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narram: "Ce qui pourrait tre dit ici l'est directement par Suzanne et Joseph"
(Duras, 1977, p. 12)
Esse trecho das didasclias iniciais, alm de instalar narradores,
explicita o intrecruzamento dos espaos mimtico e diegtico e revela o
processo de construo da pea, edificada nos nveis da narrativa e da
representao. A frase funciona, pois, como marca do metateatro, da
conscincia do fazer teatral revelada nessa pea.
Anne Ubersfeld, em seu livro Lire le thetre (1978), distingue, no
interior do texto teatral, duas camadas textuais distintas: uma que tem por
sujeito da enunciao imediato o "autor" e que engloba a totalidade das
didasclias, e outra que compreende o conjunto dos dilogos e tem por sujeito
mediato uma personagem. H, pois, no teatro, uma dupla enunciao: o
conjunto do discurso teatral constitui-se de dois subconjuntos:
a) um discurso relator, cujo destinador o que Ubersfeld chama de
"scripteur";
b) um discurso relatado, cujo locutor a personagem
H um processo de comunicao entre o "scripteur" e o pblico, e
no interior desse processo h um outro entre as personagens.
Em L 'den Cinema, a dupla enunciao teatral se desdobra. H um
processo de comunicao entre o "scripteur" e o pblico; no interior desse
processo h um outro entre as personagens-narradoras e o pblico, e no
interior desse h ainda um outro entre as personagens. O conjunto do discurso
teatral, na pea que analisamos, no se constitui de dois subconjuntos, mas de
trs:
1) um discurso relator, cujo destinador o "scripteur" e cujo
destinatrio o pblico;
2) um discurso ao mesmo tempo relatado e relator, cujos
locutores-destinadores so as personagens narradoras e cujo
destinatrio o pblico;
3) um discurso relatado cujo locutor-destinador uma personagem
e cujo destinatrio outra personagem nas cenas representadas.
No se pode, contudo, deixar de considerar, que mesmo este ltimo
subconjunto tem tambm como destinatrio o pblico, uma vez que
faz parte da totalidade da pea.
Na verdade, o que ocorre um desdobramento do subconjunto do
discurso de personagens. Ora, em L 'Eden Cinema h dois nveis de discurso
Referncias bibliogrficas
BARKO, I., BURGUESS, B. La dynamique des points de vue dans le texte de
thtre. Paris: Lettre Modernes, 1988.
DURAS, M. L 'den cinema. Paris: Mercure de France, 1977.
ISSACHAROFF, M. Le spectacle du discours. Paris: Librairie Jos Corti, 1985.
UBERSFELD, A. Lire le thtre. Paris: Editions Sociales, 1978.