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A Tradição das Sombras e o Sagrado


Dragão Iniciático - Morte Súbita inc.
Tamosauskas
38-49 minutes

Leia em 32 minutos.

Por Antônio Vicente.

O presente texto chamava-se, inicialmente, Tradição Draconiana: A


Doutrina Secreta de Todas as Eras. Na verdade, foi um dos ordálios que
realizei para o Segundo Grau da Pirâmide de Poder. A pedido de nosso
O.H.O., o reformulei em alguns aspectos para que pudesse ser publicado
em forma de monografia. Ao fazermos isso, acreditamos que estamos
contribuindo duplamente: primeiro, dará uma noção para os futuros
membros de como deve ser um trabalho de pesquisa para a Ordem. Nesta
direção, a O.T.O. Draconiana é uma universidade espiritual através da qual
muito aprendemos a partir das nossas próprias pesquisas, o que evita uma
busca condicionada e sectária. Descubrimos o prazer de aprender a
aprender e de confiar naquilo que fazemos. Segundo, partilharemos nosso
trabalho que, certamente, enriquecerá o leitor.

Inicialmente, temos uma visão panorâmica sobre o ontem e o hoje da


Tradição Draconiana; evocamos o sagrado dragão e meditamos sobre seu
belo simbolismo alquímico e iniciático; analisamos as especificidades do
Caminho das Sombras, assinalando sua importância, força e beleza e
encerramos o texto com a interessante lenda chinesa do Dragão Alado.
A Tradição Draconiana é uma senda de Luz e de Sombras e esse aparente
dualismo gera um espírito de síntese e de completude, fechando os dois
caminhos em um único círculo ou, numa linguagem filosófica, identificando
o ponto de partida no ponto de chegada. Que pela síntese possamos
aprender a despertar o Dragão interior e a sobrevoar pelo círculo na
beatitude da realização da Grande Obra em nosso ser.

Antônio Vicente,

Frater Artos Mercurius, 156 ‘.’

ASPECTOS HISTÓRICOS DA TRADIÇÃO DRACONIANA:

O Culto Ofidiano do interior da África foi continuado e desenvolvido no


Egito, onde ele alcançou sua apoteose na Tradição Draconiana ou
Tifoniana.7

Nosso trabalho, no entanto, é historicamente autêntico; a rediscoberta da


Tradição Sumeriana.8

As pesquisas de Lyncoln tem, sem dúvida nenhuma, iluminado certas fases


de um antigo ciclo mítico intimamente associado à Corrente Tifoniana. Elas
revelam um possível relação entre um linhagem histórica: os Merovíngios e
a Tradição Tifoniana.9

A Tradição Draconiana é parte de uma corrente de força mágica e de


conhecimento oculto que retrocede à Suméria, bem como ao Egito pré-
dinástico. Essa poderosa corrente mágica era e é baseada na gnose da
Serpente de Fogo. A Serpente de Fogo, a Kundalini ou, ainda, a Corrente
Ofidiana, é a base de toda a verdadeira iniciação.

Como dizíamos no 1o paragráfo, a Tradição Draconiana é um substantivo


coletivo para designar uma corrente evolutiva que se encontra ativa no
planeta há milênios. Normalmente, alguns autores, como Blavatsky,
atribuem sua manifestação inicial a Época Lemuriana (cerca de 5 milhões
de anos atrás), de lá teria se migrado para o continente de Atlantis. Sabe-
se que outras civilizações já teriam edificado formulações do
conhecimento, contudo, foi na Atlântida que o conhecimento manifestou-se
plenamente. Ainda na esteira de Blavatsky, somos informados de que os
Sábios Atlantes, prevendo seu fim iminente, prepararam as terras do Egito
(há, aproximadamente, 12 mil anos a.C.) para herdar as tradições de que
eram portadores. É a partir daí que a tradição adquire sua temporalidade e
“mudou-se” para a África. O conhecimento era mantido em rigoroso
segredo e estava reservado à família reinante e às suas relações
imediatas. Posteriormente, à medida que a nação egípcia se desenvolveu,
este conhecimento tomou corpo, sob a forma de Colégios Sagrados,
levando o Egito a tornar-se o centro da Tradição Primordial, com ramos em
todos os países civilizados da época e mantendo relações com os demais
centros que os sábios atlantes haviam criado nas outras partes do mundo,
o que explica as extraordinárias semelhanças entre as antigas civilizações.
A tradição que viera da Atlântida para o Egito e que se expandiu para os
outros países, tinha seu centro em Heliópolis.

Pelas citações em epígrafe, percebemos que existe um fio condutor desta


Tradição desde a Antigüidade até nossos dias. Segundo Kenneth Grant,
no terceiro Capítulo de Culto das Sombras, intitulado O Culto Draconiano
no Antigo Khem, somos informados que a Tradição Draconiana provém de
uma época muito remota e que pode ser rastreada tanto em aspectos
históricos quanto mitológicos. Sua maior evidência pode ser encontrada no
período pré-dinástico ou pré-monumental. Como o passar do tempo, ela
passou a ser perseguida e combatida devido a divergências conceituais e
pragmáticas. A Tradição Draconiana defendia o culto ao Princípio Feminino
e as Tradições emergentes se voltaram para a adoração ao Princípio
Masculino. Mesmo perdendo boa parte de seu terreno, a chama da
Tradição Draconiana não se apagou, mas refugiou-se no silêncio e
sobreviveu de forma não-pública. Assim, ecos desta Tradição ainda
puderam ser encontrados, ainda que velados, disfarçados e até mesmo
distorcidos até a XXVI Dinastia do Antigo Egito.

As primeiras evidências históricas do surgimento da Tradição Draconiana,


no Antigo Egito, podem ser encontradas quando Ta-Urt, Tifon para os
gregos, a Grande Serpente, era tida como a Mãe de Seth, o Deus mais
antigo das terras egípcias. Ta-Urt era a encarnação das Forças Primordiais
que exaltavam a criação do Universo com seus mundos e planetas. Em
algumas regiões do Egito pré-dinástico, principalmente nas regiões ao sul,
a Deusa Ta-Urt era a representação da Grande Mãe Estelar sob a forma
de um hipopótamo grávido, simbolizando um Dragão das Águas. Para os
Draconianos, era a Mãe das Revoluções que foi identificada, ao norte, com
a constelação da Grande Ursa. Seth, seu Filho, era considerado o Deus do
Sul, cuja estrela que o representava era conhecida como Sírius (ou Sothis,
em grego). Seth, uma divindade do Sidhe (o Outro Mundo), após longas
corrupções teve sua identidade adulterada e foi identificado como um deus
do mal, arqui-inimigo do deus Sol – Hórus. Neste particular, cabe
esclarecer que Tifon (forma grega para Ta-Urt) é o aspecto feminino de
Seth. Algumas vezes, é considerada como a mãe de Seth em seu aspecto
de Deusa das Sete Estrelas, da qual Seth é a Oitava. Por sua etimologia,
Seth significa “negro”, o que o associa com o mundo oculto ou sombrio – o
Amenta dos egípcios. Seth, sendo um deus celeste, “caiu” do horizonte e
passou a ser considerado um Deus do Inferno, da Terra Oculta. Em
Thelema, este Deus é de suprema importância, pois, além de representar o
espírito criativo primordial, comporta também à fórmula da magia sexual,
conforme veremos mais adiante.

A Tradição Draconiana nunca deixou de existir. Na verdade, é um processo


de eterno vir a ser que poderá ser resgatado a qualquer momento por
aqueles que vibram em consonância com sua frequência. Nessa direção,
essa Antiga Tradição percorreu os séculos. Na Idade Média, por exemplo,
ela dá sinais de sua continuidade através da Bruxaria Sabática. Apesar de
serem consideradas héreticas, na verdade, as verdadeiras bruxas da Idade
Média tornaram-se repositórias de símbolos de uma tradição pré-cristã.
Sobre isso, nos fala Grant em seu Culto das Sombras:

Foi sugerido por algumas autoridades que as bruxas originais surgiram de


uma raça de origem mongol da qual os lapões são os sobreviventes atuais.
Isto pode ou não ser verdade, mas estes “mongóis” não eram humanos.
Eles eram sobreviventes degenerados de uma fase pré-humana da história
do nosso planeta, geralmente – embora erradamente – classificados como
atlanteanos. As características que os distinguia de outros da sua raça era
a habilidade de projetar a consciência em formas animais e o poder que
possuíam de materializar formas-pensamento. Os bestiários de todas as
raças da terra estão entulhados com os resultados das suas feitiçarias.

Os símbolos principais do culto original sobreviveram à passagem do


tempo e foram eles, sem dúvidas, herdados das Tradições Draconianas do
Egito pré-dinástico, como o capítulo 3 de O Renascer da Magia nos
informa. Todos eles sugerem o Caminho Invertido, isto é, o Caminho das
Ressurgências Atávicas. O Sabbath sagrado a Sevekh ou Sebt, o número
07, a lua, o gato, o chacal, a hiena, o porco, a serpente negra, a dança de
costas anti-horária, o beijo anal, o número 13, a bruxa montada em um
cabo de vassoura, o morcego, o sapo e a Rã (sagrado à Deusa Hécate)
foram símbolos comuns às bruxas medievais mas que originalmente
caracterizavam a Tradição Draconiana. Infelizmente, esses símbolos foram
desviados de seu significado e função inicial por pseudo-bruxas (e a Wicca
atual é uma degeneração ainda maior). Assim, os Mistérios foram
profanados (mas não perdidos) e os ritos sagrados condenados como anti-
cristãos.

Nos tempos modernos, a Tradição do Dragão renasce principalmente pelo


esforço do grande mago Aleister Crowley e ao impulso renovador que lhe
foi dado por seu continuador natural, o senhor Grant. Como se pode
constatar, a Tradição Draconiana é uma fonte poderosa e que se desvela
para aqueles que a buscam e que são capazes de com ela se sintonizar.

Com o advento do Novo Aeon (1904 – recepção de Liber AL), Aleister


Crowley tornou-se um instrumento para que a Antiga Tradição Draconiana
ressurgisse e junto com ela a adoração a Seth-Tifon em oposição à
Trindade Osiriana. A grande diferença entre essas adorações é de gênero:
Seth-Tifon representam o Princípio da Maternidade (a Virgem Mãe e seu
Filho), ao passo que o Culto Osiriano dá enfase ao Princípio da
Paternidade. Encontramos, n’O Livro da Lei, um grande depositário dos
Mistérios Draconianos que Nele estão velados e as fórmulas para que a
Grande Obra ocorra, a fusão do eu com o tu, o retorno ao estado hominal
ou o Nada.

No contexto desta ressurgência, O Livro da Lei deve ser visto como uma
poderosa transmissão Draconiana e uma nova adoração e reconhecimento
do Princípio Feminino. Na literatura Thelêmica, sabemos que esse
Princípio Feminino é chamado de Nuit, o Círculo Infinito. Entretanto,
diferentemente dos tempos aúreos da Tradição Draconiana no Antigo
Egito, o Princípio Masculino também será reconhecido. Ele é o Ponto
Onipresente, conhecido como Hadit. Nota-se que esse equilíbrio de
polaridades evitará preferencialismos e conflitos desnecessários. Parece
que, finalmente, a balança de Maät esteja em equilíbrio. Doravante, a
balança maatiana do fogo criativo deve se combinar harmoniosamente com
as qualidades femininas da delicadeza, sintonizado com sua intuição e
receptividade.

Crowley esforçou-se para publicar suas descobertas e compreensões


iniciáticas em uma forma moderna. Isso criou muito caos, pois perturbava e
assustava as pessoas que estavam adormecidas pelas crenças e
superstições do Velho Aeon. Ele foi “satanizado” e perseguido durante toda
a sua vida e isto porque falava para o eu verdadeiro do indíviduo,
adotando uma linguagem iniciática. Indubitavelmente, seu discurso era
inquietante para os que não estavam preparados. É interessante notar que
o S.A.G. (Sagrado Anjo Guardião) dele era Shaitan-Aiwass, uma forma de
Seth como iniciador. Seth é o Senhor da Iniciação e Saturno é o planeta do
karma. A iniciação ocorre pela destruição dos bloqueios indesejáveis ao
nosso progresso. O caos causado pela demolição de tais bloqueios é parte
essencial do processo para que nossa Verdadeira Vontade possa ser
realizada sem restrições.

Como vimos, a trajetória da Tradição Draconiana pode ser traçada


historicamente. Mas o mais importante é ressaltá-la como um caminho
mágico e que se sustenta, sobretudo, pela forma parampara. Significa dizer
que houve e há intercâmbios extra e intraterrestres que iluminaram e
iluminam a consciência humana ao longe de diferentes estágios. Essas
reverberações, quando devidamente canalizadas, atuam como uma fonte
criativa e poderosa de vibrações que, ocultamente, influenciam as religiões
e o desenvolvimento científico da humanidade. Assim, a Tradição
Draconiana pode assumir formas distintas de expressão. No entanto, seu
espírito visionário permanece intacto e se perpetua.

Antes de encerrarmos este tópico, cabe fazer uma ressalva para os termos
Draconianos e Tifonianos que, às vezes, são considerados sinônimos mas
que, do ponto de vista estritamente histórico, comportam diferenciações.
Sobre isso Fernando Liguori nos informa no Informativo Sothis, número
2:10

A Tradição Tifoniana foi o Culto Draconiano “sistematizado” no Antigo


Egito. Quando o Culto Draconiano saiu da África Primal, ele atingiu sua
apoteose nas Dinastias pré-monumentais do Antigo Egito, se tornando, ali,
a Tradição Tifoniana. Entretanto, o Culto Draconiano é o substrato primevo
de todas as grandes religiões fálicas e seus traços mais marcantes são
encontrados no Vodu, no Tantra Hindu, no sistema Kahuna e nos Cultos
Xamânicos Sul-Americanos e Asiáticos.

A partir desta colocação, percebemos que a Tradição Draconiana é


anterior à Tradição Tifoniana, poderíamos até mesmo falar de uma
Tradição Draco-Tifoniana, pois percebemos em uma, a continuidade
natural da outra, a exemplo de uma nascente que corre, passa pelo rio e
deságua no oceano. Mas, por preferencialismo, usaremos somente o termo
Draconiano que é mais abrangente.

A METÁFORA DO DRAGÃO:

Sou metal – raio, relâmpago e trovão. Sou metal, eu sou o ouro em seu
brasão. Sou metal: me sabe o sopro do dragão.11

No horóscopo chinês, o Dragão é considerado como sendo o melhor signo


daquele zodíaco. É dito que os que nascem sob o signo do Dragão são
enérgicos, entusiastas, tenazes, intuitivos, inteligentes, perfeccionistas,
perspicazes, influentes, generosos, cativantes, independentes e a sorte
está do lado deles. É, aliás, na Tradição Chinesa e em sua antiga lenda do
Dragão Alado (veja apêndice) que a mais elevada concepção a respeito do
Adepto é encontrada.

Na verdade, a Tradição do Dragão e o seu extenso simbolismo tem ecos


em todos os recantos do mundo, tanto nas civilizações mais adiantadas e
naquelas mais rudimentares. A origem de sua lenda perdeu-se no tempo e
não podemos precisar sua origem. Os dragões eram considerados, por
toda a Antiguidade, símbolo da Imortalidade, Sabedoria, Eternidade e
Conhecimento Oculto. No Egito, na Babilônia e na Índia, os hierofantes
denominavam-se de “Filhos do Dragão” ou de “Filhos da Serpente”. Este
simbolismo também aparece na Caldéia, no México e entre os sacerdotes
Assírios e Druidas, dentre outros. No caso específico dos Druidas,
sabemos que é uma constante nesta tradição e eles consideravam a
serpente e/ou o dragão símbolos de seus mais altos mistérios e ensinos.
Nos textos celtas, se nos referirmos à arqueologia da Serpente Gaulesa,
vem a lembraça a Cocatrix, a fabulosa serpente colocada a serviço do rei
Artur na Guerra. As relações entre Merlin e Artur são cheias de fabulosos
dragões. Também se encontra referência ao dragão nos Mabinogios. A
lenda de Lhud e de Lhevelys nos mostra que o dragão do país estava em
luta com o dragão estrangeiro.

Mas por que os adeptos escolheriam esse ser como representação de si


mesmos?

Como vimos antes, o dragão é uma entidade mitológica que existiu em


todas as eras e culturas. Pode também ser comparado à serpente alada.
Do ponto de vista histórico, a serpente é símbolo da terra e do submundo.
A águia (e pássaros em geral) são símbolos celestes. O dragão une
perfeitamente esses dois princípios (Céu – Terra) que também pode ser
traduzido pelo grande axioma: O que está em cima é como o que está em
baixo. Na China, o dragão representa o Tao, aquilo que está além das
palavras e das polaridades (Yin e Yang), mas é a força por trás de tudo o
que existe. Simboliza o desconhecido, a energia oculta presente na
natureza e no ser humano. O termo dragão vem do grego dragon que
significa “ver”. Um ‘dragão’ deve ter um olhar claro que saiba ver as coisas
sob um novo ângulo e perspectiva, procurando enxergar o que as coisas
são de fato e não sua mera aparência exterior. Devido à sua capacidade
de ver além dos véus de maya, ele é tido como símbolo de poder e
sabedoria nas lendas. Sua sabedoria é simbolizada pelos tesouros que
guarda. No filme Coração de Dragão, vemos o dragão guardar toda sua
sabedoria e poder no interior de uma caverna. Lá é seu habitat natural.
Para encontrarmos a sabedoria e conhecimento do dragão, um Draconiano
precisa mergulhar em sua própria caverna, isto é, em seu próprio ser. No
Yoga, o dragão é chamado de Serpente de Fogo, a Kundalini, a força
oculta no interior do ser.
Considerando a natureza de um dragão, percebemos que ele unifica, em si
mesmo, todos os Elementos ou Princípios: pode voar (Ar), cospe fogo
(Fogo), habita em cavernas (Terra) e é capaz de nadar (Água). Assim, um
dragão que habita uma caverna e guarda seu ouro, pode ser visto como
uma metáfora para seu papel de guardião e senhor da energias
elementais. Tanto o dragão, quanto à serpente, são seres cuja pele é
totalmente renovada de tempos em tempos, indicando a capacidade de
renovação, renascimento e regeneração do adepto.

A magia sexual também se encontra no símbolo do dragão, uma vez que


seus chifres são considerados afrodisíacos quando se tornam pó e
também é capaz de curar todos os venenos. E por que será nos mitos as
virgens eram oferecidas em sacrifício aos dragões?

No Egito, o animal compatível com o dragão era o crocodilo, uma espécie


de dragão egípcio. Ele era um símbolo dual, representando céu e terra, Sol
e Lua e tornou-se sagrado a Osíris e Ísis, em função de sua natureza
anfíbia. Os egípcios representavam o Sol em uma barca que era
transportada por um crocodilo, insinuando o movimento do Sol no espaço.

Com a degeneração dos mistérios, o que era alegórico tornou-se fatual. O


nome serpente ou dragão designava aqueles que eram os Sábios, os
Iniciados de todas as épocas. Com o passar do tempo e a perda cada vez
mais crescente do verdadeiro significado dos mistérios, o símbolo do
dragão virou alvo de especulações. O dragão passou a ser representado
astronômica, concreta e abstratamente. Ele se tornou o Dragão Polar e a
Cruz do Sul, a Alfa Draconis da Pirâmide. Tornou-se, ainda, o temido
Dragão Budista que poderia engolir o Sol durante um eclipse.

É curioso o fato dos dragões e das serpentes da antiguidade terem 7


cabeças. Isso representa os 7 princípios que perpassam o homem e a
natureza. O sete que se relaciona com os ciclos da vida e com a ideia do
tempo. Pelas ideias que o número 7 comporta, podemos entender porque
os antigos iniciados eram chamados de “dragões” ou “serpentes” nas
dinastias egípcias.

Em síntese, o dragão é símbolo da Força Primordial que o Draconiano


pode e deve despertar através da iniciação para que possa realmente
manifestar o divino. Aliás, a Iniciação Draconiana visa, primordialmente,
tornar essa Poderosa Força inconsciente em conhecimento e poder
conscientes. Acima de tudo, o Draconiano vê o Dragão como a face de
Tudo Aquilo Que É, desde a mais densa até a mais sutil das energias:
todas são facetas do Dragão que evolui e emerge em Si mesmo.

ESPECIFIDADES DRACONIANAS:

O que a diferencia a O.T.O. Draconiana de outros caminhos iniciáticos:

A Tradição Draconiana postula que há níveis diferentes de realidade,


insuspeitados pelos profanos e que o adepto pode explorar. Essa
exploração se dá através da iniciação cuja meta é desvelar o oculto que
está por detrás da aparência de cada fenômeno. Pelas técnicas iniciáticas
penetramos no lado oculto das religiões e dos mitos e obtemos o
conhecimento sobre as verdades neles veladas. Os Ordálios dos dois
primeiros graus tem essa finalidade. A partir deste conhecimento, o adepto
aprende como controlar o mecanismo da existência e pode influenciá-lo de
acordo com sua vontade. O Draconiano aprende a contornar as limitações
da existência e a superar as reações condicionadas nele pela cultura,
família e sociedade, usando sua liberdade e vontade para poder criar sua
realidade.

A O.T.O. Draconiana é única: apresenta um sistema a ser percorrido com


técnicas específicas que levam o postulante do trabalho com o lado
luminoso ao trabalho com as forças caóticas e obscuras. Devido a essa
peculiaridade, esse caminho não é bem visto pelas outras vertentes do
Ocultismo e, frequentemente, é alvo de interpretações equivocadas e
difamações. Sumariamente, é possível estabelecer a existência de três
níveis de conhecimento: o científico (mundano); o esotérico das escolas da
mão direita (Tradição das Luzes) e o esotérico das escolas da mão
esquerda (Tradição das Sombras). A Tradição das Sombras é mais rara,
uma vez que conduz ao reino do caos e poucos são aqueles que estão
aptos ou dispostos a trilhar tal via. É uma vertente severa, forte, rigorosa,
mas que pode conduzir à beleza e ao poder. Enquanto as Tradições das
Luzes levam o iniciado a se fundir com um Deus particular, o Caminho das
Sombras levam o adepto ao encontro da grande Tiamat e dos deuses
primais que existem muito antes dos deuses da luz terem sido criados.

A Tradição Draconiana promove a Lei de Thelema e se volta também para


a exploração das inteligências alienígenas tais como as formas de vida
extraterrenas e os demônios e os aspectos negros da metafísica da
existência. Do ponto de vista psicológico, o trabalho com o lado negro tem
sua razão de ser. Sabemos que usamos apenas uma pequena fração de
nossa capacidade. Experienciamos uma ínfima parte da realidade. A maior
parte esta oculta a nós. A parte oculta do homem pertence a áreas da
psique que não estão desenvolvidas. Mas também podem ser faculdades
utilizadas que pertenceram ao homem primitivo e que hoje estão latentes
na forma de atavismos. Essas energias latentes podem se atualizar e se
tornarem conscientes se com ela entrarmos em contato. Aí então, nós as
confrontaremos com as obscuridades e partes reprimidas do nosso ser
(agressões, medos, instintos…). A esse respeito, Jung afirma: “a
iluminação não é alcançada pela visualização da luz mas pela exploração
da escuridão.” É, ainda, no reino oculto da mente humana que iremos
encontrarmos os chamados siddhis ou poderes psíquicos.

Nesta direção, a escuridão é a luz do Draconiano e ele examina igualmente


os lados luminosos e sombrios das energias em todas as suas diferentes
formas de expressão. A meta é a apotheosis (ou união com o divino)
sempre somando e não subtraindo; isto é, levando-se em consideração a
aparente dualidade própria da criação.

Para percorrer esse caminho uma dedicação focalizada e exclusiva é


necessária. Cinco pontos precisam ser observados para nos integrarmos a
ela e a experienciarmos em plenitude:

1) Dedicação (comprometimento, imersão com sua vivência Draconiana);


2) Pratica (aplicação dos conhecimentos recebidos);
3) Descondicionar (coragem para ousar e abrir-se a novas possibilidades);
4) Consciência multidimensional (ser capaz de se comunicar com outros
níveis de consciência);
5) Realizar em si a Grande Obra Alquímica (unir Shiva e Shakti em seu
ser).

A Tradição Draconiana se caracteriza por sua tradição oral, calcada na


relação entre orientador e orientando; na utilização da sexualidade sagrada
como passaporte para expansão de consciência e contatos
interplanetários; advoga uma iniciação espirada, em detrimento das
iniciações verticalizadas do aeon anterior, apostando no Silêncio como
viabilizador de tal iniciação. A culminância desse processo está na
desvelação paulatina dos véus de Isis (phISIS, geneSIS) e na aquisição da
Sabedoria.

Não é uma escola uniforme, na qual há um única instrução para todos.


Pelo contrário, é um caminho de exclusividade no qual cada estudante é
tratado e instruído de acordo com suas próprias necessidades. O que a
torna uma via muita especial.

É uma via sem dogmas, uma filosofia de vida, na qual a mulher está em
igualdade com o homem. É uma coletânea das práticas mais significativas
do Oriente e do Ocidente, fusionadas de forma que permita a seus adeptos
desenvolver suas potencialidades e a atingirem, mais completamente, sua
missão terrena (o auto-conhecimento). Para tal, possui uma disciplina, um
método e um sistema que engloba o físico, o psicológico e o espiritual.

A iniciação não é conduzida cerimonialmente ou dramaticamente como


ocorre com outras tradições. Ao contrário, a iniciação deve ocorrer
internamente como retorno do investimento de cada praticante. Tal ocorre
à medida que o iniciado é capaz de sair do nível de reação das condições
e fatos exteriores e passa a governar sua vida de acordo com os ditames
de sua Verdadeira Vontade.

A iniciação Draconiana se dá em 11 níveis ou graus, galgados um a um. Na


verdade, é uma espiral que vai ampliando suas voltas e elevando-nos cada
vez mais alto. Baseada na estrutura da Árvore Sephirótica, o candidato vai
se elevando pela frente da Árvore, mas não deixa de sofrer também os
impactos de seu lado reverso.

Uma característica muito interessante da Tradição Draconiana é seu


caráter experimental. Ela se caracteriza por um espírito investigativo e
experimental, objetivando ter um sistema esquematizado e científico de
suas praticas. Kenneth Grant, Aleister Crowley, Achad, Fernando Liguori,
dentre outros vem contribuindo para o florescimento de uma tradição
científica no ocultismo, a partir da coleção, análise e comparação de
dados.

Um exemplo deste caráter experimental, por exemplo, pode ser


vislumbrado em relação ao Tarot. Desde a primeira publicação do
Nightside of Eden, em 1977, tem havido diversas tentativas em se criar um
Tarot que retrata o lado sombrio ou uma espécie de Nightside Tarot como
sugerido pelo livro. Sabemos que vários grupos ligados à corrente
Draconiana têm feito tentativas neste sentido. A meta é revestir o Tarot com
um novo simbolismo que seja complementar ao atual, restaurando a gnose
primordial em sua forma mais pura e em consonância com a perspectiva
Draconiana de unidade pela dualidade. O que faz do Draconiano um não-
dualista – ele a reconhece mas não como oposição e sim como
complementaridade: nem bom, nem mal, nada é perfeito ou imperfeito, mas
todas as coisas estão perfeitas em seu vir a ser, no momento presente
para poderem evoluir para seu próximo nível de ser.

A pratica nuclear desta via é a sublimação, entendida como a consagração


(tornar sagrado) de todos os desejos. Precisamos ter liberação nos
relacionamentos e aprender a olhar para vermos claramente as coisas sem
as nossas projeções, expectativas e frustrações. Não é fácil desenvolver
essa “mente neutra”. Devemos começar pelo amor personalizado para
chegarmos até o amor impessoal, até que o amor concentrado
incondicional seja nosso amor personalizado. Assim, os relacionamentos
ao invés de serem um “obstáculo ao progresso espiritual” se tornam um
caminho de liberação porque eles nos ensinam muito. Esse é um processo
automático quando nos encontramos no estado desperto. Nesta esfera da
sublimação, a sexualidade e o sexo tem um papel fundamental.

A Corrente Ofidiana (Draconiana) usa a energia sexual para provocar


mudanças internas e externas (ou místicas e mágicas). Essa alquimia é o
ponto central do sistema Draconiano de iniciação. O objetivo é produzir o
Elixir da Vida Eterna (a Pedra Negra ou o Diamante Negro). Curioso o fato
de que a palavra Khem signifique negro e era o nome do Antigo Egito.
Assim, a Magia Draconiana é uma Magia Negra no sentido de ser uma
alquimia. Khem é também o nome do deus da Alquimia. O deus negro Seth
é também ligado à Alquimia e à pedra negra. Na tradição grega, Khem foi
representado por Pã e Seth por Tifon. Assim, a alquimia Draconiana pode
ser traçada até o Antigo Egito, bem como nas tradições hermetistas e
gregas cujo objetivo corresponde ao Caminho da Mão Esquerda. Na
O.T.O. Draconiana, o processo de transmutação alquímica ocorre passo a
passo através do processo de iniciação junto aos Graus da Ordem.
A Tradição Draconina nos ensina que os Mistérios Maiores estão contidos
em nosso próprio corpo. Gerald Massey, Aleister Crowley, Austin Spare,
Dion Fortune demonstraram, cada um à sua maneira, as bases bio-
químicas dos Mistérios. O mesmo foi detectado por Wilhelm Reich em suas
pesquisas. Ainda, os ‘símbolos sensientes’ e o ‘alfabeto do desejo’, de
Spare, correlatos como são aos marmas do corpo com os princípios
sexuais, anteciparam, de muitas maneiras, o trabalho de Reich, que
descobriu – entre 1936 e 1939 – o veículo da energia psico-sexual, a qual
ele nomeou orgone. A contribuição singular de Reich à psicologia e,
incidentalmente, ao ocultismo ocidental, encontra-se no fato de que ele
isolou com sucesso a libido e demonstrou a sua existência como energia
tangível, biológica. Esta energia, a verdadeira substância dos conceitos
puramente hipotéticos de Freud – libido e id – foi mensurada por Reich,
tirada da categoria de hipótese e reificada. Entretanto, ele estava
equivocado ao supor que o orgone era a energia final. Na verdade, ela é
um dos mais importantes kalas, mas não o Kala Supremo (Mahakala),
embora possa tornar-se isto pela virtude de um processo que não é
desconhecido aos tântricos do Varma Marga. O próprio O Livro da Lei, que
é um Tantra moderno, também descreve a utilização sábia das correntes
sexuais.

‘O melhor sangue é o da lua’ (AL III: 24); ‘pois ele é sempre um sol e ela
uma lua. Mas para ele é a alada serpente e para ela a radiante luz estelar.’
(AL I: 16).

A substância vermelha da mulher é o primeiro menstruum de energia


mágica. A fórmula do Novo Aeon (418) é a de Cheth, a Carruagem. É a
formula do IR. O homem é branco e a mulher vermelha (Mulher Escarlate).
O homem pode obter a iniciação, mas não pode manifestar seu poder sem
ela. A fórmula e a função da Mulher Escarlate inicia-se com as zonas
ocultas de energia intimamente relacionadas às redes de nervos e plexos
associadas com as glândulas endócrinas. A Kundalini afeta os chakras no
corpo dela e suas vibrações influenciam a composição química das
secreções glandulares.

Tais ‘fragrâncias’ são consumidas pelo Sacerdote e transformadas em


energia mágica. Quatorze secreções vaginais são reconhecidas pela
ciência ocidental e, supostamente, há mais duas. Esses Kalas só podem
ser evocados se os chakras envolvidos tiverem sido devidamente
preparados.

‘Eu sou a secreta serpente enrolado a ponto de pular: em meu enrolar


existe alegria. Se eu ergo minha cabeça, eu e minha Nuit somos um. Se eu
a abaixo e ejaculo veneno, há a raptura da terra, e eu e ela somos um’ (AL
II: 26).

Consumir os kalas assim carregados e direcionando as correntes para


cima (néctar), transforma a consciência e ela se torna apta a contatar e a
comunicar com entidades transcendentais. Se as correntes são
direcionadas para baixo (veneno), elas são carregadas com vibrações
envenenadas que são utilizadas para trabalhos de materialização e
dissolução.

Para a mulher erguer a Kundalini, ela visualiza a Serpente na forma fálica


em seu muladhara-chakra e se inflama até o ponto de atingir o orgasmo.
Antes do orgasmo, ela deve mover a imagem ao ajna-chakra e manter a
imagem até que a consumação ocorra. O homem identifica a Kundalini com
Hadit e o centro cerebral com Nuit. A força de Hadit é ativada e sob pela
coluna vertebral até o cérebro. Desta maneira, o homem é a Palavra e a
Mulher é a Ação. A Criança é a Palavra feita carne pela Ação.

A mente se concentra na Criança que é corpo que sustenta o Ato da


Criação Mágica. É a Maquinaria Mágica que cria a imagem. O corpo dá
expressão e projeta a para a esfera material. É um caminho de amor. Lida
com o crescimento do e no amor, a recepção do amor, fazer amor e criar
com amor para unir-se Àquilo que em tudo está presente.

Assim, a postura do Draconiano frente à sexualidade é de sacralidade por


saber do imenso poder que ela é portadora e ele mesmo é desprovido de
preconceitos quanto a ela e suas formas de expressão. A esse respeito,
Gerald Massey, em The Natural Genesis, escreveu:

[…] este é o segredo da esfinge: ela é masculina na frente e feminina


atrás. Assim, é a imagem de Set-Tifon, um tipo de chifre e rabo, masculino
na frente e feminino atrás. Assim, também eram os faraós que usavam
rabos de leão ou vaca, eram masculinos na frente e femininos atrás.

Já Lise Manniche, em seu livro, A Vida Sexual no Antigo Egito, nos fala das
inclinações bisexuais de Seth. Assim, percebemos que os antigos
Draconianos, assim como os deuses, incluíam a dualidade do ser em suas
vidas. O Draconiano se conscientiza que seu corpo e sua vida são o
grande laboratório alquímico, principalmente seu corpo é considerado o
Templo do Sagrado Espírito.

Um aspecto da Tradição Draconiana é sua Corrente Evolucionária


expressa através da forma do Opositor, o Veículo da Perpétua Revolução
que vai além dos limites impostos ou estabelecidos, e que são
transcendidos pela Verdadeira Vontade. A perspectiva Draconiana é
ampliar a consciência humana para além dos limites conhecidos. Somos
limitados por uma determinada banda frequêncial. Como Magistas
Draconianos, buscamos a ampliação desta banda frequêncial e a
expansão da consciência para além daquilo que é previamente
considerado como humano. Não se aceita os limites impostos a nós
mesmos e lutamos contra o estado de conformidade com eles. Como
Tradição dinâmica, o Dragão pode destruir as falsas ideias e perspectivas
nos levando a voos mais elevados na expansão da consciência.
A filosofia Draconiana se volta para o panteísmo, no qual a divindade é
percebida na natureza, no homem, enfim, em tudo aquilo que existe; em
detrimento da visão monosteísta na qual deus é tido como algo a parte de
sua criação. Respeita e privilegia a individualidade, não acreditando num
modelo pronto e acabado das coisas. Almeja ir além do estabelecido e das
limitações impostas ao homem por diversos meios. Apesar disso, essa
assertiva não pode ser encarada, como normalmente ocorre, como sendo
uma carta branca à licenciosidade e um sim a todos os instintos. É uma
perspectiva therioncêntrica, na qual a besta e o divino se unem,
procurando a síntese e a compreensão de certos conceitos abstratos em
torno do que seja o bem e o mal, o certo e o errado, de uma perspectiva
maior, cósmica e não limitada pelas indulgências sociais ou externas. É
também uma postura crítica diante de certas intelectualizações que não
permitem o ser se expressar livremente. A razão analítica vê as coisas de
forma separada, desconectada. Ao invés de ver o todo, se contenta com as
partes. Perde-se o paradigma holográfico (o todo está nas partes e vice-
versa). Aliado a isso, a sensação de separação das coisas e o
materialismo exacerbado conduzem-nos a um hedonismo sem fim, onde
somente a satisfação imediata é a lei, e a busca pelo divino, pelo autêntico,
por valores que possam elevar não tem mais espaço. O Draconiano sai da
consciência grupal, coletiva e busca desenvolver-se integralmente quanto
ser humano.

A visão de mundo é cíclica conforme a natureza nos ensina e também o


símbolo da serpente que morde a própria cauda, o Ouroboros (ilustrando
os ciclos do tempo e da natureza).

O caminho da mão esquerda contesta, com inteligência, a modernidade e o


progresso quando não passam pelo crivo da razão e seu custo–benefício
não é devidamente considerado. A filosofia Draconiana inclui a luz e as
sombras, o masculino e o feminino, ao contrário das filosofias da luz que se
baseiam na dualidade de ou luz ou trevas, ou masculino ou feminino. Em
resumo, é o caminho da Vontade no qual precisamos descobrir o que é
mais atrativo para nós na vida, pois isso nos levará a exploração plena de
sua beleza. Ao mesmo tempo, nos dirigimos, como efeito reverso, ao
conhecimento cada vez maior da Deusa que nos seduz e nos atraí e que
está oculta em toda matéria. Mas devido a seu caráter mutável, veloz e
transformador, precisamos estar bem centrados para não sermos levados
pelos redemoinhos de Tifon. Equilíbrio é uma palavra chave, bem como a
pureza da aspiração que conduz e prepara para o contato com os poderes
da consciência. Trabalhando com a alquimia da Vontade e da Ação, a
magia do guerreiro e a união da besta com o deus, levando a
personalidade a se identificar com a individualidade interna, o “olho do
dragão” se abre e se vê com clareza. Desta forma, o adepto é capaz de ir
além e de mergulhar no Universo B, de penetrar no Grande Diamante
Negro e invocar os espíritos esquecidos, os deuses antigos, os seres da
natureza e os ancestrais para reencantar esse mundo com a magia que
fora perdida.

APÊNDICE:

A lenda Chinesa do Dragão Alado:

A lenda descreve o Dragão como um animal alado, de grande porte, com o


corpo de serpente, todo coberto por escamas, com patas em forma de
garras e podendo viver tanto na água, sobre a terra ou no ar. Este Dragão
vivia no Rio Amarelo, mas decidiu sair dele e esta saída foi marcada por 06
etapas. Sobre as escamas de seu corpo, estavam desenhados círculos de
cores claras e escuras e que, ao longo de seu corpo onduloso, suas
escamas eram convertidas em figuras sagradas. Afirma-se que isso foi
para o Fo-Hi a revelação dos trigramas do I Ching, imagem perfeita da
natureza que se desnuda diante do Sábio, ou Iniciado, quando este se
torna merecedor desta desvelação. Podemos inferir que o conhecimento
adquirido pelo Fo-Hi, via os trigramas, lhe foi transmitido por um verdadeiro
Adepto, representado, simbolicamente, pelo Dragão.

Alegoricamente, as seis etapas da jornada do ser humano até atingir a


maestria pessoal ou o domínio da vida são retratadas por esta lenda. Cada
fase desta iniciação recebe um nome:

O Dragão Oculto: É o Dragão oculto no fundo do rio. Representa o homem


interior oculto na matéria e que ainda não tem o desejo de subir à
superfície, de sair de sua condição atual, de evoluir. Há uma preocupação
exclusiva de satisfazer apenas os desejos de sua natureza terrena.

O Dragão no Arrozal: Nesta fase, o Dragão saiu das águas. Toma


consciência de um outro mundo. Ele está na terra, mas ela é lamacenta e
afunda com seu peso. Representa o primeiro despertar da consciência
para algo que transcende o mundo físico. Mas é um despertar
momentâneo e especulativo, movido pela curiosidade e não tem a força
necessária para elevar o Dragão.

O Dragão Visível: Segundo a lenda, nesta etapa o rio transborda, elevando


o Dragão até a superfície. O Dragão é arrancado da terra pelas mesmas
águas que o tinham preso à terra e ele pode nadar, por um mometo, em
sua superfície em vez de deslisar no fundo. Representa a consciência que
se faz ciente da existência do mundo espiritual, que sabe que sua
existência é necessária e reconhece a Divindade, mas ainda lhe falta a
Vontade para elevar-se até Ela.

O Dragão Saltitante: Nesta 4a fase, o Dragão encontra-se em terra firme


que lhe permite levantar. Sabe que terá que caminhar, mas não percebeu
que é capaz de voar, dá apenas saltos que recaem novamente no mundo
material. A luta que mantém é penosa e feliz é aquele que não a renuncia,
pois a vitória exige continuidade de esforço. É a fase mais crítica da
caminhada, pois surgem duas bifurcações:
A do espírito: após muitas tentativas sem sucesso, o Dragão percebe
repentinamente suas asas, abre-as e consegue voar, libertando-se de
todas as coisas materiais. O espírito triunfa sobre os apegos, prazeres,
esperanças e temores.

A da matéria: cansado de dar saltos, o Dragão não tenta abrir suas asas,
desce para a lama, entra na água em que habitava e renuncia ao mundo
superior. É o momento da dúvida que, se não for vencida, arrasta o
buscador, retirando-lhe a possibilidade de ascensão espiritual. Esta
situação recebeu nomes simbólicos no ocultismo ocidental tais como o
Terror do Umbral e a Noite Sombria da Alma.

O Dragão Volante: O Dragão encontrou o caminho e é capaz de voar e


planar nas alturas celestes. É capaz de transitar entre o divino e o
mundano, e vive em harmonia com os ritmos cósmicos. É um verdadeiro
iniciado.

O Dragão Planador: É o estágio derradeiro. O iniciado venceu todas as


provas e sua missão não é mais no plano físico. Tem plena consciência de
que a multiplicidade é apenas aparente, um reflexo da Unidade. Atingiu
união completa com a Divindade e vive o nirvana, a Paz Profunda a cada
instante.

O Adepto conhece todos os segredos dos Planos Físico e Espiritual


podendo viver, sem maiores dificuldades, nos Planos Superiores,
Intermediários e Inferiores. Aquele que atingiu tal condição torna-se uno
com o Todo e nada no Universo lhe é estranho ou desconhecido. Ele
conhece todos os níveis e estados de consciência e está apto a ajudar a
humanidade em quaisquer circunstâncias.

Meditemos sobre essa lenda e nos avaliemos quanto à nossa real e


sincera disposição de seguirmos rumo à Grande Obra. Alçar o voo do
Dragão requer viparita, a reversão não só dos sentidos mas de mudanças
profundas em nossos valores, palavras e atitudes que devem tender para a
compreensão, para ideias e ideais nobres e sentimentos sublimes. Que a
chama do Dragão brilhe eternamente em nossos “cor-ações”.

Notas:

1. Este texto foi escrito por volta de 2004-5, época de atividades da Ordo
Templi Orientis Draconiis ou Ordo Draco-Thelemae, também conhecida
como O.T.O. Draconiana.

2. I.e. como mencionado em Magia em Teoria & Prática.

3. Bruxaria & Magia Negra, p. 180.

4. “Eu sou oito, e um em oito”. (AL II: 15).

5. A Estrela-Cão.

6. AL II: 21.

7. Kenneth Grant, Culto das Sombras, Capítulo 3. Tradução Particular de


Fernando Liguori.

8. Crowley, Magia em Teoria & Prática, Capítulo 5. Tradução Particular de


Fernando Liguori.

9. Kenneth Grant.

10. A Revista Sothis foi uma publicação semestral da O.T.O. Draconiana


durante os anos de 2004 a 2007.

11. Renato Russo – Metal contra as nuvens.

Obras Consultadas:
A Doutrina Secreta, Vol III. Helena Blavatsky.
Typhonian Tradition. Simon Hinton e Michael Staley.
Revista Sothis – números: 1 e 2.
Lectures from Gerald Massey. Gerald Massey.
O Renascer da Magia, Aleister Crowley & o Deus Oculto e Culto das
Sombras. Kenneth Grant.
O Livro dos Prazeres. Austin Osman Spare.
A Vida Sexual no Antigo Egito. Lise Manniche.
Ordo Dragon Rouge – site: http://www.dragonrouge.net/
SFSE: Manuscrito

Texto enviado por Ícaro Aron Soares.

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