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O despovoamento do Interior

Percorrendo nesta época do ano as aldeias, vilas e cidades do nosso distrito somos induzidos
a questionar-nos sobre as razões que levaram tanta gente a partir. De facto, da maior à mais
pequena aldeia é ver como as ruas e os largos se enchem de pessoas, multiplicando várias
vezes a população habitualmente residente.
Sem querer adoptar atitudes anacrónicas devemos facilmente concluir que nunca como agora
existem condições de vida nas nossas aldeias, vilas e cidades. Tempos houve em que não
havia equipamentos desportivos, energia eléctrica, água ao domicílio, saneamento básico,
equipamentos sociais… e outras condições que agora são uma realidade um pouco por toda a
parte. Então, as escolas estavam cheias, os campos cultivados… e vivia-se ou sobrevivia-se,
ainda que com muitas dificuldades.
O atraso estrutural do nosso país, com uma economia muito dependente do sector primário, fez
com que uma larga faixa de portugueses tivesse que emigrar, de modo a conseguir noutras
paragens obter mais rendimento do seu esforço laboral. É evidente que a nossa região não é
sequer a que possui melhores condições para a agricultura.
Perante tantos migrantes e emigrantes que anualmente regressam às suas terras, somos
levados a concluir que a partida não terá sido fácil e razões muito ponderosas estarão na base
de tão difícil decisão, ainda que os portugueses tenham espírito aventureiro. Ora, a questão
que se coloca prende-se com a falta de investimento para que não se criassem condições para
tamanho êxodo. Será que com políticas mais eficazes seria preciso fechar tantas escolas,
tantos serviços de saúde e outros? Talvez não e um correcto aproveitamento do território
deveria ter tido outros critérios. Até o turismo de que tanto se fala não pode viver sem pessoas.
A adesão à União Europeia e a abolição das fronteiras tornaram obsoletas determinadas
actividades e serviços, sem que se verificassem contrapartidas. A consequência foi a partida de
muitas, nomeadamente para a região da Grande Lisboa, empobrecendo o interior.
Um estudo de mercado junto da população que agora regressa, quer de outras regiões do
País, quer do estrangeiro, facilmente nos levaria à conclusão do extraordinário potencial de
‘massa cinzenta’ e de capacidade de trabalho qualificado e espírito de iniciativa. Sendo assim,
o que falta para que essas potencialidades aqui criem riqueza. Sabemos como aqui ainda se
vive bem, ainda que ganhando menos, razão para que muitos dos que partiram questionem se
vale a pena a insegurança e o stress da grande cidade. Pode argumentar-se que o problema é
estarmos longe do mar. Contudo, nunca se está longe de tudo. Quando se está longe de uma
coisa estar-se-á, certamente, perto de outras. Afinal, por exemplo Madrid está bem longe do
mar e isso não impede que seja uma das regiões com melhor nível de vida da União Europeia.
É evidente que muitas das nossas aldeias estão condenadas ao desaparecimento ou a meros
locais de romaria daqueles que ainda vão deitando raízes à terra. No entanto, agora que há
boas estradas, boas condições básicas de vida, é tempo de se fazer algo de mais efectivo para
‘obrigar’ quem tem capacidade a regressar à sua terra. Temos para nós que ninguém ficará a
perder. Contudo, face à falta de iniciativas mais radicais para combater as assimetrias
regionais, esperam-se agora medidas do poder central para que, no tempo das auto-estradas
da informação, não tenhamos, pela negativa, vários países num pequeno país.

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