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DO RIO DE JANEIRO
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saber.
1
“Nada nos separa. A nossa geografia, escreveu-a
o branco, com nomes indígenas, e consolidou-a
com o suor do negro. (...) O nosso apego à terra é
tão forte, no extremo Amazonas, onde o tapuia
contemplativo ouve o segredo cochichado das
Iaras e da Cobra-Grande, quanto no extremo
pampa, onde o gaúcho galopa a sua inquietude
no rastro luminoso dos boitatás das coxilhas. (...)
porque misteriosas forças, que vieram desde as
primeiras transfusões de sangue, trabalham, sem
o percebermos, pela unidade do espírito
brasileiro.”
Plínio Salgado
2
RESUMO
anticomunismo.
3
justamente como motor primeiro do comunismo, ambos encerrando supostas
presente dissertação.
4
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................. 3
SUMÁRIO ............................................................................................................ 5
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 7
5
2.3.1 O Manifesto de Outubro ......................................................................... 56
2.3.2 A Expansão do Sigma ........................................................................... 62
2.3.3 As Relações com o Estado Novo .......................................................... 65
2.4 Exílio e Ressignificação ............................................................................ 72
2.5 O Integralismo nos Novos Tempos ........................................................... 74
6
INTRODUÇÃO
7
inquieta a ciência política em âmbito mundial. É com base nestas assertivas que
aqui dissertaremos sobre o pensamento anticomunista de Plínio Salgado.
8
Dado que Plínio Salgado cooptou importante parcela das correntes de
pensamento nacionalista e ou conservador do Brasil (especialmente no período do
entre-guerras), supomos que o tema encerra relevância suficiente para merecer
atenção deste e de outros trabalhos. Se houve em nosso país um pensador que
formulou uma doutrina ímpar de anticomunismo, visualizando nesta uma ferramenta
importante de atuação política, e que com tais métodos conseguiu influir
pesadamente durante mais de trinta anos na vida política nacional, entendemos que
cumpre à ciência política brasileira estudá-lo.
9
1 FONTES FORMATADORAS DO PENSAMENTO DE SALGADO
10
partir do término da Primeira Grande Guerra, tendo sido adiado, portanto, o advento
de uma “sociedade de massas” em nosso país.
Toda essa mutação econômica e social teve como reflexo - ou pelo contrário,
como ferramenta impulsiva - a paulatina lapidação de uma estrutura cultural diversa,
que iria encontrar seu ápice na Semana de Arte Moderna de 1922 e no enorme
influxo de concepções elaboradas pelos intelectuais da “nova sociologia” nascente,
de inclinação francamente nacionalista.
11
Nacional (1916), a explosão do movimento tenentista e os acontecimentos do Forte
de Copacabana (1922-24), a fundação do Partido Comunista (1922) e o lendário
episódio que se convencionou classificar como “Coluna Prestes” (1924), são alguns
dos sintomas que preparam terreno para a grande ruptura empreendida por Vargas
e a revolução de 1930.
Ainda em 1913, cria o Correio de São Bento, semanário que um ano depois
lhe credenciaria ao cargo de redator do Correio Paulistano, na capital do Estado.
Sendo esse informativo intimamente ligado ao então Governo Estadual, dominado
pelo Partido Republicano Paulista (PRP), Salgado passa a transitar entre a elite
política local e em 1927 é eleito Deputado Estadual, com apoio de Júlio Prestes.
12
Depois de escrever uma série de artigos publicados pelo Correio Paulistano,
através dos quais já se percebe fragmentos da embrionária ideologia integralista,
Salgado lança o romance O Estrangeiro (1926) e vê coroadas suas atividades
literárias com o ingresso na Academia Paulista de Letras três anos depois.
Dúbia se mostra sua relação com a nova ordem, e após uma colaboração
inicial que lhe valeu o convite de Vargas para assumir o Ministério da Educação,
acaba por repudiar o decreto de fechamento da AIB e é então preso na Fortaleza de
Santa Cruz, lá permanecendo até 21 de junho de 1939, sob acusação de ser o
mentor do famoso Putsch do ano anterior, geralmente atribuído aos integralistas.
13
explicitando, em um deles, sua aprovação à declaração de guerra do governo
brasileiro contra o Eixo nazi-nipo-fascista1.
1
Sobre os posicionamentos de Salgado no exílio e sua relação extra-institucional com o Estado Novo e os
membros da AIB na clandestinidade, consultar O Integralismo perante a Nação, p.179-353, bem como o item
2.3.2 do presente trabalho, “As relações com o Estado Novo”.
2
Em virtude do bipartidarismo instituído pelo regime militar em 1964, Salgado exerce este último mandato
pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA)
14
Humanidade, Salgado dedica todo um capítulo ao autor de Memórias Póstumas de
Brás Cubas, procurando sistematicamente relacionar a temática dos escritos de
Assis com o “espírito brasileiro” em suas diversas manifestações. Assis teria sido “o
gênio que traduziu o sentido de uma época na história do espírito nacional” (A
Quarta Humanidade, p.141), ou também “o grande espírito que a Providência
iluminou com a capacidade de devassar os meandros mais escuros dos destinos do
seu povo.” (idem, p.144)
15
“destino histórico” a cumprir. Considerando D. Filipa de Lencastre, esposa de D.
João I, como a grande matriarca fundadora da nacionalidade portuguesa, Salgado
exalta o cotidiano repleto de “romances de cavalaria e culto de Deus” (idem, p.173)
em que fora educado seu filho, o Infante D. Henrique, enxergando aí o embrião da
heroicidade e da poética que permitiu a Portugal tornar-se um grande Império
ultramarino, porque “aqueles homens, criadores de um espírito nacional, só
procuravam grandeza ou na ciência e nas letras, ou no heroísmo das batalhas, ou
no martírio por amor de Cristo.” (ibidem, p.178-179). Porém, mesmo dando
recorrente relevo a Camões, aos empreendimentos da Escola de Sagres e a outros
nomes e episódios importantes da história de Portugal, Salgado condiciona sua
admiração por este país, limitando-a a evocação de um sentimento que lá existiu
outrora (o Império teocrático e cristão). Vinculando novamente o Brasil à Nação de
Cabral, Salgado dirige-se aos lusos propondo o reerguimento desta antiga
concepção afirmando que “tivestes a responsabilidade de nos fazer como somos, e
nós, por conseguinte, temos o direito de exigir que sejais como fostes!” (Aliança do
Sim e do Não, p.98). Evidencia-se aqui, de um lado, o antimodernismo que
caracteriza uma das esferas da mentalidade de Salgado, e, de outro, seu forte apelo
cristão, que tem nos valores do catolicismo medieval uma fonte basilar.
16
(1974, p. 108). No entanto, sua adesão às demais correntes nacionalistas européias
de então mostra-se parcial, não obstante algumas citações elogiosas.
Dito isso, é o próprio Salgado quem nos fornece subsídios para traçar um
quadro da enorme gama de autores que norteavam as investigações de seu círculo
intelectual pré-integralista:
17
porque as ‘novidades’ do materialismo histórico já me tinham fascinado aos
dezessete anos.” (idem, p.17)
18
“Não é negado pelos integralistas, que na elaboração de seu
programa político, tenha exercido alguma influência as idéias
do que Miguel Reale chama de “Primeiro Fascismo”, como
tentativas de superação do liberalismo e do comunismo. Mas,
segundo Reale, não foi menor o influxo dos grandes
intérpretes nacionais como Euclides da Cunha, Oliveira
Vianna, Farias Brito, Alberto Torres, e outros, que haviam
posto o problema da realidade brasileira.” (Darnton, 1990,
p.188)
“Nenhum outro povo tem tido até hoje, vida mais descuidada
do que o nosso. O espírito brasileiro é ainda um espírito
romântico e contemplativo, ingênuo e simples, em meio de
seus palácios, de suas avenidas, de suas bibliotecas e de
seus mostruários de elegâncias e vagos idealismos. Com uma
civilização de cidades ostentosas e de roupagens, de idéias
decoradas, de encadernação e de formas, não possuímos
nem economia, nem opinião, nem consciência dos nossos
interesses práticos, nem juízo próprio sobre as coisas mais
simples da vida social.” (Torres, 1978, p.14-15)
19
universo teórico, influenciando diretamente a faceta menos idealística (e mais
pragmática) do nacionalismo adotado por Salgado e o integralismo, pois “o corpo de
doutrina integralista, sendo fundamentalmente nacionalista, procura desenvolver
com categorias próprias o trabalho iniciado por Alberto Torres.” (Souza, 1999, p.20).
Ainda destacando o caráter nacional dos estudos de Torres, caráter este que
apresenta-se indissociável de um entendimento “realista” e “prático”, Salgado
assegura que o pensador fluminense, além de ter dado combate às “teorias raciais
européias”, ocupou-se das “pequenas (e tão grandes) realidades brasileiras até
então esquecidas pelos eruditos” e desponta como o “supervisionador dos
fenômenos sociais, o reajustador das instituições às realidades, o crítico das leis e o
esquematizador dos novos lineamentos políticos do país.” (O Ritmo da História,
p.258)
20
Intensificando ainda mais a analogia que desenvolve entre as idéias de Torres
e a doutrina integralista, Salgado sustenta que “não pomos dúvida em afirmar que o
grande pensador político se hoje vivesse seria integralista.” (Psicologia da
Revolução, p.80)
Por fim, cumpre fixar que estudiosos que a priori ligam o pensamento de
Salgado ao fascismo em geral, sendo o integralismo, nesse caso, mera reprodução
dos totalitarismos militaristas europeus, costumam ver contradições na assimilação
“pliniana” das receitas de Torres, uma vez que se o nacionalismo do primeiro
pretendia-se “puro”, ou seja, alheio às fórmulas estrangeiras, o movimento político
liderado por Salgado teria ido de encontro às inspirações genuinamente nacionais
justamente pelo fato de supostamente sujeitar-se ao ideário fascista, importando
fórmulas ao invés de buscá-las no próprio Brasil.
3
Robustecendo essa ressalva, o trabalho de SANTOS, Cleiton Oliveira dos. Albeto Torres: o pensamento
integralista em gênese. Goiânia: UFG, Monografia de Especialização. Departamento de Ciências Humanas e
Filosofia, Universidade Federal de Goiás, 2004, p.27, pondera que Torres “vai dar, também, o primeiro passo
rumo a uma elaboração teórica do corporativismo no Brasil, outro ponto que o integralismo iria desenvolver no
contexto dos anos de 1930”, acrescentando adiante que “um dos graves erros da República, apontado tanto por
Torres quanto pelo integralismo, foi o regime federativo: a transformação da unidade nacional herdada do
Império em várias ‘nações independentes’. Daí que uma das propostas do integralismo seja a abolição do ‘Estado
dentro do Estado’, e, como Torres, a volta das antigas ‘Províncias” (idem, p.29-30).
21
vastíssima obra, dentre as quais destacam-se Finalidade do Mundo (1895) A
Verdade como Regra das Ações (1905), A Base física do Espírito (1912) e O Mundo
Interior (1914), Brito desde logo ganha vulto no cenário intelectual brasileiro como
respeitado teórico e defensor do espiritualismo.
4
O termo “escola” foi aqui empregado com o intuito de registrar que o espiritualismo objetivamente encontrou
discípulos no Brasil, como é o caso de Jackson de Figueiredo, o Centro D. Vidal e sua gama de sócios, e, pela
via filosófica estricto sensu, Mário Ferreira dos Santos, além do próprio Plínio Salgado.
5
Leonel Franca teve importante papel na renovação espiritual católica que se desenvolveu no início do século
XX. Anticomunista, crítico veemente do livre-exame advindo do protestantismo e vinculado às correntes mais
conservadoras do catolicismo, Franca é autor de vasta obra filosófica e religiosa, dentre elas Psicologia da Fé, A
Igreja, a Reforma e a Civilização, A crise do Mundo Moderno e Liberdade e Determinismo.
22
elemento “degradante” que suprimiu do homem o ímpeto heróico e puro dos ideais,
já que “a luta por comida é luta de animais. Homens só lutam, ou pelo menos só
devem lutar por idéias.” (idem, p.44).
23
Aqui se anuncia, também, a presença de uma outra idéia de Brito incorporada
por Salgado: a “revolução interior”. Constantemente presente nas obras de
doutrinação integralista e também nos livros de Salgado com ênfase voltada ao
espiritual, a “revolução interior” funcionaria como um primeiro indicativo da
“conversão”, do exercício pleno da “profissão de fé” do militante que inicia sua
marcha em nome de novos ideais. Adotando a mesma lógica do antigo ditado
romano, Vis habere Imperium? Impera tibi! (Queres um império? Impera a ti!), o
aperfeiçoamento interior seria a primeira ação transformadora, já que para ascender
a uma condição superior “é preciso penetrar nos confins mais remotos da nossa
floresta interior” (Rei dos Reis, p.315) e “o nosso combate, por conseguinte, deve
principiar em nós mesmos. É a revolução interior, que aconselhei sempre desde
1932 e que aconselho hoje (...).” (Espírito da Burguesia, p.53)
24
Este ambiente de forte efervescência espiritual, romântica e idealista, permitiu
o aparecimento de toda uma geração de intelectuais ligados ao catolicismo
tradicional/conservador, que buscavam, por meio de publicações e diversas
atividades culturais, resgatar os valores clássicos da Igreja, ameaçados que estavam
pelo ceticismo generalizado e pela crescente secularização do mundo ocidental.
Como prelúdio desta movimentação, cabe frisar que ainda em 1888 o Pe.
Júlio Maria empreende vigorosa ofensiva contra o positivismo e o racionalismo em
geral, pressentindo seus efeitos sob a ordem política brasileira, uma vez que,
estando as academias militares impregnadas pelas receitas comtianas de Benjamim
Constant, sentimentos antiimperiais e anticlericais cedo ou tarde ganhariam vulto,
como de fato ocorreu em 1889 e 1890 (Proclamação da República e dissociação
Igreja-Estado).
25
“O renascimento e o humanismo negaram o homem espiritual,
que não pode deixar de ser criador, para afirmar
exclusivamente o homem natural, escravo da necessidade.
Desdobrada tal negação em suas últimas conseqüências, o
resultado foi esse movimento vertiginoso de devastação a que
se acha entregue o nosso velho mundo pecador. Porque o
homem, enchendo-se cada vez mais de orgulho, esvaziou-se
cada vez mais do sentido do seu destino transcendente.”
(Silveira, 1935, p.10-11)
26
“O integralismo possui, no campo social, em grande parte os
mesmos adversários que a Igreja. E a luta contra inimigos
comuns é um laço que cria aproximações indestrutíveis. (...) se
há realmente vocação política, confesso que não vejo outro
partido que possa, como a Ação Integralista, satisfazer tão
completamente às exigências de uma consciência católica,
que se tenha libertado dos preconceitos liberais.” (Lima Apud
Salgado, 1955, p.158-159)
27
nobremente honrou a cadeira episcopal de Pernambuco.” (Aliança do Sim e do Não,
p. 27) Especificamente no que tange ao centro que homenageia o bispo, Salgado
observa-o com não menos simpatia, citando-o como responsável pelo renascimento
do “movimento de cultura católica (...) que mais tarde congregou nomes como os de
Jackson de Figueiredo, o impetuoso chefe leigo da Ação Católica.” (idem, p. 27)
28
As declarações simpáticas ao integralismo proferidas por altos membros da
Igreja foram intensamente divulgadas por Salgado como prova cabal de que o
movimento seria acima de tudo cristão e nacionalista, simpático à Igreja e distante
do totalitarismo nazi-fascista, classificado, principalmente no pós-45, como
“agnóstico” e “neo-pagão”. Em O Integralismo Perante a Nação (p. 209-214), por
exemplo, são transcritos vinte depoimentos de bispos e arcebispos brasileiros
aprovando o integralismo. Soma-se a isso a presença de sete padres na “Câmara
dos Quatrocentos”, espécie de Câmara Baixa da AIB.
29
prisão de padres e freiras pelo mesmo) do que discordâncias eminentemente
políticas, embora estas não estejam ausentes. Ainda nesse sentido, consta,
conforme Calil (2001, p. 230-231), que Salgado teria respaldado as ações
ultraconservadoras do Monsenhor Lefebre, o que o ligaria definitivamente às
correntes mais tradicionalistas e dogmáticas do catolicismo.
30
De Pio IX, autor da encíclica antimodernista Quanta Cura (1864), que
condenou, entre outros fundamentos, o rompimento dos vínculos outrora cultivados
entre Igreja e Estado, a liberdade de filiação religiosa e o “funestíssimo erro do
comunismo e do socialismo”, Salgado diz ser um “Pontífice Mártir, profeta dos
nossos tempos”, Papa que teria sido o primeiro “de maneira tão dramática, a
enfrentar hipócritas inimigos disfarçados de nobres ideais e sedutoras promessas.”
(idem, p.23)
31
“O proletário, doutrinado pela própria sociedade, que de cristã
traz apenas o rótulo, torna-se um instrumento nas mãos de
secretos organizadores da batalha contra Cristo. (...) se vencer
a causa dos Sem-Deus, o operário será mais oprimido do que
nunca, pois nem terá o direito de reclamar; mas terá satisfeito
os íntimos sentimentos de ódio que lhe foram transmitidos pelo
materialismo (...). E não é o ódio a alavanca do socialismo
marxista? Sim, o ódio oposto ao amor, que é o mandamento
cristão.” (Aliança do Sim e do Não, p.63)
32
“frente espiritual” homogênea e centralizada fim de fazer ruir o materialismo e o
ateísmo. Declarando-se entusiasta da idéia (o que, aliás, pode ter sido um dos
elementos que o afastou da TFP, já que esta é exclusivista em sua catolicidade e
problematiza a prática do ecumenismo), Salgado afirma que, estando ele próprio
33
pela via idealista, passando por incompatibilidades filosóficas e religiosas, e
culminando em desacordo político/institucional com a nova ordem que veio a
assentar-se no ocidente, em última análise, a partir do iluminismo e da Revolução
Francesa.
No que tange ao mundo das letras, Plínio, que desde a juventude dedicou-se
ao ofício de escrever, chega a publicar três romances, desconsiderando-se, é claro,
suas obras políticas, que são em muito maior número. Em que pese essa
desproporção, seus livros ficcionais ganham méritos adicionais aos olhos do
pesquisador, reveladores que são, subjetiva ou objetivamente, implícita ou
explicitamente, de posicionamentos político/ideológicos do autor, sobretudo se
considerarmos, como Trindade (1974, p.63), que “não se pode compreender a
ideologia integralista sem penetrar no significado dos romances de Salgado”.
34
como sua ótica acerca dos acontecimentos sociais que vão se desenrolando no
Brasil, precisamente pelo fato de que os três livros, ainda que de modo peculiar,
procuram retratar grandes temas nacionais intimizando-os através de personagens e
ambientes simbólicos.
35
“Doloroso é o drama de Juvêncio, pois contra ele, contra sua
atividade, reagem mais fortemente do que a ação dos próprios
estrangeiros o ‘charlatanismo da política operante’ configurado
na personalidade do major Feliciano, que é um oportunista,
hoje perfeitamente adaptável a qualquer dos partidos em que
apodrece o povo brasileiro; e o ‘alheiamento dos intelectuais’,
fazendo arte pela arte, em suas torres de marfim, como o
personagem Eugênio; e a desorientação ideológica, desse
confusionismo nitidamente estrangeiro e, por isso, fixado, no
livro, na figura de um russo, Ivan, o tipo acabado e
fotograficamente idêntico aos portadores de teorias que
infestam as colunas dos jornais, das revistas e as tribunas das
conferências em que se expedem as idéias da moda.” (Ritmo
da História, p.192)
36
cinco anos depois, denuncia a situação política brasileira em sua sistemática
operacional. Sob um enredo repleto de ironias que subsidiam críticas virulentas aos
conchavos políticos, Salgado condena o messianismo incubado na psique brasileira,
ao contrário do que o título de O Esperado poderia fazer supor: “aquele livro
antimessiânico tem sido julgado... pelo título!” (idem, p. 18)
37
verdade que “o nacionalismo realista de Plínio leva-o a aceitar este fenômeno como
um dado da realidade psico-sociológica do povo.” (Trindade, 1974, p.70-71)
38
de que fragmentos deste sentimento transportaram-se para os trópicos6, já que “o
sonho atravessou os mares e o tempo” (Rei dos Reis, p.284), vindo ressoar
decisivamente no episódio da Guerra de Canudos, revolta liderada pelo beato
Antônio Conselheiro no sertão nordestino em 1896: “o sebastianismo constitui o seu
verdadeiro espírito animador”. (Rei dos Reis, p.284).
6
Empregamos o termo “ineditismo” a fim de referirmo-nos à relação feita por Salgado entre o sebastianismo e o
messianismo brasileiro considerando apenas a amplitude do presente trabalho. Não se poderia, sob pena de
atentar contra a justiça, desprezar a clarividência de Euclides da Cunha, que em Os Sertões. São Paulo: Martin
Claret, 2002, p.163, transcreve supostos sermões de Conselheiro aos jagunços: “(...) das ondas do mar sairá D.
Sebastião com todo seu exército. Desde o princípio do mundo que encantou com todo seu exército e o restituiu
em guerra. E quando encantou-se afincou a espada na pedra, ela foi até os copos e ele disse: Adeus mundo! Até
mil e tantos a dois mil não chegarás! Neste dia quando sair com o seu exército tira a todos no fim da espada deste
papel da Republica. O fim desta guerra se acabará na Santa Casa de Roma e o sangue há de ir até a junta grossa”.
39
outra criança, Urbano, é enviada pelos pais ao Exército como única maneira de
garantir sua educação. No desfecho final do romance, ocorre um episódio que
procura simbolizar a nociva luta entre irmãos que estaria desenvolvendo-se no seio
da sociedade brasileira: Pedrinho, irmão genético de Teodorico, mas criado na
humildade da família a que Urbano foi enviado, enfrenta-se com o primeiro
(ignorando o parentesco que os unia) e Urbano, procurando agir como pacificador,
termina mortalmente ferido.
40
combate: associa-o às doutrinas de ódio destrutivo que ultrajam o sentimento
cristão, destruindo a pureza através da vingança e da criação de bodes expiatórios,
acusa-o de promover uma espécie de totalitarismo individual (já que Pedrinho, uma
vez comunista, politiza todas as ações do cotidiano e gradualmente vê atrofiarem-se
em seu íntimo os sentimentos relacionados à vida rotineira) e insinua que as
agremiações marxistas servem-se do desespero de indivíduos injustiçados pelas
arbitrariedades burguesas para transformá-los em massa de manobra assombrada
por valores corrosivos. Soma-se a isso o fato de que Urbano, o tenente idealista que
não encontra sentido claro nas agitações militares de sua época, rompe com Luís
Carlos Prestes tão logo este acata o marxismo:
41
1.4.2 Concepções Nacionalistas Retiradas do Movimento Modernista
42
A Semana de Arte Moderna de 1922, impulsionada pelo futurismo de
Marinetti, serviu como divulgadora destes ideais:
43
tradicional de outro. O primeiro Brasil representaria o tecnicismo, a massificação, o
mundialismo; a modernidade, em suma. Os pilares da nacionalidade, seus aspectos
diferenciais e positivos, no entanto, residiriam nos confins do Brasil sertanejo, onde a
tradição, a religiosidade e o modo de vida provinciano ainda ditam as regras.
Anexando-se a esse Brasil a consciência de uma herança indígena vivíssima, que
qualificaria nosso povo à categoria de uma singularidade altamente promissora, têm-
se as bases fundamentais do nacionalismo de Salgado.
44
seu núcleo primordial e invisível, o ponto para onde confluem todas as forças do
povo:
Completa este quadro a crítica tenaz empreendida por Plínio em face do olhar
estrangeiro para com o Brasil, cujas atitudes históricas teriam se caracterizado por
um “desdém profundo”, pois “o desprezo que temos sofrido corresponde a um
escorraçamento sistemático. Terra de negros, de mestiços, de caboclos, a Europa
nunca nos levou a sério.” (A Quarta Humanidade, p.157)
45
maior vexame a que nos poderão expor é dizerem que não somos uma raça
absolutamente ariana” e finaliza conclamando: “Basta de tanto aviltamento!
Orgulhemo-nos de nossa origem!” (Despertemos a Nação, p.41-42)
46
cresceram comendo geléias de morango em jejum para serem
agradáveis às governantes inglesas. (...) A América do Sul vai
erguer-se pelo milagre do Brasil. O Brasil caboclo, o Brasil
forte, o Brasil do sertão, o Brasil bárbaro e honesto, num
ímpeto selvagem, está se levantando com as novas gerações.
É o despertar de uma nação. É um destino que se cumpre. É a
resposta da Atlântida. Não mais a misteriosa terra que emergia
no passado, mas a gloriosa terra que está emergindo no
presente, para dominar o futuro, com a força de uma nova
civilização.” (idem, p.160-161).
47
2 O ADVENTO E O OSTRACISMO DA AIB, A FUNDAÇÃO DO
PRP
48
Ainda que o imperialismo expansionista das grandes nações do Velho Mundo
tenha formalmente amargado a humilhação da derrota, a dureza da realidade
revelaria o surgimento de uma série de novos protagonistas políticos, que
conjugados, levariam o continente a um novo recrudescimento ideológico que
amainar-se-ia somente a partir de 1945. Sob uma visão parentética em relação aos
acontecimentos históricos, não raras são as vozes empenhadas em sustentar que os
dois grandes conflitos em realidade teriam aglutinado-se um único evento, que teve
gênese com o assassinato do Arqueduque Ferdinando D’Áustria e foi finalizado
apenas no instante em que o Exército Vermelho ocupa Berlim e hasteia o pavilhão
bolchevista no cume do Reichstag. O entre-guerras representaria, assim, mero lapso
temporal, uma trégua regimental destinada à realimentação das nações
combatentes.
49
a complexidade dele emanada é passível de ser decodificada, no que muito bem
trabalhou Saccomani, no Dicionário de Política organizado por Bobbio:
50
Mussolini evoca para si a responsabilidade de conter o comunismo sem atritar com a
estrutura monárquica vigente.
51
as similaridades transparecem, grosso modo, em inúmeros outros pontos. Assim,
paralelamente à situação que desenrolava-se na Europa, o Brasil vislumbrava a
erosão da República Velha e a construção de uma nova situação política que teve
na Revolução de 1930 um divisor de águas.
52
“Uma revolução liberal, chefiada por velhos políticos, rebentou
no dia exato em que entrei em águas brasileiras. Saltando em
terra, tratei logo de combatê-la. Era a revolução que defendia
um fantasma: a liberal-democracia, concretizada na
constituição de 1891.” (Despertemos a Nação, p.20-21)
53
varguista teria se valido da força para sufocar adversários políticos regionais sem
que tais ferramentas tivessem tido êxito na contenção dos movimentos de índole
separatista ou na promoção da unicidade nacional, tida por imprescindível.
54
meio dos ‘despistamentos’, das traições, das hipocrisias e das
conspiratas dos homens públicos, a Pátria parecia
adormecida.” (Despertemos a Nação, p.79)
55
De fato, o prestígio intelectual de Salgado, agora unido à sua emergência
como chefe político, permitiu-lhe concluir com sucesso esta empresa, a julgarmos
pela presença de grande quantidade de lideranças que futuramente comporiam os
quadros integralistas então entrincheirados nas fileiras da SEP. Conforme Trindade
(1974, p.126), além destes, estavam no contingente das comissões internas da
sociedade, entre outros nomes influentes, Cândido Motta Filho, Cassiano Ricardo,
Santiago Dantas, Silveira Bueno, Sebastião Pagano (monarquista oriundo do
patrionovismo), Plínio Corrêa de Oliveira (futuro mentor da TFP), Alfredo Buzaid e
Ângelo Simões Arruda.
56
Olbiano de Melo, teórico corporativista que pretendia-se líder de um embrionário
“Partido Nacional Sindicalista”.
7
Conforme sua ordem no conjunto do texto, são eles: Concepção do Universo e do Homem, Como entendemos a
Nação Brasileira, O Princípio de autoridade, Nosso Nacionalismo, Nós, os partidos e o governo, O que
pensamos das conspirações e da politicagem de grupos e facções, A questão social como a considera a Ação
Integralista Brasileira, A família e a nação, O município: centro das famílias, célula da nação e O Estado
Integralista.
57
sua comum e sobrenatural finalidade”, afirmando ser tal prerrogativa “um
pensamento profundamente brasileiro, que vem das raízes cristãs de nossa
nacionalidade.” (idem, p.96)
58
“envergonham-se também do caboclo e do negro da nossa terra” e da
responsabilidade pela disseminação de “preconceitos étnicos originários de países
que nos querem dominar.” (ibidem, p.98-99)
59
desfibrando o caráter do povo brasileiro. Civis e militares giram
em torno de pessoas, por falta de nitidez de programas. Todos
os seus programas são os mesmos e esses homens estão
separados por motivos de interesses pessoais e de grupos.
Por isso, uns tramam contra os outros. E enquanto isso, o
comunismo trama contra todos.” (Manifesto de Outubro, In: O
Integralismo perante a Nação, p.102)
Mas Salgado, por sua vez, oferece como proposta de saneamento das
mazelas do Brasil a instituição do “Estado Integral”. Embora não haja dúvidas de que
o projeto estatal integralista guarde feições autoritárias, seus previstos mecanismos
interventores diferiam do simples totalitarismo acachapante. Assim, o integralismo
consideraria o Estado
60
Mantendo íntegras cada uma dessas expressões humanas, o
Estado Integral também a si próprio se mantém íntegro (...). O
Estado Totalitário seria o Estado Arbitrário. O Estado Integral é
o Estado de Direito, o Estado Mediador, o Estado Ético,
conforme um princípio espiritualista e cristão.” (Madrugada do
Espírito, p.447)
61
Também a temática municipalista está presente, sendo garantida a autonomia
municipal desde que esta não atente contra a perfectibilidade do corpo da União:
No período que vai de 1932 a 1937, teve seu ápice o integralismo. Favorecido
pelas particularidades de uma conjuntura nacional e internacional convidativas,
Salgado pôde então consolidar e expandir seu movimento, dedicando-se,
simultaneamente, à dissertação e publicação de grande quantidade de livros
propagandísticos e político-filosóficos. Além do romance O Cavaleiro de Itararé
(1933), datam destes tempos O que é o Integralismo, A Voz do Oeste, O Sofrimento
Universal, Psicologia da Revolução (todos de 1934), A Quarta Humanidade,
Despertemos a Nação e Doutrina do Sigma (1935), Palavra Nova dos Tempos
62
Novos (1936), e, em 1937, Páginas de Combate, Geografia Sentimental e Nosso
Brasil.
63
marchas de milicianos fardados e estandartes, eram realizados em datas
comemorativas ou durante congressos e protestos de intimidação. Ainda
visualizando a canalização do sentimento de transformação existente na sociedade,
o integralismo adota como símbolo principal a letra grega Sigma (Σ), em alusão a
sua significação de soma integral nas operações matemáticas, o que representaria a
união de forças entre os brasileiros e o repúdio às dissidências fragmentárias
regionais e de cunho ideológico8. O Sigma está presente nas insígnias e bandeiras
integralistas, além de ilustrar o braçal do militante, cujo uniforme é composto de
camisa verde, gravata preta e calças cáqui ou branca. Já a saudação consiste no
erguimento vertical do braço direito, com a palma da mão voltada aos céus, seguido
da pronúncia do vocábulo “Anauê!” (Somos Irmãos!), que sob corruptela do idioma
tupi-guarani, era festivamente usado pelos índios como cumprimento.
8
O Sigma teria sido também a fórmula identitária encontrada pelos primeiros cristãos da Grécia convertida, além
de ser o nome de batismo da estrela polar do hemisfério sul.
64
mais diretos dos chamados arianos vestissem a camisa típica
do regime de seu país, ou que os vermelhos, aproveitando-se
da ideologia disseminada, pretendessem organizar suas
tropas de choque no Brasil (...).” (Discurso de Niterói. In:
Discursos, p.359)
65
ordem política interna autoritária e ideologicamente pró-fascista, garantiu ao Brasil
imensas vantagens econômicas.
66
sua doutrinação e propaganda, o clima sem o qual não se tornaria possível a
transformação constitucional de 10 de novembro.” (Carta de Plínio Salgado ao
Presidente da República, In: O Integralismo Perante a Nação, p.219) Não obstante,
afastando acusações de subserviência, Salgado procura dissociar a pretérita
convicção integralista no que diz respeito à ordem, à disciplina, ao apreço pela
centralização política e à aversão às conspirações golpistas da simples adesão ao
Presidente: “Julgavam que se tratava de mero apoio pessoal, quando nos
guiávamos por orientação puramente doutrinária. Pregávamos o princípio do Poder
Central, e não o prestígio individual de V. Exa.” (idem, p.222)
67
Raça” e dos esforços sistemáticos pela popularização das composições de Villa-
Lobos. Nesse sentido, a “mística” integralista (o termo aparece quatro vezes na
carta) possuiria maior profundidade, sendo mais apta a atingir os objetivos que o
Estado Novo de modo infértil então perseguia.
68
condicionada à manutenção da estrutura do movimento integralista, questão que
recebe um inicial parecer favorável do Ministro da Justiça:
Sempre visando dar sobrevida para a AIB, Salgado encontra-se com o Chefe
de Polícia, Felinto Müller, com o Ministro da Guerra, general Dutra e com o
comandante da Vila Militar do Rio de Janeiro, general Newton Cavalcanti9, que lhe
teriam garantido, assim como pessoalmente lhe declarara Vargas, a íntegra
conservação do integralismo no novo regime.
9
Integralista, este general pede demissão de seu cargo tão logo o governo retrocede e decreta a extinção da AIB.
69
Sentindo-se apunhalado pela astúcia de Vargas, que lhe atraiu ao governo
como forma de desmobilizar possíveis reações violentas do integralismo ao golpe,
Salgado tenta fundir a AIB no que seria a “Associação Brasileira de Cultura”, que
caracterizar-se-ia pela natureza apolítica, voltada às atividades cívico-culturais e
esportivas. Diante das respostas evasivas do governo, a iniciativa é frustrada e
Salgado recusa o convite para o Ministério da Educação sem antes bradar contra as
“perseguições tremendas” que estariam sendo impostas ao integralismo, advertindo,
ao mesmo tempo, sobre o que diz respeito aos “esforços pacificadores” que
procurava então exercer sobre seus subordinados:
10
A entrevista de Miguel Reale. In: O Integralismo Perante a Nação, p.261.
70
O plano dos contra-golpistas consistia na tomada o Palácio da Guanabara,
além da prisão de Góis Monteiro e Eurico Dutra. Embora o tiroteio no entorno do
Palácio tenha estendido-se noite adentro, apenas o Ministério da Marinha fica sob
tutela dos rebeldes e ao amanhecer as forças leais a Getúlio abafam completamente
o levante.
71
nacional.” (Manifesto de Maio, In: O Integralismo Perante a
Nação, p. 268-269)
72
caráter integralista será explorado pelos comunistas com suas
calúnias. A única atitude a ser tomada pelos integralistas é a
abstenção de iniciativas revolucionárias diante das dificuldades
internacionais que o Brasil atravessa. Convém tornar clara
nossa atitude diante do conflito mundial: estamos com o Brasil
seja qual for seu destino.” (Diretiva do Chefe Nacional do
Integralismo Plínio Salgado aos integralistas em 05 de
setembro de 1939. In: O Integralismo perante a Nação, p.284)
73
tivemos oportunidade de explorar anteriormente (motivo pelo qual não mais nos
determos neste tópico), em dezembro deste mesmo ano seria publicado A Vida de
Jesus, obra que categoricamente reverte o ângulo propositivo da argumentação de
Plínio. Ainda em 1943 Salgado profere a conferência O Conceito Cristão de
Democracia (compilada em livro três anos depois), onde são demarcadas as novas
bases de seu conceito de Estado, que abolindo inteiramente a proposta corporativa,
mostra-se agora mais tolerante com o sufrágio e os partidos políticos. Rechaçando
críticas de que tal redirecionamento guardaria um oportunismo insincero, ele afirma
que
74
De fato, em maio de 1945 o governo formula a “Lei Agamenon”, que mesmo
contando com dispositivos que beneficiavam a máquina eleitoral estadonovista,
reinstitui o pluripartidarismo através da criação do Partido Social Democrático (PSD)
e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), no que Duverger classificaria de partidos
de origem parlamentar. Vargas empreende reformas constitucionais que prevêem a
anistia aos presos políticos e, por meio do novo código eleitoral, a realização de
eleições diretas, tendo sido apontado o nome do General Eurico Gaspar Dutra como
candidato oficial do governo. Ainda que certas tentativas de reação tenham sido
esboçadas nos primeiros anos de 1940 (correntes liberais haviam reclamado a
redemocratização do país em 1943, com a divulgação do “Manifesto dos Mineiros”),
a capitulação de Hiroito no Pacífico rejuvenesceu o fôlego das oposições e Vargas é
deposto a 29 de outubro de 1945, em decorrência da insatisfação generalizada que
ressoava também nas Forças Armadas.
75
Aberta à Nação Brasileira”, e três meses depois emerge a Cruzada Brasileira de
Civismo (CBC), entidade anticomunista comandada por integralistas que procura
cooptar adeptos nos setores mais conservadores da sociedade, alertando-os sobre
o perigo da expansão do imperialismo soviético na América Latina. Tais
acontecimentos parecem pretender preparar a opinião pública à aceitação o
proselitismo de Salgado, que em setembro divulga seu “Manifesto Diretiva aos
Integralistas Brasileiros”, onde repudia as acusações de simpatia ao fascismo e
prenuncia seu desejo de nova empreitada política.
76
Ao proferir o discurso de posse no novo partido, Salgado sublinha que sua
opção norteou-se “principalmente pelo fato de ser por ele (o PRP) considerado o
Homem segundo sua naturalidade e sua sobrenaturalidade” e porque “somos um
partido espiritualista e que se informa nas fontes do Evangelho.” (Discursos, p.299-
300) No entender do líder perrepista, os fundamentos espiritualistas do partido o
levariam indubitavelmente à negação do totalitarismo, uma vez que haveria um
relação intrínseca entre este e o materialismo:
77
Assim, pondo em prática a nova disposição, o PRP passa a compor alianças
partidárias, apoiando, por exemplo, Eduardo Gomes nas eleições presidenciais de
1950, o que clarifica que fora superada definitivamente a idéia de “pureza” e de
exclusivismo do integralismo. Nas eleições de 1947 o partido elege 18 deputados
estaduais e 155 vereadores, e embora ocupe um espaço marginal no sistema
político, o PRP, graças a tais coalizões, formadas sobretudo com o PSD, projeta-se
na estrutura do Estado, ocupando prefeituras e secretarias. Em 1955, Salgado
disputa com Juscelino Kubitscheck, Ademar de Barros e Juarez Távora a
presidência da República e um ano depois é eleito deputado federal pelo Paraná. O
ponto culminante da abertura ideológica do PRP, no entanto, se dá em 1958,
quando o partido apóia o PTB de Leonel Brizola no Rio Grande do Sul, fato que
provoca considerável deserção de membros oriundos do integralismo neste
Estado11.
11
Sobre este particular, consultar Calil (2001, p.349-350).
78
quer defender a sua propriedade, da qual ele usa e abusa em
detrimento dos princípios cristãos que devem reger o uso da
propriedade. Eu, portanto, (...) recomendo que tratem
carinhosamente o comunista, combatendo vigorosamente o
comunismo, combatendo essa doutrina materialista, pela nossa
convicção espiritualista. Amemos o próximo, seja ele quem for,
e procuremos, pela ação pessoal conquistar, um a um, todos
os brasileiros.” (idem, p.303-304)
79
comunismo e capitalismo, embora aparentemente antagônicos e irreconciliáveis,
almejariam, em verdade, uma mesma finalidade. São os “irmãos siameses” que
abordaremos no próximo e último capítulo.
80
3 A ENGENHARIA POLÍTICO-FILOSÓFICA DO
ANTICOMUNISMO DE SALGADO
81
Uma vez que tal afirmativa remete o estudioso, assim nos parece, à
visualização de uma teoria anticomunista bastante singular, cremos que ao
sistematizar a logística destas aparentes contradições estaremos fornecendo
elementos interessantes para o debate inerente à filosofia-política, que consiste em
relacionar as afirmações das diferentes conceituações, justamente para confrontá-
las em busca da tentativa de solucionar aporias e superar o senso-comum.
82
Contudo, em suas obras, tais especificidades não vêm à tona senão de maneira
marginal, uma vez que o autor utiliza-se de diferentes nomenclaturas para remeter o
leitor tanto aos aspectos ideológicos, políticos e econômicos do marxismo, como aos
valores intrínsecos do liberalismo, sempre em sentido amplo e com alta margem à
plasticidade. Não obstante, tais referências procuram permanentemente estabelecer
uma associação entre estas duas ordens políticas, geralmente tidas por dicotômicas.
O termo “burguesia”, por exemplo, é concebido não como a designação de uma elite
econômica, mas como uma condição psicológica supra-classista, pois o “espírito
burguês”, como postura, “não é inerente , de modo exclusivo, à classe dominante em
nossos dias” e “vive em todas as classes.” (Espírito da Burguesia, p.7)
Outra nuance que deve ser frisada diz respeito à estabilidade deste
pensamento na teoria de Salgado. Ainda que o correr do tempo histórico tenha
provocado significativas revisões em alguns de seus posicionamentos políticos, a
idéia da existência de mútuas identidades complacentes entre comunismo e
capitalismo, pelo contrário, permanece constante, estando presente tanto no período
integralista quanto na fase perrepista, pois se é verdade que neste último período a
crítica à liberal-democracia amainou-se, a teia de ligação entre os valores do
liberalismo e os objetivos marxistas segue sendo tecida, o que é comprovado pela
publicação dos livros O Conceito Cristão de Democracia (1946), Espírito da
Burguesia (1951) e Reconstrução do Homem (1957), ricos em citações desse tipo.
Também Trindade (1974, p. 163) percebeu a natureza do anticomunismo de
Salgado, ao menos no período que abarca o integralismo, já que assinala que “para
os integralistas, a oposição ao socialismo é indissociável da oposição ao liberalismo,
encarnado nas instituições republicanas.”
3.1 Materialismo
83
pelos signos utilitários e racionalistas advindos da ascensão da burguesia durante o
ocaso do feudalismo medieval, e a contraposição ao materialismo daí gerado
residiria, necessariamente, no espiritualismo:
84
as realidades de seu tempo, deduziu realidades do futuro. Aceitou a doutrina do
materialismo burguês, deu-lhe seguimento, antevisionou seus resultados.” (idem,
p.75)
85
Assim, Salgado abstinha-se de tributar às massas a responsabilidade pelo
sucesso relativo do comunismo, preferindo pesar esta culpa sobre o materialismo
que promoveu a “ausência de Cristo nas almas” e que “não proveio das classes
trabalhadoras; a sua origem é burguesa.” Desta forma, labutar contra o materialismo
seria o procedimento mais eficaz para opor-se às duas correntes políticas, pois ”só
há, por conseguinte, um meio de combater o comunismo: é combater o espírito
burguês”. (Espírito da Burguesia, p.11-12)
86
não perdem a missa, mas acham natural o nudismo. O burguês
tem uma renda farta. Vive à tripa forra. (...) e tem muita raiva
aos comunistas. ‘Oh!’ – exclama horrorizado – ‘o governo devia
fuzilar essa caterva!’ O nosso homem veta profundo desprezo
pelos humildes. (...) Não: o comunismo não se combate assim;
o burguês está enganado. O comunismo é apenas um sintoma
das conseqüências desse materialismo grosseiro de que o
burguês é a fonte principal.” (Madrugada do Espírito, p.423)
87
ensinou a tantos séculos na Grécia naturalista. A esse
desbragamento, os governos assistem de braços cruzados,
porque os governos adotam a filosofia da indiferença, a
doutrina pregada pelo velho Zenon, que tanto sucesso fez na
época da decadência de Roma. (...) Hoje, os governos
conservam-se na mesma atitude do senado romano no
crepúsculo do Império. Incapazes de agir, armam-se dessa
indiferença de cadáveres diante da tremenda luta social. E
essa luta está aberta em todos os países.”12 (Madrugada do
Espírito, p. 419-420)
12
O epicurismo, porém, é também relacionado ao marxsimo: “(...) o estoicismo liberal e o epicurismo marxista.
O primeiro torna o espírito indefeso contra as arremetidas do segundo, por consentir ação plena às dissimuladas
forças destrutivas da própria liberdade. O segundo, faz do prazer, circunscrito à vida terrena, o único objeto da
vida humana, sacrificando ao mito de uma igualdade oposta à igualdade evangélica, os direitos legítimos da
personalidade no que ela tem de essencial e eterno”. (Aliança do Sim e do Não, p.27)
88
“O liberalismo democrático é hoje defendido apenas pela
grande burguesia e pelas extremas esquerdas do proletariado
internacional. E isso se explica. Sendo o regime que não opõe
a mínima restrição à prepotência do capitalismo, é o preferido
por este, que, através das burlas liberalistas, exerce a sua
influência perniciosa no governo dos povos, em detrimento das
nacionalidades, tão certo é que o capitalismo não tem Pátria.
Por outro lado, evitando a interferência do Estado na vida
econômica das nações, e oferecendo ampla liberdade à luta
de classes, facilita o desenvolvimento marxista do fenômeno
econômico e social, preparando as etapas preliminares da
ditadura comunista.” (O que é Integralismo, p.41-42)
89
“Esse é o panorama da vida moderna, dessa civilização que,
tendo perdido a força moral para enfrentar os novos Hunos,
que apontam no oriente da Europa (dispostos a substituir, por
outra mentira, a impudente falsidade de uma estrutura social
iníqua) apela hoje para o pretexto, com que se apresenta,
dizendo defender a civilização cristã. (...) os remédios
prescritos pelo Novo Mundo não são, nem podem ser eficazes,
uma vez que não passam de medicação meramente
sintomática. Como combater o comunismo, ou outros erros se
não lhe vamos às causas? De que valem planos econômicos,
ou pactos internacionais, medidas legais internas ou vigilância
contra a ação imediata da desordem, se o mal do mundo não
está no comunismo, nem na anarquia social, mas na mais
terrível das ausências, que é a ausência do Homem sobre a
Terra? O Homem desapareceu. (...) O Rei da Criação foi
destronado, perdeu cetro e corôa na aventura materialista (...).”
(Reconstrução do Homem, p. 14-15)
90
superstições, seu espírito de martírio, sua ânsia de infinito, tudo
isso não podia caber dentro de uma vulgar república
democrática, onde os governos e os estadistas se
desinteressam pelas causas primárias e finais.” (Madrugada do
Espírito, p.354-355)
91
exclusiva dos elementos materiais. É a maior das contradições
do mundo moderno. Outra prova de que os que defendem a
civilização dita cristã, ou tida por espiritualista, não agem
senão materialistamente, está no fato de não existir uma
capacidade mística de sofrimento, de sacrifício, entre aqueles
que dizem ser adversários do comunismo, ao passo que é
evidentíssimo esse poder de idealismo, de sonho, de
dedicação completa aos seus objetivos, nos agentes do
comunismo internacional.” (Espírito da Burguesia, p.202)
92
Tal conformação, entretanto, teria tido seu sopro inicial “desde a Enciclopédia
e, principalmente, depois da Revolução Francesa”, uma vez que seria a partir de
então que a burguesia inicia o processo de criação de “ficções” elevadas ao grau de
“tabus” (“sufrágio universal”, “civismo”, “liberdade”, “livre-pensamento”), da mesma
forma que, para Salgado, o fez o marxismo com os termos “‘luta de classe’, ‘pressão
das massas’, ‘socialização dos meios de produção’, e outras.” (A Quarta
Humanidade, p. 98) Segundo Salgado, “há um profundo espírito de identidade entre
a Revolução Francesa e a Revolução Russa, e por mais contrastantes que pareçam,
as Declarações dos Direitos do Homem em 1789 identificam-se com as Declarações
do Congresso dos Soviets em 1918.” (Direitos e Deveres do Homem, p. 202)
93
uma proletarização gradual das classes médias, situação que geraria uma
insurreição violenta da massa proletária segundo os desígnios do marxismo:
94
Assim, subsidiados pelo experimentalismo evolucionista de Spencer e
Haeckel, além do struggle for life darwinista, liberalismo e marxismo ignorariam as
potências do espírito humano ao limitar sua existência à luta, classista no caso
marxista e individualista no caso liberal. Este conflito estaria de tal modo
disseminado que “o combate não é apenas entre o Capital e o Trabalho”, tidos por
irreconciliáveis, mas “entre o trabalho e o mesmo trabalho, que fica entregue às leis
da concorrência.” (A Quarta Humanidade, p.77)
95
compreende. Quanto ao capitalismo, a lógica de acumulação irrefletida a que teria
subordinado-se, o levaria, no intuito de fortalecer ainda mais os detentores do
poderio econômico plutocrático, a oprimir economicamente as massas empobrecidas
através de impostos crescentes que, em última análise, ameaçariam o mesmo direito
de propriedade que é amplamente questionado pelo marxismo, “pois o capitalismo
atenta contra o princípio da propriedade, absorvendo dia a dia as posses dos
pequenos, prosseguindo na sua obra marxista de proletarização das classes
médias.“ (idem, p.110)
No entanto, Salgado vislumbra que uma tal prática por parte do aparato
capitalista encontraria paralelo na planificação do socialismo, cujo Estado, ao
apoderar-se inteiramente da propriedade e dos meios de produção, estaria
simplesmente assumindo a posição dos antigos detentores individuais capitalistas:
96
utilidades” acusando-os de suprimir a idéia sacra, espiritual do labor e de seus
frutos, uma vez que “nenhuma das duas vê no trabalhador uma criatura de Deus,
com necessidades tanto materiais quanto espirituais.” (Salgado apud Calil, 2001,
p.335)
97
A lógica de ambos os sistemas, portanto, seria a mesma: combatendo as
98
prazer”, onde lar foi substituído pela “máquina de morar” e criou-se um sentimento
de “pavor do infinito”, parece possuir, segundo a ótica de Salgado, um intuito
anticristão bastante evidente: “Todo o século XIX foi um movimento nesse sentido:
arrancar do homem a tristeza do cristianismo” (Madrugada do Espírito, p.362), já que
o Ser Humano “hoje volta-se para uma forma imprevista de teocracia. Quer ser
governado pelos Sumos Sacerdotes do Ateísmo.” (idem, p. 348) Parafraseando
Kant, para quem a Humanidade despertara do sonho dogmático da Idade Média,
Salgado considera que em verdade a civilização “adormeceu no sonambulismo
agitado das suposições transitórias”, pois “as últimas décadas do século XIX foram
governadas pelas hipóteses.” (ibidem, p.385)
99
Internacional. Não rompemos ofensiva contra a burguesia, mas
contra o espírito do século da qual ela é um produto concreto;
não contrariamos as justas aspirações do proletariado, mas
queremos arrancar o proletariado da concepção unilateral da
vida em que o lançaram, para explorá-lo, sem resolver a sua
situação, que é apenas uma conseqüência da própria
mentalidade do século XIX. Negamos a lição de Marx (...) Para
nós, que viemos depois de Einstein, que viemos depois de
declarada a falência evolucionista em que se estribou a política
da burguesia (...) só existe uma revolução: a revolução do
século XX contra os preconceitos do século XIX.” (Palavra
Nova dos Tempos Novos, p.252-253)
100
“Quarta Posição” quando repudia também o modo interpretativo de Nietzsche, que
uma vez tendo dado animação ao seu “Super-Homem”, orgulhoso, altivo e forte, teve
apropriado seu pensamento pelo nacional-socialismo, que por sua vez pretendeu
materializar o protótipo dos heróis de Zaratustra em uma hiperbórea Nação ariana
superior. Assim, o “Homem Integral” não é o “agnóstico” e “indiferente” nascido do
liberalismo, nem o “molusco marxista”, ou tampouco “a atitude anticristã de desprezo
aos humildes, de glorificação dos homens superiores”, como pensou o filósofo
alemão autor de O Anticristo: “O marxismo quer os anões de Niebelungen; Nietzsche
conclama os gigantes da montanha. Nós, cristãos, não queremos nem o anão, nem
o gigante, mas, apenas, o Homem. O Homem Integral.” (Madrugada do Espírito,
p.397)
101
que no correr do funcionamento do PRP “a associação entre comunismo e nazismo
substituía a associação anteriormente estabelecida, entre liberalismo e comunismo”,
nota-se, em verdade, que se a crítica à organização liberal-democrática de fato tem
menor incidência (ainda que não tenha sido de todo anulada), a antiga associação
entre comunismo e liberalismo permanece inteiramente na pauta de Salgado. Se a
aversão ao totalitarismo nazi-fascista poderia ter-se formatado a partir de uma
imposição das circunstâncias políticas hostis do pós-guerra, diríamos que o que
realmente ocorreu foi uma incorporação do elemento fascista à ligação
comunismo/liberalismo, que anteriormente operacionalizava-se de maneira dual e
passa a ser tridimensional a partir de então. Corrobora para a solidificação desta
afirmativa o fato de que os livros Espírito da Burguesia e Mensagem às Pedras do
Deserto, ambos vindo à tona depois de 1945, contém numerosas combinações entre
socialismo e liberalismo, sem a adição do fascismo.
102
Porém, uma vez que “fascismo é sinônimo de comunismo. Ou mais
propriamente, o comunismo é o fascismo russo” (Salgado apud Calil, 2001, p.301), o
nazi-fascismo é agora também acusado de aderir ao materialismo, possuindo bases
filosóficas similares àquelas defendidas por seus contendores, que ao proporem,
todos eles, um embasamento estatal que desconsideraria o espiritualismo, estariam,
por conseguinte, vislumbrando a personalidade humana sob uma ótica parcial,
unilateral, fragmentada, não integral:
103
“Hoje, o velho Lusbel organizou várias hostes: uma se chama
‘a mão estendida’, forma execrável de certo liberalismo dito
cristão; outra se chama ‘neo-fascismo’, ou seja, o
ressurgimento de uma concepção absorvente do Estado; outra
se chama ‘socialismo’, com predominância do econômico
sobre o espiritual; outra se chama ‘esquerdismo’, com
proclamações de que o mundo marcha para a esquerda; outra
se chama ‘capitalismo’, com aparências imediatas de
anticomunismo, porém com a mesma mentalidade
mecanizadora dos adeptos da teoria marxista.” (Espírito da
Burguesia, p.221)
104
CONCLUSÃO
105
opinião, o integralismo imprimiu as marcas que Plínio deixaria na história, enquanto
o segundo movimento significou a releitura de seus preceitos ideológicos, que
tiveram na conformação ao sistema eleitoral democrático e no abandono, portanto,
do anti-sistemismo, sua faceta mais dramática. Percebe-se nesse pormenor as
sutilezas da relação dialética entre o homem e o correr da história, entre o idealismo
do onírico dever ser e os ditames por vezes frustrantes da ordem cotidiana.
Como se não bastasse tal justificativa para despertar o interesse pelo tema
aqui versado, nos parece que a fórmula anticomunista plasmada por Salgado
assume feições de extrema singularidade na medida que sua mecânica associa o
“espírito burguês” fermentado pela logística capitalista e liberal-democrática ao
imaginário marxista, que capilarizado para a ação política, ressoa no socialismo e na
sua sucessão pelo comunismo. Particularmente instigante pareceu-nos esta ligação
quando notamos que, além de constar ordinariamente nas obras e no discurso de
Salgado, a ela foram incorporados os mais variados elementos, partindo do
materialismo e das debilidades defensivas do Estado Liberal, até o evolucionismo
(científico e político), o cosmopolitismo, o idealismo, o problema da moralidade dos
costumes, a tensão entre propriedade, capital e trabalho, culminando a associação
na presunção de uma identidade de fundamentos e finalidades que, finalmente, une
o totalitarismo nazi-fascista ao liberalismo e ao comunismo como depositários dos
mesmos erros.
106
modestamente. Cremos firmemente que trata-se esta iniciativa de um dever e de
uma gratificação, simultaneamente.
107
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108
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