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CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial.

Teatro das Sombras: a política


imperial. 2ª edição. Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 2006
INTRODUÇÃO: O REI E OS BARÕES
RESUMINDO...
CONSTRUÇÃO DA ORDEM: ANÁLISES DA:
Elite Política
Política imperial sob a ótica dos agentes diretos

249p.
Burocracia
Elite  homogeneidade ideológica gerada pela educação/treinamento
Estado  tradição portuguesa = absolutista + patrimonial
TEATRO DAS SOMBRAS
Objetivo: análise do momento da atuação da monarquia & o papel das elites políticas.

249-250pp.
Quando? Desdobramentos do regresso conservador em 1837*
Como? Análise do processo de enraizamento social da monarquia**.
Questão  Como estabelecer um sistema nacional de dominação com base na solução monárquica?
Pista  Análise das rebeliões ajuda a entender os problemas enfrentados pelo Estado & elite imperial.
*Momento em que as incertezas da Regência deram lugar a um sistema de dominação mais sólido gerando
a seguinte aliança rei + magistratura e grande comércio + grande propriedade [principalmente a
cafeicultura fluminense].
** Processo de legitimação da coroa perante as forças dominantes do País

REVOLTAS REGENCIAIS
1º GRUPO: 1831-18351
 Protagonistas  população urbana nas principais capitais: povo e tropas.
 Conteúdo  protesto contra o alto custo de vida + desvalorização da moeda [encarecimento dos
produtos importados] + invasão de moedas falsas.
 Antilusitanismo em decorrência dos portugueses dominarem o comércio nas principais cidades,
eram os maiores alvos da ira popular.

250-252pp.
 Levantes  Rio de Janeiro entre 1831 e 1832 foram 5 levantes; em Recife entre 1831 e 1832 foram 3
levantes. Em Salvador foram 6 levantes que demandaram federalismo no período, dentre as quais
destaca-se a Revolta dos Malês que teve como um dos desdobramentos a aprovação de uma lei em
1835 que determinava que escravos que atentassem contra a vida de seus senhores pudessem ser
condenados a morte mesmo sem unanimidade do júri. Além disso forneceu argumentos aos
partidários do fim do tráfico.
 Guarda Nacional: O Ato Adicional de 1834 conferiu maior descentralização à Guarda permitindo
maior sucesso no asfixiamento das revoltas, inclusive devido ao fato do exército nacional não ser
suficiente para tal. Além disso, formavam-se milícias civis.
2º GRUPO: 1835-18482
 Protagonistas  elites + população rural.
 Conteúdo  conflitos intra-elites com desdobramentos para camadas populares; caráter rural.
252-254pp.

 Levantes  Cabanagem no Pará [1835-1840]; Balaiada do Maranhão [1838 – 1841]; Farroupilha no RS


[1935 -1845].
Rebeliões X Estado  Incapacidade de ver o Estado como arbitro de conflitos de interesse entre as
elites é a chave para todos os problemas: causava perturbação da ordem e permitia que conflitos intra-
elites transbordassem para o povo.

LIÇÕES DAS REVOLTAS REGENCIAIS ÀS ELITES BRASILEIRAS


CENÁRIO
254-255pp.

 Não havia consenso entre os grupos dominantes sobre o arranjo institucional que melhor serviria aos
seus interesses.
 A maior parte dos proprietários não via o Estado como mediador eficaz de conflito de seus interesses.
 O governo precisava do apoio das elites para criar sua base de sustentação

1
1831  abdicação de D. Pedro I & 1835  morte de D. Pedro I promulgação do Ato Adicional

2
Rebeliões ocorreram após o Ato Adicional que operou uma descentralização no País. Como não poderia deixar
de ser as rebeliões também descentralizaram-se.
AS ELITES SE CONVENCEM
 O regresso conservador iniciado em 1837 conduzido por burocratas e políticos ligados à grande
cafeicultura fluminense começa a convencer as elites de que o Estado Imperial é garantidor de seus
interesses.
 2 grandes pontos de convencimento das elites econômicas: a monarquia era capaz de garantir a paz
[no campo e na cidade] e podia ser árbitro confiável para as divergências entre os grupos dominantes.
 Elite política mediava a relação entre proprietários e reis, dividida ela própria entre os interesses do
dois pólos.

REGRESSO CONSERVADOR: O IMPÉRIO CONQUISTA AS ELITES


CENTRALIZAÇÃO
 Governo se aproxima aumento de distribuição de títulos nobiliárquicos com duplo sentido: de
aproximação dos proprietários da monarquia; de compensação pela tomada de algumas medidas.
Nº Títulos Concedidos Período
51 1860-1864
120 1870-1874
173 1888-1889
 Interpretação do Ato Adicional em 1840
 Reforma do código de processo criminal em 1841
 Resultados  assembléias estaduais deixaram de ter jurisdição sobre os funcionários do governo
central; funcionalismo da justiça e da polícia passou a ser controlado pelos ministros da Justiça e do
Império; o juiz de paz [único eleito] perdeu boa parte de suas atribuições em favor dos delegados e
subdelegados de polícia; Ministro de Justiça ganhou poderes de nomear/demitir
[direta/indiretamente] do desembargador ao guarda de prisão.
ATOS LEGAIS A PARTIR DE 1850

255-257pp.
 1850: ano emblemático da aceitação das elites da solução monarquista:
 Conservadores no poder  desde 1848 gabinete conservador no poder formado por Araújo Lima
[marquês de Olinda] + trindade saquarema [Euzébio de Queiroz, Paulino José Soares (visconde de
Uruguai), Joaquim José Rodrigues Torres (visconde de Itaboraí)] + General Manuel Felizardo de
Souza e Melo.
 Governo forte  o governo se sentiu forte o suficiente para enfrentar problemas cruciais [para a
soberania nacional, para a classe proprietária e para o Estado] como o tráfico negreiro e estrutura
agrária e da imigração.
 Leis aprovadas  Código Comercial [regulamentava as Sociedades Anônimas] além de organizar a
legislação anterior; lei de reforma da Guarda Nacional [centralizadora]; lei de terras [colonização]; lei
Euzébio de Queiroz.
 Relação das leis  Todas essas questões eram vinculadas entre si: lei de terras[também era lei da
colonização apresentada pela primeira vez em 1843] buscava preparar o país para o fim eventual do
trabalho escravo. A centralização da Guarda Nacional buscava fortalecer a posição do Estado perante
os proprietários que reagiram negativamente ao fim do tráfico e à regulamentação da propriedade
rural. Além disso, o código comercial completava o cenário já que em decorrência do fim do tráfico
houve uma febre de negócios causada pela disponibilidade de capitais anteriormente empregados no
tráfico.

Próximos Capítulos
 Relacionamento entre a coroa, a elite política e os proprietários rurais de 1850 até 1889.
1. Política fiscal/distributiva do Estado 2. Política de abolição 3. Política de terras
4. O Conselho de Estado 5. Representação Política3. 6. Conclusão: política imperial como teatro4

3 Refere-se ao sistema eleitoral e partidário


4
rei X barões; formal X real; ficção constitucional X forças políticas
A POLÍTICA DA ABOLIÇÃO: O REI CONTRA OS BARÕES
PORQUE ESTUDAR A ABOLIÇÃO?
 Definição  conjunto de políticas públicas que, aos poucos, levou à extinção da escravidão.
 Importância  momento privilegiado para analisar as relações entre governo [reis + burocratas] e
barões.

293p..
 ↔ Grande lavoura a escravidão era instituição que atingia a todos [área urbana, governo cuja maior
receita era oriunda da grande lavoura], mas sua importância principal era para a grande lavoura.
 Burocratas X barões: o tema da abolição foi o que mais explicitou a ≠ de interesses entre a
burocracia[pólo burocrático do poder] e os barões[pólo social e econômico deste mesmo poder]..

LEI EUZÉBIO DE QUEIROZ - 1850


2 momentos
LEI DO VENTRE LIVRE - 1871

CRONOLOGIA DA ABOLIÇÃO DO TRÁFICO


 1807  início da pressão inglesa ao proibir a seus súditos o tráfico e passou a tentar eliminá-lo em
outros paises.
 1810, 1815 e 1816  tratados com Portugal que progressivamente limitavam a legalidade do comércio
escravo além de aumentar a margem de ação da marinha inglesa.
 1826  tratado com Brasil5 pelo qual o tráfico seria considerado pirataria 3 anos após sua
ratificação[ocorrida em 1827]. O Brasil também foi obrigada a aceitar os termos dos tratados de 1815 e
1817.
 Até 1830  Governo brasileiro resistiu às pressões inglesas. Era consenso entre diversos segmentos
brasileiros que o Brasil pararia sem a mão-de-obra escrava.6
 1831  1 ano após determinação da lei de 1826 o governo resolveu propor/aprovar uma lei antitráfico
pela qual o tráfico se equipararia à pirataria. Não foram tomadas medidas para implementá-la; era
para inglês ver.
 1831-1839  Diminuição do nº de escravos que entravam no Brasil, mas isso decorreu não da lei de
1831 e sim do grande nº de escravos que tinham entrado no País desde 18267 ocasionando uma queda
dos preços do escravo. A queda do nº de escravos aliada às turbulências regenciais deu causa as
primeiras preocupações com o chamado medo branco ou haitianismo.

293-298
 1839  Retomada/aumento da pressão inglesa em decorrência das discordâncias em torno da
vigência do tratado de 1827. Os brasileiros achavam que acabava em 1842 ao passo que para os
ingleses poderiam prorrogá-lo até 1844, querendo assinar novo tratado que lhe concedessem
vantagens semelhantes.No Brasil, a tendência era de recusar futuros tratados com os ingleses e estes
ofereceram bom motivo para pensar o contrário: multiplicou-se a apreensão de navios
brasileiros/portugueses entre 1839 e 1842.
 1845  Bill Aberdeen. No Brasil, a maioria[inclusive do Conselho de Estado] votava por não aceitar o
ato.
 1848  Liberais reviveram projeto de 1837 que atendia aos ingleses em alguns pontos. O projeto foi
aprovado na Câmara em 2ª discussão, mas “empacou” ao dispor que os traficantes seriam julgados
por júri popular, além da indecisão quanto ao artigo que revogava a lei de 1837.
 1849  Euzébio de Queiroz fazia a exposição de motivos adiantando as principais características que
teria a lei de 1850: manutenção da lei de 1831, julgamento dos traficantes por juízes de direito e dos
compradores por júri popular. A idéia é que uma lei brasileiro substituísse um tratado com os
ingleses.
  Junho/1850  Inglaterra passa a invadir portos brasileiros e afundar navios negreiros.

5
Esse tratado veio junto com o tratado comercial de 1827 e integravam o pacote diplomático de reconhecimento
de independência
6
Basta lembrar que, exceto a revolta dos malês, não houve questionamento da escravidão no Brasil nem durante
as turbulências regenciais.
7
De 1828 a 1831 duplicou o nº de escravos que entraram no Brasil causando uma queda de mais de 50% nos
preços de escravos entre 1830 e 1831. Ver pp. 294.
LEI EUZÉBIO DE QUEIROZ
 11/07/1850  Conselho de Estado foi ouvido. O rompimento diplomático com a Inglaterra não foi
descartado.
 12/07/1850  Governo apresentou projeto à Câmara. Aproveitou o projeto de 1837[já aprovado no
Senado] no que se refere a manutenção da lei de 1831 e o de 1848[na Câmara em 2ª discussão] no que
se refere a atribuição dos juizes de direito em julgar os traficantes.
 17/07/1850  Aprovado na Câmara
 13/08/1850  Aprovado no Senado
 4/09/1850 Virou lei
 Outubro/Novembro/1850 Regulamentado.

LEI DE 1850: INGLESES X BRASILEIROS


 Ingleses Governo inglês acha que tem todo o mérito pela aprovação dessa lei
 Liberais  concordavam com os ingleses já que buscavam diminuir os louros dos conservadores me

299-300
relação a aprovação dessa lei que representava uma pauta tipicamente liberal, mas que o partido
liberal não tinha conseguido aprovar.
 Euzébio A pressão inglesa apenas dificultou a ação do governo brasileiro, além de ter aumentado o
volume do tráfico.

FIM DO TRÁFICO: A AÇÃO IMPERIAL BRASILEIRA


 É mérito do governo o sucesso na execução da lei de 1850
 Premissas Governo
1. Reconhecimento da imoralidade e do compromisso assumido pelo país em tratado internacional
em acabar com o tráfico;
2. Conhecimento da inexorabilidade do fim do tráfico, já que só Brasil e Cuba continuavam
utilizando a mão de obra escrava;
3. Conhecimento da determinação inglesa em continuar a pressão contra o Brasil e das repercussões

299-300
que os bloqueios nos portos causavam à economia e à soberania nacionais;
4. Conhecimento da importância da mão de obra escrava para a lavoura brasileira, da influência dos
traficantes na Corte e que as medidas da lei de 1850 deveriam ser acompanhadas por medidas, tal
como a importação de mão de obra européia.
 AIN Registra-se a argumentação[retórica] da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional em prol
da ineficiência da utilização da mão de obra escrava. A argumentação ganhava maiores ares de
retórica se balizada pelas causas inglesas pelo fim do tráfico: Brasil e Cuba conseguiam competir com
o açúcar das Antilhas em razão do uso de escravos possibilitarem uma oferta a preços mais baixos..
A LEI DO VENTRE LIVRE: 1870
 Início da discussão: 2 fatos paralelos
1. Em 1866 Pimenta Bueno [=Visconde de São Vicente] já tinha 5 projetos abolicionistas prontos a
partir da encomenda de D. Pedro II que foram entregues ao marquês de Olinda.
2. Resposta de D. Pedro II ao pedido da Junta Francesa de Emancipação qual seja: solicitação ao
imperador que utilizasse de seu poder para viabilizar o fim da escravidão no Brasil. Em sua
resposta D. Pedro II afirmou que o assunto era só questão de “forma e oportunidade” e que a ela
seria dada máxima prioridade cessada a Guerra do Paraguai.
 O Conselho
1. Concordavam com o imperador em relação a necessidade de resolução do “problema servil”, mas
consideraram o momento inoportuno para tal discussão.
2. Após muitas discussões o imperador nomeou uma comissão dentro do Conselho [presidida por
Nabuco de Araújo] para propor novo projeto que refletisse a opinião da maioria dos conselheiros.
 Por que esperar o fim da guerra?  Necessidade de dispor de tropas no país para conter possíveis
levantes de escravos quando da aprovação da lei.
 Abolição imediata com indenização  Rio Branco + Nabuco de Araújo lembraram que a abolição
gradual poderia gerar uma rede insatisfações nos senhores e nos escravos levando a uma abolição
imediata. A abolição imediata desorganizaria a produção e indenizatória arruinaria as finanças do
império. A solução possível era a abolição gradual acompanhada de medidas acautelatórias.
 Gabinete 1871 Rio Branco assumiu a chefia do gabinete em 1871 e na sua Fala do Trono mencionou
o projeto do ventre-livre que contou com protestos.
 Crítica dos proprietários à lei “O projeto tirava do senhor a força moral e o tornava suspeito à
autoridade e odioso ao escravo. A liberdade parcial decretada pela lei, continuava, ‘desautoriza o
domínio e abre a idéia do direito na alma do escravo’, ao passo que a liberdade que vem da
generosidade do senhor leva ao reconhecimento e à obediência”. [pp.313, citando a representação dos
lavradores de Paraíba do Sul]. 1871 X 1850  1850 o governo reagia à forte pressão externa[inglaterra]
contando com apoio interno [um grupo de abolicionistas]. 1871 a iniciativa coube ao governo sem
pressão externa e sendo apoiada por uma imprensa abolicionista.
 Os parlamentares frente à abolição: segmentação econômico-geográfica

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 Norte X Sul  Pela análise do voto sobre o ventre livre percebe-se que os deputados nortistas
eram os mais alinhados com as intenções do governo ao passo que os deputados sulistas eram
os mais aguerridos opositores ao projeto de lei enviado pelo imperador.[pp. 310].
 Oposição à lei de 1871 Províncias do sul, especialmente os cafeicultores. Os dados sobre o nº
de escravos ajudam a entender a oposição. Censo de 1872: norte estava com 33,7% dos
escravos, enquanto o sul possuía 59% das províncias cafeicultoras e 7% das demais províncias
do sul. Maiores oposicionistas: Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
 Republicanos paulistas  Só se decidiram pela abolição em 1887
 Os proprietários frente a abolição: 4 segmentações econômico-geográficas
1. Regiões de grande agricultura do nordeste foram a favor da preservação da escravidão, e por
disporem de abundante mão de obra livre, não tomaram nenhuma atitude contra as possíveis
conseqüências do fim da escravidão.[como a vinda de imigrantes].
2. Pequena propriedade/pecuária  Caminharam com tranqüilidade para abolição
3. Sul cafeicultor antigo  Possuidora de suficiente estoque de mão de obra escrava e
economicamente decadente em função do declínio de produtividade das terras se manteve
escravista até o final.
4. Sul cafeicultor moderno  Possuidora de terras mais produtivas e sedentas de mão de obra. Isso
levou a importação de mão de obra sem abrir mão da escravidão. “ A atitude destes fazendeiros
foi pragmática, não parecendo ter derivado de nenhum cálculo sobre a maior ou menor
produtividade de um ou outro tipo de mão de obra”. [pp.319]
 Aspectos da Lei O senhor tinha a opção de usar os serviços dos ingênuos até completarem 21 anos
ou entregá-los com 8 anos ao governo em troca de títulos de 600$ a juros de 6% ao ano durante 30
anos.
 Significado de 1871  Primeira clara indicação de divórcio entre o rei e os barões. Pela 1ª vez o estado
se intrometia na relação senhor X escravo, minando a autoridade do primeiro e fornecendo um ponto
de apoio legal para o segundo.
NÃO HÁ EVIDÊNCIA DE QUALQUER GRUPO SIGNIFICATIVO DE PROPRIETÁRIOS QUE
TENHA OPTADO PELA ABOLIÇÃO EM VIRTUDE DA CONVICÇÃO QUANTO A MAIOR
PRODUTIVIDADE DO TRABALHO LIVRE. [PP.321]

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