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Prólogo

Desde a aurora dos tempos, há mais de três eras, nós, os


Djinn, temos caminhado sobre a terra. Nenhum humano
mortal jamais soube de nossa existência. Ninguém tampouco
teve conhecimento da Guerra, ou interpretou corretamente as
profecias sobre ela.
Ninguém...
...até agora.
Anatronos, Sphinx dourado, guardião da sabedoria oculta

Livro I O Despertar
Capitulo I
O Piano e a Musa
Tão freqüentemente te invoquei como musa,
E um apoio tão lindo fostes para meu verso,
Que toda caneta estrangeira pegou minha mania,
E sob ti a poesia deles dispersa.
Teus olhos ensinaram os mudos a cantarem,
E a pesada ignorância a alto voar,
Acrescentou penas às asas dos sábios,
E deu à graça uma dupla majestade.
E, contudo, estejas super-orgulhosa daquilo que eu copilo,
Cuja influencia é tua, e de ti proveio:
Nos trabalhos dos outros apenas remendas o estilo
E suas artes como tuas doces graças ficam melhoradas;
Mas tu és toda a minha arte e a aumentas,
Tão alto quanto o conhecimento, a minha rude ignorância.
Willian Shakespeare
Soneto LXXVIII

O sinal do celular estava fraco, e por vezes, o musico


agradeceu por não ter compreendido a bronca do pai
detalhadamente:
Como você tem coragem de pedir mais dinheiro? Você tem
noção dos sacrifícios que fizemos para você que pudesse realizar
seu sonho maluco, e você tem a audácia de pedir mais?
A discussão continuou mais alguns segundos, com o jovem
apenas concordando com tudo o que o pai dizia, até que a
ligação acabou caindo, pelo que ele foi muito grato. Hoje, fazia
uma semana que havia chego à São Paulo, e metade de seus
sonhos já haviam se desfeito. A realidade era bem mais dura do
que ele podia ter imaginado ao crescer na pequena cidade do
interior do Paraná.
A senhoria aguardava impaciente nas portas da casa, velha e mal
cuidada (tanto a senhoria quanto o pequeno solar). Edgar se
apressou
Ela bem que podia ter avisado no anuncio que o lugar estava
tão... sujo.
Edgar Glauco cruzou o alto arco da porta do antigo solar no
nº548 da Rua Comendador Marques, seguindo a velha senhoria,que vestia um escanda
loso vestido amarelo, e arrastando
pantufas de coelhinho muito gastas sobre piso de madeira
antigo, que rangia. Os três únicos cômodos do pequeno solar
eram escuros e mal ventilados, com exceção de uma sala
pequena, parecendo um ateliê ou algo assim, com ainda alguns
moveis velhos, indistintos, cobertos por tecido branco barato.
Alguma coisa atiçou a curiosidade do jovem musico de cabelos
crespos, que parou frente à porta deste cômodo, enquanto que a
velha continuou a andar. Ela já estava no quarto quando o rapaz
apressou o passo e foi ao seu encontro, parando ao lado da
rabugenta senhora que desatou a falar, rudemente:
Serão oitenta por semana, não posso fazer um preço melhor. É
pegar ou largar. O que me diz?
Ele outra vez estava focando a sala bem iluminada.
Moço...? O que me diz?
E ele não respondeu, e a velha começou a puxá-lo pela camisa.
...moço? Você está bem?
E Glauco enfim olhou a senhora, que já estava preocupada com a
saúde mental do rapaz.
Ah... Oitenta... Sim, sim... Está bem...
O musico removeu a carteira surrada de couro amarronzado do
velho paletó branco, o preferido, o casaco da sorte , como
costumavam chamar ele e seus irmãos. O som do velcro se
desprendendo era irritante, mas não pior do que a sensação de
ver apenas cinco notas de vinte, tudo o que sobrara do mirrado
salário que obtinha ao trabalhar durante o dia no restaurante
barato logo em frente à faculdade. Ele retirou quatro, e entregou o dinheiro à v
elha, que fez questão de contar, para depois sacar
do sutiã um antigo e enferrujado jogo de chaves enormes e
entregar ao musico.
Sabe, isto aqui pertence à minha família à gerações... Ninguém
nunca se interessou por algum motivo, mesmo com ótimos
preços e localização boa...
Ele quase teve um ataque de riso ao ouvir isso: a casa era velha,
feia e mal iluminada. As paredes estavam mofadas, e à pelo
menos quarenta anos não deviam ter visto uma gota tinta. A
sensação estranha que o impelia a ir até o cômodo com vidraças
claras voltou, fazendo um arrepio subir pela sua espinha. Hoje
fazia uma semana que viera para a cidade, em busca de seu
sonho: se tornar um grande musico. Havia passado os primeiros
dias na casa de parentes, mas precisava arranjar logo um lugar
seu de verdade para ficar, pois se sentia pressionado em uma
casa alheia, e os olhares, outrora doces e acolhedores, agora
eram amargos, como se ele fosse um cão sarnento, um estorvo,
um inconveniente. Os tios jamais o expulsaria de casa, mas com
certeza sua estadia não seria agradável.
A faculdade consumira a maior parte de suas economias já na
primeira semana, e ele seque havia pensado em como passaria a
próxima. Glauco abandonara o lar na cidadezinha interiorana
sem pensar duas vezes assim que a oportunidade surgiu, sem
programação nem plano algum, e agora sentia o peso de suas
decisões precipitadas motivadas pelos sonhos da juventude. Ele
imaginara que em breve poderia devolver as economias dos pais
em dobro, e havia jurado para si mesmo que não voltaria para
casa enquanto não pudesse fazê-lo.
Senhora, me desculpe, mas... O que tem naquele quarto?
A velha parou surpresa
Como?
E ele repetiu
O quarto... O que tem ali? O que são essas coisas?
Com um suspiro pesado, a velha senhora começou a falar
apressada
Ah... Apenas alguns móveis velhos do primeiro proprietário...
Tem também aquele piano antigo...
A paixão pela musica falou mais forte que a educação e Glauco,
que a esta altura já estava dentro do pequeno cômodo, puxou o
pano que estava sobre o volume maior no quarto, o único que
tinha tamanho para ser um piano. Uma nuvem de poeira e
sujeira foi levantada, e surgindo dela o piano de calda, que
parecia um dia ter sido branco. O instrumento estava decadente,
quase nem restara nada do esmalte branco na superfície, e ele
podia ver que os pés estavam completamente roídos por cupins.
Sempre esteve aí, mas nunca conseguimos abri-lo para
consertar. Está arruinado, e não produz som algum, os cupins
devem ter soltado as cordas...
A senhora riu de si mesma, e Glauco, por cortesia, riu também,
embora não tivesse entendido o motivo do riso.
Bom, já é tarde, e meu dia está meio cheio.
A velha saiu, arrastando pelo velho assoalho as espalhafatosas
pantufas feias, e fechou a porta com força, pois do contrario, ela
não se encaixava na abertura da parede. Glauco estava agora só
em sua própria casa, ou quase. Esta seria a primeira vez em que dormiria sozinho
em uma casa, e sequer tinha uma cama. Ele
andou novamente pelos cômodos, sem deixar de se sentir
atraído pelo velho piano, e planejou que cores iria usar para
pintar seu refugio. Teriam de ser alegres e vivas, naturalmente. O
relógio marcava cinco e meia da tarde, se não corresse, se
atrasaria para as aulas. A faculdade ficava à pelo menos quatro
quilômetros, e com apenas vinte reais, ele não podia se dar ao
luxo de pegar um ônibus, muitíssimo menos um taxi.
Mas, antes, mais uma olhada no piano não mataria ninguém. Era
um piano artesanal, provavelmente do inicio do século vinte.
Algo nos cantos algum dia deviam ter sido entalhes imitando
ramos de roseira. Como a mulher havia dito, o piano estava
fechado, e havia uma fechadura, metálica, dourada. Era a única
parte que parecia não ter sido corroída pelo tempo.
Edgar tocou o tampo de madeira nobre do velho tesouro
musical, e acariciou-o. Ele era um dos poucos que ainda
conseguiria ver beleza no monte de lenha podre e cheio de
cupins.
A textura da madeira esmaltada era suave, como a pele de uma
criança, e o jovem musico fechou os olhos para senti-la e
apreciá-la. Ele sentiu o piano ranger, e em seguida o barulho de
metal titilando. Afastou-se rapidamente, com medo de ter
danificado o belíssimo instrumento, mas seus olhos foram
atraídos por algo sob um dos gastos pé do piano de calda: um
brilho metálico, no mesmo tom da fechadura, mas muito menor.
Glauco se abaixou e com muito esforço, alcançou o minúsculo
pedaço de metal. Era uma chave, mas não simplesmente uma
chave qualquer, era a chave do piano.
O rapaz riu sozinho, exultante de felicidade, seu sonho sempre
fora um piano. E daí se ele era velho e decadente? Ele era seu
agora. A velha senhoria dissera que ele não produzia som. Pois
bem, ele mesmo então consertaria, e restauraria o instrumento.
Glauco limpou a chave, e em seguida soprou a fechadura
dourada, e só então notou o qual delicada e trabalhada era,
repleta de gravuras e entalhes de flores. Com certa dificuldade,
encaixou a pequenina chave na abertura, e girou três vezes para
a esquerda, ouvindo claramente a cada giro o som de uma trava
se desprendendo. A tampa rangeu ao ser levantada, e um
pedaço de veludo negro repousava sobre as cordas, tapando-as,
como se tentasse protegê-las.
O jovem musico removeu com carinho paternal o tecido, para
ser surpreendido mais ainda: Ali, preso entre as cordas do piano,
estava o motivo para a falta de som. Um livro grande,
encadernado em couro negro, muito antigo, que teve de ser
removido com cautela absoluta, para não danificar as cordas.
Haviam letras ilegíveis, apagadas pelo tempo, pareciam iniciais
de um nome, D. M. escritos à mão com tinta dourada sobre o
couro, numa caligrafia delicada, feminina, feita à pena. Ao abrir
o livro na pagina marcada, o rapaz ficou encantado. Não era um
livro, mas um conjunto de partituras para piano. Também não
pareciam ser de nenhuma musica que ele já houvesse visto ou
ouvido, nem pelos títulos, nem pelas notas. A página marcada,
em especial, lhe chamou a atenção. Uma sinfonia muito
interessante, delicada, ao que se podia perceber. When the
Flowers Cry Blood estava escrito sobre as notas com letras
grandes, na mesma caligrafia elegante e fina.
Ele já se atrasara mais do que poderia se permitir, e não poderia
mais ir para as aulas naquela noite. Então, porque não? Puxou o pequeno banquinh
o sob o piano, e pôs a partitura no suporte.
Alongou os dedos, fechou os olhos, respirou fundo, e tocou as
duas primeiras notas. De algum jeito desconhecido, o piano
parecia perfeitamente afinado, mesmo naquele estado de
decadência quase absoluta. Glauco abriu os olhos para ler a
partitura, e algo o assustou. As duas primeiras notas escritas em
tinta preta no papel brilhavam fosforescentes,
fantasmagoricamente prateadas.
Só pode ser zoação...
O musico repetiu, desta vez com os olhos abertos, e as duas
notas, ao serem tocadas, brilharam com mais intensidade, para
depois voltarem ao brilho fantasma.
Bom, o que eu tenho a perder?
Dando com os ombros, ele continuou, e o mesmo aconteceu
com as outras notas. Já estava na metade quando finalmente
acertou o ritmo, e tocou com fluidez, ao mesmo tempo em que
murmurava as notas. Era, como ele havia previsto, uma melodia
suave, porem triste, melancólica, que quase o fazia chorar.
A partitura agora brilhava quase completa, e faltava apenas
algumas notas mais lentas. Ele decorou mentalmente a
sequência, e fechou os olhos para apreciar o som, nota por nota.
A ultima nota ecoou, e ele abriu os olhos, mas apenas para ser
forçado a fechá-los novamente, pois foi cegado por uma intensa
luz branca, centenas de vezes mais forte que a luz pálida da
partitura. A luz vinha diretamente do estranho livro. Quase sem
perceber, o rapaz foi arremessado do banco, e o piano cedeu,
caindo em pedaços no velho chão de madeira. Ao abrir os olhos,
tudo o que conseguiu ver foi o livro de partituras flutuando em pleno ar. Glauco
pensou em fugir, mas suas pernas não
obedeciam. Outro clarão o cegou, e este foi ainda pior que o
primeiro, e o musico perdeu a consciência por alguns segundos.
Ao acordar, seus olhos já estavam habituados com a luz que não
estava mais tão intensa. O piano estava em frangalhos, e Glauco
sentiu como se tivesse perdido um familiar ou amigo próximo, e
só após pensar sobre o piano perdido que percebeu que não
estava mais sozinho no quarto, agora escurecido pelo manto da
noite. A única luz visível era a emanada pela garota na janela. Ela
era a mulher mais linda que ele já vira, sua pele branca destacava
os olhos azuis profundos como um lago cristalino, porem tristes,
tão tristes quanto a melodia, tudo emoldurado por cabelos
claríssimos, quase alvos. Ela, assim como o livro, e exatamente
no mesmo lugar flutuava a mais de meio metro do chão. Seu
vestido branco ondulava no ar, mas não havia vento. Ela usava
uma tiara com um enfeitem em forma de nota musical.
Quem... Quem é você? O que você...
A voz da mulher de branco era ainda mais linda, aveludada,
suave, gentil:
Não tema. Eu me chamo Denalyn.
O rapaz, emudecido, não conseguia terminar a frase. Porem era
como se ela pudesse ler seus pensamentos.
Eu sou um espírito. O espírito que reside nesta musica, nestas
notas, nesta partitura...
Mesmo os movimentos feitos pela delicada boa rosada da linda
garota esvoaçante pareciam ter sido calculados para serem
sublimemente inumanos.
... e você me libertou...
Mas foi interrompida pelo rapaz curiosamente desesperado:
Ok. Está bem... Um espírito... Mas... Se você é um espírito... E
eu estou te vendo... E essa luz branca... Eu morri? O céu é
assim? É que não parece muito glorioso, sabe...
A cena trágica foi tingida por tons tragicômicos.
Não, você está vivo... Você foi escolhido... Os desejos de seu
coração me libertaram.
Escolhido? Eu? Pra quê? Ah! Já saquei! Vocês resolveram me
sacanear, não é isso? Mas eu já saquei! Anselmo, Keiti, isso não
tem graça! Podem aparecer!
O suposto espírito nem assim, com toda essa reação inesperada,
apresentou qualquer alteração de humor ou expressão, por mais
sutil que pudesse ser, e continuou falando:
Não, Edgar. Não é uma brincadeira. Venha, eu vou lhe
mostrar...
Você tá doida? Pra onde quer que eu vá... Eu não vou sair
desse quarto...
Denalyn o interrompeu, e segurou a mão do musico que não se
deixava convencer, antes que este pudesse terminar a frase.
Apenas segure minha mão.
Quando ia dizer algo em protesto, a mente de Glauco ficou
confusa, e pela primeira vez, ele cogitou a hipótese de que tudo
fosse real, ou de que tivesse perdido a sanidade (mais a segunda
que a primeira). Era como se o pequeno cômodo estivesse se
desfazendo, derretendo, e girando ao seu redor. Tudo se movia,
exceto ele e a linda mulher, que segurava sua mão. As mãos de
Denalyn eram frias. Então, ela o soltou. Ele caiu no chão, meio
enjoado e tonto.
Ele se viu agora em um deserto vasto, de rochas e areia
avermelhada, e não conseguia compreender como era possível.
A um minuto estava sentado no banco, tocando piano, e agora
estava, bom, ele não sabia onde estava.
Como?! Você... é real? Isso tudo é de verdade? O que está
acontecendo?!
Ela continuou:
Antes de qualquer coisa, você precisa saber a verdade sobre
tudo. Preste muita atenção.
No horizonte, não muito longe dali, uma figura trajando negro
surgiu, um homem, com uma capa de tecido esvoaçante. Era um
senhor de meia idade, com barba e cabelos grisalhos. Mas, o que
mais chamava atenção era o estranho objeto em sua mão. Era
negro, mas uma espécie de aura vermelha como sangue pulsante
o circundava. Lembrava uma espada, mas era tão incomum que
não parecia nada que Glauco já tivesse visto em filmes ou na TV.
O homem de negro andava lentamente, com um sorriso
assustador no rosto. Na direção exatamente oposta surgiram
varias pessoas andando juntas. Homens e mulheres, cerca de
oito ou dez pessoas. Alguns trajavam roupas estranhas cuja
origem o musico não conseguia identificar. Dois trajavam
armaduras brilhantes de metal muito polido, e todos carregavam
armas exóticas, que emanavam o mesmo brilho da do homem de
negro, mas em tons mais suaves e menos apavorantes. Só então
o rapaz percebeu:ele estava entre eles, exatamente no meio, e
quando se chocassem, o que parecia que aconteceria, ele estaria
bem perto, então resolveu tentar descobrir o que estava acontecendo perguntando
para uma das pessoas do grupo de
oito que andava em direção ao homem sozinho, que estava
agora parado, rindo, afinal, pareciam mais amigáveis. O homem
de armadura se adiantou enquanto os outros se detiveram, e
apressou o passo em direção ao velho. Glauco se pôs a frente do
homem de armadura e tentou conversar:
Hei, olá! Eu sou...
Mas foi surpreendido e caiu mais uma vez, pois o homem o
atravessou, como se ele não estivesse ali. Não podia ser real,
aquilo não era fisicamente possível. Logo, a voz de Denalyn o
tranquilizou, ela agora estava ao seu lado. Sua simples presença
era reconfortante.
Não tema, nada disso é real, é apenas uma visão. Uma visão
do passado.
Ele levantou, e voltou-se novamente para aquelas estranhas
pessoas: correndo, o homem de armadura estava agora muito
próximo do velho de negro, e preparou sua também estranha
espada, correu em direção ao velho, saltando e golpeando no ar.
O velho desviou, e foi alvo de uma infinidade de golpes do
homem de armadura, mas defendeu-se ou esquivou de todos,
até que o homem de armadura se cansou e parou por um
segundo. O velho desferiu um único golpe, e arremessou o
guerreiro muitos metros para longe, e fazendo a armadura
rachar e soltar muitos pedaços pelo caminho. O Velho andou,
ainda sorrindo cinicamente, em direção ao guerreiro caído,
aparentemente inconsciente, e o levantou, segurando-o pela
cabeça, ainda coberta pelo elmo, e o exibiu, como um troféu,
para os companheiros do homem de armadura. Ele começou
então a tortura, apertando com força o crânio do pobre infeliz,

esmagando o elmo, que logo se desfez, deixando o rosto jovem,


adolescente, exposto, enquanto pressionava o crânio
lentamente. Mas não foi assim que a vida do guerreiro acabou,
não sem lutar. Ainda preso pela mão do velho, ele levantou a
espada para golpeá-lo. O maligno homem de negro então
estocou a lâmina arma do rapaz, atravessando-a como se fosse
de papel com sua espada demoníaca. E não só a arma foi
atravessada, mas também a armadura, a carne e os ossos de
todo tronco do jovem, a ponto da extremidade de metal negro
sair pelo ombro da armadura do adolescente, que foi
arremessado em seguida para longe, para o lado de Glauco. A
espada do rapaz que acabara de morrer cravou-se no chão e
ainda brilhava, mas logo, o brilho evaporou , e como uma fina
neblina se dissipou no ar, a arma de cores douradas se tornou
cinza escuro, opaca, sem vida, com o enorme buraco na lâmina.
O velho agarrou algo invisível no ar, que logo se mostrou uma
tênue luz, para em seguida ser esmagada em sua mão e
desaparecer.
Isso é... horrível. Quem são estas pessoas? Por que estão
lutando?
A bela voz respondeu:
Tudo a seu tempo, apenas observe.
Os companheiros do rapaz que acabara de ser assassinado
correram em direção ao velho de negro, e Edgar começou a
passar mal ao ver o sangue escorrendo do cadáver ao seu lado. A
mulher então pôs a mão em seu ombro, e ele sentiu que tudo
girava outra vez, e as paredes do cômodo apertado onde estava
o velho piano, agora só um monte de entulho, se refizeram ao
seu redor.
É, acho que isto é o suficiente para que você entenda o que
esta acontecendo...
Oh, você acha? disse ele, sarcasticamente Oh, meu Deus...
Eu preciso de uma bebida... É muita informação pra absorver...
O que você viu é o que nós chamamos de A Guerra ...
E qual o objetivo dessa maluquice sádica? Por que aquelas
pessoas estavam lutando?
Esta pergunta é mais complexa do que você imagina... Cada
um deles luta por um objetivo próprio... Eles lutam pelo seu
coração, pelo maior desejo que possuem, o mais intenso, o mais
forte, o mais intimo.
Você sabe que isso não está fazendo muito sentido pra mim,
não é, Evelyn...
É Denalyn ela não pareceu muito satisfeita em ser chamada
pelo nome errado.
Que seja... É muita maluquice... Pessoas de armadura se
matando com espadas em desertos... Isso é alguma brincadeira
da TV?
O que é TV?
Merda... Você não parece estar brincando... Espera aí! O que
você quis dizer com nós ?
Nós explicou a moça somos chamados de Djinn... ou
Gênios, se preferir... No passado, existiam centenas de Djinn...
Mas... Hoje restaram apenas alguns de nós... Pois a Guerra está
chegando ao fim...
Como nas mil e uma noites? Agora eu sou algum tipo de
Aladim?
Por mais que tentasse acreditar nas palavras de Denalyn, era
muito difícil para Glauco conceber como real este enredo digno
de filme de ficção, ou conto de fadas, que Denalyn narrava,
mesmo tendo visto a batalha no deserto.
Cada um de nós só pode ser desperto por uma característica
única, especifica e rara da alma dos mortais... Você tem o dom
da musica, você tem o talento que é a minha chave... Você
estava predestinado a me encontrar, e me libertar.
Enfim, já que o destino lhe pregara uma peça tão inconveniente,
por que não tirar proveito disso, pensou o musico. Ele precisava
de uma prova.
Se isto é serio, se você é mesmo um ele riu baixinho nessa
parte Gênio , quando eu vou ter meus três desejos?
O Djinn sorriu e respondeu:
Você terá um único desejo. Você receberá aquilo que seu
coração mais deseja, Edgar Glauco.
Está bem zombou o rapaz quero mais do que tudo um
milhão de dólares agora.
Sinto muito, mas não é assim que funciona... Veja, vamos
descobrir primeiro qual é seu desejo...
A bela mulher tocou-o novamente, e outra vez tudo, o quarto, e
a própria realidade, começou a girar e se desfazer. Alguns
segundos depois, Denalyn se afastou, e o rapaz caiu outra vez no
chão, para só então perceber que estava longe do chão, de fato.
Estava ao lado de Denalyn sobre um pedestal de metal, estava
tudo muito escuro, e ele não ouvia som algum.
Será que você pode avisar quando for fazer uma coisa dessas?!
Não é nada agradável.
Preste atenção, observe, e veja onde você está...
O rapaz olhou ao redor e se viu numa espécie de show ou
concerto, vários metros abaixo de onde estavam, uma multidão
de centenas de milhares de pessoas, elas pareciam gritar em
direção ao palco, que ainda mantinha as cortinas fechadas,
porem, ele não ouvia som algum.
Espera... eu conheço...eu já vi isso...nos sonhos... É você quem
está fazendo isso? Como?
Não, Edgar. É você. É o seu coração que deseja isso mais que
tudo. E eu posso lhe dar...
As cortinas se abriram, e o musico sentiu a mão sutil da donzela
tocando-o outra vez, e tudo girando. Antes de a visão desfazerse,
ele pode ouvir a multidão gritando freneticamente o seu
nome, e foi a melhor coisa que já sentira e toda vida.
Agora, bom, você já conhece a sua motivação... a questão é,
você iria ate que ponto por isso?
Eu não sei... Eu... O que eu tenho de fazer?
Tudo o que tem de fazer é lutar por seu desejo, no sentido
mais amplo da palavra. Você e eu devemos batalhar até que
sejamos os últimos Djinn e Guardião. Ai o seu desejo será tão
real quanto esta casa, ou aquele monte de entulho ali...
Denalyn acenou com a cabeça, quase rindo, em direção ao
monte de madeira que sobrara do piano, a primeira
demonstração de qualquer emoção que Glauco conseguiu notar
na magnífica visão do Djinn.
E como faremos isso? Ah... Não ele lembrou-se da cena no
deserto você não está sugerindo que eu arranje uma arma e
saia matando pessoas na rua, não é?
Há várias maneiras de se derrotar um Djinn... Uma delas é
destruindo seu Vitae, o seu objeto de poder. Outra é destruindo
seu guardião. Ou você pode destruir ambos.
O quê? O que é um Vi...?
É o elo que mantém nossa essência neste mundo físico. O meu
Vitae é esta partitura antiga... Mas, em teoria, eles existem nas
mais variadas formas possíveis, nos mais diferentes formatos
imagináveis e inimagináveis.
Então, se eu queimar isso ele pega o livro de partituras do
chão você seria destruída?
A mulher esvoaçante pela primeira vez tocou o chão, e se pôs a
admirar a cidade pela única janela enorme, enquanto continuava
sua explicação:
Não, não seria possível. Um Vitae Djinn só pode ser destruído
por outro virtualmente mais poderoso ou habilidoso. Ou, ainda,
por um poder sobrenaturalmente enorme, como o de uma
divindade. Assim como eu não poderia matar meu próprio
Guardião, este jamais poderia me matar.
Mas, você disse que restam poucos de vocês... Por que quer
destruí-los?
Os Djinn já foram livres... Mas alguns de nós tínhamos o
péssimo habito de cometer crimes terríveis contra os mortais,
apenas por diversão. Nós éramos adorados como deuses, e
nenhum de vocês ousava se impor à nossa vontade. Então, o
criador se enfureceu, e puniu os Djinn por sua vaidade e
arrogância: fomos amaldiçoados a servir os humanos que tanto
desprezávamos, pois sem eles, sequer poderíamos permanecer
despertos neste mundo, alem de não termos poder algum. A
única chance de redenção de um Djinn é provar ser merecedor
do perdão do Criador servindo a um humano, realizando o sonho
de seu Guardião humano... Aí o Gênio é liberto da prisão do
Agnes Vitae, e pode outra vez andar livre pelo mundo. Mas, para
conseguir o poder para realizar o desejo do coração do guardião,
deve-se alcançar a Plenitude , a Matéria dos Sonhos.
E como diabos se consegue essa tal Plenitude ?
A donzela sorriu, e respondeu com uma expressão um tanto
infantil:
Simples: derrotar todos os outros espíritos Djinn, é a única
maneira de criar a Matéria dos Sonhos no mundo fisico, a
verdadeira centelha da vida, e assim, libertar o Gênio da prisão...
Simples, não é?
Assustadoramente sádico... Isso sim...
O velho livro em sua ficara com a capa escorregadia, devido ao
suor de suas mãos, e ele o apoiou no peito, enquanto falava com
Denalyn, que se aproximava dele cada vez mais.
Então, Edgar Glauco...
É muita maluquice, sabe...
Denalyn se aproximou do rapaz, e o olhou diretamente, e
aqueles brilhantes círculos azuis dos seus olhos pareceram
penetrar sua alma através das iris castanhas do jovem musico.
Não precisa acreditar em nada do que eu disse neste exato
momento, eu sei que deve ser difícil para um mortal... Mas é
tudo verdade, é tudo real...
Ah...
... Eu lhe mostrei o seu desejo... A questão agora é se você
quer realizá-lo...
Sim... Mas...
E foi interrompido pelo Djinn
O quanto?
Muito! Mas...
Então apenas diga as palavras...
Que palavras?
Diga que deseja...
...
Vamos, diga! disse ela com a voz levemente alterada, não
intencionalmente, era como se ela estivesse extasiada. O rapaz
estava emudecido, não sabia o que fazer, só sabia que não era
agradável a sensação imposta pelo olhar da bela mulher, e
queria que ela parasse. Por que não dizer o que ela queria?
Afinal, ela o deixaria em paz depois. Tudo o que ele desejava.
Parecia bom demais para ser verdade, o tipo de coisa que não
acontece no mundo real. Num impulso, Edgar cedeu à vontade
do Djinn:
Está bem... eu desejo isso sim! Agora se afaste...eu...
Denalyn segurou com força sua mão, que era bem maior que a
dela, e o toque gelado foi substituído por um calor insuportável,
e foi como se queimassem a pele do musico com ferro em brasa.
A dor era lancinante, e ele tentou gritar, mas parecia que o ar de
seus pulmões havia sido roubado. A lindíssima Denalyn ainda
olhava para ele, com um meigo sorriso no rosto, e foi sua ultima
visão antes de perder a consciência; isto e a marca que surgira,
em carne viva, nas costas de sua mão: um círculo atado a outro,
os destinos do humano e do Djinn atados até a morte chegar
para um dele, rompendo um dos círculos.
O celular tocou mais uma vez, e o sol batendo no rosto
começava a despertar Edgar. Já havia amanhecido, e isso era um
péssimo sinal. Ao pegar o aparelho, notou que haviam muitas
chamadas perdidas registradas, do restaurante. Isso era um sinal
pior ainda. A noite havia sido muito estranha, e ele tivera sonhos
confusos e sem sentido. O musico riu de si mesmo ao lembrar-se
do sonho com o gênio, e só parou de rir para tossir com uma
densa fumaça.
Que fumaça chata... Droga! Fumaça!
Ele se levantou rapidamente, e foi até onde parecia que a
fumaça tinha começado, no pequeno ateliê. No centro da sala,
próxima janela, ardia uma fogueirazinha, e ele logo reconheceu o
esmalte branco sobre a lenha que ardia. A madeira úmida era
fumacenta, e irritava os olhos, porquanto ele não sabia se estava
chorando pelo piano ou pela fumaça. Edgar caiu no chão,
desesperado, e começou a falar consigo mesmo:
Não! Eu tenho que parar esse incêndio! Depois eu choro pelo
piano!
E arrancou um dos baratos panos velhos, empoeirados e pesados
que estavam sobre os moveis e se pôs a bater na fogueira com
ele. Logo, o pequeno fogo se apagou, deixando tudo imerso em
uma neblina malcheirosa. O musico correu até a única janela da
casa, e abriu-a o Maximo que pode, pois estava tomada pela
ferrugem. O esforço repentino o fez ficar ofegante e tossir muito.
Quem diabos teria feito aquilo quando ele era o único na
pequena casa? Ao ficar debruçado, exausto, na janela, ele teve
sua resposta: Ali, sentada, recostada na grande araucária,
Denalyn. Ela murmurava uma melodia doce, infantil, de olhos
fechados. O musico já ouvira muitas vozes belas, mas nenhuma
se equiparava ao murmuro da jovem. Sem a luz e os cabelos
esvoaçantes, ali, sentada no chão, ela não parecia sobrenatural
ou assustadora. Agora ela apenas era bela. Edgar estava
hipnotizado, bem como os pássaros, que começaram a voar ao
redor de Denalyn, uma cena digna de um quadro, absurdamente
linda.
O encanto sob as aves era tamanho que um dos passarinhos
pousou docemente na mão da donzela, e começou a
acompanhá-la no canto. Denalyn abriu os olhos e parou de
cantar. Com a outra mão agarrou o pássaro com força, e
quebrou seu pescoço. Edgar estava agora completamente
chocado, e assustado. Não apenas por ter se dado conta de que
não havia sido um sonho insano, mas também pela frieza com
que a garota matara o animalzinho, sem sequer alterar o sorriso
meigo e infantil. Ela se inclinou e pegou algo ao lado, e o pianista
notou então que aquele não era o único pássaro morto, ela tinha
reunido vários num cordão, e se levantando, saltitou, como uma
criança brincando de amarelinha, balançando os pássaros
mortos, até a porta do solar.
Santo Deus, essa menina é maluca... eu preciso sair daqui...
E Denalyn entrou sorridente e feliz pela porta dupla de madeira.
Ah! Você já acordou, Edgar? Eu ia fazer uma surpresa... Olha o
que eu trouxe para o café da manhã!
A menina sorriu, com a mesma expressão inocente e infantil, e
exibiu os pássaros mortos, todos com os pescoços quebrados. O
musico estava chocado, e paralisado de medo, ficou mudo,
apenas olhando para Denalyn, que passou por ele, ainda
saltitando, e foi até o ateliê.
Não! Quem apagou meu fogo? Droga... Edgar... Eu sinto muito,
mas vai demorar mais um pouco para o café da manhã ficar
pronto...
Você está louca, menina?! De onde tirou a idéia de comer
esses pássaros?! Eu não sou nenhum selvagem e...
Por quê? Você preferia o esquilo que mora na arvore grande?
É que eu imaginei que gostasse mais de carne branca...
Edgar se alterou e gritou, assustando o pequeno Djinn
Eu não prefiro nada! Isso é nojento! E o que você está fazendo
aqui? Você não tem casa?
A menina ficou em silencio, e seu sorriso sumiu, ela baixou a
cabeça, e como um bebê, começou a chorar alto:
Você me odeia... falava ela enquanto lagrimas escorriam
pela face branca como neve ...Eu só queria agradar você e te
agradecer por ter me libertado... Por que tem que ser tão ruim
comigo?
Calma, Evelyn... Também não é assim...
Ela se irritou e gritou:
Meu nome é Denalyn!
Metade dos vidros da única e enorme janela se partiu,
estilhaçando para o lado de fora. O Djinn vendo isso se agachou,
em posição fetal, e continuou a chorar:
Eu não faço nada direito... Sou uma inútil mesmo... Eu sinto
muito... buaaaaaa...
Olha só, esqueça esses bichos ai, eu vou te levar para comer
algo muito mais gostoso, ok?
Eu não preciso comer... que tipo de guardião é você pra não
saber disso?
Me desculpe. É que é tão confuso para mim isso tudo... O
rapaz se comoveu com o choro do Djinn e tentou animá-la e se
redimir por ter gritado e eu não te odeio... Ok?
A menina limpou as lagrimas, e num gesto impulsivo, o abraçou
com muita força, deixando-o sem ar.
Edgar sentou-se no chão, junto com a garota, e como não lhe
restava nada a perder, resolveu ouvir as explicações do Djinn,
por mais que não fizessem sentido algum.
Então, como eu não sei muita coisa sobre vocês, acho que
seria interessante que você me contasse, não é?
Denalyn pareceu muito animada com a idéia.
É serio? Nossa... meu ultimo Guardião odiava que eu falasse de
mim e do meu povo, achava irritante...
Eu imagino o por quê...
O que você disse?
Nada não... continue...
Ah, sim... Então... bom, eu sou um tipo de espírito Djinn
conhecido como Musa... e nós somos os guardiões da arte...
mas... existem outras espécies de Djinn...eu não sei ao certo
quantas, mas conheci um Sphinx uma vez... e ele era um chato...
os Sphinx não sorriem, nem gostam de musica... e eu nunca
entendia o que ele falava...
É muito interessante. Mas, o que uma Musa faz exatamente?
Não é obvio? Nós guardamos as artes, impedimos que os
mortais às corrompam...
Ta, então sua responsabilidade é guardar a musica?
Não só minha! No passado, houve outras, muitas, musas da
musica... Edwin... e Irvyn... e...
Ok, eu já entendi, Denalyn...
E tem também os Deagoth... Eles são assustadores...
...eu já entendi
Tá! O que mais você quer saber, meu guardiãozinho preferido
do meu coração?
Aquelas pessoas lutando...
Você quer dizer na visão?
Isso! Na visão! Quem eram eles... E porque você me mostrou
aquela carnificina?
Denalyn riu, adquirindo outra vez a expressão meiga e angelical.
Por que você precisava estar ciente dos riscos e de tudo mais...
E eles, bom... São Guardiões de outros espíritos Djinn, seu bobo!
Você quer dizer que aquilo vai acontecer comigo?!
Não necessariamente... Se você se tornar forte, vamos
derrotar todos os outros Djinn e então, eu serei livre... E você
terá aquilo que seu coração mais deseja! Não é maravilhoso?
Denalyn sorriu de orelha à orelha.
E como você sabe que se destruir os outros Djinn e vencer a tal
Guerra isso vai acontecer?
Eu não sei, Edgar. Eu apenas acredito... Porque é minha única
chance de ser livre novamente...
O rapaz percebeu que Denalyn não parecia muito bem, mas
antes que pudesse segura-la, o Djinn caiu no piso de madeira
antigo, e Edgar correu até a bela moça, pondo-a carinhosamente
com a cabeça sobre seu colo.
Denalyn..o que houve? Foi algo que eu disse? Me desculpe!
Eu...
Mas a menina logo sorriu e o interrompeu:
Não se preocupe, Edgar... É apenas o efeito da... da
Passagem...
Como assim? Que passagem? Do que você está falando?
Quando um Djinn desperta..para um novo guardião..ele tem
seus poderes limitados ao zero, e o novo guardião tem...
A menina se calou, e seu olhar vago, fitando o teto, assustava
Edgar.
O guardião tem...?
...tem de despertar os poderes todos outra vez... e nossa
memória é...removida...
isso é horrível! Cada vez essa história parece mais sádica...
Eu preciso... descansar...
E Denalyn adormeceu.
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