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O estupro e o feminino*

Junia de Vilhena[1]
Maria Helena Zamora[2]

O estupro é um ato relacionado ao domínio e à


submissão das mulheres. Bebês de alguns meses a
mulheres muito idosas têm sido atacadas
sexualmente – portanto o ato pouco tem a ver com a
busca por sexo, com atração erótica, com uma
virilidade exacerbada, mas sim com a reafirmação de
quem é que pode mais, quem é que manda
realmente[3]. Ou seja, o estupro é sempre um ato de
violência.

No Brasil ainda há poucas pesquisas quantitativas sobre o


assunto, mas segundo levantamento recente feito pela
Sociedade Mundial de Vitimologia, sediada na Holanda, com
138 mil mulheres de 54 países, estima-se que 23% das
brasileiras sofrem violência doméstica de vários tipos,
inclusive estupro e atentado violento ao pudor. Contudo,
apenas 10% das vítimas de abuso sexual denunciam seus
agressores, de acordo com o Conselho Nacional de Direitos
da Mulher. Destas, poucas são as que procuram
atendimento médico[4]. No caso do estado do Rio de
Janeiro, a Secretaria de Segurança Pública registrou 1364
casos de estupro em 2001. Cerca de 52% dos agressores
eram conhecidos das vítimas e metade dos casos ocorreu
nas suas residências.

Note-se que o estupro é também uma questão para a


saúde, já que as mulheres ficam expostas às doenças
sexualmente transmissíveis. Contudo, apenas 16% dos
estupros denunciados nas delegacias chegaram aos centros
de referência para atendimento da mulher no Rio de
Janeiro. Esses dados são preocupantes, pois mostram uma
falta de apoio para a mulher cuidar de si após o episódio e
também mostram como ainda é grande a percentagem de
subnotificação.
Sem cuidados adequados, o estupro pode causar outros
agravos à saúde. De acordo com o Ministério da Saúde,
cerca de 16% das mulheres que sofrem violência sexual
contraem alguma DST e uma em cada mil é infectada pelo
HIV[5]. E também é oportuno ressaltar que o estupro é
uma das principais causas da síndrome do stress pós-
traumático em mulheres - poucas experiências podem ser
tão destrutivas.

Além disso, ainda há o risco de gravidez, lembrando que


gestações indesejadas são motivo de aborto ilegal, uma das
maiores causas de mortalidade materna no Brasil ou de
filhos indesejados. É importante, contudo, destacar a
possibilidade do uso da anticoncepção de emergência e que
se a gravidez acontecer - neste caso o aborto é legal
(segundo o artigo 128 do Código Penal) e disponível em
hospitais públicos do país. De todo modo, vivendo o
doloroso dilema de abortar ou não, a mulher é mais uma
vez violada.

Outro aspecto perverso do estupro é a tentativa de


“justificá-lo”. Freqüentemente utiliza-se o argumento do
“consentimento” -, as mulheres “pediram” para serem
atacadas, ao usarem roupas curtas, coladas, perfume e
maquiagem chamativos. Ignora-se, com tal argumento,
que mulheres de hábito de freira ou de burca também são
violentadas. As idéias perversas de que a mulher na
verdade “bem que queria”, embora dissesse que não ou
que o homem foi fraco, diante de tanta sedução, trivializam
o estupro[6] . Na esfera legal, é comum que à vítima caiba
o ônus da prova. Isso quando ela não é transformada em
ré.

O estupro costuma ser reduzido ao privado e essa esfera


tende a ser despolitizada. Para alguns, a denúncia amplia a
vergonha da vítima e da família devendo, portanto, ser
evitada. Para outros, o estupro, simplesmente, não é da
nossa conta já que guardadas na segurança do lar, as
“nossas” mulheres sabem se comportar e estão a salvo.
Engano. Também o lar pode gerar segredos e silêncios
destruidores. As mulheres e meninas são freqüentemente
atacadas dentro de casa por seus familiares, incluindo o
próprio pai. Incluem-se, entre prováveis agressores,
alguém a quem elas conhecem e, muitas vezes, a quem
amam e em quem confiam: o namorado, o marido, o tio, o
primo, o chefe, o amigo, o colega, o professor, o sacerdote,
ou o vizinho...

O estupro – ou sua tentativa – partindo daquele que era


familiar, transformado de súbito em estranho e hostil, pode
ser paralisante para a vítima, pela surpresa dolorosa da
introdução da violência. Tal ataque pode assumir um tal
caráter de traição, que tira a possibilidade de qualquer
reação. A impossibilidade de defender-se ou uma defesa
considerada fraca são acusações lançadas contra as
vítimas, assim como julgamentos e suposições sobre seu
caráter, seus costumes e seu passado sexual.

Na natureza das funções legais de “testemunha” e


“reclamante”, ela está sendo convocada a repetir o ato e,
simultaneamente, alienar-se da experiência ou identificar-
se com a posição da vítima – ela mesma. De qualquer
forma ela está sendo novamente estuprada. Não é de
surpreender que as vítimas achem os julgamentos
traumáticos e até mais traumáticos que o próprio fato.

A mulher violentada sente medo: de trabalhar, de sair, de


estudar, de se divertir. A partir de ameaças, negação ou
minimização do abuso, isolamento, culpabilização, controle
econômico, manipulação dos filhos e mais abuso sexual,
ela aprende a “pedagogia da violência”, que tem como
resultado depressão, culpa, passividade e baixa auto-
estima, desenvolvidas pelas vítimas. Um atendimento
individualizado e cuidadoso é essencial para que a mulher
se recupere e é um direito também.

O estupro não é uma doença de alguns pervertidos,


mas a doença do patriarcado; por isso não pode ser
compreendido em termos apenas individuais, mas
sim em relação a valores masculinos de ampla
escala, construídos socialmente e que podemos e
devemos transformar. Estupro tem a ver com o ódio
às mulheres e mais, com o silenciamento do
feminino. É um crime de gênero, para controlar a
posição da mulher no mundo[7]. Este crime
intolerável ainda é endêmico entre nós, brasileiros.
Sua existência chama a todos, homens e mulheres, a
agir agora, concretamente, para a construção de uma
sociedade não machista e não opressora.

* Este trabalho faz parte de uma pesquisa intitulada


Violência, cultura e modos de subjetivação desenvolvida no
Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUC-
Rio. Uma versão desenvolvida está publicada em Vilhena,J.
& Zamora, M.H. (2005) Além do Ato. Os transbordamentos
do estupro. In: Revista Rio de Janeiro. Rio de Janeiro –
Ed.UERJ, VI, 12.
[1] Doutora em Psicologia Clínica. Profa. do Dept. de
Psicologia da PUC-Rio, Coordenadora do Laboratório
Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social – LIPIS da
Vice-Reitoria Comunitária da PUC-Rio. Psicanalista.
Pesquisadora da Associação Latino Americana de Pesquisa
em Psicopatologia Fundamental.

[2] Doutora em Psicologia Clínica. Professora do Dept de


Psicologia da PUC-Rio. Vice-Coordenadora do LIPIS.

[3] SAFFIOTTI, H. No fio da navalha: violência contra


crianças e adolescentes no Brasil. In: Madeira, F. (org.)
Quem mandou nascer mulher? Rio de Janeiro, Rosa dos
Tempos, 1997.
[4] GUTMAN, J. Inimigo Íntimo. Disponível em:
http://desarme.org/publique/. Acesso em: 07/06/2002.

[5] Ainda segundo Gutman, 2002.

[6] MACHADO, L. Z. “Sexo, Estupro e Purificação”, In: Série


Antropologia – 286. Brasília: 2000.

[7] SANDAY, P. R. Estupro como Forma de Silenciar o


Feminino. In: Estupro. Tomaselli, S. e Porter, T. (coords.).
Rio de Janeiro: Rio Fundo Editora. 1992
Mortes por causas violentas na gravidez: um
problema ainda invisível no Brasil
Sandra Valongueiro Alves[1]

Este artigo discute as mortes violentas ocorridas na


gravidez e no pós-parto e sua relação com a mortalidade
materna, tendo como referência a violência de gênero.
A violência de gênero na gravidez (psicológica, física e
sexual) representa uma violação dos direitos humanos das
mulheres e em particular, do direito de viver uma
maternidade segura. Embora o conhecimento da magnitude
da violência na gravidez dependa, em geral, da definição
empregada e dos métodos de investigação utilizados,
estudos têm demonstrado que sua prevalência varia de
0,9% a 32% e que a violência na gravidez está associada à
ocorrência de violência antes da gravidez (Heise et al.,
1994; Gazmararian et al., 1996; Pallitto, 2004; Castro e
Ruiz, 2004). No Brasil, a prevalência de violência física na
gravidez foi estimada em 8% na cidade de São Paulo e
11% na Zona da Mata de Pernambuco (Schraiber et al.,
2002). Resultados preliminares de um estudo que vem
sendo conduzido na cidade do Recife mostram uma
prevalência de violência na gravidez de 29% (Paz, 2006).

A violência durante a gestação pode levar a abortamentos e


partos prematuros, ruptura prematura de membranas,
recém nascidos prematuros e de baixo peso, hemorragias,
ruptura de útero e histerectomias (Cokkinides at al., 1999;
Nuñez-Rivas et al., 2003; Bullok & Mcfarne, 1989)[2].
Paralelamente, pode interferir nas relações subjetivas das
mulheres com a maternidade, influenciar na busca pelo
cuidado pré-natal e /ou desencadear problemas mentais
leves, como a ansiedade, ou mais severos, como depressão
na gravidez e no pós-parto (Ellsberg, 1997; Leung et al.,
2002; Moraes e colls., 2006).

Conseqüentemente, agressões físicas e /ou sexuais,


isoladas ou associadas com violência psicológica aumentam
tanto o risco de suicídios e homicídios por parceiro íntimo
durante a gravidez como a mortalidade perinatal
(Campbell, 1999; Granja, 2002)[3]. E mesmo considerando
que a mortalidade perinatal decorrente de violência de
gênero se caracteriza como uma situação de extrema
gravidade, este texto discutirá as mortes de mulheres
grávidas e puérperas[4] por causas violentas, definidas
como causas externas pela Classificação Internacional de
Doenças e Causas de Morte - CID 10ª R (1993).

Em regiões em desenvolvimento, elevados níveis de


mortalidade materna co-existem com elevadas taxas de
mortalidade feminina por causas externas[5]. No entanto, a
proporção de mortes maternas resultantes de violência
ainda é desconhecida. No Brasil, como em outros paises da
América Latina, esta questão se mantém invisível inclusive
nos protocolos dos programas de maternidade segura, nas
políticas de combate às desigualdades de gênero ou mesmo
nas propostas de vigilância do óbito materno, limitando a
adoção de medidas de intervenção.

Alguns fatores relacionados à natureza das mortes por


causas violentas contribuem para essa invisibilidade:
primeiro, a violência infligida contra as mulheres, em sua
maioria, ocorre na esfera do privado e por parceiro íntimo,
sendo muitas vezes desconhecida dos outros membros da
família e dos amigos; segundo, viver em situação de
violência pode interferir na autonomia e mobilidade dessas
mulheres e inviabilizar possíveis redes de apóio, sejam
estas institucionais ou familiares. Além disso, a gravidez
pode aumentar a dependência financeira e afetiva de
muitas mulheres em relação aos seus parceiros, expondo-
as a situações extremas como homicídios e suicídios.

Nestas situações, as mortes por causas violentas surgem


como as primeiras revelações de um cotidiano de
iniqüidades, discriminação e violência de gênero.
O terceiro fator envolvido está relacionado ao modo como
as chamadas mortes por causas externas ocorridas durante
a gravidez ou puerpério precoce são definidas. A
Classificação Internacional de Doenças (CID 10ª Revisão,
1993)[6] define morte materna como “a morte de uma
mulher durante a gestação ou, ainda, dentro de um período
de 42 dias após o término da gestação, independentemente
da duração ou da localização da gravidez, devido a
qualquer causa relacionada e ou agravada por medidas
tomadas em relação a ela, excetuando-se, porém, as
causas acidentais ou incidentais”.

Com base nessa definição, todas as mortes por causas


externas ocorridas nesse período, inclusive suicídios por
depressão puerperal, são classificadas como causas não
obstétricas. E como causas não obstétricas, são
automaticamente excluídas da construção dos indicadores
oficiais de mortalidade materna. As outras definições,
morte associada à gravidez e morte relacionada à gravidez,
além de não especificarem quais dessas mortes são
relacionadas ou associadas à violência, também são
excluídas dos cálculos dos indicadores de mortalidade
materna.

A contribuição das causas violentas para a mortalidade


materna vem sendo discutida em países desenvolvidos,
principalmente nos Estados Unidos.
Estudos conduzidos a partir da década de 90 têm mostrado
que muitas mortes violentas estão intrinsecamente
relacionadas à condição da gravidez, questionando o
caráter acidental de sua ocorrência. Para Granja et al.
(2002), a negligência em considerar a contribuição das
mortes violentas para a mortalidade materna deve-se à
concepção equivocada de que as mortes violentas ocorrem
durante a gravidez por acaso. Outros autores (Krulewitch et
al., 2001; Walker et al., 2004; Campero et al., 2006)
afirmam que se a violência doméstica for responsável por
mortes de mulheres grávidas ou puerpéras, essas mortes
deveriam ser investigadas e classificadas como mortes
maternas por causas obstétricas indiretas.

Uma outra questão que estes estudos trazem é a relação


suicídio e gravidez. E embora este seja um tema
controverso na literatura, alguns autores demonstram a
existência de associação entre suicídio e gravidez, ao
mesmo tempo em que questionam a sua exclusão na
construção dos indicadores de mortalidade materna (Rizzi
et al., 1998, Walker et al., 2004). Se em alguns casos de
suicídios, a gravidez simplesmente não aparece, em outros,
representam tentativas mal sucedidas de interrupção de
gravidezes onde o aborto é legalmente restrito. Um estudo
conduzido em Morelos, México (Campero et al., 2006),
revelou que entre as mortes maternas por causas externas
identificadas, metade eram suicídios entre adolescentes
com gravidez indesejada, não sendo, no entanto, possível
determinar se a intenção era o suicídio ou a interrupção da
gravidez.

Ainda nessa linha de argumentação, o Seminário sobre


Vigilância da Mortalidade Materna na América Latina e
Caribe[7], promovido pela Organização Mundial de Saúde
(OMS), Organização Pan-americana de Saúde (OPAS),
Agência Internacional dos Estados Unidos para o
Desenvolvimento (USAID) e Centro de Controle e
Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), sediado
no Centro Brasileiro de Classificação de Doenças da
Faculdade de Saúde Pública de São Paulo (CBCD /FSP /SP)
reafirmou a necessidade de se rediscutir a forma como a
CID 10ª R classifica as mortes por suicídios e homicídios
ocorridas durante a gravidez. Os representantes de
diversos países sugeriram incluir esta discussão na pauta
da reunião 11ª Revisão da CID.

No Brasil, a mortalidade por causas externas entre


mulheres em idade reprodutiva (10 a 49 anos) tem crescido
nos últimos anos, representando a 3ª causa de morte entre
mulheres desse grupo etário (Laurenti e colls., 2006;
DATASUS, 2006). No entanto, sua contribuição para a
mortalidade materna também é pouco reconhecida e
praticamente não investigada pelos sistemas de vigilância
de óbito materno, o que pode contribuir para aumentar o
nível de sub-informação, estimado em 28%[8] para as
capitais brasileiras em 2002 (Ministério da Saúde, 2006).
A pesquisa sobre mortalidade de mulheres em idade
reprodutiva, conduzida por Laurenti e colls. (2006) nas
capitais brasileiras em 2002, revelou que dentre as 224
mortes ocorridas durante o ciclo gravídico-puerperal,
19,2% foram homicídios e 7,1% suicídios. Em Pernambuco,
casos de suicídios para esconder uma gravidez indesejada,
suicídios resultantes de tentativas de interrupção de
gravidezes precoces e homicídios cometidos por parceiros
que negavam a paternidade foram registrados por
Valongueiro (1994 & 2006) e Valongueiro et al. (2004).
Nestes estudos, foram necessárias rigorosas investigações
em prontuários médicos, serviços de necropsia e entrevista
com familiares e amigos próximos (método RAMOS).

Neste sentido, mesmo que o Pacto Nacional pela Redução


da Mortalidade Materna e Neonatal (2004) reafirme que
todos os óbitos de mulheres em idade fértil devam ser
investigados nos níveis municipais, o que se observa é uma
relação de custo-benefício que acaba por privilegiar a
investigação dos óbitos por causas obstétricas que podem
ser usados na construção dos indicadores de mortalidade
materna, deixando de fora os óbitos por causas externas. O
sistema de vigilância dos óbitos maternos do município do
Recife, por exemplo, até 2002 investigava apenas óbitos
maternos presumíveis, dos quais eram excluídos aqueles
cujas causas básicas declaradas fossem neoplasias e causas
externas.

À luz dessas questões levantadas e diante da necessidade


de avançar na compreensão do fenômeno da mortalidade
materna, o Grupo Técnico do Comitê Estadual de Estudos
da Mortalidade Materna de Pernambuco, do qual faz parte a
Vigilância do Óbito Materno da Secretaria Estadual de
Saúde de Pernambuco, iniciou desde 1997 a sistematização
dos óbitos de mulheres em idade fértil por causas externas
independente dos mesmos terem declarado uma gravidez,
parto ou aborto no último ano. O objetivo dessa
sistematização é iniciar o estudo das circunstâncias nas
quais esses óbitos ocorreram e compreender sua relação
com a condição da gravidez, aborto ou pós-parto em
Pernambuco.
Como a investigação de óbitos por causas externas não
fazia parte da rotina dos serviços de vigilância do óbito
materno, apenas parte desses óbitos foi investigada e
discutida, enquanto a grande maioria passou a ser
investigada a partir de 2003, tendo como referência os
serviços de necropsia (IML) e os domicílios (caso os
mesmos não estivessem localizados em áreas consideradas
perigosas pelos técnicos dos municípios).

Resultados preliminares mostram que durante entre 1997 e


2003[9] ocorreram 3.818 óbitos por causas externas de
mulheres em idade reprodutiva, o que corresponde a uma
taxa de mortalidade de 22 por 100 mil mulheres entre 10 a
49 anos (DATASUS, 2006).
No mesmo período, 792 óbitos femininos foram
classificados como maternos após investigação e discussão
no Grupo Técnico do Comitê Estadual de Estudos da
Mortalidade Materna de Pernambuco (CEEMM-PE),
correspondendo a uma Razão de Mortalidade Materna
(RMM) de 72 por 100.000 nascidos vivos, da qual foram
excluídas todas as mortes por causas externas de acordo
com a CID 10ª R (Capítulos XIX e XX).

Dentre essas mortes por causas externas excluídas das


estimativas de mortalidade materna, em 65 identificou-se
alguma relação com gravidez, parto ou aborto[10], dos
quais 43% foram homicídios e 19% suicídios. As outras
causas contribuíram com 38%. Em relação ao momento da
morte, 83% dos casos ocorreram durante a gravidez, 13%
no puerpério precoce 4% no pós-abortamento. Entre
aqueles ocorridos na gravidez, a maioria se deu até a 22ª
semana de gestação (40%) e apenas seis continham
alguma referência à gravidez, parto ou aborto na
declaração de óbito, revelando, portanto, um elevado grau
de sub-informação.

Estes resultados, ainda que bastante preliminares, mostram


que as mortes por causas externas poderiam contribuir com
8% para a mortalidade materna total, elevando a RMM para
77 por 100.000 nascidos vivos. E considerando que óbitos
maternos são eventos raros na população, tal contribuição
não deve ser negligenciada.

Sendo assim, recomenda-se uma investigação ampla e uma


análise cuidadosa de todos os óbitos por causas externas
em mulheres em idade fértil como uma estratégia de dar
visibilidade à violência de gênero e provocar o debate sobre
padrões emergentes de mortalidade materna, dentre os
quais, a morte violenta.

E mais importante do que o acréscimo desses pequenos


números às estimativas de mortalidade materna, é ajustar
o sistema de vigilância de óbitos maternos ao perfil
epidemiológico da região, caracterizado por elevada
prevalência de violência de gênero e elevados níveis de
mortalidade materna.

Por fim, espera-se com essa discussão incorporar mais


elementos na luta pela garantia dos direitos humanos,
sexuais e reprodutivos das mulheres e especialmente do
direito a uma maternidade segura, livre do fantasma da
morte, seja esta por eclampsia, hemorragia, aborto,
suicídio por depressão pós-parto ou homicídio por parceiro
íntimo.

Principais Referências

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[1] Médica pesquisadora da Universidade Federal de


Pernambuco e Coordenadora do Comitê Estadual de
Estudos da Mortalidade Materna de Pernambuco. Tem
estudado a mortalidade materna desde o início dos anos
1990, tema sobre o qual se dedicou nos cursos de
mestrado (1998) e de doutorado (2006).
[2] As regiões mais atingidas pela violência de gênero são:
rosto, pescoço, dorso, mamas e abdome (Helton et al.,
1987).
[3] Mortalidade perinatal: número de óbitos fetais (a partir
de 22 semanas) acrescido dos óbitos neonatais precoces
(zero a seis dias) por mil nascimentos (vivos e óbitos
fetais) em determinado espaço geográfico, no ano
considerado (RIPSA, 2002).
[4] Período puerperal clássico, definido como até 42 dias do
parto (CID 10ª Revisão).
[5] E ao mesmo tempo são eventos sub-informados.
[6] Capitulo XV - Gravidez, parto e puerpério (O00 – O99).
[7] 29 a 31 de agosto de 2006.
[8] Corresponde a fator de correção de 1,4.
[9] Início da implantação do Sistema de Vigilância do Óbito
Materno no estado.
[10] Os óbitos do município de Recife não foram incluídos
neste momento, mas serão acrescidos nas etapas
subseqüentes.

Quando as mulheres atraem violência


Por: Ivone Gebara
Data: 1/2/2007

Fico me perguntando por que a violência contra as


mulheres nas suas diferentes expressões tem aumentado.
As estatísticas do último ano, em todos os estados
brasileiros, são estarrecedoras e sem dúvida convidam ao
pensamento e à mobilização.

Penso que o aumento da violência contra as mulheres


torna-se ainda mais espantoso nestes tempos pelo fato de
já estarmos vivendo mais de meio século de feminismo
militante sem contar os inúmeros esforços dos séculos
passados. Além disso, através dos meios de comunicação
estamos sabendo do crescimento do número das delegacias
da mulher, de novas leis que protegem as mulheres em
diferentes situações e sobretudo das organizações nacionais
e internacionais que assumem esta frente nas suas
expressões plurais.

Neste texto não quero enumerar os assassinatos e as


diferentes formas de agressão desde os golpes físicos até
os golpes verbais e pressões psicológicas de que são
vítimas as mulheres. Não quero igualmente falar de
nenhuma organização em defesa das mulheres e das leis
como a Lei Maria da Penha (2006), embora tenham hoje
uma importância capital. Creio que neste momento vale
uma pergunta talvez um pouco diferente: o que temos
nós mulheres que atrai tanta violência? É em torno
desta questão que partilho intuições e pensamentos de
forma livre e associativa.
Estou convencida de que não há uma única causa para
tentar explicar e entender algo sobre a agressão que nós
seres humanos fazemos uns aos outros e particularmente à
violência feita às mulheres. Há causas que se entrelaçam,
situações complexas em que as razões não dão conta de
explicar tudo o que acontece. Há as violências conhecidas e
as desconhecidas, há as atuais, mas há também aquelas
herdadas, aquelas que ficam doendo no corpo como unha
encravada. E, na busca de algumas explicações eis que, de
repente, me vieram à lembrança, algumas passagens do
Livro do Apocalipse. “O dragão postou-se diante da mulher,
que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho tão
logo ele nascesse.” E em seguida: “Enfurecido contra a
mulher, o dragão foi combater o resto da descendência
dela” (Apocalipse, 12). Este texto veio habitar-me
espontaneamente e a partir dele tentei um caminho de
reflexão. O fato de me situar no interior da tradição judeu-
cristã (judaico-cristã?) me convida a afirmar que ela não
tem a exclusividade dos mitos que expressam de uma
forma ou de outra a violência contra mulheres. Este é um
tema mítico recorrente, o que indica um nó no interior da
experiência humana coletiva.

Por que esta luta do dragão contra a mulher prestes a


parir? Por que esta espécie de perseguição aparentemente
sem fim? O que existe em nós que provoca a vontade de
violar, de agredir, de sacrificar, de eliminar?

Creio que o texto do Apocalipse, para além de sua


importância na tradição cristã, revela uma camada mítica
de beligerância no interior mesmo da humanidade feminina
e masculina. As mulheres, como fonte mais explícita da
renovação da descendência humana, como útero que
continua a espécie, aparecem muitas vezes ameaçadas por
sua própria descendência. O fruto do ventre acaba se
tornando fruto contra o ventre, como se alguns frutos
guardassem em si uma raiva originária ou uma raiva das
próprias origens. O lugar da origem, o útero, a vagina, os
seios que amamentam são os pontos de convergência das
agressões. É como se de lá se pudesse maldizer a vida,
tocar o próprio nascimento, tentar de certa forma
exterminá-lo. É lá o lugar onde se expressa a raiva maior,
como se ao agredir, ferir, rasgar, estraçalhar, fazer sangrar
aqueles lugares se vingaria toda a humanidade. Vingar-se
de que? Vingar-se da falta de aconchego, da falta de
abraços, da falta de carinho, da falta de alimento, da falta
de reconhecimento, do tédio da existência, da impotência?
Ou talvez, vingar-se de não ser igualmente esta poderosa
origem? E no processo de vingança, o amor derrotado
parece quase desaparecer ou apenas, cede lugar ao ódio
original.

Ódio original? Como é possível falar de ódio original?

Por que se destroem corpos, casas, catedrais..? Por que se


penetra a vagina com a espada, a lança, o fuzil, o cabo da
enxada..? Penetra-se com o pé, com o pênis, de um, de
dois, de muitos num mesmo lugar e num mesmo tempo de
raiva coletiva. Ódio original manifesto em qualquer guerra,
acordado por qualquer par de sandálias, por petróleo, por
fronteiras inventadas, por desemprego e embriaguez, por
ciúme, por crenças religiosas e por mil sem razões tornadas
razões. Ódio original que viola para se abrandar, que fere
para matar a vingança oculta ou manifesta. Uma vingança
a mais entre tantas outras! Uma vingança buscando saciar
vinganças!

Vingança? Por que?

Ódio original sem razão razoável. Pura onda de destruição a


invadir os corpos e torná-los eles mesmos instrumentos de
morte, produtores de cadáveres ou de corpos com marcas
indeléveis.

O corpo feminino com sua força diferente atrai e excita a


força revoltada. É como se pudesse contê-la, abafá-la,
ocultá-la, apaziguá-la. Esta força revoltada, convencida de
que pode dominá-lo, se investe contra ele, o derruba,
golpeia e mata. Experimenta por um fugidio instante a
exaustão e talvez o gosto da vitória instantânea... Ri,
gargalha, pronuncia impropérios como se tivesse vencido o
inimigo, como se tivesse ganhado uma batalha, como se
pudesse ser condecorado por uma vitória. O agressor
repousa.... Pensa-se vitorioso. Deixando a vítima no chão e
possivelmente no seu ventre a semente da continuação da
humanidade se afasta. Humanidade estuprada que
guardará as seqüelas de violência ao longo de sua história
e ao longo de gerações sucessivas. Semente violenta em
corpo violentado...

Raiva da humanidade depositada em corpo de mulher.


Depois, raiva do ventre prenhe de violência. Raiva da
criança que não morreu, resignação com o filho ou a filha
que venceu a morte, mas já nasce marcada por um ódio
encoberto de cuidado, de comportamentos de aparência
social, de tentativas de esquecimento e de mentirosa
bondade.

Quantos nasceram do estupro, do não desejo, do não


amor, da guerra, do acaso e mesmo do ódio?

Ódio original tem cura?

Confesso que não sei responder de forma convincente


como aqueles que dizem “Jesus nos salva de tudo” ou
“Deus entende o que não entendemos”. No fundo não
temos respostas às perguntas mais fundamentais que nos
fazemos. Estamos entregues à fragilidade de nossa
humanidade.

Não sei se o ódio original tem cura. Nem mesmo sei, se a


força do amor original, ou do perdão original pode dar
certezas de regeneração.

Amor das origens, Perdão das origens, Ódio das origens.


No princípio foi a explosão dos sentimentos, a luta entre
eles, a competição entre eles, a dominação de um pelo
outro e ela persiste como marca indelével da espécie, como
marca da vida. Todos os sentimentos até hoje continuam
em confronto e contradição se nutrindo uns dos outros. E aí
está a mulher de novo, em dores de parto querendo
recomeçar de novo algo novo. É como se quisesse nascer
de novo, como se quisesse começar a impossível
humanidade sem ódio de si mesma... É como se tentasse
reescrever o mito adâmico e contar outra história, diferente
daquela que acaba com a vingança divina condenando a
mulher a arrastar-se ao desejo do homem, parindo com dor
e sofrimento.

Mas, parece que o dragão continua à espreita, continua a


persegui-la querendo matá-la e destruir sua prole. Nós a
prole e o dragão... , nós mulheres e homens nos atraindo e
nos odiando.... Nós, ao mesmo tempo, faces de uma
mesma moeda de criação e destruição.

Hoje falamos com freqüência que precisamos, mulheres e


homens, nascer de novo para nós mesmos. Precisamos dar
a luz ao homem e à mulher possível, a partir do não
escolhido de nossas origens. Somos o que fizermos da vida
que nos foi entregue. Vida rejeitada, acolhida, malvada,
amada. Os mitos têm suas razões. Nunca têm um final feliz
ou sempre deixam um final para ser adivinhado.

Por isso, além de denunciar a violência contra as


mulheres precisaríamos talvez trabalhar sobre a
violência das nossas origens, sobre os mitos que a
expressam, os medos que formam nosso corpo e
nossas relações.

Precisamos, talvez, olhar nossos medos de frente e re-


encontrar a força e a ternura da vagina e do pênis, dos
afagos de ternura, dos afetos e emoções. E, quando
tivermos sido capazes de inventar nossa humanidade de
um outro jeito inventaremos outros mitos onde já não
seríamos mais condenadas ao desespero entre nós mesmos
e onde dragões não mais perseguirão mulheres e nem
matarão sua prole.

Apesar da violência real e da vergonhosa impunidade,


aposto que “amanhã há de ser outro dia”. Algo de novo
começa a se anunciar em nossos corpos, em nossas mentes
e em nossas relações. Nosso mal-estar presente talvez
esteja a anunciar que há boa nova pelo caminho. Não
sabemos ainda o que virá, mas continuamos a apostar pelo
respeito de nossas origens e pelo respeito da diversidade
da VIDA em nossas próprias vidas.

Ivone Gebara
Fevereiro 2007.

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