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Preparing For The Future: Strategic Planning In The U.S.

Air Force

Marcio Pereira Basilio1

A presente obra literária trata de um estudo de caso, desenvolvido por Michael


Barzelay e Colin Campbell, com base nas mudanças ocorridas na Força Aérea Americana
(FAA) na década de 90.
Os autores apresentaram as variáveis envolvidas no processo de construção da visão
estratégica e suas possíveis aplicações em outras agências de governo. A experiência da FAA
pode ter sido um marco na história da gestão governamental. o planejamento estratégico foi o
ponto de inflexão na forma com que a instituição conduziu seu processo de mudança.
A experiência relatada pelos autores é um exemplo de como os lideres e gestores devem
considerar as possibilidades de mudança em suas organizações. Tal processo de reflexão
conduz a compreensão da interligação entre a visão estratégica, o planejamento de longo
prazo, e orçamento público.
O livro esta subdividido em nove capítulos: o primeiro é um capítulo introdutório. Do
segundo ao quinto capítulo são discutidos aspectos inerentes à visão estratégica. Do sexto ao
oitavo capítulos são dedicados a discussão a respeito de planejamento, recursos, governo,
implementação da estratégia e a correção da visão e o último capítulo apresenta lições a
respeito do planejamento estratégico.
O processo de mudança na FAA se desenvolveu durante os anos 90, tendo início no
final da guerra-fria. A leitura, da situação à época, apontava para um cenário com profundas
mudanças ambientais onde os futuros conflitos se desenvolveriam. Neste sentido, a FAA
antecipando às deliberações da Casa Branca, desenvolveu e publicou no inicio de 1990, um
documento de visão estratégica intitulado Global Reach – Global Power.
O Global Reach – Global Power reconhecia dentre outras coisas que a guerra com a
Rússia, nas planícies da Europa, não era mais um cenário provável e que as ameaças haviam
se tornado geograficamente dispersas e menos previsíveis. O cenário político internacional

1
Mestre em Administração Pública - Ebape/FGV, Especialista em Gestão de Segurança Pública – FGV,
Especialista em Análise de Sistema - UNESA, Especialista em Recursos Humanos – ISP, Bacharel em
Administração de Empresas – FRNL, Oficial Superior da PMERJ com 17 anos de experiência em segurança
pública. E-mail: marciopbasilio@terra.com.br.
afatava-se de uma Força Aérea do tipo “guarnição”, na qual uma grande fração das forças
situava-se em postos fora dos EUA. Ao contrário, a FAA seguiria em direção a um serviço
do tipo “expedicionário”, com suas forças situadas predominantemente em solo americano, e
enviadas além-mar conforme a exigência da situação.
As suposições que fundamentaram o Global Reach – Global Power refletiam as
conclusões a que estavam chegando à equipe da Casa Branca no desenvolvimento de uma
política de segurança nacional pós-guerra fria. A Força Aérea foi à única dentre os serviços a
publicar seu próprio documento de visão estratégica pós-guerra fria. Conforme Fogleman
declarou “ não havia muitas visões à volta naquela época” .
A Global Reach – Global Power argumentava que as qualidades únicas da Força
Aérea eram valiosa para a emergente estratégia de segurança nacional: velocidade, alcance e
flexibilidade. O documento sustentava que a Força Aérea era capaz de projetar um poder
dominante a qualquer ponto na Terra em horas. Ao invés de dias, semanas ou meses, que
seriam necessários para mover navios ou forças terrestres em posição. A implicação era que a
Força Aérea faria uma contribuição estratégica a campanhas militares futuras.
No mesmo ano de lançamento do Global Reach – Global Power a FAA teve sua
primeira oportunidade de por em prática suas idéias, quando o Iraque invadiu o Kuwait. A
Guerra do Golfo mudou o conceito de Força Aérea. Até então o planejamento convencional
consistia em uma operação terrestre de invasão seguida simultaneamente por um ataque aéreo
como apoio. Esse era o paradigma que vigorou durante a guerra-fria.
O cenário no qual o conflito no Golfo estava se desenvolvendo, impunha aos
estrategistas um novo desafio. Nesse momento os autores descrevem que o Chefe do Estado
Maior do Comando Central Americano na Ásia, Gen. Normam Schwartzkopf, percebeu que a
forma tradicional de implementar as ações era inadequada ao conflito. Então, encomendou a
Força Aérea um plano de ação.
A preparação da atuação da Força Aérea recaiu sobre o Coronel John Warden. O
Coronel dois anos antes do conflito do Golfo, havia escrito um livro intitulado “The Air
Campaign”, no qual apresentou suas não convencionais visões. Warden recomendou que o
poderio aéreo militar fosse empregado antes da introdução das tropas terrestres no combate
atual. A implementação da campanha aérea desenvolvida por Warden foi intitulada no teatro
de operações de “tempestade no deserto”. A ofensiva aérea teve como objetivo principal
desarticular as defesas do Iraque, destruindo alvos específicos, com ataques cirúrgicos.
O resultado imediato deste conflito foi a compreensão dos pilotos no que se refere ao
uso do poderio aéreo militar no atendimento dos objetivos estratégicos ou metas políticas.
Este fato foi primordial para a consolidação da visão estratégica junto ao público interno da
FAA. Para o melhor entendimento os autores relatam que durante a guerra fria, a FAA esteve
dividida em dois tipos de poderio: o poderio aéreo militar estratégico nuclear e o poderio
aéreo militar tático convencional. Esta divisão fragmentou a FAA como instituição no período
da guerra-fria.
A guerra do Golfo foi um evento que impactou o subsistema de políticas de defesa dos
Estados Unidos. Tornando-se um marco importante para reestruturação do papel da FAA na
segurança nacional e estratégia de defesa. Os autores destacam o General Fogleman e o
General Ryan como atores importantes no processo de implementação e consolidação do
planejamento estratégico na FAA.
O General Ronald Fogleman chefiou o staff da Força Aérea no período de 1994-1997,
teve como objetivos: melhorar a já existente visão estratégica da Força Aérea; acentuar o
papel da Força Aérea na defesa nacional, via o aprimoramento nas relações com as outras
instituições militares; bem como institucionalizar a capacidade de planejamento de longo
prazo na organização.
Fogleman baseou a construção do planejamento estratégico sobre dois pilares: o Buy-
in e o Backcasting. O primeiro consistia em envolver toda instituição na criação de uma nova
visão estratégica, com isso estaria sendo garantido a continuidade do processo, ou seja, esta
visão não seria do General Fogleman, mas, sim da Força Aérea. O Buy-in teria como
benefícios: (1) conectar a visão estratégica aos planos de longo prazo; (2) superar as divisões
históricas existentes na organização; (3) fortalecer a participação da instituição no processo de
políticas de defesa; e (4) institucionalizar o planejamento de longo prazo. O segundo pilar foi
o Backcasting, que consistia em plotar uma posição no futuro. A partir deste ponto seria feita
uma ponte entre o futuro e o presente.
Para efetivar a aplicação dos princípios elencados para o planejamento estratégico, foi
criado um conselho. No qual, todo o staff de primeira e segunda linha faziam parte. A criação
do conselho objetivava a profusão das idéias a respeito da visão estratégica para todo o
público interno. Envolvendo o staff de primeira e segunda linha, Fogleman garantiu que a
próxima geração de lideres dessem continuidade ao planejamento de longo prazo.
O segundo ator importante no processo de construção e continuidade do planejamento
estratégico, foi o General Michael Ryan, que sucedeu a gestão Fogleman. A escolha do Gen.
Ryan emergiu do consenso dos seus pares e também do Gen. Fogleman. O Gen. Ryan teve a
incumbência de dar prosseguimento à visão estratégica documentada no Global engagement.
Todavia, era cético no tocante ao planejamento de longo prazo. Ryan buscou um
entendimento com o Secretário da Força Aérea Whitten Peters, no intuito de conceber uma
conciliação entre planejamento e o orçamento.
Durante a gestão de Ryan houve necessidade de realinhamento da visão tendo em vista,
o conflito de Kosovo e a evidência da Aerospace Future Capabilities War games.
Na gestão do Gen. Ryan, em 1998 foi lançado um segundo plano estratégico revisado
que resultou na publicação do documento Global, Vigilance, Reache, and Power. Com esta
segunda onda, a Força Aérea consolidou um processo robusto de visão e planejamento
estratégico com a base para um processo estável e evolutivo de tomada de decisão.
O planejamento estratégico não é um processo estático. O mundo também não é
previsível. Sendo assim, há necessidade de correção da visão estratégica. O estudo de caso
ilustra o processo corretivo por meio da análise comparativa três processos denominados:
Aerospace Integration Task Force; Congressionaly charteres space commission, e Air Force
Future Games.
O estudo de caso da FAA, relatado por Michael Barzelay e Colin Campbell, remete-nos
a uma compreensão maior da importância do planejamento estratégico dentro de uma
organização pública. Neste estudo, percebemos a interação de vários elementos internos e
externos à organização que concorrem na efetivação da visão organizacional.
Um dos pontos importantes do planejamento estratégico é que ele indica o caminho que
a organização deve adotar dentre a prospecção de cenários futuros; indica que competências
devem ser desenvolvidas tanto em relação aos aspectos logísticos, e de recursos humanos para
que a posição plotada no futuro possa ser atingida.
O segundo ponto é que delineia para os governantes quais recursos a organização
poderá disponibilizar para atender as metas políticas do governo.
Um dos pontos críticos dentro de uma organização pública, em relação ao planejamento
estratégico, é a conciliação da visão institucional com o orçamento público. Tendo em vista,
que os órgãos públicos não detêm o poder de direcionar os recursos do Estado para o
atendimento e execução de seus planos. O orçamento é uma decisão de governo, e muitas das
vezes a visão estratégica da instituição é dissonante das metas políticas do governo.

Referência Bibliográfica
BARZELAY, Michael; CAMPBELL,Colin. Preparing for the future: strategic planning in
the U.S Air Force. U.S.A, Brookings Institution Press 2003 c. 288pp

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