1) Uma empresa moveu ação contra duas empresas de transporte alegando que contratou o serviço para enviar 13 volumes de mercadorias, mas recebeu apenas 5 volumes.
2) A sentença de primeira instância julgou procedente a decadência do direito da autora em relação ao pedido de entrega dos volumes faltantes.
3) A autora recorreu da sentença sustentando a aplicação do Código de Defesa do Consumidor e a responsabilidade solidária das rés.
1) Uma empresa moveu ação contra duas empresas de transporte alegando que contratou o serviço para enviar 13 volumes de mercadorias, mas recebeu apenas 5 volumes.
2) A sentença de primeira instância julgou procedente a decadência do direito da autora em relação ao pedido de entrega dos volumes faltantes.
3) A autora recorreu da sentença sustentando a aplicação do Código de Defesa do Consumidor e a responsabilidade solidária das rés.
1) Uma empresa moveu ação contra duas empresas de transporte alegando que contratou o serviço para enviar 13 volumes de mercadorias, mas recebeu apenas 5 volumes.
2) A sentença de primeira instância julgou procedente a decadência do direito da autora em relação ao pedido de entrega dos volumes faltantes.
3) A autora recorreu da sentença sustentando a aplicação do Código de Defesa do Consumidor e a responsabilidade solidária das rés.
Classe : APELAO N. Processo : 20120110053808APC (0001581-61.2012.8.07.0001) Apelante(s) : IB TECNOLOGIA E SISTEMAS LTDA Apelado(s) : PIER CARGO SERVICOS DE DOCUMENTOS E ENCOMENDAS URGENTES LTDA, OFFI CELOG TRASPORTES LTDA ME Relator : Desembargador MARIO-ZAM BELMIRO Revisora : Desembargadora NDIA CORRA LIMA Acrdo N. : 764510 CI VI L E PROCESSUAL CI VI L. APELAO C VEL. OBRIGAO DE FAZER. TRANSPORTE DE MERCADORIAS. RECEBIMENTO PARCIAL. NO INCIDNCIA DO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. APLICAO DO ARTIGO 754 DO CDI GO CI VI L. FALTA DO DEVER DE CONFERNCIA NO ATO DO RECEBIMENTO. AUSNCIA DE RECLAMAO NO MOMENTO OPORTUNO. DECADNCIA DO DIREITO RECONHECIDA. PROVA DE ENTREGA DE MERCADORIA. 1. A Lei 8.078/90, em seu artigo 2, identifica a pessoa jurdica como consumidora aquela que adquire ou utiliza produto ou servio como destinatrio final. 2. Contratada empresa para prestar servio de transporte de remessa de encomendas outra, revela-se ntido o propsito da empresa destinatria em investir em sua prpria atividade, de maneira a incrementar sua finalidade lucrativa. 3. Nos termos do art. 754 do CC, aquel e que recebe mercadorias deve conferir o que lhe foi apresentado e prestar as reclamaes que tiver, sob pena de decadncia dos direitos. 4. Havendo inrcia do destinatrio no dever de conferncia do materi al que l he foi entregue e assi nando canhoto de Poder Judicirio da Unio Tribunal de Justia do Distrito Federal e dos Territrios Cdigo de Verificao :2014ACOEU530TNQ1EMMG8EPXEN5 GABINETE DO DESEMBARGADOR MARIO-ZAM BELMIRO 1 recebimento, imperioso reconhecer a decadncia de futura reclamao no manifestada em momento oportuno. 5. Recurso desprovido. Apelao 20120110053808APC Cdigo de Verificao :2014ACOEU530TNQ1EMMG8EPXEN5 GABINETE DO DESEMBARGADOR MARIO-ZAM BELMIRO 2
A C R D O Acordam os Senhores Desembargadores da 3 TURMA CVEL do Tribunal de Justia do Distrito Federal e Territrios, MARIO-ZAM BELMIRO - Relator, NDIA CORRA LIMA - Revisora, GETLIO DE MORAES OLIVEIRA - 1 Vogal, sob a presidncia do Senhor Desembargador MARIO-ZAM BELMIRO, em proferir a seguinte deciso: CONHECER. NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. UNNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigrficas. Brasilia(DF), 12 de Fevereiro de 2014. Documento Assinado Eletronicamente MARIO-ZAM BELMIRO Relator Apelao 20120110053808APC Cdigo de Verificao :2014ACOEU530TNQ1EMMG8EPXEN5 GABINETE DO DESEMBARGADOR MARIO-ZAM BELMIRO 3 Inconformada, apela a empresa autora. Em suas razes, a apelante sustenta que contratou os servios de transporte da primeira empresa r para remessa de 13 volumes de mercadorias para outro Estado e que no houve entrega da totalidade das caixas, tendo recebido apenas 5 volumes, os quais foram entregues pela segunda requerida. Defende a aplicao do Cdigo de Defesa do Consumidor ao caso, por entender ser destinatria final do servio de transporte de mercadorias contratado, visto tratar-se de ntido contrato de transporte sem qualquer relao com as atividades empresarias da autora. Acrescenta no ser o caso de aplicao do artigo 754 do Cdigo Civil, bem como no h de se falar em decadncia do direito autoral, mas sim na regra inserta no artigo 26 do Cdigo de Defesa do Consumidor. Sustenta que as requeridas confessam o extravio das mercadorias, evidenciando falha na prestao dos servios de transporte. Continua, postulando pela condenao das rs ao pagamento, a ttulo de perdas e danos, da importncia de R$ 38.842,00 relativa ao valor do restante da mercadoria que no foi entregue, alm da condenao ao pagamento de danos morais. Ao final, requer a responsabilidade solidria da segunda r (Pier Cargo Servios de Documentos e Encomendas Urgentes Ltda), seja por fora do artigo 7 combinado com o artigo 25, 1 do Cdigo de Defesa do Consumidor, seja pelo artigo 756 do Cdigo Civil. As empresas requeridas apresentaram contrarrazes[1], postulando, cada uma, pela manuteno da r. sentena guerreada. o relatrio.
R E L A T R I O Cuida-se de apelao (fls. 218/232) interposta de sentena (fls. 208/215) prolatada pelo MM. Juiz de Direito da 22 Vara Cvel de Braslia que, nos autos da ao de obrigao de fazer ajuizada por IB TECNOLOGIA E SISTEMAS LTDA em desfavor de OFFICELOG TRANSPORTES LTDA ME e PIER CARGO SERVIOS DE DOCUMENTOS E ENCOMENDAS URGENTES LTDA, pronunciou a decadncia do direito autoral em relao ao pedido de cominao de obrigao de fazer e julgou improcedente a pretenso reparatria, condenando a autora ao pagamento das custas processuais e dos honorrios advocatcios devidos aos patronos de cada uma das rs, fixados em R$ 1.000,00 (mil reais). Apelao 20120110053808APC Cdigo de Verificao :2014ACOEU530TNQ1EMMG8EPXEN5 GABINETE DO DESEMBARGADOR MARIO-ZAM BELMIRO 4 [1] Fls. 248/257 (2 r) e fls. 259/265 (1 r). Apelao 20120110053808APC Cdigo de Verificao :2014ACOEU530TNQ1EMMG8EPXEN5 GABINETE DO DESEMBARGADOR MARIO-ZAM BELMIRO 5 Trago baila, trecho da r. sentena para melhor ilustrar a situao que ser analisada. Confira-se:
"Cuida-se de ao de obrigao de fazer, com pedido condenatrio em perdas e danos, movida por IB TECNOLOGIA E SISTEMAS LTDA em desfavor de OFFICELOG TRANSPORTES LTDA ME e PIERCARGO SERVIOS DE DOCUMENTOS E ENCOMENDA, partes qualificadas nos autos. Em sntese, relata a parte autora ter celebrado com a primeira requerida contrato voltado prestao de servios de transporte de mercadorias, consistentes em cinqenta cmeras tipo "IP, 1MP, H265 - 36 MM, DLUX IP 66, cdigo ADIP8332" e trs cmeras "Speed Dome IP H64, Zoom 20x, 0,5 Lux, IP85, Cdigo ADSD 8362, quantificadas globalmente em R$ 61.217,00 (sessenta e um mil duzentos e dezessete reais). Relata ter restado acordada a acomodao dos bens em treze caixas lacradas, das quais somente cinco lhe foram entregues, pela segunda r, data de 18/11/2011, narrando, ainda, que o contedo dos invlucros no corresponderia aos objetos cujo transporte fora contratado, fato que fora levado a conhecimento da primeira r, mediante contato telefnico, no dia 25/11/2011, tendo havido, todavia, a restituio de somente cinco das treze caixas com os bens de sua propriedade, as quais lhe foram corretamente entregues pela segunda requerida, no dia 07/12/2011, contendo vinte e cinco cmeras tipo "IP, 1MP, H265 - 36 MM, DLUX IP 66, cdigo ADIP8332". Afirma no ter logrado xito no recebimento do restante da mercadoria, pugnando pela condenao das rs, solidariamente, em obrigao de fazer consistente na entrega dos objetos faltantes, sob pena da converso da obrigao em indenizao por perdas e danos no importe de R$ 38.842,00 (trinta e oito mil oitocentos e quarenta e dois reais), alm da reparao de prejuzo de ordem material suportado com despesas cartorrias relativas a notificaes levadas a efeito com o fito de extrajudicialmente solucionar a V O T O S O Senhor Desembargador MARIO-ZAM BELMIRO - Relator Conheo do recurso, presentes os requisitos legais. Apelao 20120110053808APC Cdigo de Verificao :2014ACOEU530TNQ1EMMG8EPXEN5 GABINETE DO DESEMBARGADOR MARIO-ZAM BELMIRO 6 questo, quantificadas em R$ 241,10 (duzentos e quarenta e um reais e dez centavos), acrescidas ainda dos honorrios contratuais pactuados com seu patrono para fi ns de aj ui zamento da presente demanda, quanti a correspondente a R$ 10.000,00 (dez mi l reai s). Outrossim, aduz ter experimentado danos de ordem moral em razo do ocorrido, pleiteando a indenizao respectiva, mediante indenizao no importe de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Junta aos autos os documentos de fls. 23/70. Devidamente citadas as demandadas, ofertou a segunda requerida a contestao de fls. 88/97, no bojo da qual argi, preambularmente, a incompetncia deste Juzo, fundada em questo de ordem territorial, bem como a sua ilegitimidade para figurar no plo passivo da lide. No mrito, discorre acerca dos fatos alinhavados inicial, sustentando que, contrariamente ao relatado pela parte autora, as mercadorias que lhe foram confiadas para transporte teriam sido integralmente entregues, inexistindo o extravio de oito caixas, na forma reclamada, aduzindo, ainda, que eventual responsabilizao por danos supostamente causados demandante recairia exclusivamente sobre a primeira r, dada sua limitada atuao no contrato firmado exclusivamente por aquelas. Pugna pelo reconhecimento da total improcedncia da pretenso autoral, juntando aos autos os documentos de fls. 98/104. Por seu turno, ofertou a primeira demandada contestao de fls. 159/166, acompanhada dos documentos de fls. 167/186. Em sntese de sua tese resistiva, discorre acerca do negcio entabulado entre as partes, reputando inverdica a alegao autoral de que teria restado faltante a entrega de oito dos treze volumes encomendados, sustentando, ainda, a caducidade do direito da parte adversa de reclamar os alegados vcios no servio, uma vez que somente se insurgira aps exaurido o prazo de dez dias assinalado pelo Cdigo Civil para tanto. Afirma a inexistncia de danos passveis de reparao, na forma colimada, requerendo o julgamento de improcedncia da pretenso ventilada em seu desfavor. Rplica s fls. 190/196, na qual aduz no ter restado demonstrada a existncia de fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito vindicado, reiterando os argumentos e a pretenso ventilados exordial. Instadas as partes a se manifestarem em especificao de provas (fl. 198), pugnaram, requerente (fl. 200) e primeira requerida (fls. 201/202), pelo Apelao 20120110053808APC Cdigo de Verificao :2014ACOEU530TNQ1EMMG8EPXEN5 GABINETE DO DESEMBARGADOR MARIO-ZAM BELMIRO 7 julgamento antecipado da lide, manifestando a segunda r (fl. 203) interesse pela produo de prova testemunhal. Vieram os autos conclusos. Eis o relato do necessrio. Decido[1].
Busca a autora a reforma da r. sentena para condenar as apeladas na reparao de danos materiais e morais, decorrentes da falha na prestao do servio de transporte contratado. I - DA NO APLI CAODO CDI GO DE DEFESA DO CONSUMI DOR Defende a autora a aplicao do Cdigo de Defesa do Consumidor ao caso, por entender ser destinatria final do servio de transporte de mercadorias contratado, visto tratar-se de ntido contrato de transporte sem qualquer relao com as atividades empresarias da autora. Todavia, a apelante no pode ser considerada consumidora, uma vez que a Lei 8.078/90, em seu artigo 2, identifica a pessoa jurdica como aquela que adquire ou utiliza produto ou servio como destinatrio final. Fbio Ulha Coelho considera que haver relao de consumo "quando a atividade econmica do empresrio puder ser desenvolvida, sem alteraes quantitativas ou qualitativas em seus resultados, apesar da falta de um determinado bem[2]". Da mesma manei ra, escl arece Cl udi a Li ma Marques que "destinatrio final aquele destinatrio ftico e econmico do bem ou servio, seja ele pessoa jurdica ou fsica. O destinatrio final o consumidor final, o que retira o bem do mercado ao adquiri-lo ou simplesmente utiliz-lo (destinatrio final ftico), aquele que coloca um fim na cadeia de produo (destinatrio final econmico), e no aquele que utiliza o bem para continuar a produzir, pois ele no o consumidor final, ele est transformando o bem, utilizando o bem, incluindo o servio contratado no seu, para oferec-lo por sua vez ao seu cliente, seu consumidor, utilizando-o no seu servio de construo, nos seus clculos do preo, como insumo da sua produo[3]." No caso especfico dos autos, a 1 empresa r foi contratada para prestar servio de transporte de remessa de encomendas, sendo ntido o propsito da autora em investir em sua atividade, de maneira a incrementar sua finalidade lucrativa. Alm disso, a doutrina especializada aponta dois requisitos para que Apelao 20120110053808APC Cdigo de Verificao :2014ACOEU530TNQ1EMMG8EPXEN5 GABINETE DO DESEMBARGADOR MARIO-ZAM BELMIRO 8 uma pessoa jurdica possa ser considerada consumidora em face de outra. Primeiro, os bens adquiridos devem ser bens de consumo, e no de capital, ou seja, devem destinar-se ao consumo pessoal, e no ao desenvolvimento da atividade lucrativa realizada pela pessoa jurdica e, segundo, deve haver entre a pessoa jurdica fornecedora e a consumidora um desequilbrio que privilegie e favorea a primeira. Ocorre que nenhum desses requisitos est presente na relao estabelecida entre as partes, motivo pelo qual inaplicveis, ao caso, as regras consumeiristas invocadas pela requerente. No mesmo sentido, a jurisprudncia desta Casa de Justia. Confira-se:
ANULAO DE CLUSULA. CONTRATO DE PRESTAO DE SERVIOS. TRANSPORTE. MULTA TOMADORA POR CONTRATAO DE EX-EMPREGADO DA PRESTADORA. PREVISO CONTRATUAL. ABUSIVIDADE NO RECONHECIDA. APLICAO DO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. I - Para se aplicar o CDC s relaes contratuais estabelecidas entre pessoas jurdicas, preciso que a contratante utilize os servios como destinatria final, conforme prescreve o art. 2 do referido Cdigo, condio i nexi st ent e quando se promovem os i nt eresses comerci ai s do empreendi ment o. II - A proibio de contratar ex-funcionrio da prestadora de servios, nos 90 dias subsequentes extino do contrato de trabalho, vlida, porquanto objetiva preservar a privacidade e a logstica da antiga empregadora. Nos termos do art. 122 do CC, so lcitas todas as condies no contrrias Lei, ordem pblica e aos bons costumes, o que confirma a regularidade da multa por violao ao contrato. III - Apelao improvida. (Acrdo n.378445, 20050111191657APC, Relator: VERA ANDRIGHI, Revisor: LCIO RESENDE, 1 Turma Cvel, Data de Julgamento: 16/09/2009, Publicado no DJE: 05/10/2009. Pg.: 65); CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. REPARAO DE DANOS. SERVIO DE TRANSPORTE. BEM SUPOSTAMENTE EXTRAVIADO NO TRAJETO. PRELI MI NAR. CERCEAMENTO DE DEFESA. REJ EI O. INAPLICABILIDADE DAS NORMAS DO CDIGO DE DEFESA DO Apelao 20120110053808APC Cdigo de Verificao :2014ACOEU530TNQ1EMMG8EPXEN5 GABINETE DO DESEMBARGADOR MARIO-ZAM BELMIRO 9 CONSUMIDOR. I - No se cogita de cerceamento de defesa se a parte, regularmente intimada, manifesta-se informando no ter mais provas a produzir. II - Para que haja incidncia das normas do CDC, necessrio que a pessoa jurdica caracterize-se como destinatria final dos servios contratados. III - Se a parte autora no se desonera do encargo de provar o fato constitutivo de seu direito, a improcedncia do pedido medida que se impe. IV - Negou-se provimento ao recurso. (Acrdo n.396122, 20060110701242APC, Relator: JOS DIVINO DE OLIVEIRA, Revisor: ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO, 6 Turma Cvel, Data de Julgamento: 25/11/2009, Publicado no DJE: 09/12/2009. Pg.: 191); AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXCEO DE INCOMPETNCIA - INAPLICABILIDADE DO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - CONTRATO FI RMADO ENTRE PESSOAS JUR DI CAS - NO CARACTERI ZADA A RELAO DE CONSUMO - FI XAO DA COMPETNCIA PELO CDIGO DE PROCESSO CIVIL - INTELIGNCIA DO ARTIGO 100, INCISO IV, ALNEA "A". 1. Para que haja a incidncia do CDC, mister caracterizar-se a pessoa jurdica como destinatria final dos servios contratados ou produtos adquiridos. 2. A demanda em apreo versa sobre obrigaes decorrentes de contrato de prestao de servios de transporte, celebrado por duas empresas, impondo a aplicao do artigo 100, inciso IV, alnea "a" do Diploma Processual Civil, que firma como competente, para julgar e processar a lide, o foro da sede da pessoa jurdica demandada. 3. Agravo improvido. (Acrdo n.201715, 20040020050836AGI, Relator: SANDRA DE SANTIS, 6 Turma Cvel, Data de Julgamento: 13/09/2004, Publicado no DJU SECAO 3: 11/11/2004. Pg.: 75).
Nesse toar, correto o entendimento do nobre sentenciante ao afastar a incidncia do Cdigo de Defesa do Consumidor ao entender que "a relao estabelecida entre as partes no ostenta natureza de relao de consumo, uma vez que, ante as peculiaridades do negcio celebrado, no se enquadra a requerente na Apelao 20120110053808APC Cdigo de Verificao :2014ACOEU530TNQ1EMMG8EPXEN5 GABINETE DO DESEMBARGADOR MARIO-ZAM BELMIRO 10 definio trazida pelo art. 3 do CDC, como sendo destinatria final dos servios prestados pela transportadora, posto que tais atividades se voltariam, em verdade, ao fomento da atividade empreendida na condio de empresria[4]". II- DA APLICAODO CDIGO CIVIL Na esteira do raciocnio desenvolvido acima, a questo posta em debate merece anlise sob o prisma das relaes civis direcionadas pelas normas gerais do Cdigo Civil. Conforme consta do caderno processual, incontroversa a existncia de contrato de prestao de servios de transporte celebrado entre a autora e a 1 r para a entrega de 13 caixas de mercadorias, o que seria cumprido por meio da atuao da 2 requerida, conforme estipulao apenas entre as duas apeladas. Afirma a autora que apenas cinco, das treze caixas foram entregues pela 2 r. Verifico, na espcie, que a segunda demandada foi contratada pela primeira unicamente para executar o servio de transporte contratualmente atribudo a esta, no havendo de se falar na incidncia do art. 733 do Cdigo Civil, afastando, desse modo, o contrato de transporte cumulativo, bem como a responsabilidade solidria. Por certo, tendo em vista que a segunda apelada foi contratada pela primeira, como empresa parceira, para prestar servio de transporte de mercadoria e sendo certo tambm que apenas cinco caixas foram entregues autora, importante se perquirir sobre a existncia de responsabilidade pelo inadimplemento obrigacional e, consequentemente, pela reparao de danos requerida pela apelante. Nesse contexto, entendo que caberia 1 r o nus de trazer aos autos prova inequvoca da existncia de fatos impeditivos, modificativos ou extintivos da pretenso autoral, de maneira a comprovar, satisfatoriamente, o adimplemento do ajuste, com o transporte seguro e a entrega correta das mercadorias conferidas sua custdia, nos termos do art. 333, II, do Cdigo de Processo Civil. Nessa esteira, embora a autora afirme, categoricamente, que as mercadorias no lhe foram entregues, tenho que se revela como certo que a primeira apelada provou a entrega, conforme recibo de fl. 186, no qual consta a assinatura de preposto da autora, em 18/11/2011, atestando o recebimento dos produtos discriminados na nota fiscal de fl. 40. Ora, sendo a encomenda entregue pela transportadora, seria razovel que a empresa destinatria, no caso, a apelante, conferisse o material que lhe foi apresentado, visto que, com a aposio de assinatura no canhoto de Apelao 20120110053808APC Cdigo de Verificao :2014ACOEU530TNQ1EMMG8EPXEN5 GABINETE DO DESEMBARGADOR MARIO-ZAM BELMIRO 11 recebimento de mercadoria, inicia-se o prazo decadencial para reclamar sobre eventuais vcios, consoante disposio do art. 754 e pargrafo nico do Cdigo Civil, verbis:
Art. 754. As mercadorias devem ser entregues ao destinatrio, ou a quem apresentar o conhecimento endossado, devendo aquele que as receber conferi-las e apresentar as reclamaes que tiver, sob pena de decadncia dos direitos. Pargrafo nico. No caso de perda parcial ou de avaria no perceptvel primeira vista, o destinatrio conserva a sua ao contra o transportador, desde que denuncie o dano em dez dias a contar da entrega.
Importante salientar que nenhuma ressalva foi feita no ato do recebimento da mercadoria, de maneira a atestar que, de fato, apenas foram recebidas cinco caixas, faltando, ainda, serem entregues 8 volumes. Infere-se, dessa maneira, que a perda parcial foi perceptvel primeira vista, por fora do dever de conferncia. Se a pessoa encomenda 13 volumes e apenas recebe 5, facilmente perceptvel a falta de mais 8 caixas. No havendo manifestao de inconformismo no ato do recebimento, verifica-se a decadncia de superveniente direito. Alm do mais, em que pese a entrega ter sido realizada em 18/11/2011, a autora somente se insurgiu em relao aos volumes faltantes em 25/11/2011, quando levou ao conhecimento da primeira apelada a supresso de parte da mercadoria. Acontece que j havia passado, e muito, o perodo para eventuais reclamaes por ocasio do recebimento, as quais deveriam ter sido alegadas no ato da entrega das mercadorias, sendo imperioso reconhecer, por oportuno, a caducidade do direito autoral. Conforme bem salientou o nobre sentenciante,
"observa-se, pois, que configuraria dever legalmente atribudo requerente, na condio de contratante dos servios de transportes fornecidos pela parte adversa, ter procedido, por ocasio do recebimento, a uma escorreita Apelao 20120110053808APC Cdigo de Verificao :2014ACOEU530TNQ1EMMG8EPXEN5 GABINETE DO DESEMBARGADOR MARIO-ZAM BELMIRO 12 verificao dos objetos que lhe eram entregues, com o fito de averiguar sua exatido com aquelas discriminadas nota fiscal de fl. 40, despachadas na origem, exarando reclamao imediata ou ressalva expressa no recibo, diante da supresso quantitativa relatada, mormente por se tratar de discrepncia de constatao prima facie, o que afasta a dilao do prazo decadencial preconizada pelo pargrafo nico do art. 754 do Cdigo Civil[5]".
No mesmo sentido, a jurisprudncia do Tribunal de Justia do Distrito Federal e Territrios, verbis:
PROCESSO CI VI L E COMERCI AL. ANULATRI A DE T TULO. DUPLICATA MERCANTIL. PROVA DA ENTREGA DE MERCADORIA. TITULO EXIGVEL. SENTENA MANTIDA. 1. Em se tratando de mercadorias entregues via transportadora, incumbe empresa destinatria, no ato do recebimento, conferi-las e apresentar as reclamaes que tiver, sob pena de decadncia dos direitos (art. 754, CC). 2. Uma vez comprovada a entrega das mercadorias, mediante a assinatura no conhecimento de transporte, a emisso e cobrana das duplicatas est devidamente respaldada, no havendo fundamento legal para a pretendida anulao. 3. Recurso conhecido e improvido. (Acrdo n.371647, 20040110154699APC, Relator: JESUINO RISSATO, Revisor: CRUZ MACEDO, 4 Turma Cvel, Data de Julgamento: 19/08/2009, Publicado no DJE: 31/08/2009. Pg.: 92).
Com isso, diante da inrcia da autora em no conferir, deixar de apresentar reclamao no prazo legal ou efetuar, de imediato, alguma ressalva no recibo de entrega da mercadoria, operou-se, em 18/11/2011, a decadncia dos seus direitos. Assim, invivel prosseguir nos demais pleitos da autora, visto que foi ela mesma quem deu causa ao reconhecimento da decadncia, ao no se manifestar no momento oportunizado pela legislao civil. Apelao 20120110053808APC Cdigo de Verificao :2014ACOEU530TNQ1EMMG8EPXEN5 GABINETE DO DESEMBARGADOR MARIO-ZAM BELMIRO 13 Por tais fundamentos, nego provimento ao recurso e mantenho intacta a r. sentena combatida. o meu voto.
[1] Fl. 208/209. [2] A compra e venda, os empresrios e o Cdigo de Defesa do Consumidor. Revista de Direito do Consumidor, SP, Revista dos Tribunais, v-3, p. 36. [3] Comentrios ao Cdigo de Defesa do Consumidor - Arts. 1 ao 74 - Aspectos Materiais, RT, ed. 2004, pgs. 71 e 7. [4] Fl. 212. [5] Fl. 214.
A Senhora Desembargadora NDIA CORRA LIMA - Revisora Com o relator O Senhor Desembargador GETLIO DE MORAES OLIVEIRA - Vogal Com o relator D E C I S O CONHECER. NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. UNNIME. Apelao 20120110053808APC Cdigo de Verificao :2014ACOEU530TNQ1EMMG8EPXEN5 GABINETE DO DESEMBARGADOR MARIO-ZAM BELMIRO 14