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Fundação Getulio Vargas


Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas
Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa

CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Disciplina: Teoria das Organizações


Professor: Fernando G. Tenório
Aluno: Marcio Pereira Basílio
Tema: Polícia cidadã: um estudo do café comunitário a luz da teoria da ação comunicativa de
Jürgen Habermas

1. INTRODUÇÃO

O presente estudo tem o escopo precípuo de analisar o programa desenvolvido pelo


governo do Estado do Rio de Janeiro denominado Programa Permanente “TODOS PELA
PAZ”, o qual teve as suas linhas gerais lançadas em agosto de 2000, e contava com seis ações
básicas a serem desenvolvidas para atingir seus objetivos: Jovens pela Paz; Escolas da Paz;
Polícia da Paz, Shows da Paz; Disque 0800; e Festival de Musica pela Paz.
A analise será desenvolvida focando as ações inerentes a “Policia da Paz”, as quais
estão sendo desenvolvidas no âmbito da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro – PMERJ.
E o objeto de nosso estudo será a atividade denominada de “Café Comunitário”.
O Café comunitário é uma ação que se realiza mensalmente em todas as unidades
operacionais da PMERJ, esta ação materializa-se em uma reunião na qual participam o
Comandante da unidade operacional (Uop), oficiais, praças e as lideranças comunitárias
existentes em sua área de atuação. Por questões operacionais serão analisadas as reuniões
ocorridas no período que compreendem os meses de janeiro de 2003 e junho de 2005 na área
de atuação do Trigésimo batalhão de policia militar, que abrangem os Municípios de
Teresópolis e o de São José do Vale do Rio Preto.
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O objeto de analise será estudado sobre a ótica da Teoria da Ação Comunicativa


desenvolvida por Jürgen Habermas. O que se pretende é por um lado demonstrar que mesmo
em uma organização onde a racionalidade instrumental encontra-se arraigada na maioria de os
seus recantos, ainda assim existem insulamentos onde a racionalidade comunicativa faz-se
necessária; por outro lado à cidadania no Brasil, teve um desenvolvimento diverso do
apresentado por Marshall, e encontra nos dias atuais um caminho para se desenvolver em
busca de uma verdadeira participação de um segmento da sociedade, representada neste estudo
pelas lideranças comunitárias, onde, por meio da atividade denominada “Café da manhã
Comunitário”, podem expressar seus anseios, de forma ilocucionária, no tocante ao tema
segurança publica diretamente com os representantes do Estado, apresentando sugestões,
levando ao conhecimento atitudes irregulares de policiais militares, trazendo informações, que
na maioria das vezes passariam desapercebido pelos comandantes das unidades operacionais.

2. DESENVOLVIMENTO

Teoria da ação comunicativa

Nesta seção será feita uma abordagem da teoria da ação comunicativa e seus
antecedentes, o que inclui um breve relato dos pensadores da Escola de Frankfurt e das
questões que os afligiam.
Segundo Freitag (1990, p. 9), “o nome Escola de Frankfurt refere-se simultaneamente a
um grupo de intelectuais e a uma teoria social, em verdade, esse termo surgiu posteriormente
aos trabalhos mais significativos de Horkheimer, Adorno, Marcuse, Benjamin e Habermas,
sugerindo uma unidade geográfica que já então, no período do pós-guerra, não existia mais,
referindo-se inclusive a uma produção desenvolvida, em sua maior parte, fora de Frankfurt”.
Conforme assevera Freitag (1990), a Escola de Frankfurt teve sua origem baseada na
criação do Institut fuer Sozialforschung, tendo surgido a partir da idéia de implementação de
um grupo de trabalho para documentação e teorização dos movimentos operários na Europa.
Seu idealizador, Feliz Weil, e os marxistas Karl Korsch, Georg Lukács, Friedrich Pollock,
Karl August Wittfogel e outros, procuraram, desde o inicio, assegurar o vinculo do Instituto a
ser criado com uma universidade. Para tal foi escolhida a Universidade de Frankfurt.
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O instituto foi criado em 3 de fevereiro de 1923, mas desde 1924 possuía instalações
próprias, ficou vinculado a universidade de Frankfurt, todavia preservava sua autonomia
acadêmica e financeira, dedicando-se exclusivamente á pesquisa e reflexão, como afirma
Freitag (1990).
Segundo Tenório (2004, p. 19) os teóricos da primeira geração da Escola de Frankfurt
viam o fenômeno da racionalidade instrumental como um fato inibidor da emancipação do
homem quer nos espaços reservados à cultura, no qual eles analisaram o fenômeno da
indústria cultural, quer nos espaços reservados à produção, que eles perceberam como sendo a
tecnificação ou unidimensionalização do homem.
Como afirma Freitag (1990, p. 34), “ o fio vermelho que trespassa a obra de todos os
autores é o tema do Iluminismo ou Esclarecimento”. “A dialética da razão iluminista e a
critica a ciência, a dupla face da cultura e a discussão da industria cultural, e a questão do
Estado e suas formas de legitimação na moderna sociedade de consumo, sempre estiveram
presentes nos trabalhos dos frankfurtianos permeando, às vezes em conjunto e às vezes de
forma isolada, praticamente todos os trabalhos dos autores”, (FREITAG, 1990, p. 32).
Horkheimer e Adorno, em 1947 escrevem A Dialética do Esclarecimento, esta obra
segundo Freitag (1990), é uma espécie de ruptura dos dois autores com os trabalhos anteriores,
dando inicio a reflexões teóricas mais radicais que posteriormente conduziriam Adorno à sua
nova concepção de dialética negativa. “Até então, tanto Horkheimer quanto Adorno haviam
mantido uma certa confiança na razão crítica, que se imporia no decorrer do processo histórico
que gerou a modernidade. Acreditavam até então que, apesar dos percalços e retrocessos, a
humanidade chegaria, em última instância, a realizar a promessa humanística, contida na
concepção kantiana da razão libertadora”, (FREITAG, 1990, p. 20). A Dialética do
Esclarecimento representa a ruptura com essa convicção profunda, ela tematiza, em ultima
instancia, a morte da razão kantiana, asfixiada pelas relações de produção capitalista.
Como afirma Horkheimer apud Freitag (1990, p. 35) “o programa do iluminismo
consistia no desencantamento do mundo... eles queriam dissolver os mitos e fortalecer as
impressões através do saber”, entretanto o conhecimento produzido pelo Iluminismo não
conduzia à emancipação por sua vez rumava para técnica e ciência moderna que mantêm com
seu objeto uma relação ditatorial. “A razão que hoje se manifesta na ciência e na técnica é uma
razão instrumental, repressiva. Enquanto o mito original se transformava em Iluminismo, a
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natureza se convertia em cega objetividade. Horkheimer denuncia o caráter alienado da


ciência e técnica positivista, cujo substrato comum é a razão instrumental” (FREITAG, 1990,
p.35).
Habermas, que pertence à segunda geração frankfurteana, concorda, como assevera
Tenório (2004, p.19), que a razão instrumental dificulta a autonomia social dos indivíduos à
medida que o mundo da vida, substância estruturante da razão da pessoa humana, é submetido
à razão funcional através de ações estratégicas.

Segundo Siebeneicher (1989, p.21) Habermas interpreta o esclarecimento dos filósofos


do séc. XVIII e XIX como sendo um projeto da modernidade, dividido em duas tarefas
complementares: desenvolver, de um lado, três esferas distintas de potenciais racionais e
cognitivos, a saber, a esfera das ciências objetivizantes, a das bases universalistas do direito e
da moral e a da arte autônoma. De outro lado, utilizar estes potenciais cognitivos, assim
condensados, em benefícios de uma formação racional da vida humana numa sociedade
libertada, emancipada.

Habermas aventa a hipótese de que existe na própria modernidade um discurso crítico


voltado à modernidade, um contra-discurso, o qual tem inicio na obra de Kant, e que procura
SIEBENEICHER,1989,
esclarecer o esclarecimento sobre os seus limites e sua ignorância, (S
p.22).

Habermas não busca um conceito totalmente novo, revolucionário, de filosofia e de


racionalidade, estabelecido solidamente a priori, do qual fosse possível extrair dedutivamente
princípios certos e normas seguras, capazes de proporcionar a reconstrução crítica dos
elementos que foram reprimidos na história inacabada da liberdade humana, em especial dos
SIEBENEICHER,1989, p.54).
elementos comunicativos, (S

Conforme assevera Freitag (1990, p. 59), “Habermas inclui em sua teoria da ação
comunicativa a elaboração de um novo conceito de razão, que nada tem em comum com a
visão instrumental que a modernidade lhe conferiu, mas que também transcende a visão
kantiana assimilada por Horkheimer e Adorno, isto é, de uma razão subjetiva, autônoma,
capaz de conhecer o mundo e de dirigir o destino dos homens e da humanidade. A concepção
de uma razão comunicativa implica uma mudança radical de paradigma, em que a razão passa
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a ser implementada socialmente no processo de interação dialógica dos atores envolvidos em


uma mesma situação”.

Para Tenório (2004, p.20), “o objetivo de Habermas é, portanto, desenvolver uma


teoria que, diferente da teoria tradicional, positivista, denunciada por Horkheimer, permita
uma práxis social voltada para um conhecimento reflexivo e uma práxis política que questione
as estruturas sócio-político-econômicas existentes”.

Segundo Freitag (2005, p. 46) a revisão da Teoria da História forneceu a Habermas o


conceitual teórico incorporado na teoria da ação comunicativa e necessário para elaborar uma
teoria moderna da evolução. Este conceitual é constituído pelos conceitos-chave de “ação
comunicativa” e de “sociedade”, que abrange os dois aspectos – o do “mundo vivido” e o do
“sistema”. “A teoria crítica da sociedade, apoiada no paradigma do agir comunicativo, refere-
se a estruturas do mundo vivido”, (S
SIEBENEICHER, 1989, p.56). Husserl utiliza o conceito
mundo da vida como sinônimo de “corrente da vida” e de horizonte vivo da consciência que
reflete, em A Schutz e M. Heidegger o mundo da vida constitui um conjunto de referencias do
mundo cotidiano de atores sociais, as quais são dados e experimentadas previamente,
Habermas delineia o conceito de mundo vital em traços mais amplos, abrangendo não somente
o horizonte da consciência, mas também o contexto da comunicação lingüística, a práxis
comunicativa do dia-a-dia, isto é, o contexto que é possível obter através da fala,
SIEBENEICHER, 1989, p.117-118).
(S

“O mundo vivido é o pano de fundo comum a todos os atores envolvidos numa mesma
situação. Partindo do conceito husserliano de horizonte, Habermas distingue entre o horizonte
individual e o coletivo” (Freitag (2005, p.43)). O primeiro é o conjunto de convicções de base,
de saber pessoal e social, de experiência vivida, de intuição, mas especialmente de cultura e
linguagem, que permitem ao ator se movimentar de forma inquestionável, numa situação
concreta, o horizonte social se compõe do que é partilhado por todos os atores dessa situação,
compondo-se da experiência comum, das mesmas tradições, da língua e da cultura
compartilhada por todos e a todos acessíveis.Habermas define dois tipos básicos de ação
humana: 1) O modo de agir racional com relação a fins categoria que ele empresta a M.
Weber, sobrecarregando com tintas do agir instrumental de Horkheimer e Adorno; e o 2)
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Modo de agir comunicativo, orientado para o entendimento e o consenso racional através da


SIEBENEICHER, 1989, p.73). “O conceito de
linguagem, (S razão comunicativa ou
racionalidade comunicativa pode, pois, ser tomado como sinônimo de agir comunicativo,
porque ela constitui o entendimento racional a ser estabelecido entre participantes de um
processo de comunicação que se dá sempre através da linguagem os quais podem estar
voltados, de modo geral, para compreensão de fatos do mundo objetivo, de normas e de
instituições sociais ou da própria noção de subjetividade”, Siebeneicher (1989, p.66). O
processo comunicativo apresenta as seguintes características: 1) a comunicação constitui
sempre uma ação social; 2) para o agir comunicativo são constitutivos somente os atos de fala
aos quais o falante une pretensões de validade criticáveis; 3) a variedade de ações
comunicativas é ordenada exatamente de acordo com os três tipos básicos de atos de fala:
SIEBENEICHER, 1989, p.67).
“cconstatativos”, “rregulativos” e “eexpressivos”, (S

Para Weber (1999, p. 15) a ação social, como toda ação, pode ser determinada: 1) de
modo racional referente a fins: por expectativas quanto ao comportamento de objetos do
mundo exterior e de outras pessoas, utilizando essas expectativas como “condições” ou
“meios” para alcançar fins próprios, ponderados e perseguidos racionalmente, como sucesso;
2) de modo racional referente a valores: pela crença consciente no valor – ético, estético,
religioso ou qualquer que seja sua interpretação – absoluto e inerente a determinado
comportamento como tal, independentemente do resultado; 3) de modo afetivo, especialmente
emocional: por afetos ou estados emocionais atuais; 4) de modo tradicional: por costume
arraigado.Habermas não procura somente sistematizar uma teoria pragmática da racionalidade
comunicativa e das ações comunicativas, mas também aplicá-la e testa-lá numa teoria da
SIEBENEICHER, 1989, p.68).Segundo Zajdsznajder
sociedade centrada na ação social, (S
(1999, p. 108-109) Habermas reestruturou a dicotomia entre trabalho e interação em quatro
tipos de atividades: 1) ação teleológica: “o ator realiza um fim ou faz com que se produza um
estado de coisas desejado elegendo, em uma situação dada, os meios mais congruentes e
aplicando-os de maneira adequada. O conceito central é o de uma decisão entre alternativas de
ação, endereçada a realização de um propósito, dirigida por máximas e apoiada em uma
interpretação da situação”, (Habermas apud Tenório, 2004, p. 21); 2) ação regulada por
normas: é o comportamento não de um ator solitário frente a outros atores mas perante os
“membros de um grupo social que orientam sua ação por valores comuns. O ator particular
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observa uma norma (ou a viola) tão logo em uma dada situação está presente às condições a
que a norma se aplica. As normas expressam um acordo existente em um grupo social”
(Habermas apud Tenório, 2004, p. 22) ; 3) ação dramatúrgica: “não faz referência
primariamente nem a um ator solitário nem ao membro de um grupo social, mas sim a
participantes em uma interação que constituem uns para os outros um público ante o qual se
põem a si mesmos em cena. O ator suscita em seu público uma determinada imagem, uma
determinada impressão de si mesmo, ao revelar ao menos de propósito sua própria
subjetividade”. (Habermas apud Tenório, 2004, p. 22); e 4) ação comunicativa: “se refere a
interação de ao menos dois sujeitos capazes de linguagem e de ação que entabulam uma
relação interpessoal. Os atores buscam entender-se sobre uma situação de ação para poder
assim coordenar de comum acordo seus planos de ação e com ele suas ações. O conceito aqui
central é o de interpretação, se refere primordialmente a negociação de definições da situação
susceptível de consenso” (Habermas apud Tenório, 2004, p. 22).

Habermas leva-nos a considerar que, se enfocarmos a atividade do homem em relação


com a natureza, podemos descobrir que ele sente, de um lado, necessidade de apropriar-se dela
sob o aspecto da utilidade, isto é, ele tenta subjugar a natureza às suas necessidades básicas,
sob o ponto de vista “rracional com relação a fins” – trata-se em primeiro lugar de uma
atividade instrumental, teleológica. De outro lado, porém, esse processo de apropriação da
natureza por parte do homem é também social e comunicativo, necessitando da linguagem
para ser realizado e bem sucedida, (S
SIEBENEICHER, 1989, p.78-79).

A “teoria da ação comunicativa” sustentada por este aparelho conceitual tem como
objetivo principal revelar aspectos do processo histórico, omitidos nas analises anteriores,
corrigir o que fora falsamente diagnosticado, e reinterpretar os fatos. Sua descoberta mais
significativa é a existência na sociedade capitalista – de potenciais de racionalidade latentes
em concepções de mundo, imersas nas estruturas, plenamente ativas em certos subsistemas
societários. Existem, segundo a concepção anteriormente mencionada, áreas nos próprios
subsistemas da reprodução material que comportam reservas de racionalidade comunicativas,
apesar do predomínio e, por vezes, da prioridade absoluta, da racionalidade instrumental ou
estratégica, (FREITAG, 2005, p. 46).
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“O processo entre indivíduos capazes de comunicação deve ocorrer por meio de uma
ação social dialógica, na qual os diferentes atores sociais buscam o entendimento visando
interpretar a situação e obter um acordo. Assim, o processo de entendimento tem por objetivo
fazer com que os atores ajustem, racionalmente, as suas pretensões”, (TENÓRIO, 2004, p.
123). Habermas (2003, p.79) chama de comunicativas às interações nas quais as pessoas
envolvidas se põem de acordo para coordenar seus planos de ação, o acordo alcançado em
cada caso medindo-se pelo reconhecimento intersubjetivo das pretensões de validez. No caso
de processos de entendimento mútuo lingüísticos, os atores erguem com seus atos de fala, ao
se entenderem uns com os outros sobre algo, pretensões de validez, mais precisamente,
pretensões de verdade, pretensões de correção e pretensões de sinceridade, conforme se
refiram a algo no mundo objetivo, a algo no mundo social comum ou a algo no mundo
subjetivo próprio. Enquanto que no agir estratégico um atua sobre o outro para ensejar a
continuação desejada de uma interação, no agir comunicativo um é motivado racionalmente
pelo outro para uma ação de adesão – e isso em virtude do efeito ilocucionário de
comprometimento que a oferta de um ato de fala suscita.

Que um falante possa motivar racionalmente um ouvinte à aceitação de semelhante


oferta não se explica pela validade do que é dito, mas, sim, pela garantia assumida pelo
falante, tendo um efeito de coordenação, de que se esforçará, se necessário, para resgatar a
pretensão erguida. Sua garantia, o falante pode resgatá-la, no caso de pretensões de verdade e
correção, discursivamente, isto é, aduzindo razões; no caso de pretensões de sinceridade, pela
consistência de seu comportamento. Tão logo o ouvinte confie na garantia oferecida pelo
falante, entram em vigor aquelas obrigações relevantes para a seqüência da interação que estão
contidas no significado do que foi dito. Assim, por exemplo, no caso de ordens e instruções,
as obrigações de agir valem em primeira linha para o destinatário; no caso de promessas e
declarações, para o falante; no caso de acordos e contratos, simetricamente para os dois lados;
no caso de recomendações e advertências com teor normativo, assimetricamente para os dois
lados, (HABERMAS, 2003, p.79).

Diferentemente do que acontece nesses atos de fala regulativos, do significado de atos


de fala constatativos resultam obrigações apenas na medida em que falante e ouvinte se põem
de acordo para apoiar seu agir em interpretações da situação que não contradigam os
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enunciados aceitos em cada caso como verdadeiros. Quanto ao significado dos atos de fala
expressivos, deles seguem-se imediatamente obrigações de agir na medida em que o falante
especifica aquilo com que seu comportamento não está ou não cairá em contradição. Graças à
base de validez da comunicação voltada para o entendimento mútuo, um falante pode, por
conseguinte, ao assumir a garantia de resgatar uma pretensão de validade criticável, mover um
ouvinte à aceitação de sua oferta de ato de fala e assim alcançar para o prosseguimento da
interação um efeito de acoplagem assegurando a adesão, (HABERMAS, 2003, p.80).

Segundo Tenório (2004, p.117) “a “onda” neoliberal presente nas “costas brasileiras”,
nos múltiplos significados que esta última expressa possa ter para o leitor, reabilita uma das
funções básicas do liberalismo econômico, que é privilegiar a individualidade. E o enclave na
sociedade que promove esta individualidade é o mercado, ente fundante das relações sociais
nesta perspectiva macroeconômica. A conseqüência desta particularidade é “a lei do mais
forte”, portanto de uma perspectiva de relação social na qual o que importa é o ego. O outro, o
alter, é o meio, é o recurso calculado dessa relação”.

O radicalismo da individualidade centrada no mercado ou por ele determinado não


converge, segundo Tenório (2004, p. 118) para “a democratização de organização da polis, da
“causa comum”, do “bem comum”, da “boa sociedade”ou da “sociedade justa” enfim, do
interesse público”.

Na década de 1990, na América Latina, a participação vem sendo amparada e


institucionalizada em suas diversas dimensões no âmbito das democracias representativas,
conforme assevera Jacobi (2002, p. 11), “a participação popular se transforma no referencial
não só para ampliar as possibilidades de acesso dos setores populares segundo uma
perspectiva de desenvolvimento da sociedade civil e de fortalecimento dos mecanismos
democráticos, mas também para garantir a execução eficiente de programas de compensação
social no contexto das políticas de ajuste estrutural e de liberalização da economia e de
privatização do patrimônio do Estado”.

Na análise dos processos existentes destacam-se os condicionantes da cultura da


cultura política, tanto do Brasil quanto do resto dos países da América Latina, marcados por
tradições estatistas, centralizadoras, patrimonialistas e, logo, por relações clientelistas,
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meritocráticas e de interesses entre sociedade e Estado. Entretanto como afirma Jacobi (2002,
p. 12) “esses condicionantes não têm sido necessariamente um fator impeditivo para o
surgimento de diversas formas de participação dos setores populares”. Entendemos que a
participação pode assumir duas faces: uma que põe a sociedade em contato com o Estado, e
outra que busca seu próprio fortalecimento e seu desenvolvimento autônomo. “E é por meio
da soberania popular que a cidadania deliberativa vai assumir uma posição frente ao Estado.
Pressupõe o exercício da cidadania deliberativa, uma sociedade descentralizada onde há um
espaço público intermediando a sociedade civil e o poder público. Espaço democrático que
serve para apresentar, identificar e solucionar problemas vivenciados pela sociedade em
questão” (TENÓRIO, 2004, p. 127).

A noção de cidadania ativa, segundo Benevides apud Jacobi ( 2002, p. 22), traz a tona
uma outra dimensão de cidadania. O cidadão, além de ser alguém que exerce direitos, cumpre
deveres ou goza de liberdades em relação ao Estado, é também titular, ainda que parcialmente,
de uma função ou poder público. Isso significa que a antiga e persistente distinção entre a
esfera do Estado e da sociedade civil esbate-se, perdendo a tradicional nitidez. Além disso,
essa possibilidade de participação direta no exercício do poder político confirma a soberania
popular como elemento essencial da democracia. “O objetivo principal da participação no
plano conceitual é facilitar, tornar mais direto e mais cotidiano o contato entre os cidadãos e as
diversas instituições do Estado, e possibilitar que estas levem mais em conta os interesses e
opiniões daqueles antes de tomar decisões ou de executá-las”, (JACOBI, 2002, p. 27)

A Pmerj: o café comunitário no 30º BPM

Nesta seção será desenvolvido o referencial prático que será confrontado com a Teoria
da Ação Comunicativa Habemasiana. Inicialmente será feita uma descrição do programa
permanente “Todos pela Paz”, desenvolvido pelo governo do Estado do Rio de Janeiro, o qual
tem o engajamento de todas as secretarias de governo e entidades representativas da sociedade
carioca. Posteriormente será abordada objetivamente a ação denominada “Polícia da Paz”, a
qual ensejará o intercambio ilocucionário entre o Estado e a sociedade civil representados
pelos comandantes das unidades operacionais da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro e
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as associações de moradores e representações de classes, inseridas nas respectivas áreas de


atuação das OPM, identificada como “Café da manhã Comunitário”.

O ano 2000 foi estabelecido pela Organização para a Educação, Ciências e Cultura
(Unesco), das Nações Unidas como o Ano Internacional da Cultura e de Paz. O Programa
Permanente “Todos pela Paz”, lançado após ter sido discutido com mais de 500 lideranças
comunitárias, consiste num esforço de mobilização das forças vivas da sociedade na direção
da Paz. Pressupõe a participação de “todos”, literalmente, não só do poder público estadual e
municipal, mas principalmente das organizações da sociedade civil, das associações
comunitárias, agremiações esportivas, culturais, igrejas, escolas, imprensa, família, e dos
cidadãos individualmente, (BOLETIM DA PM, 2000, p.13).

Os objetivos gerais do Governo do Estado do Rio de Janeiro alinham-se com os


princípios estabelecidos pela Unesco, respeitar a vida e a dignidade de cada ser humano,
rejeitar a violência em todas as suas formas, ser generoso, utilizando tempo e recursos
materiais de que se disponha para pôr fim a exclusão, à injustiça e a opressão política e
econômica, defender a liberdade de expressão e a diversidade cultural, promover o consumo
responsável, contribuir para o desenvolvimento da comunidade, (BOLETIM DA PM, 2000,
p.13).

Com base nesses princípios, e considerando o contexto social do Rio de Janeiro, são
objetivos centrais do Programa “Todos pela Paz”:

• Construir uma cultura de solidariedade, numa mobilização permanente pela


paz, procedendo a uma profunda reflexão sobre como tem sido as relações
sociais no Rio de Janeiro, não só dos cidadãos entre si, mas também entre
os diferentes estratos sociais. Propõe-se que cada cidadão, cada segmento,
cada grupo de interesse, cada setor de atividade faça essa reflexão a partir
das seguintes perguntas: “Qual tem sido a minha contribuição para reduzir a
violência no meu Estado, na minha cidade, no meu bairro, na minha
comunidade, na minha rua?”; e “O modo como eu tenho me comportado
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em face do problema correspondente ao que se espera do meu papel


social?” (BOLETIM DA PM, 2000, p.13);
• Fomentar o desenvolvimento de uma ideologia “prevencionista” em
oposição à ideologia “repressivista” com a qual costumam operar no Brasil
o poder público e a sociedade, integrando a polícia com a comunidade num
esforço a mais na tentativa de isolar os criminosos, (BOLETIM DA PM,
2000, p.13-14).

Parece que todos estão chegando à conclusão de que a criminalidade e a violência são
problemas extremamente complexos para serem confinados a tentativas de solução repressivas
apenas, com o uso da força e da lei penal, como tem sido a tônica no Rio de Janeiro
historicamente.

Em uma boa análise das relações sociais no Rio de Janeiro, Zuenir Ventura alertou em
1994 para os riscos de continuarmos a conviver no que chamou de “cidade partida”, a
propósito do dualismo social observado entre favela e “asfalto”e do domínio exercício por
traficantes de drogas nas favelas, tendo chegado a essa conclusão depois de ouvir relatos de
representantes dos dois lados, e de verificar que as visões dos mesmos eram divergentes e
mesmo antagônicas, (BOLETIM DA PM, 2000, p.14).

A execução do programa esta a cargo de todas as Secretarias e Órgãos do Governo, os


quais deverão, quando não explicitadas, deduzir as providencias que possam contribuir para o
alcance dos objetivos do programa, o qual priorizará as seguintes ações: (1) Jovens pela Paz;
(2) Escolas da Paz; (3) Policia da Paz; (4) Shows da Paz; (5) Disque 0800; e (6) Festival de
Música pela Paz, (BOLETIM DA PM, 2000, p.14).

O escopo deste estudo trata-se da ação “Polícia da Paz”, que concerne na abertura dos
quartéis à participação da comunidade (quadras, campos de futebol, auditórios, gabinetes
médicos e odontológicos), na utilização de ônibus da Policia Militar, dotados de equipamentos
médicos e odontológicos, circulando e atendendo as comunidades de baixa renda. Os
comandantes de cada batalhão receberão mensalmente para um café da manhã os lideres
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comunitários de sua área de patrulhamento para ouvir sugestões e reclamações, (BOLETIM


DA PM, 2000, p.16).

A analise da atividade denominada “café da manhã comunitário” será realizada nos


municípios de Teresópolis, e São José do Vale do Rio Preto, que compreendem a área de
patrulhamento do Trigésimo Batalhão de Policia Militar (30º BPM).

O 30º BPM atua em uma extensão território de 1.010 Km², com cerca de 154.634
habitantes, sendo que 89,25% são moradores do município de Teresópolis. O efetivo da
unidade é de 283 homens, que oferece 1 policial para cada 546 habitantes, em termos
mundiais este índice está acima da média, entretanto este fator é compensado por outros
fatores como qualidade de vida, por investimento do poder público municipal em saneamento,
saúde, educação, e por se tratar de uma região agrícola, esta combinação de fatores contribui
para redução do índice de criminalidade levando-se em comparação os grandes centros
urbanos como a Cidade do Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo e Baixada Fluminense.

Os municípios de Teresópolis e São José do Vale do Rio Preto possuem em atuação


atualmente 61 associação de moradores. As reuniões com as lideranças comunitárias ocorrem
mensalmente, onde são enviados convites para todos os lideres comunitários, a participação é
voluntária. Nestes encontros são discutidos assuntos relativos à segurança pública na região,
onde o Comandante do 30º BPM informa inicialmente o que a unidade está realizando em
termos operacionais, responde aos questionamentos e em um segundo momento passa a
palavra para todos os participantes, momento em são feitas reclamações, são repassadas
informações, dadas sugestões e feitas solicitações para as respectivas comunidades.

A análise destas reuniões foi feita baseado na pesquisa documental realizada no setor
de relações publica do 30º BPM, na qual foram utilizados vinte e um relatórios produzidos
após os encontros comunitários no período compreendido entre janeiro de 2003 e junho de
2005. Por meio do método de analise de conteúdo, depois de realizada a leitura prévia do
material produziu-se cinco categorias, nas quais buscou-se representar simbolicamente as
interações de fala entre os lideres comunitários e o comandante da unidade, definimos as
categorias da seguinte forma: (1) agradecimento: foram considerados como agradecimento as
frases que enalteceram as ações desenvolvidas pelo comando ou por algum de seus
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integrantes; (2) sugestões: foram consideradas como sugestões propostas de mudanças na área
operacional; (3) solicitações: foram consideradas como solicitações os pedidos de informação,
pedido de policiamento, cobrança de ações prometidas anteriormente; (4) reclamações: foram
consideradas como reclamações o falar que denotava falha ou deficiência na execução do
policiamento (5) informação: foram consideradas como informação qualquer dado relativo a
indício de ocorrência de ilícito penal ou contravenção tivesse ocorrido nas respectivas
comunidades.

Após a sistematização das informações coletadas nos relatórios foi aplicado um


tratamento estatístico o qual indicou que a presença média de lideres comunitários nas
reuniões é de 14 lideres comunitários por reunião, tendo sido observado o mínimo de 6
participantes e o máximo de 25 participantes, este numero comparado com o numero de
associações de moradores existente na região ainda é baixo, correspondendo a cerca de
22,95% em média do total de associações existentes. Com relação às categorias definidas
observou-se que em média em cada reunião são feitas 2,19 agradecimentos, tendo sido
observado um mínimo de zero e o máximo de 8,00 na amostra estudada; 0,9 sugestões, tendo
sido observado um mínimo de zero e o máximo de 4,00; 6,38 solicitações, sendo observado
um mínimo de 1 e o máximo de 12; 2,33 reclamações, tendo sido observado um mínimo de
zero e o máximo de 6; 8,00 informações, sendo registrado um mínimo de 2 e o máximo de 14.
Continuando a analise foi verificado a correlação entre o numero de participantes em cada
reunião e o numero totais de interações registradas em cada reunião, numero este obtido por
meio do somatório dos valores absolutos obtidos em cada categoria por reunião. O valor do
coeficiente de correlação obtido foi 0.222, este valor indica que existe uma fraca correlação
entre o numero de pessoas e o numero de interações registradas por reunião, o que significa
dizer que caso o numero de participante venha aumentar isso não implicaria necessariamente
em um aumento do numero de interações.
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3. CONCLUSÃO

A presente ilação será iniciada, pela afirmação de que o tema estudado não se exaure
neste estudo, pois existem outros vieses a serem abordados por óticas diferentes. Todavia o
escopo primordial foi de analisar a ação identificada como “café comunitário”, inserida no
Programa todos pela Paz, a luz da Teoria da Ação Comunicativa de Jürgen Habermas. Nesta
seção procurar-se-á resgatar os conceitos que envolvem os referenciais do estudo em lide.

O programa do iluminismo consistia no desencantamento do mundo. Eles queriam


dissolver os mitos e fortalecer as impressões por meio do saber. Todavia, o conhecimento
produzido pelo iluminismo não conduzia à emancipação do homem. Contudo, conduzia-o para
técnica e ciência moderna que mantêm com seu objeto uma relação ditatorial. Os ideais
iluministas de libertação do homem, dos deuses e demônios, por meio da razão, acabaram por
encastelá-lo com a razão instrumental.

Os teóricos da primeira geração da Escola de Frankfurt viam o fenômeno da


racionalidade instrumental como um fato inibidor da emancipação do homem. A dialética da
razão iluminista e a crítica a ciência, a dupla face da cultura, a discussão da industria cultural,
e a questão do Estado e suas formas de legitimação na moderna sociedade de consumo,
sempre permearam os estudos dos frankfurtianos.

Habermas, que pertence à segunda geração frankfurtiana, assevera que a razão


instrumental dificulta a autonomia social dos indivíduos à medida que o mundo da vida,
substância estruturante da razão da pessoa humana, é submetido à razão funcional por meio de
ações estratégicas. Ele aventa a hipótese de que existe na própria modernidade um discurso
crítico voltado à modernidade. Habermas não busca um conceito totalmente novo de filosofia
e de racionalidade, o que se pretende é resgatar os elementos que foram reprimidos na história
inacabada da liberdade humana, em especial dos elementos comunicativos.

Habermas inclui em sua teoria da ação comunicativa a elaboração de um novo conceito


de razão, que nada tem em comum com a visão instrumental que a modernidade lhe conferiu.
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Contudo, transcende a visão de uma razão subjetiva, autônoma, capaz de conhecer o mundo e
de dirigir o destino dos homens e da humanidade. A concepção de uma razão comunicativa
implica uma mudança radical de paradigma, em que a razão passa a ser implementada
socialmente no processo de interação dialógica dos atores envolvidos em uma mesma
situação.

O conceito de razão comunicativa pode ser tomado como sinônimo de agir


comunicativo. A razão comunicativa constitui o entendimento racional a ser estabelecido entre
participantes de um processo de comunicação que se dá sempre por meio da linguagem. A
ação comunicativa se refere à interação de ao menos dois sujeitos capazes de linguagem e de
ação que entabulam uma relação interpessoal. Os atores buscam entender-se sobre uma
situação de ação para poder assim coordenar de comum acordo seus planos de ação e com ele
suas ações.

O processo entre indivíduos capazes de comunicação deve ocorrer por meio de uma
ação social dialógica, na qual os diferentes atores sociais buscam o entendimento visando
interpretar a situação e obter um acordo. Assim, o processo de entendimento tem por objetivo
fazer com que os atores ajustem, racionalmente, as suas pretensões.

A teoria da ação comunicativa é uma teoria social aplicada na sociedade. Ela não
institui um modelo. Todavia, sinaliza um novo caminho a ser percorrido. Uma forma de se
discutir os problemas da sociedade. Uma maneira de se operacionalizar estes conceitos, é
colocar a sociedade civil em contato com o Estado. É por meio da soberania popular que a
cidadania deliberativa vai assumir uma posição frente ao Estado. Pressupõe o exercício da
cidadania deliberativa, uma sociedade descentralizadora onde há um espaço público
intermediando a sociedade civil e o poder público. Espaço democrático que serve para
apresentar, identificar e solucionar problemas vivenciados pela sociedade em questão. O
objetivo principal da participação no plano conceitual é facilitar, tornar mais direto e mais
cotidiano o contato entre os cidadãos e as diversas instituições do Estado, e possibilitar que
estas levem mais em conta os interesses e opiniões daqueles antes de tomar decisões ou de
executá-las.
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O Programa Permanente “Todos pela Paz”, apresenta um conjunto de medidas que


proporcionam o surgimento de um espaço público para intermediação entre a sociedade civil e
o Estado. Um dos pontos importantes, é que este programa antes de ser lançado ele foi
discutido com mais de 500 (quinhentas) lideranças comunitárias, isso, indica que não foi
originado a partir de ações teleológicas. Ele consiste num esforço de mobilização das forças
vivas da sociedade na direção da Paz. Paz, neste contexto, pode ser traduzida por sensação de
segurança. O programa pressupõe a participação de “todos”, literalmente, não só do poder
público estadual e municipal, mas principalmente das organizações da sociedade civil, das
associações comunitárias, agremiações esportivas, culturais, igrejas, escolas, imprensa,
família, e dos cidadãos individualmente.

O foco comum a ser discutido entre a sociedade e o Estado é a questão da violência. O


espaço público criado pelo programa é materializado por meio da ação denominada “café
comunitário”. Esta ação visa intermediar o contato da sociedade com o Estado. Está
intermediação ocorre em âmbito municipal, e nas grandes cidades dentro dos bairros. Os cafés
comunitários ocorrem mensalmente com a participação aberta às associações de moradores e
representantes de diversos segmentos da sociedade com os comandantes dos batalhões da
policia militar localizados nos bairros ou no município.Nestes encontros podem ser
caracterizados como ações sociais dialógicas, na qual os diferentes atores sociais buscam o
entendimento, a respeito das ações geradoras de violência, visando interpretar a situação e
obter um acordo, ou definir ações em conjunto. Assim, o processo de entendimento tem por
objetivo fazer com que os atores ajustem, racionalmente, as suas pretensões.

A ação dialógica, pode ser comprovada, pela amostra coletada nas reuniões ocorridas
no período compreendido de janeiro de 2003 a junho de 2005, entre a sociedade civil dos
municípios de Teresópolis e São José do Vale do Rio Preto e os comandantes do 30º BPM. A
analise das interações categorizadas em: agradecimento, sugestão, solicitação, reclamação e
informação, apresenta um coeficiente de correlação ( r ) igual a 0,222. A interpretação que
pode ser feita é que na amostra estudada, o coeficiente de correlação indica uma baixa
interação entre o somatório das intervenções com o numero de participantes. Todavia, esta
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observação pode ser explicada pela não produção de atos de fala por algum participante.
Contudo o valor encontrado no coeficiente de correlação não invalida afirmação de que as
reuniões dos cafés comunitários estudados na área de atuação do 30º BPM, são espaços
públicos democráticos onde ocorrem ações sociais dialógicas entre representantes da
população e o Estado, com o escopo de discutirem a questão da violência local. Pode-se
concluir que, mesmo que inconscientemente, os atores deste processo utilizam a razão
comunicativa para resolução dos problemas sociais relacionados a violência urbana.
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4. BIBLIOGRAFIA

FREITAG, Bárbara. A teoria crítica: ontem e hoje; São Paulo: Brasiliense, 1990;

______, Bárbara: Dialogando com Jürgen Habermas; Rio de Janeiro: Tempo


Brasileiro, 2005;

JACOBI, Pedro Roberto. Políticas sociais e ampliação da cidadania; - 2 ed. – Rio de


Janeiro: FGV, 2002;

BOLETIM DA PM. Rio de Janeiro, n. 41, 2000;

SIEBENEICHLER, Flávio Beno. Jünger Habermas: razão comunicativa e


emancipação. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989;

TENÓRIO, Fernando Guilherme. Um espectro ronda o terceiro setor, o espectro do


mercado: ensaios de gestão social. – 2. ed. rev. – Ijuí: Unijuí, 2004;

________, Tem razão a administração? Ensaios de teoria organizacional. – 2. ed.


rev. – Ijuí:. Unijuí, 2004;

WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva.


tradução de Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa; Revisão técnica de Gabriel Cohn
– Brasília, DF: Universidade de Brasília,1999;

ZAJDSZNAJDER, Luciano. Ética, estratégia e comunicação na passagem da


modernidade à pós-modernidade. Rio de Janeiro: FGV, 1999.

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