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QUINTODOMINGO
Grande parte da humanidade clama aos brados por uma maior justiça, por
“uma paz melhor assegurada num ambiente de respeito mútuo entre os
homens e entre os povos”2. Este desejo de construir um mundo mais justo, em
que se respeite mais o homem criado por Deus à sua imagem e semelhança, é
parte fundamental da fome e sede de justiça3 que deve palpitar no coração
cristão.
Por isso, nós, cristãos, não podemos esquecer que quando, mediante o
apostolado pessoal, aproximamos os homens de Deus, estamos construindo
um mundo mais humano e mais justo. Além disso, a nossa fé intima-nos
urgentemente a nunca iludir o compromisso pessoal de sair em defesa da
justiça, particularmente no âmbito dos direitos fundamentais da pessoa: o
direito à vida, ao trabalho, à educação, à boa fama... “Cumpre-nos defender o
direito, que todos os homens têm, de viver, de possuir o necessário para
desenvolver uma existência digna, de trabalhar e descansar, de escolher o seu
estado, de formar um lar, de trazer filhos ao mundo dentro do matrimónio e de
poder educá-los, de passar serenamente o tempo da doença ou da velhice, de
ter acesso à cultura, de associar-se com os demais cidadãos para atingir fins
lícitos, e, em primeiro lugar, de conhecer e amar a Deus com plena liberdade”7.
Os deveres profissionais são, por outro lado, o caminho mais à mão com
que contamos ordinariamente para colaborar na resolução dos problemas
sociais e para intervir na construção de um mundo mais justo. No seu desejo
de construir esse mundo, o cristão deve ser exemplar no cumprimento das
legítimas leis civis, porque, se essas leis são justas, são queridas por Deus e
constituem a base da própria convivência humana. Como cidadãos correntes
que são, os cristãos devem ser exemplares no pagamento dos impostos justos,
necessários para que a sociedade organizada possa chegar aonde o indivíduo
pessoalmente seria ineficaz. Pagai a todos o que lhes é devido: a quem
imposto, imposto; a quem tributo, tributo; a quem respeito, respeito; a quem
honra, honra9.É necessário, pois, submeter-se, não só por temor do castigo,
mas por dever de consciência10. Assim viveram os cristãos desde o começo as
suas obrigações sociais, mesmo no meio das perseguições e do paganismo
dos poderes públicos. “Tal como aprendemos d’Ele (de Cristo) – escrevia São
Justino, nos meados do século II –, nós procuramos pagar os tributos e
contribuições, integralmente e com prontidão, aos vossos encarregados”11.
III. “O CRISTÃO que queira viver a sua fé numa acção política concebida
como serviço, não pode aderir – sem contradizer-se – a sistemas ideológicos
que se oponham, radicalmente ou em pontos substanciais, à sua fé e à sua
concepção do homem. Não é lícito, portanto, favorecer a ideologia marxista, o
seu materialismo ateu, a sua dialéctica de violência e a maneira como entende
a liberdade individual dentro da sociedade, negando ao mesmo tempo qualquer
transcendência ao homem e à sua história pessoal e colectiva. O cristão
também não apoia a ideologia liberal, que julga exaltar a liberdade individual
subtraindo-a a qualquer limitação, estimulando-a mediante a procura exclusiva
do interesse e do poder, e considerando as solidariedades sociais como
consequências mais ou menos automáticas das iniciativas individuais, e não
como fim e motivo primário do valor da organização social”13.
Unimo-nos hoje a esse desejo de uma maior justiça, que é uma das
características do nosso tempo14. Pedimos ao Senhor uma maior justiça e uma
maior paz, rezamos pelos governantes, como sempre se fez na Igreja 15, para
que sejam promotores da justiça, da paz e de um maior respeito pela dignidade
da pessoa. E, dentro daquilo que está nas nossas mãos, fazemos o propósito
de introduzir as exigências do Evangelho na nossa vida pessoal, na família, no
mundo em que cada dia nos movemos e do qual participamos.
Além do que cabe em sentido estrito à virtude da justiça, viveremos também
aquelas outras manifestações de virtudes naturais e sobrenaturais que a
completam e enriquecem: a lealdade, a afabilidade, a alegria... E sobretudo a
fé, que nos dá a conhecer o verdadeiro valor da pessoa, bem como a caridade,
que nos leva a comportar-nos com os outros muito além do que nos pediria a
estrita justiça, porque vemos nos outros filhos de Deus, o próprio Cristo que
nos diz: Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais
pequeninos, foi a mim que o fizestes16.
(1) Sl 42, 1; (2) Paulo VI, Carta Apost. Octogesima adveniens, 14-V-1971; (3) cfr. Mt 5, 6; (4)
Mc 12, 40; (5) Ti 5, 2-4; (6) S. C. para a doutrina da fé, Instr. sobre a liberdade cristã e a
libertação, 22-III-1986, n. 38; (7) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 171; (8) ib., n.
169; (9) Rom 13, 7; (10) cfr. Rom 13, 7; (11) São Justino, Apologética I, 7; (12) Conc. Vat. II,
Const. Gaudium et spes, 75; (13) Paulo VI, Carta Apost. Octogesima adveniens, 14-V-1971;
(14) cfr. S. C. para a doutrina da fé,op. cit., 1; (15) cfr. 1 Tim 2, 1-2; (16) cfr. Mt 25, 40.