde para direcionamento e focalização de políticas públicas com o objetivo
de melhoria das condições de saúde da população da região.
A Baixada Fluminense não dispõe de trabalhos que tratem especificamente do perfil da
mortalidade apresentado por seus municípios. Os inúmeros trabalhos de cunho histórico que
tratam da região citam o processo de dizimação enfrentado pela população decorrente de
doenças como a malária e devido as más condições de sobrevivência que a população
enfrentava, e a ausência de estatísticas de mortalidade fidedignas possa talvez explicar o não
interesse pela elaboração de um trabalho desse porte. Porém até hoje nenhum trabalho que
trate especificamente da mortalidade por causas de morte nos municípios pertencentes à
Baixada Fluminense foi elaborado, e por isso torna-se tão importante à realização deste
trabalho. Além de focar a questão da mortalidade por causas de morte, também é feita uma
associação do perfil da mortalidade com as características sócio- demográficas da região, e
com as políticas de saúde implementadas na Baixada. Juntamente a essas análises, busca-se
saber o quanto os municípios pertencentes à Baixada Fluminense são iguais ou diferentes dos
demais padrões brasileiros, em relação às causas de morte e as características sócio-
demográficas.
A Baixada Fluminense é constituída por 10 municípios: Belford Roxo, Duque de
Caxias, Guapimirim, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados e São João
de Meriti.

Figura 1.1
Localização dos municípios da Baixada Fluminense

Espirito Santo
Minas Gerais

N
Rio de Janeiro
B
a
i
x
a
d
a
F
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São Paulo
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o

2
Deve-se levar em consideração a importância da análise das causas de mortalidade e
da fidedignidade das informações para analisar as condições de saúde de uma população. “As
estatísticas de mortalidade por causa básica de óbito têm um papel fundamental na avaliação
do processo saúde-doença que contribuem de maneira decisiva no conhecimento dos perfis de
saúde de uma população e nas questões ligadas às políticas e programas de saúde”(PAES,
2000, pág.3).Atualmente as doenças do aparelho circulatório têm se mantido como a
principal causa de morte, as causas externas também apresentaram ao longo dos anos um
aumento significativo, e as doenças infecciosas e parasitárias e as perinatais tiveram uma
grande diminuição. No Estado Rio de Janeiro a mortalidade está ligada as transições
demográfica e epidemiológica, com maior número de óbitos entre a população idosa e altos
índices de mortalidade por doenças crônicas e degenerativas e causas
externas(MONTEIRO,1996, p.2017).

2 Fonte dos dados e metodologia

Para realizar a caracterização dos municípios pertencentes à Baixada Fluminense foram


utilizadas informações demográficas e socioeconômicas, para os anos de 1991 e 2000. Essas
informações foram alocadas em duas dimensões: indicadores demográficos e indicadores
socioeconômicos. As fontes de dados utilizadas foram: Censos demográficos 1980, 1991 e
2000 –IBGE; Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, do Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento- PNUD; Fundação Centro de Informações e Dados do Rio de
Janeiro.
As informações referentes às políticas de saúde pública são provenientes do Sistema de
Informação da Atenção Básica- SIAB, que tem a função de monitorar os indicadores de
saúde das populações através das informações fornecidas pelos agentes e pelas equipes de
Saúde da Família. As informações foram observadas para os anos de 1998, 2000 e 2002.
Foi realizada uma análise de dados de mortalidade através do cálculo da Taxa Bruta de
Mortalidade para os seguintes capítulos da 10 ª Classificação Internacional de Doenças- CID-
10: I . Algumas doenças infecciosas e parasitárias; III. Doenças do sangue, órgãos
hematopoéticos e transtornos imunitários; IV. Doenças endócrinas, nutricionais e
metabólicas; IX. Doenças do aparelho circulatório; X. Doenças do aparelho respiratório; XI.
Doenças do aparelho digestivo; XVIII. Sintomas, sinais e achados anormais em exames
clínicos e laboratoriais; XX. Causas externas de morbidade e mortalidade. Esses dados foram
analisados para o período de 1996 a 2002 para os municípios de Belford Roxo, Duque de
Caxias, Guapimirim, Japeri, Magé, Nilópolis, Nova Iguaçú, Queimados e São João de Meriti.
Os dados para o município de Mesquita somente se encontram disponíveis para os anos de
2001 e 2002, devido a recente emancipação do município de Nova Iguaçu, do qual
anteriormente era distrito. Por ser tratarem de dados longitudinais, os dados de 2001 e 2002
para o município de Mesquita foram incorporados aos do seu município de origem.
A Taxa Bruta de Mortalidade foi calculada para o período de 1996 a 2002, sendo que,
visando facilitar a análise das informações, esse período foi agrupado em cinco triênios: 96-
97-98,97-98-99,98-99-00,99-00-01 e 00-01-02; para esse cálculo a variável sexo foi utilizada.
Os dados de mortalidade analisados são provenientes do Sistema de Informações de
Mortalidade- SIM, do Departamento de Informática do SUS- Datasus, referentes aos anos de
1996 a 2002. Esse recorte temporal se deve ao fato de que a tabulação dos dados do CID-10
só está disponível a partir de 1996 e até 2002.

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3 Características demográficas e sócioeconômicas dos municípios pertencentes à
Baixada Fluminense

3.1 Indicadores demográficos


Ao acompanhar o crescimento populacional para os municípios pertencentes à
Baixada Fluminense, observa-se que para os anos de1980 e 1991 há um aumento expressivo
da população, chegando a praticamente dobrar o contingente populacional, como no caso do
município de Nilópolis. Já no ano de 2000 tem-se o aparecimento dos novos municípios
formados após 1991 e que deixaram de ser distritos dos municípios que já aparecem em 1980
e 1991.

Tabela 3.1
População da Baixada Fluminense, 1980, 1991 e 2000
Municípios 1980 1991 2000
Belford Roxo - - 434474
Duque de Caxias 575830 667821 775456
Guapimirim - - 37952
Japeri - - 83278
Magé 166603 191734 205830
Nilópolis 151585 158092 153712
Nova Iguaçu 1094789 1297704 920599
Queimados - - 121993
São João de Meriti 398819 425772 449476
Total 2387626 2741123 3182770
Fonte: Censo Demográfico IBGE, 1980, 1991 e 2000

Belford Roxo, Japeri e Queimados pertenciam a Nova Iguaçu e Guapimirim a Magé.


Com a emancipação desses distritos o município de Nova Iguaçu teve uma diminuição em
seu contingente populacional: de 1.094.789 em 1980 e 1.297.704 em 1991 para 920.559 em
2000. Se essas emancipações não tivessem ocorrido o município de Nova Iguaçu em 2000
contaria com 1.560.304 habitantes. Então podemos concluir que do total populacional do
município de Nova Iguaçu cerca de 7,8% correspondia ao distrito de Queimados, 5,3% ao de
Japeri e 27,8% ao de Belford Roxo.1
No município de Magé o que houve, mesmo com a emancipação do distrito de
Guapimirim, foi um aumento da população, passando de 166.603 em 1980 e 191.734 em
1991 para 205.830 em 2000. O município de Guapimirim contava com 37. 952 pessoas em
2000, o que, caso Guapimirim ainda fosse pertencente a Magé, corresponderia a 15,5% da
população total.
Além das variações por município, o que se pode observar também é a variação no
total da população da Baixada Fluminense. Mesmo havendo um aumento entre os três anos, o
aumento verificado para o ano 2000 foi menor do que para o ano de 1991. enquanto de 1980
para 1991 o aumento foi de 453.497 pessoas, de 1991 para 2000 ele foi de 441.647.
Segundo relatório do Observatório Baixada, do IPPUR/UFRJ- FASE, a população
residente em 2000 na Baixada Fluminense representa 23% da população de todo o Estado do

1
Essas porcentagens forma calculadas de acordo com os dados de 2000; assume-se que de acordo com o
aumento populacional observado para os três anos analisados a população nos atuais municípios devem ter tido
a mesma variação, o que permite assumir que essas porcentagens podem estar próximas dos valores para 1980 e
1991.

4
Rio de Janeiro. Nova Iguaçu e Duque de Caxias são considerados municípios muito grandes,
pois possuem uma população composta de mais de 500 mil habitantes; São João de Meriti,
Belford Roxo, Magé, Nilópolis e Queimados são considerados municípios grandes, pois sua
população está entre 100 mil a 500 mil habitantes; e Japeri e Guapimirim são considerados
municípios médios, com uma população que varia entre 20 mil a 100 mil habitantes. Na
Baixada Fluminense nenhum município é considerado pequeno, ou seja, com população com
menos de 20 mil habitantes. Nova Iguaçu, Duque de Caxias, São João de Meriti e Belford
Roxo concentram 72% da população da Baixada.
Dentre o total populacional para os três anos para a Baixada Fluminense foi calculado
o percentual populacional de cada um dos municípios para cada um dos períodos, em relação
ao total populacional da Baixada. O município que apresentou a maior variação foi o de Nova
Iguaçu, que passou de 47,8% em 1980 para 29% em 2000, uma redução de 20%, relativos aos
distritos emancipados.

Figura 3.1

Percentual populacional,municípios da Baixada Fluminense, 1980, 1991 e 2000

60%

50%

40%

1980
30% 1991
2000

20%

10%

0%
Duque de Magé Guapimirim Nilópolis Nova Belford Japeri Queimados São João
Caxias Iguaçu Roxo de Meriti

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 1980, 1991 e 2000

Através da elaboração de pirâmides etárias foi possível a análise da composição etária


da população da Baixada Fluminense, em comparação com a população do Estado do Rio de
Janeiro, através das variáveis sexo e idade, para os anos de 1980, 1991 e 2000.
Figura 4.3

Pirâmides etárias, Estado do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense, 1980, 1991 e 2000

1980

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Rio de Janeiro Baixada Fluminense

80 anos e mais 80 anos e mais

70 a 74 anos 70 a 74 anos
60 a 64 anos 60 a 64 anos
50 a 54 anos 50 a 54 anos
40 a 44 anos Feminino 40 a 44 anos Feminino
30 a 34 anos Masculino 30 a 34 anos Masculino

20 a 24 anos 20 a 24 anos
10 a 14 anos 10 a 14 anos
0 a 4 anos 0 a 4 anos
(0,06 (0,04 (0,02 0,00 0,02 0,04 0,06 (0,08 (0,06 (0,04 (0,02 0,00 0,02 0,04 0,06 0,08
) ) ) ) ) ) )

1991
Rio de Janeiro Baixada Fluminense

80 anos e mais 80 anos e mais

70 a 74 anos 70 a 74 anos

60 a 64 anos 60 a 64 anos

Feminino
50 a 54 anos 50 a 54 anos Feminino
Masculino
Masculino
40 a 44 anos 40 a 44 anos

30 a 34 anos 30 a 34 anos

20 a 24 anos 20 a 24 anos

10 a 14 anos 10 a 14 anos

0 a 4 anos 0 a 4 anos
(0,06) (0,04) (0,02) 0,00 0,02 0,04 0,06 (0,06 (0,04 (0,02 0,00 0,02 0,04 0,06
) ) )

2000
Rio de Janeiro Baixada Fluminense

80 anos e mais 80 anos e mais

70 a 74 anos 70 a 74 anos

60 a 64 anos 60 a 64 anos

50 a 54 anos 50 a 54 anos Feminino


Masculino
40 a 44 anos Feminino 40 a 44 anos
Masculino 30 a 34 anos
30 a 34 anos

20 a 24 anos 20 a 24 anos

10 a 14 anos 10 a 14 anos

0 a 4 anos 0 a 4 anos

(0,06 (0,04 (0,02 0,00 0,02 0,04 0,06 (0,06 (0,04 (0,02 0,00 0,02 0,04 0,06
) ) ) ) ) )

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 1980, 1991 e 2000

As pirâmides etárias para o Estado do Rio de Janeiro e a Baixada Fluminense


mostram que para ambos houve um estreitamento da base após 1980, sendo que para o Rio de
Janeiro o estreitamento da base é maior do que o observado na Baixada Fluminense, o que
supõe que o declínio da fecundidade no Estado do Rio de Janeiro é mais acentuado do que o
observado na Baixada Fluminense. As pirâmides do Rio de Janeiro apresentam um processo
de envelhecimento da população, com a diminuição das primeiras faixas etárias e o aumento

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das faixas adultas, havendo uma maior concentração populacional na faixa de 0 a 4 anos e 20
a 24 anos em 1980; 10 a 14 anos em 1991; e 20 a 24 anos em 2000. também se observa um
aumento da população de 80 anos e mais, sendo este aumento maior para as mulheres do que
para os homens. O índice de envelhecimento, que é o número de pessoas de 65 anos e mais
para cada 100 indivíduos jovens por ano, observado para os anos de 1996 e 2000 mostra esse
aumento observado nos dados censitários para a população idosa dos municípios da Baixada
Fluminense e o Estado do Rio de Janeiro. Em 1996 nenhum município da Baixada
Fluminense apresentou um índice de envelhecimento superior ao do Estado do Rio de
Janeiro, de 25,8, sendo que Nilópolis apresentava um valor próximo, 25; já em 2000
Nilópolis passa a apresentar um índice superior ao apresentado pelo Rio de Janeiro, 30 e 29,6
respectivamente. O município com o menor índice de envelhecimento foi Japeri, 13,1 em
1996 e 15,5 em 2000. Todos os outros municípios apresentaram um aumento em seu índice
de envelhecimento de 1996 para 2000.
Na Baixada Fluminense o que se observa é um progressivo estreitamento da base e
aumento da população adulta e idosa, porém menor do que o observado para o Rio de
Janeiro. A população idosa também é composta na sua maioria por pessoas do sexo feminino,
mas em proporção menor do que observado no Rio de Janeiro.
A longo prazo a população da Baixada Fluminense e do Rio de Janeiro tende a
apresentar uma diminuição para as faixas etárias mais jovens e um aumento da população
idosa, mas com uma velocidade diferenciada de envelhecimento da população e a Baixada
Fluminense apresentando um ritmo mais lento do que o Rio .
Ao analisar a variação da população ao longo dos anos também torna-se necessário o
acompanhamento da variação da taxa de crescimento populacional, pois além de indicar o
nível de crescimento em que se encontra a população, também se trata de um indicador que é
fortemente correlacionado com a taxa de natalidade e a sua aplicação está relacionada ao
desenvolvimento de políticas públicas.
A taxa de crescimento populacional observada para os períodos de 1980-1991 e 1991-
2000 mostra que os municípios de Belford Roxo e Nilópolis apresentaram uma diminuição na
sua taxa de crescimento populacional, sendo que Nilópolis já apresentava uma taxa negativa
de –0,32% para o período 1991-2000. Os municípios que apresentaram os maiores aumentos
em suas taxas foram Guapimirm, de 1,73% para 3,41%, e Queimados, de 0,43% para 2,34%.
Os outros municípios da Baixada Fluminense, exceto os já citados, apresentaram aumento
significativo em suas taxas, o que torna necessário saber quais parcelas da população tem
aumentado para a disponibilização de serviços públicos específicos a essa parcela da
população.

Em relação a Taxa de Fecundidade Total –TFT, observa-se que o município de


Nilópolis é o único que se encontra abaixo do nível de reposição, com uma TFT de 2,0, taxa
essa que se mantêm desde 1991. Duque de Caxias também manteve a sua taxa em 2,4 de
1991 em 2000. Os outros municípios apresentam uma tendência de queda em suas taxas, mas
indicando que nos próximos anos provavelmente atingirão o nível de reposição. As maiores
taxas pertencem aos municípios de Guapimirim e Japeri, ambos com 2,6 filhos nascidos
vivos por mulher, que também foram os municípios, juntamente com Magé, que
apresentaram a maior diminuição em sua TFT. O Estado do Rio de Janeiro já possui a sua
TFT em 2,1, o que significa que o Estado já chegou no nível de reposição da fecundidade,
valores observados para os anos de 1991 e 2000.
As informações apresentadas permitem afirmar que os municípios da Baixada
Fluminense encontram-se inseridos no processo de transição demográfica, mas as taxas
observadas para alguns municípios, como Nilópolis e Duque de Caxias, que apresentaram os

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mesmos valores para os anos de 1991 e 2000, nos levam a pensar se poderia haver uma
tendência de estagnação dessas taxas a partir de um certo ponto. Mas a tendência para os
países ou regiões que se encontram em um processo de declínio das taxas de fecundidade não
é a estagnação e nem uma reversão nesse quadro, mas sim a constante queda dessas taxas,
sem haver nenhuma ressalva com relação a essa situação. A Baixada Fluminense, assim
como o Estado do Rio de Janeiro, deve continuar nesse processo de queda que, se continuar,
dificilmente será revertido. Para tanto é necessário que haja acesso gratuito à concepção para
a população mais pobre.

Observa-se que a Baixada Fluminense encontra-se inserida no processo de transição


demográfica, como se pode observar através da análise dos indicadores demográficos. A
diminuição das taxas de fecundidade e o aumento da população idosa, bem como as variações
populacionais observadas nas pirâmides etárias elaboradas e nas taxas de crescimento
populacional comprovam esse processo.
Observa-se uma diminuição das Taxas de Mortalidade Infantil para todos os
municípios da Baixada Fluminense e para o Estado do Rio de Janeiro, sendo que a
diminuição para os municípios da Baixada foi mais acentuada. As taxas de mortalidade
infantil são classificadas em altas-50 óbitos ou mais em cada mil nascimentos, médias- 20- 49
óbitos, e baixas- menos de 20 óbitos em cada mil nascimentos. Há uma redução bem
acentuada dessa taxa para alguns municípios, como no caso de Guapimirim, que estava
próximo de ter uma taxa considerada alta em 1991, 49,66 óbitos, e passou para 26,51 óbitos,
o que permite continuar inserido, assim como todos os outros municípios, no nível médio de
mortalidade, assim como o Estado do Rio de Janeiro. Apenas São João de Meriti encontra-se
com uma taxa de mortalidade infantil considerada baixa, com 19,06 óbitos em cada mil
nascimentos. A redução observada nas taxas de 1991 para 2000 demonstra o investimento em
saneamento e atendimento médico-hospitalar. Isso significa que houve uma redução da
mortalidade nas causas consideradas evitáveis para esses municípios. “Ou seja, se em um
primeiro momento, as causas que predominam são as relacionadas às condições em que
vivem as crianças, depois, as que se vinculam ao atendimento da criança e da mulher tornam-
se mais importantes” (CAMARGO,1992, pág. 333). Outra questão que também se pode
relacionar com a que das Taxas de Mortalidade Infantil é a queda da fecundidade. Como foi
observado no item sobre Taxa de Fecundidade Total, tem nascido menos crianças nos
municípios da Baixada Fluminense e no Estado do Rio de Janeiro; portanto, se há menos
nascimentos também há menos óbitos. Além disso, a mortalidade infantil se encontra
relacionada com a questão da participação feminina na força de trabalho: a mortalidade teria
uma relação inversa com a modernização e o desenvolvimento econômico, e as mulheres que
desenvolvem alguma atividade produtiva apresentariam, para seus filhos, uma taxa de
mortalidade infantil menor do que àquelas que não exercem algum tipo de atividade
produtiva. SIQUEIRA (1982, p.530) ao observar que empiricamente essa suposição não se
constata, busca estimar o nível de fecundidade e a vida média ao nascimento das mulheres
economicamente ativas utilizando dados da PNAD- 1973 e conclui que: “a) o índice de
fecundidade total e a participação feminina na força de trabalho estão em nítida relação
inversa; b) a vida média ao nascer dos filhos das mulheres inativas é mais elevada que a das
ativas; c) quanto mais alto o nível de fecundidade das mulheres inativas, menor a e° e de seus
filhos.” (SIQUEIRA, 1982, pág. 530)

Todos os municípios da Baixada assim como o Estado do Rio de Janeiro apresentaram


um aumento na esperança de vida ao nascer de 1991 para 2000 de até 6 anos, como o caso de

8
Guapimirim, que observou um aumento de 60,6 anos em 1991 para 66,41 anos em 2000. A
menor variação foi observada no município de Nilópolis, que em 1991 apresentava a maior
esperança de vida da Baixada, 66,1 anos, passando para 67,49 anos em 2000, ficando atrás de
Nova Iguaçu, de 65,49 para 67,99, e de São João de Meriti, que foi de 65,17 para 69,65 anos.
O Estado do Rio de Janeiro, em comparação com os municípios da Baixada Fluminense,
apresentava a maior esperança de vida em 1991, de 66,42 anos; em 2000 essa esperança de
vida sobe para 69,42 anos, ficando atrás apenas de São João de Meriti. Coincidentemente,
São João de Meriti apresenta para o ano de 2000 a menor taxa de mortalidade infantil
observada, 19,06 óbitos a cada mil nascimentos, e o Estado do Rio de Janeiro também fica
atrás do município de São João de Meriti, com uma taxa de mortalidade de 21,21 óbitos a
cada mil nascimentos. Isso demonstra que a diminuição da mortalidade infantil tem
interferido no aumento da esperança de vida tanto para os municípios da Baixada Fluminense
quanto para o Estado do Rio de Janeiro, e que os progressos da medicina e o investimento em
desenvolvimento social e econômico, bem como os programas de incentivo a diminuição da
mortalidade infantil são responsáveis por esses resultados (CAMARANO, 2004).

3.2. Indicadores socioeconômicos

A renda per capita dos municípios da Baixada Fluminense apresentou um aumento


significativo de 1991 para 2000. O município de menor aumento foi o de Japeri, que também
é o que possui a menor renda per capita da Baixada Fluminense, tanto em 1991 quanto em
2000. As maiores rendas per capita, em 2000, são pertencentes aos municípios de Nilópolis,
Nova Iguaçu, Guapimirim, São João de Meriti e Duque de Caxias. Todos esses municípios
tem uma renda per capita acima de R$220, sendo que em 1991 o único município que
apresentava uma renda acima de R$200 era Nilópolis, que continua sendo o município de
maior renda per capita da Baixada em 2000. Duque de Caxias era o município de segunda
maior renda na Baixada em 1991, e hoje possui a quinta renda da região. O segundo lugar em
2000 ficou com o município de Nova Iguaçu, que passou de R$170,39 em 1991, o que lhe
garantia a terceira posição, para R$237,5 em 2000. O município de Guapimirim tinha uma
das mais baixas rendas per capita em 1991, com R$143,76, e dá um grande salto em 2000,
passando para uma renda de R$234,77 e alçando a terceira maior renda da Baixada. Mas em
comparação ao Estado do Rio de Janeiro, o que se observa é que nenhum município
apresentou a mesma variação, que foi de R$101,91 no período entre 1991 e 2000. Em relação
ao Estado do Rio de Janeiro, os percentuais não chegam a 10% em 1991 e caem para 7,94%
em 2000. Mesmo se observando que os municípios da Baixada Fluminense apresentaram um
aumento em sua renda per capita de 1991 para 2000, alguns também apresentaram um
aumento percentual das pessoas que vivem com uma renda abaixo da renda per capita do
município.
Guapimirim, Nova Iguaçu é Queimados foram os únicos municípios que apresentaram
uma diminuição desse percentual no período de 1991 para 2000, de 7,80%, 0,9% e 0,27%
respectivamente. O maior aumento do percentual foi observado para o município de Japeri,
15,52% para 19,33%,que possui a menor renda per capita da região, e o menor aumento foi
observado para o município de São João de Meriti,de 8,73% para 8,86%. Belford Roxo
também apresentou um pequeno aumento, mas o seu percentual continuou elevado, de
13,49% para 13,97%.

O cálculo do IDH engloba três indicadores: um de nível educacional; a esperança de


vida; e o Produto Interno Bruto per capita. Acredita-se que esses três indicadores façam parte
das condições básicas de Desenvolvimento Humano, além de constituírem um grupo de

9
informações que apresentam uma regularidade em sua disponibilização. Esses indicadores
são transformados em medidas com magnitude entre 0 e 1, e o IDH é calculado como a média
das medidas transformadas, sendo o seu intervalo, portanto, também de 0 a 1. De acordo com
esses cálculos, os países são classificados com baixo- IDH menor que 0,5, médio- IDH entre
0,5 e 0,8, e alto- IDH acima de 0,8, nível de Desenvolvimento Humano.
Todos os municípios da Baixada Fluminense apresentam um nível médio de
Desenvolvimento Humano, tanto para 1991 quanto para 2000. Além disso, todos
apresentaram um aumento do seu IDH-M em 2000, sendo Queimados o município de menor
índice e Nilópolis o de índice maior. O Estado do Rio de Janeiro também apresenta um nível
médio de desenvolvimento humano para ambos os anos, e também obteve um aumento em
seu nível de desenvolvimento, demonstrando, assim como os municípios da Baixada, que
através de constantes investimentos nas esferas que envolvem o cálculo do IDH, que pode
alcançar o nível mais elevado do desenvolvimento humano.

4 Taxa Bruta de Mortalidade por causas de morte

Ao observar a taxa bruta de mortalidade por causas de morte para os sete capítulos
selecionados da 10 ª Classificação Internacional de Doenças para os municípios da Baixada
Fluminense, a causa de morte XVIII. Sintomas, sinais e achados anormais em exames
clínicos e laboratoriais foi analisada primeira e separadamente das outras causas de
mortalidade. Um maior ou menor índice de ocorrência dessa causa de morte permitirá uma
melhor análise das informações referentes as outras causas de óbito. Observa-se que a causa
de morte XX. Causas externas de morbidade e mortalidade não está relacionada ao perfil de
saúde apresentado por uma população, mas sua análise torna-se de grande importância se for
levado em consideração o alto número de óbitos decorrentes dessa causa, que atinge
maiormente pessoas em idade reprodutiva e também resulta em altos custos aos cofres do
sistema de saúde (CERQUEIRA, PAES, 2000, p.1).

4.1 Taxa Bruta de Mortalidade segundo a causa de óbito Sintomas, sinais e achados anormais
em exames clínicos e laboratoriais (causas mal definidas)

Observa-se que a taxa bruta de mortalidade por causas mal definidas apresentou um
aumento até o terceiro triênio, correspondente ao período 98-99-00, e a partir desse período
apresentou uma pequena diminuição e se manteve constante até o último triênio, 00-01-02,
observando-se um pequeno aumento para a população do sexo feminino do quarto para o
quinto triênio. Os homens apresentam as maiores taxas brutas de mortalidade por causas mal
definidas em todos os triênios observados, o que pode se explicar pelo elevado número de
idosos na população, já que as doenças desenvolvidas nessa etapa da vida apresentam uma
série de complicações que dificultam a identificação da real causa do óbito. Além disso, o
aumento observado no último triênio para as mulheres para as causas mal definidas também
se explica pelo fato do aumento da população idosa feminina.

Figura 4.1

Taxa Bruta de Mortalidade por causas mal definidas, Baixada Fluminense ,Total,

Homens e Mulheres, triênios 96-97-98, 97-98-99, 98-99-00, 99-00-01, 00-01-02

10
1,2
1,0

Em mil pessoas
0,8
0,6
0,4

0,2
0,0
96-97-98 97-98-99 98-99-00 99-00-01 00-01-02

Total Homens Mulheres

Fonte: Sistema de Informações de Mortalidade- SIM (DATASUS)

4.2 Taxa Bruta de Mortalidade por causas definidas

Observa-se que as causas de óbito que apresentam maior frequência em todos os


triênios são as doenças do aparelho circulatório, as causas externas de morbidade e
mortalidade e as doenças do aparelho respiratório; as doenças endócrinas nutricionais e
metabólicas aparecem em quarto lugar.A causa de óbito com a menor frequência é a
relacionada a doenças do sangue. As doenças infecciosas e parasitárias são a terceira causa de
óbito com a menor taxa bruta de mortalidade observada. A legenda da figura 4.2 também se
aplica as figuras 4.3 e 4.4.

Figura 4.2
Taxa Bruta de Mortalidade por capítulos da CID-10 para todos os municípios da
Baixada Fluminense, triênios, total

2,5
Em mil pessoas

2
1,5
1
0,5
0
96-97- 97-98- 98-99- 99-00- 00-01-
98 99 00 01 02
I .Algumas doenças infecciosas e parasitárias
III. Doenças sangue órgãos hemat e transt imunitár
IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas
IX. Doenças do aparelho circulatório
X. Doenças do aparelho respiratório
11 digestivo
XI. Doenças do aparelho
XX. Causas externas de morbidade e mortalidade
Fonte: Sistema de Informações de Mortalidade- SIM (DATASUS)

Observa-se que para os homens e as mulheres as doenças do aparelho circulatório tem


a maior frequência de óbitos para a população da Baixada Fluminense em todos os triênios,
sendo que para os homens a Segunda maior taxa bruta de mortalidade é observada para as
causas externas e para as mulheres para as doenças do aparelho respiratório. A terceira causa
de óbito com a maior taxa bruta são as doenças do aparelho respiratório, para os homens, e as
doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas para as mulheres.
.
Figura 4.3
Taxa Bruta de Mortalidade por capítulos da CID-10 para todos os municípios da
Baixada Fluminense, triênios, homens

2,5
Em mil pessoas

2
1,5
1
0,5
0
96-97- 97-98- 98-99- 99-00- 00-01-
98 99 00 01 02

Fonte: Sistema de Informações de Mortalidade- SIM (DATASUS)

Figura 4.4
Taxa Bruta de Mortalidade por capítulos da CID-10 para todos os municípios da
Baixada Fluminense, triênios, mulheres

2,5
Em mil pessoas

1,5

0,5

0
96-97- 97-98- 98-99- 99-00- 00-01-
98 99 00 01 02

12
Fonte: Sistema de Informações de Mortalidade- SIM (DATASUS)

5 Políticas de saúde pública: o Programa de Saúde da Família- PSF

A análise das políticas de saúde pública aplicadas nos municípios da Baixada


Fluminense permite saber se, nas áreas beneficiadas pelo programa, houve uma melhora ou
não da situação de algumas causas de morte, se diminuiu ou aumentou a ocorrência da
mortalidade por algumas causas.
De acordo com o Ministério da Saúde, o Programa de Saúde da Família- PSF tem
como principal propósito reorganizar a prática de atenção à saúde, levando a saúde para mais
perto da população, melhorando assim a qualidade de vida. O trabalho desenvolvido em
conjunto pelo PSF e os agentes comunitários de saúde busca levar a cada domicílio o acesso
ao tratamento e à prevenção das doenças. Os agentes comunitários de saúde são cidadãos da
própria comunidade, que são treinados para realizar as visitas domiciliares e orientar as
famílias. O objetivo é evitar que as pessoas se desloquem desnecessariamente às Unidades de
Saúde e também procurar as melhores soluções para enfrentar os desafios locais que possam
porventura estar determinando os problemas de saúde, evitando assim um agravamento
desses problemas.
A tabela a seguir mostra a série histórica de implantação dos PSF/PACS no Estado do
Rio de Janeiro, para o período de 1998/2003.

Tabela 5.1
Série histórica de implantação dos PSF/PACS no Estado do Rio de Janeiro, 1998/2003

Existentes*
Ano Municípios ESF ACS Estimativa de População
Base com Cobertura Beneficiada
convênio Populacional %
1998 80 89 1669 2,38 300005
1999 70 113 1260 3,03 395461
2000 87 401 3338 10,74 1384031
2001 90 707 5471 16,75 2438556
2002 90 788 5902 18,67 2717938
2003 90 1835 11718 21,46 3159872
Fonte: Secretaria de Estado de Saúde do Estado do Rio de Janeiro

*ESF- Equipe de Saúde da Família


ACS- Agente Comunitário de Saúde

Do total de 92 municípios que fazem parte do Estado do Rio de Janeiro, em 1998, 80


municípios apresentavam convênio com o programa de saúde da família, número que em
2003 subiu para 90 municípios com convênio. Em 1998 os 80 municípios com existência de
convênio tinham 89 equipes de saúde da família e 1669 agentes comunitários de saúde; em
2003 esse número sobe para 1835 equipes de saúde da família e 11.718 agentes comunitários
de saúde. A estimativa de cobertura populacional passou de 2,38% em 1998 para 21,46% me
2003. O que se pode observar é que mesmo com 97,8% dos municípios do Estado do Rio de

13
Janeiro apresentando convênio com o programa de saúde da família, a cobertura populacional
não chega nem a 50%.
O Programa de Saúde da Família faz o registro e o acompanhamento de três
enfermidades de três grandes causas de mortalidade: Diabetes mellitus, da causa de morte
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas; Hipertensão, da causa de morte Doenças do
aparelho circulatório; e Tuberculose, da causa de morte Algumas doenças infecciosas e
parasitárias.

A tabela 4.2 mostra que nem toda a população cadastrada está sendo acompanhada.
Para o ano de 1998, que foi o ano de implantação do programa de saúde da família, apenas os
municípios de Duque de Caxias e São João de Meriti tinham o programa implantado e em
2000 Magé era o único município que não era atendido pelo PSF. Em 2000 o município de
São João de Meriti tinha o maior número de pessoas cadastradas no programa de saúde da
família, 235,3 a cada mil pessoas. Mas apenas 9,9 pessoas estavam sendo efetivamente
acompanhadas. Em 2002 o número de pessoas cadastradas caiu para 23,8, mas o
acompanhamento foi mais eficaz, 23,7 pessoas acompanhadas em cada mil. O município com
a menor taxa de pessoas cadastradas em 2000 era Queimados, com 12,3 pessoas a cada mil
habitantes, mas com um acompanhamento de 11,1 pessoas.
Tabela 5.2
Taxa de pessoas com diabetes mellitus cadastradas e acompanhadas, em mil pessoas,
por municípios da Baixada Fluminense, 1980, 2000 e 2002.

Cadastrados Acompanhados
Municípios 1980 2000 2002 1980 2000 2002
Belford Roxo - 16,3 32,5 - 15,8 31,8
Duque de Caxias 2,0 7,0 32,8 2,0 5,7 32,4
Guapimirim - 46,1 47,0 - 42,4 45,2
Japeri - 14,9 30,6 - 11,2 26,0
Magé - - 66,4 - - 58,4
Nilópolis - 7,5 27,3 - 7,5 25,0
Nova Iguaçu - 5,1 17,6 - 5,0 17,6
Queimados - 0,8 12,3 - 0,8 11,1
São João de Meriti 0,9 235,3 23,8 0,5 9,9 23,7
Fonte: Sistema de Informação de Atenção Básica- SIAB

Também houve um aumento dos cadastros de pessoas com doenças hipertensivas, o


maior observado entre as três enfermidades. Os municípios de Duque de Caxias e São João
de Meriti, os únicos que tinham atendimento do programa em 1998, tinham uma taxa de 10,0
e 3,7 pessoas cadastradas em mil, respectivamente; em 2000 essa taxa sobe para 30,5 e 49,6 e
em 2002 sobe para 130,5 e 104,6, respectivamente. Os municípios de Guapimirim e Magé
apresentam as maiores taxas de pessoas cadastradas, 230,8 e 331,4 respectivamente. O
município com a menor taxa de pessoas cadastradas é Queimados, com 48,6 em mil.

Tabela 5.3
Taxa de pessoas com doenças hipertensivas cadastradas e acompanhadas por
municípios da Baixada Fluminense, 1980, 2000 e 2002.

Cadastrados Acompanhados
Municípios 1980 2000 2002 1980 2000 2002

14
Belford Roxo - 48,0 106,8 - 45,9 105,5
Duque de Caxias 10,0 30,5 130,5 9,9 24,8 128,7
Guapimirim - 238,3 230,8 - 217,5 217,2
Japeri - 71,6 134,6 - 56,7 102,5
Magé - - 331,4 - - 253,8
Nilópolis - 27,1 104,4 - 27,0 95,6
Nova Iguaçu - 22,3 76,8 - 22,1 76,7
Queimados - 3,0 48,6 - 2,9 42,5
São João de Meriti 3,7 49,6 104,6 1,8 45,8 104,2
Fonte: Sistema de Informação de Atenção Básica- SIAB

A tuberculose é a enfermidade que apresenta a menor taxa de cadastros entre as três


enfermidades. O município com a maior taxa de pessoas cadastradas em 2002 é Japeri, com
3,8 pessoas em mil, e a menor taxa pertence a Nova Iguaçu, com 0,2 pessoas cadastradas. Os
municípios que não apresentam todos os casos cadastrados efetivamente acompanhados são
Belford Roxo, Japeri, Magé e Nilópolis.

Tabela 5.4
Taxa de pessoas com tuberculose cadastradas e acompanhadas por municípios da
Baixada Fluminense, 1980, 2000 e 2002.

Cadastrados Acompanhados
Municípios 1980 2000 2002 1980 2000 2002
Belford Roxo - 0,8 1,1 - 0,8 1,0
Duque de Caxias 0,3 0,4 1,1 0,3 0,3 1,1
Guapimirim - 1,3 0,4 - 0,7 0,4
Japeri - 0,4 3,8 - 0,3 3,0
Magé - - 2,3 - - 1,9
Nilópolis - 0,4 0,7 - 0,4 0,3
Nova Iguaçu - 0,2 0,2 - 0,2 0,2
Queimados - 0,2 0,9 - 0,2 0,9
São João de Meriti 0,0 0,4 0,7 0,0 0,4 0,7
Fonte: Sistema de Informação de Atenção Básica- SIAB

A taxa bruta de mortalidade pode ser observada através das figuras 4.1, 4.2 e 4.3 para
o período de 1998, 2000 e 2002 para essas três enfermidades.
A maior taxa bruta de mortalidade por diabetes mellitus pertence ao município de
Nilópolis, com 0,58 óbitos em cada mil pessoas, ficando em segundo lugar o município de
Magé, com 0,50 óbitos. O município de Japeri apresenta a menor taxa bruta de mortalidade
para essa enfermidade, 0,24 óbitos, sendo seguido pelo município de Guapimirim, com 0,25
óbitos a cada mil habitantes.

Figura 5.1
Taxa Bruta de Mortalidade por Diabetes mellitus para os municípios da Baixada
Fluminense, 1998, 2000 e 2002

15
0,70
0,60

Em mil pessoas
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
1998 2000 2002

Belford Roxo Duque de Caxias


Guapimirim Japeri
Magé Nilópolis
Nova Iguaçú Queimados
São João de Meriti

Fonte: Sistema de Informação e Atenção Básica- SIAB

A taxa bruta de mortalidade observada para as doenças hipertensivas mostra


que em 1998 e 2000 o município de Queimados apresentava a maior taxa de mortalidade para
essa enfermidade, 0,55 e 0,54, sendo seguido por Nilópolis e Magé, com 0,47 e 0,31 e 0,45 e
0,26,respectivamente. Em 2002 observa-se que o município de Magé passa a apresentar a
maior taxa de mortalidade para essa enfermidade, 0,56 óbitos, com Nilópolis em segundo
lugar, 0,41, e Guapimirim em terceiro, 0,40. Magé também apresenta, como já observado, a
maior taxa de pessoas cadastradas e acompanhadas para essa enfermidade para o ano de
2002, e Guapimirim é o município com as segundas maiores taxas de cadastro e
acompanhamento de pessoas enfermas.

Figura 5.2
Taxa Bruta de Mortalidade por doenças hipertensivas para os municípios da Baixada
Fluminense, 1998, 2000 e 2002

16
0,70
0,60

Em mil pessoas
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
1998 2000 2002

Belford Roxo Duque de Caxias


Guapimirim Japeri
Magé Nilópolis
Nova Iguaçú Queimados
São João de Meriti

Fonte: Sistema de Informação e Atenção Básica- SIAB

A tuberculose apresenta a menor taxa bruta de mortalidade apresentada entre


as três enfermidades, assim como as menores taxas de cadastro e acompanhamento de
pessoas enfermas. Além disso observa-se uma tendência de diminuição dessa taxa para os
três anos observados.
Figura 5.3
Taxa Bruta de Mortalidade por tuberculose para os municípios da Baixada
Fluminense, 1998, 2000 e 2002

0,70
0,60
Em mil pessoas

0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
1998 2000 2002

Belford Roxo Duque de Caxias


Guapimirim Japeri
Magé Nilópolis
Nova Iguaçú Queimados
São João de Meriti

17
Fonte: Sistema de Informação e Atenção Básica- SIAB

O aumento do número de pessoas cadastradas de 2000 para 2002 para as três


enfermidades mostra que o programa de saúde da família tem procurado abranger de forma
efetiva a população dos municípios pertencentes a Baixada Fluminense; as taxas observadas
para tuberculose significam que a diminuição da mortalidade para a causa de morte doenças
infecciosas e parasitárias também tem ocorrido para a população da Baixada Fluminense, e
que o programa tem auxiliado na manutenção dessas taxas.

6 Conclusões

A análise das características sócio- demográficas dos municípios da Baixada


Fluminense mostrou que esses municípios encontram-se inseridos no processo de transição
demográfica, onde se observa um aumento da população idosa e a diminuição da Taxa de
Fecundidade Total para a população desses municípios. Os indicadores sócio- econômicos
demonstram que a população da Baixada Fluminense ainda necessita de melhorias em suas
condições de vida, como educação e a distribuição de renda, para que possa alcançar padrões
mais elevados de sobrevivência.
A taxa bruta de mortalidade por causas mal definidas observada demonstra que ainda
persiste o problema de identificação das causas de óbito, e que para os municípios da Baixada
Fluminense as taxas nos últimos anos tem se mantido constante, o que faz com que os valores
observados para as taxas brutas de mortalidade por causas definidas tenham uma análise mais
cuidadosa. Além disso, as taxas brutas de mortalidade observadas mostram que os municípios
da Baixada Fluminense apresentam padrões de mortalidade próximos dos padrões brasileiros,
ou seja, uma maior ocorrência da mortalidade por doenças crônico- degenerativas e uma
diminuição da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias.
As políticas públicas de saúde desenvolvidas nos municípios da Baixada Fluminense
demonstram requerer ações mais eficazes na promoção de saúde para essa população. As
informações relativas à diabetes mellitus, doenças hipertensivas e tuberculose mostram que
mesmo tempo que há um aumento no número de pessoas cadastradas, também observa-se um
aumento nas taxas brutas de mortalidade para essas enfermidades. Também se observa que,
mesmo sendo em pequeno número, nem todas as pessoas cadastradas no programa são
efetivamente acompanhadas, o que pode ser decorrente de fatores como desistência da pessoa
cadastrada de ser acompanhada ou até mesmo da ocorrência de óbito. Em relação à
tuberculose a baixa frequência da mortalidade observada e das taxas de pessoas cadastradas e
atendidas pelo programa de saúde da família demonstra que a tendência de queda observada
para as doenças infecciosas e parasitárias, causa de óbito que inclui a tuberculose, tem sido
persistente também para os municípios da Baixada Fluminense, e que o programa tem
garantido uma manutenção dessas taxas. Em relação à diabetes mellitus e as doenças
hipertensivas, categoricamente não se pode afirmar que o programa de saúde da família não
tem sido eficiente na redução da mortalidade por essas enfermidades, mas é necessário que o
acompanhamento dos casos seja feito de forma rigorosa, buscando a redução da mortalidade
para as causas de óbitos de que fazem parte as enfermidades analisadas.

18
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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