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Sumário:
1. Introdução; 2. Evolução do Pensamento Econômico em Face da Intervenção Estatal na
Atividade Econômica; 3. o Estado e a Economia; 4. A Intervenção Estatal no Domínio
Econômico; 5. Os Princípios Constitucionais da Ordem Econômica; 6. Modalidades de
Intervenção Estatal no Domínio Econômico; 7. Considerações Finais; Bibliografia.
RESUMO
1. Introdução
A cada dia que se inicia, os fenômenos econômicos ocorrem de uma forma cada vez
mais intensa na sociedade globalizada do século XXI, os quais, cada vez mais, demandam
*
Mestrando do Curso de Mestrado em Direito dos Empreendimentos Econômicos da UNIMAR – Universidade
de Marília – SP. Advogado. Bacharel em Direito pela UEL. Especialista em Direito Empresarial (Tributário)
pela PUC/Londrina. Professor da Faculdade Estácio de Sá de Ourinhos-SP. E-mail: thiagovinha@tdkom.com.br.
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sociedade.
intervencionismo estatal ao longo do último século, bem como quais são as perspectivas para
pelas políticas neoliberais que atualmente exercem grande influência no cenário político-
econômico da atualidade.
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revolução industrial, encontra em Adam Smith1 o seu maior expoente, através do livro a
Riqueza das Nações e perdurou com suas ideologias até a quebra da bolsa de valores de Nova
tinha como principal premissa a não intervenção estatal na economia, na medida em que esta
deveria ser guiada pelas leis de mercado. A função do Estado era meramente de permitir que a
economia não sofresse nenhuma interferência, pois ela se auto-regularia. Smith “restringe
justiça e à realização das obras públicas necessárias”3, ou seja, competiria ao Estado tão
Com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929 provocada pelo grande
pessimismo que assolou o mercado de ações e a grande depressão que se instaurou por todo
mundo capitalista, o Estado passou a intervir nas relações econômicas, como forma de
estatal, para uma política intervencionista, na qual o Estado é tido como o principal
principais ideais para retirar o mundo capitalista da depressão, na medida em que cabia ao
Estado controlar a moeda e o crédito, aplicar uma política tributária baixa e de gerir uma
se, portanto, o Estado como grande idealizador e realizador das políticas econômicas e
1
HEILBRONER, Robert L. A História do Pensamento Econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 56-62.
2
HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. 21. ed. rev. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. p. 144-153.
3
GALBRAITH, John kenneth. O pensamento Econômico em Perspectiva: Uma História Crítica. São Paulo:
Pioneira, 1989. p. 65.
4
HUGON, Paul. História das Doutrinas Econômicas. 14. ed. São Paulo: Altas, 1995. p. 412.
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Forma-se então, o Estado do Bem-Estar Social (Welfare State), onde o Estado seria
estar dos cidadãos, através da interferência nas atividades econômicas, na medida em que
oferta uma vasta gama de direitos sociais, como forma de garantir a economia capitalista no
baseado no Welfare State, levando HEILBRONER a afirmar que Keynes fora o “arquiteto do
Capitalismo Viável”5.
escola neoclássica, o Estado deveria ser um “Estado mínimo em relação aos direitos sociais e
trabalhistas e um Estado passivo em relação aos lucros dos capitalistas e a lei de mercado”7.
Dessa forma, surge como resposta ao implemento do Estado Social, de forma a combatê-lo e
intervencionista.
necessário para a implantação de suas idéias, principalmente para combater a grande inflação
5
HEILBRONER, Robert L. A História do Pensamento Econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 236.
6
ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In Pós-Neoliberalismo: As políticas Sociais e o Estado
Democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. p. 9-10.
7
DALLEGRAVE NETO, José Affonso. O Estado Neoliberal e seu Impacto Sócio-Jurídico. In Globalização,
Neoliberalismo e Direitos Sociais. Rio de Janeiro: Destaque, 1997 p. 80.
8
ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In Pós-Neoliberalismo: As políticas Sociais e o Estado
Democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. p. 10.
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Reagan nos Estados Unidos e Thatcher na Inglaterra, bem como com o processo de
medida em que a Europa Oriental deixou de lhe ofertar supedâneos para a manutenção de seu
Dessarte, o liberalismo vem crescendo a cada dia, tentando se infiltrar nas políticas
regulação.
outorgada em 05 de outubro de 1988, trazendo uma vasta gama de princípios do Estado Social
9
GUERRA, Sidney. Soberania e Globalização: O Fim do Estado Nação? In GUERRA, Sidney e SILVA,
Roberto L. Soberania: Antigos e Novos Paradigmas. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2004. p. 334-335.
10
DALLEGRAVE NETO, José Affonso. O Estado Neoliberal e seu Impacto Sócio-Jurídico. In Globalização,
Neoliberalismo e Direitos Sociais. Rio de Janeiro: Destaque, 1997. p. 86-93.
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cumpre observar que, embora não Constituição seja híbrida, não é possível suprimir os
texto Constitucional.
3. O Estado e a Economia
aos ditames da democracia, tendo como fundamento maior o princípio da dignidade da pessoa
humana e como principal objetivo, a realização da justiça social. Para que a dignidade
humana fosse respeitada e a justiça social alcançada, o Texto Constitucional trouxe uma série
de princípios informadores das condutas dos governantes que, a partir de sua promulgação,
voltaram a ser eleitos pelo povo. Esses princípios constitucionais trazem consigo uma grande
carga valorativa dos ideais de diversas doutrinas, adotando ideais sociais e liberais, conforme
afirmado anteriormente.
11
GRAU, Eros Roberto. A Ordem econômica na Constituição Federal de 1988. 5. ed. rev. e atual. São Paulo:
Malheiros, 2000. p. 37.
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Para que a justiça social seja alcançada, o Estado necessita do auxílio da economia,
na medida em que é a ciência econômica quem desenvolve os estudos acerca dos fatos
através de políticas públicas desenvolvidas pelo estado, seja através da própria iniciativa
necessidades humanas” 12. A economia, dessa forma, é uma ciência que estuda os fatos
econômicos como eles acontecem e como devem ser empregados para a realização da
distribuição das riquezas entre os indivíduos da sociedade. É uma ciência explicativa. Parte do
Por outro lado, o Direito, como instrumento regulador das condutas sociais, como
cidadãos viverem com dignidade, nos moldes do princípio da dignidade da pessoa humana e
da justiça social. Tem-se, desse modo, uma ordem econômica, baseada no conjunto de
princípios explicativos da realidade econômica, ao lado de uma ordem jurídica, composta pelo
econômica13.
12
VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de e GARCIA, Manuel Enriquez. Fundamentos de Economia.
São Paulo: Saraiva, 1998. p. 2.
13
SOUZA, Washington Peluso Albino de. Primeiras Linhas de Direito Econômico. 5. ed. São Paulo: LTR,
2003. p. 176-180.
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fatos do mundo do ser econômico, a Constituição Federal, em seu capítulo VII, estabelece os
econômica, na medida em que toma os fatos do mundo do ser e lhes aplica uma regra de
normas versando sobre as atividades econômicas no Texto Constitucional, o que tem levado
política”. 16
ordem jurídica para regular a ordem econômica, denota o caráter interventivo do Estado na
economia, rompendo com as amarras do Liberalismo puro e adotando o seu caráter de Estado
princípios sociais, mesclados com princípios neoliberais, possibilitando aos governantes uma
neoliberal acometida no cenário interno e externo nas últimas duas décadas, o Estado Social
brasileiro precisa ser respeitado e protegido, mesmo em uma economia capitalista neoliberal.
14
GRAU, Eros Roberto. A Ordem econômica na Constituição Federal de 1988. 5. ed. rev. e atual. São Paulo:
Malheiros, 2000. p. 50-52.
15
Cf. FONSECA, João Bosco Leopoldino da. Direito Econômico. 5. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense,
2004. p. 51; GRAU, Eros Roberto. A Ordem econômica na Constituição Federal de 1988. 5 ed. rev. e atual. São
Paulo: Malheiros, 2000. p. 62.
16
VAZ, Manoel Afonso. Direito Económico. 4. ed. rev. e atual. Coimbra: Coimbra Editora, 1998. p. 121.
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Para tanto, adota-se o princípio da economicidade, o qual, segundo SOUZA, “(...) significa a
medida do ‘econômico’ segundo a ‘linha de maior vantagem na busca da justiça’” 17, atuando,
O estudo acerca dos princípios é tema por demais tormentoso para o direito e não é
objeto do presente estudo tecer longas considerações acerca do seu significado, podendo-se
afirmar que os princípios são transpirações dos valores pretendidos pela sociedade e que
influenciam todo o direito, como pontos de equilíbrio e sustentação para todo o ordenamento
17
SOUZA, Washington Peluso Albino de. Primeiras Linhas de Direito Econômico. 5. ed. São Paulo: LTR,
2003. p. 30.
18
SOUZA, Washington Peluso Albino de. Primeiras Linhas de Direito Econômico. 5. ed. São Paulo: LTR,
2003. p. 32.
19
MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 12. ed., rev. e atual. São Paulo:
Malheiros, 2000. p. 747-748.
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federal, na medida em que esta não pode ser utilizada de forma indiscriminada pelo Estado.
Ao se analisar o Capítulo VII da Constituição Federal, o art. 170 informa que a ordem
econômica20 tem como seu fundamento a valorização do trabalho humano e a livre iniciativa,
do Estado brasileiro, tendo por fim assegurar uma existência digna, de acordo com o princípio
da justiça social. Dessa forma, a “Constituição estabelece a finalidade de toda atuação através
ditames da justiça social” 21. Isto é, as atividades econômicas desenvolvidas pela sociedade
da justiça social, sob pena de sofrerem a intervenção do Estado para regularizar o respeito a
como o conjunto de condições sociais que permitem e favorecem nos seres humanos
o desenvolvimento de sua pessoa. Será representado pela soma dos objetivos que
constituem a qualidade de vida, como as condições de saúde, habitação, de
educação, recreação, segurança social, alimentação, enfim, tudo o que contribui para
a melhoria de vida do povo, para a realização das potencialidades da pessoa
humana.22
pragmáticos, a Constituição trouxe no mesmo art. 170 uma série de princípios que, uma vez
20
Ordem jurídico-econômica.
21
FONSECA, João Bosco Leopoldino da. Direito Econômico. 5. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
p. 126.
22
SOUZA, Neomésio José de. Intervencionismo e Direito: Uma abordagem das repercussões. Rio de Janeiro:
Aide, 1984. p. 83.
23
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos, existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I -
soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V -
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digna e da justiça social, acaso preservem os princípios previstos no art. 170 do Texto
Constitucional. Uma vez não sendo respeitados, compete ao Estado intervir na atividade
preceitos constitucionais.
social. Uma vez desrespeitados pelos agentes econômicos, competirá ao Estado intervir na
atividade econômica, para que o equilíbrio possa ser restabelecido. Neste caso, o Estado
direta na atividade econômica, nos moldes do art. 173, CF ou a intervenção indireta, nos
produtivo” 25, ou seja, quando o Estado atua como empresário. Através dessa modalidade de
sociedades de economia mista, estando sujeito ao regime jurídico de direito privado, por atuar
defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o
impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII - redução das
desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas
de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.
24
Classificação proposta por MONCADA, Luis S. Cabral de. Direito Económico. 2. ed. rev. e atual. Coimbra:
Coimbra Editora, 1988. p. 36-37.
25
MONCADA, Luis S. Cabral de. Direito Económico. 2. ed. rev. e atual. Coimbra: Coimbra Editora, 1988. p.
36.
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no setor destinado aos particulares26. Além do desrespeito aos ditames do citado artigo, ainda
se faz necessário a presença de outro requisito para essa modalidade de intervenção direta,
qual seja, a imperatividade da segurança nacional ou relevante interesse coletivo, nos termos
do art. 173 da Carta Constitucional. São exemplos da intervenção direta do Estado no domínio
econômico a Caixa Econômica Federal, criada para financiar programas referentes à casa
própria e o Banco do Brasil, destinado a fornecer crédito a baixo custo para os produtores
rurais.
Por outro lado, o Estado pode ainda intervir na atividade econômica de forma
indireta, quando o “Estado limita -se a condicionar, a partir de fora, a actividade económica
privada, sem que o Estado assuma posição de sujeito económico ativo. É o caso da criação de
Econômica – CADE, bem como da criação de agências reguladoras para fiscalizar a prestação
26
SILVA, Américo Luís Martins. A Ordem Constitucional Econômica. Lumen Juris: Rio de Janeiro, 1996. p.
120-122.
27
MONCADA, Luis S. Cabral de. Direito Económico. 2. ed. rev. e atual. Coimbra: Coimbra Editora, 1988. p.
37.
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Constituição Federal e que poderá ser realizado por meio de incentivos fiscais, criação de
públicos destinados a implementar suas políticas públicas, sendo determinante para o setor
indicativo para o setor privado. Portanto, observa-se que o Estado possui uma série de
efetividade dos princípios constitucionais previstos no art. 170, de modo a garantir à toda
sociedade uma existência digna, nos moldes dos ideais da justiça social.
7. Considerações Finais
Social brasileiro, embora sedimentado nos ideais capitalistas com forte influência da doutrina
neoliberal. Esse Estado Social se caracteriza pela forte concentração de poder e pela
28
MONCADA, Luis S. Cabral de. Direito Económico. 2. ed. rev. e atual. Coimbra: Coimbra Editora, 1988. p.
349.
29
SILVA, Américo Luís Martins. A Ordem Constitucional Econômica. Lumen Juris: Rio de Janeiro, 1996. p.
135.
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art. 3º da Constituição Federal. Para tanto, utiliza-se do seu poder de intervenção nas
art. 170 os princípios inerentes à ordem econômica, os quais procuram ofertar meios para que
a sociedade possa ter uma existência digna, conforme os ditames da justiça social. Agindo
como verdadeiro guardião desses princípios, o Estado poderá intervir na atividade econômica
de forma direta, atuando como empresário e se sujeitando às normas de direito privado, desde
que necessário à segurança nacional ou haja relevante interesse coletivo. Poderá ainda,
intervir de forma indireta, atuando como agente regulador das atividades econômicas, através
BIBLIOGRAFIA
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