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Impacto de crise no setor automobilístico se acentua

da BBC Brasil

Dados divulgados pelo setor automobilístico do Japão e do Reino


Unido indicam um impacto cada vez maior da crise financeira global na
demanda por veículos.

A principal montadora japonesa de veículos, Toyota, reduziu sua


previsão de lucros líquidos de 559 bilhões de ienes (cerca de US$
5,69 bilhões) para o ano que termina em 31 de março de 2009, de
uma projeção anterior de 1,25 trilhão de ienes.

Em anúncio, nesta quinta-feira, a empresa previu ainda uma redução


de 69% nos lucros para o trimestre que termina em setembro.

A Toyota foi especialmente atingida pela desaceleração da economia


americana com a redução da demanda dos consumidores. A queda
nos lucros ocorre apesar das inovações da companhia ligadas com
maior eficiência no aproveitamento do combustível e carros híbridos
que conquistaram muitos clientes novos quando o preço do petróleo
disparou.

Mas a Toyota ainda não está apresentando prejuízos, como suas


concorrentes americanas. General Motors, Ford e Chrysler devem
conversar com autoridades do governo americano nesta quinta-feira
sobre o impacto da atual crise econômica e podem pedir ajuda para
evitar mais perdas, de acordo com o correspondente da BBC em
Tóquio, Duncan Bartlett.

Reino Unido

No Reino Unido, a venda de carros novos em outubro registrou a sua


maior queda em 17 anos, de acordo com dados divulgados pela
Sociedade de Fabricantes e Comerciantes de Veículos (SMMT, em
inglês).

Foram vendidos 128.352 veículos em outubro --uma redução de 23%


em relação ao número registrado um ano atrás.
De acordo com o SMMT, 1,92 milhões de novos carros foram vendidos
até agora em 2008 --uma queda de 8,7% em relação ao mesmo
período de 2007.

Fábricas nas cidades britânicas de Oxford e Swindon deverão ampliar


as duas semanas de folga de Natal de seus operários para quatro
semanas este ano.

"Outubro se mostrou um outro mês difícil para a indústria automotiva


britânica e são necessárias medidas para ajudar a restaurar a
confiança do consumidor e encorajá-los a voltar para as
concessionárias", disse o diretor da SMMT, Paul Everitt.

Os dados são divulgados em um dia de fortes quedas nos mercados


acionários.

No período da manhã, o índice FTSE da bolsa de Londres registrou


quedas de 4,17%; o CAC 40 de Paris, caiu em 4,20% e o DAX, de
Frankfurt, em 4,39%.

O índice Nikkei, da bolsa de valores de Tóquio, fechou em queda de


6.53%.

Estudo indica mudanças no ranking do setor automobilístico

Segundo a PricewaterhouseCoopers, nenhuma das 13 maiores


montadoras escapará da crise

Cleide Silva - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Nenhuma das 13 maiores montadoras será poupada


pela crise financeira. Todas as empresas do grupo, responsável por
90% das vendas totais de veículos, vão registrar queda de produção
neste ano ante 2008, em porcentuais que variam de 4,6% a 30%,
revela estudo da PricewaterhouseCoopers.

A recuperação de algumas marcas só começará a ocorrer no segundo


semestre de 2010, porém serão necessários mais dois anos para que
o mercado de carros retome o fôlego do período pré-crise.
Algumas empresas não voltarão a ser as gigantes que eram. Nos
próximos anos, a General Motors deve manter-se como segunda
maior montadora, atrás da japonesa Toyota, que conquistou o posto
no ano passado, após 77 anos de reinado da concorrente americana.

Quem mais perderá posições no ranking é a também americana Ford,


que deve cair da terceira para a quinta colocação, atrás da franco-
japonesa Renault/Nissan e da alemã Volkswagen. A Ford vem se
desfazendo de suas marcas. Já vendeu a Land Rover e a Jaguar e
agora negocia a Volvo.

Em volume de produção, a Chrysler terá o maior porcentual de queda,


de 42% entre o período 2008/2012, caindo da 10ª para a 13ª posição
entre as maiores fabricantes. O quadro pode ser diferente se a marca
somar-se à Fiat, na parceria recém anunciada. O volume das duas
colocará o novo grupo no 8º lugar na lista. Do lado oposto, a Hyundai
é a marca que mais deve crescer em produção: 34%. Ainda assim,
manterá seu atual posto de 6ª no ranking mundial.

Grupos chineses e indianos não aparecem no ranking, mas isso não


deve tardar. Vários deles negociam marcas com as companhias em
dificuldade. A indiana Tata já comprou a Land Rover e a Jaguar, e a
chinesa Chery está de olho na Volvo.

O estudo da Price leva em conta a produção de automóveis e


comerciais leves com base em projeções de analistas de mercado por
meio de um modelo chamado Expert Model, baseado em econometria
e conhecimento acumulado de mercado, bem como em anúncios
públicos das próprias fabricantes.
"Vai ser vencedor o grupo que tiver fôlego para passar a crise e
manter a capacidade de investir em produtos e tecnologias", diz
Marcelo Cioffi, da Price do Brasil. Segundo ele, empresas que tiverem
produtos atualizados vão reagir mais rapidamente quando o mercado
voltar a crescer.

As razões da crise do setor automobilistico

Novembro 20, 2008 — Schwabb

A indústria automobilística, tanto a européia quanto a americana, é


a primeira grande vítima da crise financeira. A velocidade com a qual o
setor vem sofrendo as conseqüências do desaquecimento econômico
tem algo espantoso. As vendas vêm desmoronando dos dois lados do
Atlântico. Os anúncios de fechamentos de usinas vêm se
multiplicando. Nenhuma montadora escapa de uma revisão drástica
das suas perspectivas de faturamento. Diversas razões explicam o
caráter repentino e a rapidez avassaladora do desastre.

Em primeiro lugar, a indústria automobilística apresenta uma extrema


sensibilidade às variações de consumo. Não há nada mais fácil para
as famílias ou as empresas do que postergarem em seis meses, e até
mais, a compra de um veículo, uma vez que se trata de uma aquisição
pesada para todo e qualquer orçamento. Além disso, a indústria
automobilística vem sendo atingida em cheio pela crise do crédito. Nos
países desenvolvidos, os três quartos dos carros são comprados a
crédito. Quando o acesso a este último torna-se mais difícil, o impacto
sobre as vendas é imediato.

A terceira razão diz respeito à organização do setor, no qual todas as


atividades são concatenadas e interdependentes. Basta que os
consumidores compareçam em menor número nos centros de vendas
das concessionárias para que as usinas sejam obrigadas a reduzirem
suas cadências de produção, e até mesmo a fecharem parcialmente.
Além disso, a estocagem de veículos produzidos, mas que não foram
vendidos, revela ser muito mais custosa do que a colocação em
regime de desemprego parcial de uma parte dos assalariados.

Administração deficiente
Uma vez definido este contexto, a situação da indústria automobilística
nos Estados Unidos e na Europa tem de fato poucas coisas em
comum. Com efeito, nos Estados Unidos, esses problemas
conjunturais vêm se somar a uma pesada crise estrutural.

Assim, é evidente que os atuais problemas das montadoras


americanas já estavam amplamente configurados, muito antes da
crise dos “subprimes” (créditos hipotecários de taxas variáveis). Em
primeiro lugar, há muitos anos que os erros estratégicos manifestos
das montadoras vêm produzindo seus efeitos: no decorrer dos anos
1980, a General Motors (GM), a Ford e a Chrysler se precipitaram para
tirar proveito do lucrativo mercado das vans 4X4, deixando amplas
avenidas para os japoneses no segmento dos carros pequenos. Agora
que, por conta da disparada dos preços da gasolina, os consumidores
americanos não querem mais comprar as 4X4, as “Big Three” (as Três
Grandes) se encontram presas numa armadilha, uma vez que elas
nunca conseguirão recuperar o terreno que elas perderam nos últimos
15 anos.

Além do mais, a sua administração revelou ser deficiente. Apesar de


amargar perdas no valor de US$ 50 bilhões (cerca de R$ 116 bilhões)
e uma redução drástica das suas partes de mercado, nunca o
conselho de administração da GM chegou a questionar as decisões
estratégicas do seu CEO, Rick Wagoner. Enquanto isso, na Ford, as
hesitações tiveram um preço alto, a ser pago à vista. Bill Ford, o
herdeiro da família não era o homem certo para enfrentar a situação e
foi obrigado a ceder seu lugar depois de alguns meses para Allan
Mulally. A Chrysler, por sua vez, vem pagando pelas conseqüências
dramáticas da sua fusão fracassada com a montadora alemã Daimler.

Por fim, há muitos anos que a GM, a Ford e a Chrysler vêm


padecendo de uma estrutura de custos não adaptada às novas
realidades. Obrigadas a assumirem as aposentadorias e as despesas
com saúde dos seus assalariados, as montadoras americanas se
vêem forçadas a arcar com um custo adicional médio por carro de US$
1.400 (cerca de R$ 3.220) em relação às suas principais concorrentes
japonesas. Um acordo com os sindicatos ainda chegou a ser firmado
no ano passado, o que fez com que elas pudessem se livrar destes
encargos, mas, a novidade sem dúvida aconteceu tarde demais: os
seus efeitos só começarão a ser sentidos a partir de 2010. Daqui até
lá, as Big Three terão todo o tempo do mundo para morrerem dez
vezes.

Em meio a este contexto, a crise atual nada mais é do que o


catalisador de uma multidão de problemas, que, caso eles tivessem
sido enfrentados em tempo hábil não teriam conduzido as Big Three à
beira da falência.

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