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ANO II Nº 12

Agosto 07
EDITORIAL

Vila de 1739 vai virar parque no Rio. Ruínas de São João Marcos,
município destruído entre 1941 e 1943, poderão ser visitadas em três meses

H á alguns dias fui à Vassouras e fiquei impressionado


com o estado, calamitoso, da rodovia que liga Valença
à Juparanã, principalmente no trecho até Quirino. Onde não
Mara
Bergamaschi

há buraco é remendo, estrada mesmo restou pouco. Logo nica


após Quirino, em vários trechos, remendos estavam sendo
feitos e a situação era tão absurda que já estão remendando
Ú cidade
colonial do
os remendos.
B r a s i l
Não da para entender como uma estrada construída há
no máximo cinco anos possa estar tão degradada como se tombada
tivesse mais de vinte anos. Como pode uma obra daquela p e l o
magnitude ter se deteriorado em tão breve espaço de p a t r i m ô-
tempo? E os veículos que por ali transitam, como um nio, mas
motorista pode circular numa “estrada” naquelas Vista de São João Marcos 1922 Foto: Daniel Ribeiro q u e e m
condições? E os vários impostos que são exigidos do pobre seguida perdeu o status graças a decreto da ditadura Vargas
contribuinte? È assim que os governos administram nosso para ser destruída, São João Marcos terá as ruínas transforma-
dinheiro? E a quem recorrer ao município, ao estado? Qual das em parque público. Ver o que restou da vila nascida em
a diferença? 1739 e abandonada em 1941 só é possível porque, ao contrário
O pior de tudo é que esta não é a nossa primeira do previsto, São João Marcos, berço da cafeicultura nacional,
experiência com este tipo de obra. Lembram da rodovia nunca chegou a ser coberta pelas águas da Represa de Ribeirão
Valença/Parapeúna? Do asfalto que esfarelava? Pois é, a
de Lajes, construída e ampliada pela Light. Além das ruínas, 15
usina deve ser a mesma, pois o “asfalto” esta esfarelando e
se nos mantivermos calados, mais uma vez nada acontecerá mil valiosos documentos históricos, guardados em Rio Claro,
e os responsáveis por mais esta lambança ficarão por aí hoje sede do município, estão sendo restaurados e catalogados
lépidos e fagueiros rindo da nossa inoperância. para integrar o memorial de São João Marcos.
Para nós que tentamos trabalhar o turismo a situação é Com recursos financeiros já garantidos pela estatal
ainda pior, pois aquela é uma estrada vital na ligação entre Eletronuclear e com o apoio da Light, dona dos terrenos, o
duas das mais importantes cidades do Vale Histórico da Parque das Ruínas deverá estar aberto à visitação em três
economia cafeeira em nossa região, Valença e Vassouras, e meses. Chegar às ruínas, no Médio Paraíba, a 150 quilômetros
também encurta o caminho no sentido de Miguel Pereira e do Rio, não é muito fácil: é preciso percorrer, a partir de Rio
Paty do Alferes de um lado e Mendes e Paulo de Frontin do Claro, 20 Km em terra (trecho da antiga estrada usada por
outro, também cidades importantes no cenário turístico de fazendeiros para escoar o café para o Porto de Mangaratiba),
nossa região. além de uma acidentada clareira de 1,5 Km. Ali, escondidos
Já há alguns anos vêm sendo feitos estudos no sentido de pelo mato, estão pilares de uma igreja barroca do século 18,
se viabilizar uma passagem sobre a via férrea entre dedicada ao santo.
Juparanã e Vassouras para que os ônibus de maior porte Fotos antigas mostram seu interior adornado com ouro e o
possam ir e vir entre as duas cidades sem ter que dar a volta
exterior com azulejos portugueses. Para demolir a matriz
por Barra do Piraí, mas de nada adiantaria com a estrada no
bagaço em que se encontra. foram necessárias 12 caixas de dinamite, segundo depoimen-
Esperamos que se tome uma atitude definitiva quanto a tos de moradores colhidos pela professora Dilma Andrade de
recuperação daquela estrada pois sabemos que remendos Paula, autora de uma tese de mestrado pela Universidade
não resolvem e achamos que o que se gastou para remendar Federal do Rio (UFRJ), sobre São João Marcos, e de um livro
a estrada, daria para fazer outra. Ou será que o negócio é sobre a história de Rio Claro.
remendar. Além de ruas calçadas com largas pedras, espalham-se pelo
local escombros da estrutura do casario, de duas escolas, um
teatro e um cemitério. Em 1890, viviam ali 18 mil pessoas. Na
véspera da destruição, não chegavam a 5 mil. O livro de Dilma
relata que os marcossenses, como eram chamados os nascidos Custódio Costa
na cidade, lutaram para não perecer desde o início do século
20, quando a Light and Power, então uma multinacional,
represou e desviou vários rios para formar a represa que
alimentaria a Usina Hidrelétrica de Fontes, construída na
Q uando o mês de agosto se aproxima de nós, com
sua tardes mornas, de um Sol-poente em chamas,
vizinha Piraí. ou ainda com suas noites estreladas, o meu espírito de
Cercada por alagadiços, São João Marcos viveu em 1909 saudosista se detém, por um momento, nestas coisas
uma grande epidemia de malária, que dizimou distritos maravilhosas, para, em seguida transportar-se ao ano de
inteiros, como o de São Sebastião do Arrozal. Entre os 5 mil 1904, na época da festa da glória.
documentos já recuperados, estão pedidos desesperados por Eu era um rapaz de 14 anos e todas as tardes saía da
ajuda sanitária. A região já enfrentava a decadência do café.
Em meados da década de 30, quando a região alcançava casa de meus pais, alí, no alto da serra para assistir às
estabilidade com a agropecuária, a população mobilizou-se novenas da festa da glória, que tanto me enlevavam.
para tentar excluir a cidade do caminho das águas, pois havia Eu que naquele tempo já apreciava a boa música, saía
informações de que a represa de Lajes seria ampliada para da igreja saturado, embevecido mesmo, de ouvir as ladai-
garantir o abastecimento de água e luz do Rio. nhas cantadas pelo vigário Ladislau, acompanhadas com a
Os moradores julgaram-se finalmente seguros em maio de
1939, quando Rodrigo Melo Franco de Andrade, fundador do orquestra dirigida pelo maestro Athanazio que também se
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), fazia ouvir nos pizicatos do seu contrabaixo de cordas.
assinou o tombamento da então bicentenária São João Marcos. Para não citar outros nomes de destaque da música,
Um ano depois, entretanto, o presidente Getúlio Vargas daquele tempo, lembrarei aqui de José Batista de Almeida,
assinaria o decreto-lei 2269, permitindo a desapropriação da José Pimenta Brasiel e Antonio Guerra da Costa, notável
cidade. Entre 1941 e 1943, São João Marcos, já anexado a Rio
Claro, foi sendo demolida e varrida do mapa. Mas não chegou cantor, que tanto nos empolgou com sua voz de ouro.
a ficar submersa, como dezenas de fazendas ao redor. Após as novenas seguiam-se os leilões de prendas, que
São João foi vítima da aliança do totalitarismo com uma se prolongavam até tarde da noite, abrilhantados pela banda
visão de progresso que significava destruir o passado, define a de música do Pimenta, que permanecia aqui durante a festa.
secretária de Desenvolvimento e Turismo de Rio Claro, Elvira Athanasio Correia de Castro, o saudoso maestro, com
Brum Soares, que trabalha na recuperação da memória local.
Há dois anos, ela obteve recursos do governo para restaurar e o seu terno de sobre-casaca, chapéu, cartola e com suas
catalogar a documentação. “Temos o registro de dois séculos botinas despregadas, deixando aparecerem as pontas dos
de vida da cidade. “ pés, como era visto por todos, residia na Cova da Onça, hoje
Extraído de O Estado de São Paulo 22/04/2007 rua Rodrigues da Cruz. Existia alí um casarão, onde hoje é o
Centro histórico de São João Marcos
número 82, que era sua residência. Alí ele ensinava a divina
Foto: Daniel Ribeiro - 1922 arte e fazia suas belíssimas composições sempre aprecia-
das, como se poderá demonstrar. O meu ilustre amigo e
musicista Cyro la Vega, ainda conserva em seu arquivo o
“Padre Nosso” para orquestra do referido maestro
O maestro Athanasio era muito conhecido nos meios
musicais de São João d’el Rey, que sem favor é a cidade dos
grandes músicos, alí ele tocava sempre e tomava parte nas
grandes orquestras da semana santa.
Como não é estranhável, o maestro gostava de uma
boa pinga. Certa feita, já véspera da Festa da Glória, o
maestro Athanasio tomou um grande pifão e nesse estado,
sem firmeza para se manter em pé, alguém o amparou e
segurando também o seu instrumento, deu o arco ao maes-
tro, que executou a sua parte galhardamente, com a estupe-
fação de todos quantos presenciaram o fato.
Como ficou dito acima, era a Festa da Glória daquele
tempo...
Com grande saudade, eu me recordo de tudo isso, que
jamais se apagará da minha lembrança.
Texto extraído do jornal “O Valenciano” julho de 1963
pesquisado por luiz francisco
para a de Procópio Ferreira um dos mais importantes
artistas brasileiros.
De 1982 a 1993 o cinema esteve fechado, até que foi
I naugurado em fins de 1868 o prédio do Teatro da Glória
era de pau a pique sobre alicerce de pedras. Sua fachada
tinha o formato de chalé, no seu interior, em formato de
reativado pelo Sr. Fernando Costa que o reabriu em 6 de
janeiro de 1994 com o filme Uma Babá Quase Perfeita. Em
1996 D. Teresa de Almeida Jannuzzi é chamada para
ferradura, haviam 200 poltronas na platéia, 22 frisas, 23 gerenciar o cinema e em 1998 quando o Sr. Fernando
camarotes e mais as galerias, comportando 600 pessoas. resolve vende-lo, ela o adquire e desde essa data, abril de 98,
Durante toda a segunda metade do século XIX o teatro tem se dedicado a administração do "nosso" cinema.
recebeu grandes espetáculos de artistas europeus que se Apesar de toda a dedicação da Sra. Teresa o Cine Glória
apresentavam na corte, artistas valencianos e do Rio de é uma sombra do passado, da áurea época em que multidões
Janeiro. Eram óperas, dramas, comédias, concertos musi- acorriam para ver os grandes ídolos e participar das festas
cais, e etc. e espetáculos que ali se realizavam. Atualmente a sala de
Teatro Glória autor da foto e data não identificados Um dos sessões comporta cerca de 300 espectadores, porém este é,
maiores aconte- ainda, o único cinema que funciona de forma tradicional,
cimentos do em toda a região, o resto virou templo de igreja ou teve fim
teatro foi o pior.
concerto do Cine Glória - Praça Visconde do Rio Preto, 281 - Centro
Fontes
grande pianista
História de Valença de Luiz Damasceno Ferreira, 2ª edição 1978
americano Valença de Ontem e de Hoje, edição eletrônica do site www.br.ge-
Louis Moureau ocities.com/leoniiorio
Informações orais de Teresa de Almeida Jannuzzi e Mita
Gottschalk que
Pesquisa e Texto Luiz Francisco
estava se
apresentando na O Teatro Glória no
corte e contraiu febre amarela vindo tratar-se em Valença. século XIX com
Depois de recuperado como forma de agradecimento ao sua conformação
de chalé.
povo valenciano pela boa recepção, ele deu o memorável Foto de cartão
concerto de 28 de agosto de 1869. postal autor e data
não identificados
Em 1913 houve uma contestação judicial contra a coleção Waldir da
sociedade que geria o teatro, a Câmara Municipal cobrou Fontoura Cordovil
Pires
uma dívida de Dois Contos de Réis e em conseqüência o
imóvel foi a leilão, sendo arrematado pelo Dr. Ruggero
Pentagna, que mais tarde o repassou para D. Urbana de
Castro Pentagna, que em 1920 realizou uma reforma geral, O prédio do Cine
modificando completamente sua estrutura e aparência. Roma, inaugurado
em março de 1921
Houve um aumento da platéia, das frisas e camarotes, Foto extraída do
melhorias nas instalações elétricas, novos camarins e saídas livro História de
Valença de Luiz
especiais para casos de incêndios. O cine-teatro reformado Damasceno
foi inaugurado em março de 1921. A partir desta data Ferreira
começaram as sessões diárias, já com o cinema chamando-
se Roma. Ainda como Cine Roma começa a era do cinema
sonoro em 1930.
Diversas companhias ali funcionaram até que a F.
Cupelo & Cia, proprietária do circuito Glória com cinemas
em várias cidades do Rio de Janeiro adquire o imóvel. O Cine Roma em
Novamente uma grande reforma é feita e o antigo espaço do fins dos anos 20
foto de autor não
teatro é desativado, passando as peças a serem encenadas identificado
num palco colocado logo abaixo da tela onde aconteciam as
projeções do cinema. A reinauguração aconteceu em julho
de 1938 num elegante prédio em estilo Art-Nouveau, com
uma sala para 1600 espectadores na platéia e 200 no balcão.
Mantendo sua tradição o agora Cine-Teatro Glória continu-
ou a receber as grandes companhias teatrais com destaque
O Curso Líder surgiu da união e do interesse de alguns
C omo não poderia deixar de ser, a nossa “cachacinha”, não
escapa de uma controvérsia. Há quem diga que o nome
“cachaça” tenha origem na Espanha, pois era usada uma aguar-
pais que queriam dar a oportunidade a seus filhos de se
prepararem para o processo seletivo da Universidade
dente para amaciar a carne do porco Cachaço e da porca Federal de Juiz de Fora mais conhecido como PISM - um
Cachaça. Outros dizem que o nome veio dos colonizadores processo de seleção para ingresso na universidade que
espanhóis aqui da América do Sul, que, como os portugueses, acontece nos três anos do Ensino Médio poupando o aluno
do temido vestibular, onde o acesso a universidade é
também extraíram a aguardente, no início como subproduto da alcançado ou não, em apenas quatro dias de provas.
rapadura, e deram o nome de Cachaza e daí a adaptação para o
português Cachaça. Através do PISM o aluno vai acumulando pontos nos
três anos em que faz as provas enquanto cursa o ensino
Cachaça é a aguardente do mel de cana-de-açúcar (ou da médio e então ao final do terceiro ano este escolhe qual o
borra de mel de açúcar) destilada após a fermentação alcoólica. A curso deseja seguir.
cachaça acompanha a história do Brasil. Quem nunca ouviu Hoje, com três anos de trabalho, formamos uma parceria
sobre a “tradição” de dar um gole pro santo? Quando os portu- com o Curso de Idiomas HELLO SCHOOL onde estamos
gueses começaram a migrar para o Brasil, trouxeram também a funcionando atendendo aos nossos alunos e convidamos
bagaceira (destilado do bagaço da uva). você e aos nossos ex-alunos a virem conhecer nosso novo
O processo de fabricação da bebida foi desenvolvido na espaço e nosso trabalho. Nossa equipe de professores é
colônia, que passou a utilizar a cana-de-açúcar em lugar da uva. formada por profissionais que acreditam que o sonho da
A “descoberta” da cachaça aconteceu por acaso; um engenho da Universidade Federal é também possível aos filhos e alunos
capitania de São Vicente teria descoberto o vinho de cana-de- de Valença e por isso estão conosco. Não há patrimônio
açúcar (garapa azeda). Os senhores de engenho começam a maior e mais lucrativo investimento que possamos deixar
servi-la aos escravos, com o nome de cagaça. para os nossos filhos do que a educação e educação de
Então, quando foi destilada, tornou-se cachaça. Os consumi- qualidade. Até breve!
dores da bebida eram basicamente os africanos, que a usavam Vanda Valente e Equipe
para amenizar o “banzo”, a saudade da terra natal. Também
foram os primeiros a usar a cachaça como tranqüilizante dos
males do corpo e do espírito. O sucesso foi tão grande que até se
tornou moeda de troca por escravos entre os portugueses. Associação Nipo-Brasileira de Valença/Rio das Flores/Região
A bebida começou a tomar o lugar da bagaceira: significava, A ANIBRA, promoveu uma festa julina à moda
para os portugueses, o início da liberdade do Brasil. Por isso, Japonesa no dia 21 de julho de 2007, no Mister Night, com
proibiram sua fabricação em 1649. Como tal medida não deu pratos típicos da culinária junina e com um diferencial que
resultado, a cachaça foi taxada. Os impostos foram tão bem- foi a culinária japonesa (yakisoba, sushi e manju); a inten-
vindos que ajudaram na recuperação de Lisboa depois do ção não é apenas arrecadar fundos para associação, mais
terremoto de 1756. realizar a confratenização de todos os amigos, simpatizan-
O hábito do consumo da cachaça pela classe alta demorou tes e alunos da ANIBRA.
muito. Os aristocratas, envolvidos pelo charme europeu, Foi um sucesso, todos os objetivos foram alcançados.
rejeitavam o produto nacional. A partir da Semana de Arte Brevemente realizaremos novos eventos para difundir
Moderna (1922), iniciou-se um culto à brasilidade. A cachaça ainda mais a cultura japonesa em nossa região.
acompanhou o ritmo do samba. Hoje, muitas marcas já conquis-
tam consumidores internacionais. Atenciosamente,
Dicas para desvendar a boa pinga Jo Yoshikuni Osugue - Presidente da ANIBRA
É o nariz que vai, antes de mais nada, identificar a cachaça de
qualidade. Reconhecendo milhares de odores, ele tem mais
capacidade interpretativa que a língua, que só percebe os quatro
sabores básicos - ácido, amargo, salgado e doce. Com o olfato,
saberemos se a aguardente foi destilada com cuidado, se as partes
iniciais e finais (cabeça e cauda) foram eliminadas, com aprovei-
tamento apenas do “coração”. Os bons aromas podem lembrar
frutas secas, seiva de madeira, tabaco, etc.
Em contato com a língua e suas papilas gustativas, a caninha
envelhecida exibe maciez e equilíbrio alcoólico e, sobretudo,
desvenda sua “alma” através do retrogosto, aquela sensação
provocada pelo ar que volta dos pulmões logo após o gole, “bate”
no bulbo olfativo localizado abaixo dos olhos e sai pelo nariz. É a
prova final da qualidade da cachaça - esta você pode beber sem
susto.
Jorge Tadeu da Silva - www.jorgetadeu.com.br

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