Resenha do artigo intitulado "Mnemosyne e Lethe: a interpretação heideggeriana da verdade", de autoria de Alexandre Rubenich Silva, publicado pela revista Archai, em 2014, na edição de nº. 13, p. 71-84.
Título original
Resenha - Mnemosyne e Lethe: a interpretação heideggeriana da verdade
Resenha do artigo intitulado "Mnemosyne e Lethe: a interpretação heideggeriana da verdade", de autoria de Alexandre Rubenich Silva, publicado pela revista Archai, em 2014, na edição de nº. 13, p. 71-84.
Resenha do artigo intitulado "Mnemosyne e Lethe: a interpretação heideggeriana da verdade", de autoria de Alexandre Rubenich Silva, publicado pela revista Archai, em 2014, na edição de nº. 13, p. 71-84.
interpretao heideggeriana da verdade. Archai, n. 13, jul - dez, p.71-84. Dividido em cinco partes, o artigo apresenta, de forma detalhada, uma reflexo sobre o significado da palavra aletheia, partindo dos estudos do filsofo alemo, Heidegger, e levando em considerao, tambm, a mudana de sentido que esta palavra sofre na perspectiva do filsofo grego, Plato. Na primeira parte, o autor faz sua introduo mostrando que a investigao feita por Heidegger parte da anlise das ambivalentes foras complementares mnemosyne (memria) e lethe (esquecimento) e d continuidade por meio de um estudo etimolgico das palavras que cercam o assunto, com o intuito de clarificar a noo de ser e de verdade. Como exemplo de uma das reflexes etimolgicas feitas por Heidegger, o autor tece um breve comentrio sobre a proximidade entre as palavras alems denken (pensar) e danken (agradecer), proximidade esta que reflete na interpretao do sentido da palavra Andenken (rememorao), e que nos leva a concluso de que, com isso, o filsofo alemo parece pretender um pensamento que no simples rememorao, ou, em palavra distinta, um simples presentificar daquilo que j passou, mas que por sua lembrana guarda, cuida e, porque no dizer, vela por algo que o mais digno de ser pensado. Ou seja, a proximidade entre pensar e agradecer se d no momento em voltamos o pensamento para aquilo que est oculto, esquecido no ser e, a partir disso, nos tornamos capazes de reconhecer o velar no sentido da preservao deste desconhecido que, segundo o filsofo, a fonte de todo pensar. Ainda nesta primeira parte, o autor define que a hiptese formulada no presente artigo a de que o que produz memria gira em torno do descontnuo; em palavra distinta, de que a memria no se constitui sem que haja uma perda originria, um ao menos um que no comparece jamais na totalidade do que se des-esquece, do que se des-encobre. Considerando que Heidegger se baseia em Plato, e que em Plato que a memria assume um sentido distinto do sentido comumente utilizado pela tradio potica, o autor expe ao leitor, na segunda parte de seu artigo, aspectos mticos da memria, com a finalidade de que o leitor possa melhor entender o modo como o sentido da Memria passa do plano da cosmologia para o da escatologia. Para isso, o autor utiliza-se do pensamento de Plato, tendo por base a perspectiva mtica dos rios da regio infernal, Lethe e Mnemosyne, como tambm do pensamento de Jean-Pierre Vernant, em sua obra Mito & pensamento entre os Gregos, em que reconhece um ponto em comum entre a divinizao de Cronos e a rememorao, que o da perenidade, para concluir que onde a memria objeto de venerao, o que se cultiva nela fonte do saber em geral, ou instrumento de uma libertao em relao ao tempo. Na terceira parte do artigo, o autor desenvolve sobre a relao entre tempo e memria, e reflete sobre a consequente relao entre tempo e ser. Somente mais adiante que o autor retoma a sua hiptese da perda originria da memria, comentando que, para Heidegger, a
rememorao a reunio do pensar em torno daquilo que nos mantm, no sentido do
cuidado, do guardar e proteger. O que nos mantm e sustenta, todavia, algo que se subtrai ao nosso pensamento. Em seguida, segue comentando sobre a alegoria da caverna, de Plato, e sobre o modo como, a partir dela, aletheia assume um novo sentido, passando de desvelamento para correo do olhar, considerando que, ao conseguir sair da caverna, o homem precisa adequar sua viso, antes acostumada com a escurido, luz que h fora da caverna. Assim, na quarta parte, o autor se prope a adentrar na problemtica lethe (esquecimento ou encobrimento), tendo por base o Mito de Er, narrado por Plato, no Livro X, da Repblica. Mais adiante, o autor continua chamando a ateno para a relao conflitual entre aletheia e lethe, e aproveita para inserir o conceito de obliterao, de Heidegger, que diz que o encobrimento (ou esquecimento) aliena o homem, fazendo-o estranho possibilidade de morar em sua essncia. Essa questo do esquecimento desenvolvida na quinta e ltima parte, em que feita uma dupla interpretao sobre o campo Lethes: se por um lado interpretado como domnio da morte, da escurido, do demonaco, por outro, segundo Heidegger, no reside apenas o retraimento em sua plenitude, mas, muito mais do que isso: que o vazio do lugar a vista, possibilidade de todo ver que descobre no aqui. Desta forma, o autor finaliza seu artigo tecendo reflexes sobre a aletheia, relacionando-a, portanto, com a filosofia, tendo em vista que o des-velamento que proporciona ao ser o no deixar-se dominar pelo seu retraimento para possa ter a vista voltada para o essencial. Sendo assim, o artigo se mostra como um bom instrumento de apoio para iniciados em estudos sobre aletheia, que desejem refletir sobre os sentidos da palavra.
LVIA MARIA DA SILVA
Estudante de Graduao em Letras Clssicas pela Universidade Federal da Paraba