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15 © Tempo Negociantes, independéncia eo primeiro banco do Brasil: uma trajet6ria de poder e de grandes negocios” Théo Lobarinhas Pifteiro™” Introdugao Quando, em margo de 1808, a Corte Portuguesa desembarcou no Rio de Janciro, o principe regente, além de ter que lidar com as tarefas de mon- tar, na nova capital do império lusitano, o aparelho de Estado, teve oportuni- dade - ¢ necessidade — de conhecer os problemas, as personagens ¢ as difi- culdades da nova capital. Além desta montagem, que implicou na criagao de diversos 6rgios, procedeu-se também a destruicao — do ponto de vista eco- némico — da dominagio colonial. * Arcigo recebido em julho de 2003 e aceito para publicagdo em agosto de 2003. * Bsce artigo € resultado da condensagio de dois capitulos da minha tese de Doutorado em Hist6ria, na UFE. Ver Théo Lobarinhas Pifieiro, Os Simples Comissérias: Negocios ¢ Politica no Brasil Inpério, Vese de Doutorado. Niteréi, UFF/PPGH, 2002 Professor do Departamento de Histéria da UFE. ‘Tempo, Rio de Jancico, n° 13, pp. 71-91 Théo Lobarinhas Piero O monarea descobriu, de imediato, como jé havia tomado conhecimento em Salvador,’ a existéncia de um grupo que sabia agir, com seguranga e de- terminagao, para defender seus interesses e que utilizaria muito bem a ne- cessidade de recursos que tinha a monarquia. Donos do dinheiro, nao 0 en- tegariam sem compensagdes. De fato, desde o final do século XVIII, forma- vam (..) um forte grupo de presse, individualizado ¢ independente dos grandes fazendeiros, capazes de fornecer créditoao Rei c aos proprietérios rurais e que se faziam representar na Camara Municipal e diretamente junto 20 Rei ¢ aos 6rgios da ctipula da administragdo da metrépole.? Na cidade, hé muito jé eram beni conhecidos, constituindo 0 seu setor econémico mais importante, sendo responsaveis pela circulagio de merca- dorias, integrando a estrutura do comércio atlantico portugués. Na hierarquia comercial daquela sociedade, criada pelo funcionamento do comércio atlan- tico portugués e a economia escravista brasileira,’ estavam no topo, que (...) era reservado a uns poucos eleitos, os grandes atacadistas que cuidavam da compra c venda de mereadorias em provincias distantes e no exterior, Um lugar nessa seleta confraria s6 era obtido depois que a Junta de Comércio desse a0 candidato um registro, que permiria usar o titulo de comerciante de grosso. Somente com esse registro um comerciante podia realizar transagbes interna~ cionais, ¢ 96 obtinham o registro os que satisfizessem exigéncias rigorosas: ter reputagio ilibada e comprovar uma reserva finanecira capaz de garantir seus clientes contra os riscos dos negécios.* A relagio destes Negociantes’ com a Coroa se mostrou, logo de inicio, baseada na troca de favores, sendo emblemitico o caso de Elias Antonio A reagto do Corpo de Commercio de Salvador i “abercura dos portos” foi grande, através, de uma Representacio, solicitando que nao fossem prejudicados pelo estabelecimento de estrangeiros no comércio brasileiro. Ver Théo Lobarinhas Pificiro, Os Simples Comisstrias op. cit, especialmente o Capitulo 1 + Bulélia Maria L. Lobo, Historia do Rio deJaneiro: do capital comercial ao capital financeiro, Rio de Janeiro, IBMEG, 1978, vol. 1, p. 56. » Joao Fragoso ¢ Manolo Florentino, Q Arcatimo como projeto: mercado atldntico, sociedade agra- Pia eelte mercantil no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Diadorim, 1993, especialmente caps. IL¢ IL. * Jorge Caldeira, Maud. Empresdrio do Império, Sao Paulo, Cia. das Letras, 1995, p. 70. § Negocianse, aqui, € um conceito, nao simplesmente uma denominagio. Por Negociante, estou entendendo o proprietirio de capital que, além da esfera da circulagio, atua no abastecimen- ‘0 € no financiamento ¢ investe no trifico de escravos, 0 que permite que controle setores Negociantes, independéncia eo primeiro banco do Brasil Lopes, que cedeu go regente a chacara situada na Boa Vista e, mais tarde, recebeu diversas titulos e cargos.” Comprovando uma riqueza que pouco circulava, sabemos da existén- cia, ainda que com poucos detalhes ¢ demandando uma pesquisa mais pro- funda, de uma instituigao, em muito semelhante a um banco, formada pelos Negociantes locais, que, antes da chegada da Corte portuguesa no Rio de Janeiro, fazia frente as necessidades da economia local. Dizem cles [Spix e Martius] que, premidos pela necessidade de dinheiro que viesse satisfazer os pagamentos do crescente giro comercial, os mais fortes comerciantes € capitalistas do Rio se juntaram para reunir uma determinada soma de capital represencada em cicuios de responsabilidade de codos. Esves titulos girariam, a principio, como moeda, em pagamentos reciprocos feitos pelos préprios co-fundadores. Dentro em pouco, porém, (...) a organizagio ampliou o seu movimento de crédito, passando as letras, que ndo eram sendo titulos de dividas de firmas conceituadas, a girar além do circulo de coobrigados, no dominio mais amplo do ptiblico comercial. Fundido com uma empresa de seguros, passou aquela espécie de banco emissor, que nascera espontaneamen- te pela falta de numerario oficial, a se desenvolver tanto que funcionarios piiblicos da cidade © mesmo fazendeiros ricos do interior comecaram a nele depositar o dinheiro metilico de que dispunham (...) Infelizmente, Spix ¢ Martius no citam os nomes dos criadores do simulacro de banco (...) Com toda probabilidade, homens como Braz ¢ Fernando Cameiro Ledo, Joao Ro- drigues Pereira de Almeida, José Marcelino Goncalves, Amaro Velho da Sil- va, Luiz. de Sousa Dias e outros negociantes abonados do tempo (...)”.? Achegada da Corte portuguesa viria alterar, em muitos aspectos, a vida eas atividades da cidade, como se pode perceber pelas modificagdes nos hAbitos de se vestir e com o novo brilho das festas, pelas procissdes e pelos demais atos publicos; tudo isto criou uma nova atmosfera cultural e politica chaves da economia, inchisive na produgio escravista, face ao papel que desempenha no eré- dito € no fornecimento de mao-ce-obra. Uma de suss earacteristieas € a multiplicidade ¢ a diversidade de suas atividades, o que permite que ele detenha uma posigo privilegiada na sociedade brasileira e seja capaz de influir decisivamente tanto nos rumos da economia ¢ na politica do pais. Atua tanto na atividade comercial, como pode ser encontrado na manufatura, nas casas bancirias, nas companhias de seguro, bancos, etc. * Manolo Florentino, Em costas negras: uma hisrbria do trdfico atléntico de escravas entre a Africa € 0 Ria de Janeiro (séculos XVII € XIX), Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, 1995, p. 207. 7 Afonso Arinos de Melo Franco, Historia do Banco do Brasil, Brasilia, Banco do Brasil, 1973, Vol. 1, pp. 23-24. Théo Lobarinhas Piero Dossié no Rio de Janeiro ¢ uma nova moda, de luxo, passou a existir na nova capital do Império lusitano.* Além disto, a necessidade de acompanhar os habitos ¢ os procedimen- tos da Corte fez surgir, na cidade, uma parte dos recursos até entio entesou- rados, aquecendo a economia, mas também ajudando a formar interesses na manutengao do novo patamar adquirido com o fim do monopélio metropol: tano. A centralizagaio da administragao do império lusitano significou ainda a injecio ¢ o giro de grande soma de dinheiro na cidade, uma vez que os fun- ciondrios e os cortesdios demandavam sempre mercadorias € servigos € 56 0 mais graduados funciondrios das instituigdes juridicas ¢ militares represen- tavam 42% de todos 0s salarios pagos pelo governo.® Os homens de negocios do Rio de Janeiro, que iniciavam a sua orga- nizagio no Corpo de Commercio, também fizeram saber ao regente a sua preocupagiio com a presenga dos ingleses, através de uma Representagdo com 108 assinaturas, na qual Dizem 0 abaixo assinados, mercadores de lojas de varejo nesta Corte, que sendo este 0 seu modo de vida se acham reduzidos agora & ultima ruina ¢ miséria por isso que os Ingleses de novo vindos rm estabelecida algumas lojas de varejo, como € nas ruas dos Pescadores, Sao Pedro, Direita ¢ d’Ouvidor € estabeleceram, nao havendo proibigao, quantas puderam, e porquanto desta sorte yem todo 0 Comercio desta Corte a ficar em poder dos mesmos Ingle- ses, quando sao eles os principais Negociantes de grosso e assim podem fazer 0s monopélios que quiserem, nao scndo permitido em Portugal 0 varejo a Nagao alguma Estrangeira."° Este pequeno e seleto grupo de homens haviam-se fortalecido, desde a segunda metade do século XVIII, através de sua atividade no comércio portugués do atlantico, bem como pela distribuigao das mercadorias no Bra- sil ¢ que retirava seus lucros principalmente do comércio de escravos. Foram estes os homens que comegaram a dar forma a uma organizagio dos Nego- ciantes do Rio de Janeiro e que se denominava Corpo do Commercio, para ® Lucia Maria Bastos Pereira das Neves e Humberto Machado, O Império do Brasil, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999, pp. 40 e segs. * José Mattoso (Dir.), Histéria de Portugal, Lisboa, Editorial Estampa, 1993, vol. 4, p. 169. ° Padem a Vosse Altesa Real se digne pela sua paternal clenténcia ocorrerd rutna dos Suplicantes edo Comércio desta Cort, determinanda qe 0s Inglesesndio possam extabelecer lojas de wargjo ede cender por misido, eincumbindo a vigilancia da Contravengt0 ao Tribunal que for competente. Biblioteca Nacional, Sesao de Manuscritos, Loc. 11-34-27-10. "4 Negociantes, independéncia eo primeiro banco do Brasit representar seus interesses junto ao governo. Souberam efetivamente fazer- se ouvir, de maneira que, embora nao formalmente organizadas, ji cram reco- nhecidos pelas autoridades."! Sua forma de organizagdo € de atuagio — como corporagio — também reforga a visao de mundo ligada a preeminéncia do capital mercantil, embo- ra, como se pode observar, ji se esbogasse, dentre os grandes Negoc/antes, uma tendéncia ao dominio do capital usurdrio €, um pouco mais tarde, ban- cario. Importante fator de associagao de capitais foram também as companhia seguradoras, instituigdes que est4o merccendo um estudo mais aprofunda- do, quanto & sua estrutura ¢ a sua atuag4o no Rio de Janeiro. Sabendo utilizar muito bem 0 seu dinheiro, fazendo favores ao regen- te € 4 Corte, que muito necessitavam, souberam conseguir cargos, vantagens ¢ privilégios. Juntos, modernizaram o porto da cidade, a alfindega e conse- guiram regulamentar, em seu favor, 0 uso dos armazéns, além de conseguir facilitar o sistema de pagamento de impostos."* Além disto, também conse- guiram, através da Real Junta de Gomércio, onde possuiam representantes, revogar a legislaco que proibia o empréstimo de dinheiro a mais de cinco por cento ao ano. A inauguracao do prédio da Prague do Commercio, em 14 de julho de 1820, com a presenga do monarea ¢ scus filhos, demonstra o prestigio que haviam aleangado ¢ a estreita relagio entre a Coroa ¢ os Negociantes. No ano se- guinte, D. Joao VI resolveu partir para Lisboa, iniciando um afastamento que a politica das Cortes viria transformar em ruptura. Entao, os donos do di- nheiro baviam encontrado, em D. Pedro e nas autoridades que aqui perma- neceram, novos aliados € participaram ativamente do rompimento com Por- cugal. Os Negociantes e a Independéncia: a consolidagao dos interesses As relagdes entre os homens de negéciose 0 primeiro imperador bra- 9 foram sempre tio faceis ¢ cordiais, a comegar pelos problemas sileiro ' Associagto Comercial do Rio de Janeiro, Os Assinautes da Praga, 1834-1984, Rio de Janciro, Xerox do Brasil, 1984, p. 13 "= Para uma discusso mais aprofundada, ver Théo Lobarinhas Pifleiro, Os Simples Comissd- Pia8..5 OD. Cit. 8 Gastio Cruls, A Apartncia do Rio de Janeiro, op. cit., p. 43. 75 Théo Lobarinhas Pittero Dossié advindos da repressiio ao movimento ocorrido na Praga do Commercio, em 1821.4 Entretanto, a necessidade de enfrentara politica das Cortes portugue- sas uniu-os, como bem o demonstra a Representagdo entregue pelo Corpo de Commercio do Rio de Janeiro, cm 2 de janeiro de 1822, na qual os Negociantes, persuadidos com os demais cidadaos amigos do sossego boa ordem do Reino, fazem saber ao jovem regente que ‘Todo o bom senso treme, Ilustrissimo Senado, quando ponderam na anarquia inevitavel que ameaga todo o Brasil ¢ que anuncia futuros tristes ¢ desastro- 808; por isso VV.SS. também devem cooperar, para evitar esta desordem a quem 0s Suplicantes instam ¢ protestam pelos acontecimentos que por esta falta sucederem e representam que extdo prontos a prestar, para conserwagéio de Sua Alteza Real como Regente de todo 0 Brasil, na conformidade do eitado decreto e ins- trugdes, 05 seus servigas pessoats, como milicianos, e os seus bens, na contribuigie de qualquer subsidio que para isso for preciso. B. certificados de que este 6 0 meio de nos conservar 0 sossego, assim 0 suplicam a VV.SS., a quem Deus guarde [grifos meus}."" Como se pode notar, além da grande preocupagao com a manuten- ao da ordem ¢ 0 medo da anarquia, fica claro que 0 temor de perder as vantagens até ali conseguidas levou-os a gastar o necessario para manter a sua situagiio (com “: mente (como “milicianos”). Se a idéia de um império luso-brasileiro no era nova,” cla comega a tomar forma com a elevagao do Brasil a Reino Unido,"” que correspondia aos interesses j4 enraizados no Brasil," no s6 0s relativos aos proprietarios es- ‘seus bens”), assim como a se oferecem a servir militar- * Oxivio Tarquinio de Souza, A vide de D. Pedro I, Rio de Janciro, José Olympio, 1945, vol. 21 Lis Carvalho Souza, Independéncia do Brasit, Rio de Janciro, Jorge Zahat Ed., 2000; Heitor Belerio, “O Civismo da Praga num Século de Labor", Aspectos Coligidos a propdsito do Centent- rio da Associagda Comercial da Ria de Janciro, Rio de Janeiro, ACRJ, 1935; Pedro Octavio Car- neiro da Cunha, “A fundagio de um império liberal”, Sérgio Buarque de Holanda, [st6rie Geral da Civilizagdo Brasileira, 3 e., S40 Paulo, DIFEL,, 1970, pp. 238-262. 'S “Manifesto do Corpo de Negociantes e Oficiais de Ourives, de 2 de janeiro de 1822” Paulo Bonavides e R. A. Amaral Vieita, Tesvos polticos da histiria do Brasil, op. cit, p. 64 " Guilherme Pereira das Neves, “Do império luso-brasileiro ao império do Brasil (1789-1822)°, Ler Histéria, Lisboa, n* 27/28, 1995, pp. 75-102. ” Maria de Lourdes Viana Lyra, A Utopia do Poderoso Império, Rio de Janeiro, Serte Letras, 1994, pp. 154 e segs. '* Maria Odila da Silva Dias, “A Interiorizagiio da Metrépole (1808-1853)", Carlos G. Mota (Org.), 1822, Dimensées, 2 ed., S20 Paulo, Perspectiva, 1986, pp. 160-184. 76 Negociantes, independéncia e 0 primeiro banco do Brasil cravistas, como também — penso que em especial — aos setores ligados a0 comércio. Por outro lado, as noticias e a agao das Cortes, a partir do movi- mento do Porto, em 1820, provocaram reagdes muito diferenciadas no Brasil. Percebendo claramente as intengdes de liquidar com a autonomia cons- trufda a partir de 1808, os Negociantes rapidamente tomaram posigao pelo rompimento, como se vé no documento anteriormente citado. Em 30 de julho de 1822, diante da necessidade de fazer frente ao cres- cimento dos gastos da administragiio e dos custos de uma iminente guerra com as Cortes portuguesas, o principe regente assinou um decreto, autori- zando que fosse contratado um empréstimo interno, no valor de 400 contos, a ser pago em dez anos, com juros de 6% ao ano ¢ garantido pelas receitas da Provincia do Rio de Janeiro. O Ministro da Fazenda, Martim Francisco, con- seguiu levantar este dinheiro entre os Negociantes."* Antes, em 16 de fevereiro, fora convoeado 0 Conselho de Procurado- res das Provincias, no qual haveria 14 representantes dos homens de negé- cios, em um toral de 65 membros.” No que diz respeito 3 Juta pela indepen- déncia, também apoiaram o rompimento. Fernando Carneiro Leo, coronel do 1° Regimento de Infantaria, comandou a fora contra as tropas de Avilez.?! A oferta de “servigos” também era real. A participacio dos Negociantes— diretamente ou através de pessoas a eles ligadas — na administragao do Primeiro Reinado foi fundamental para consolidar seus interesses. Joaquim José de Faro e Francisco Fernandes Bar- bosa foram deputados na Junta Proviséria de 1821; Carneiro de Campos, Nogueira da Gama, Carvalho de Mello, Caldeira Brandt, Pereira da Fonseca so integrantes de varios ministérios do Primeiro Reinado. Além disto, Pedro de Aratijo Lima, futuro Marqués de Olinda, também integrou ministério de D. Pedro ¢ foi, mais tarde, presidente da Sociedade Promotora da Colonisagaa,? © Paulo Roberto de Almeida, “A diplomacia financeira do Brasil no Império”, Hisvéria econd- mica & historia de empresas, Sto Paulo, HUCITEC/ABPHE, 1998, v. 1, p. 11 ® Liicia Maria Bastos Pereira das Neves, Coreundas, Constitucionais ¢ Pésde-Chumbo: a cultura politica da independéncia (1820-1822), Tese de Doutorado, Universidade de Sao Paulo, 1992, Ex. mim,, p. 58. + Associagiio Comercial do Rio de Janeiro, Os Assinantes da Praca, 1834-1984, op. cit., p. 18. # Marco Morel, La formation de Vespace public maderne & Rio de Janeiro (1820-1840), Tese de Doutorado em Hist6ria, Université de Paris I, 1995, Ex. mim., 1.2 ~ “Explosion et Consolidation (1851-1840)". Théo Lobarinhas Pittero Dossié que tinha, como todas suas congéneres, fins lucrativos,’* podendo entio ser visto como um homem que vivia também da aplicagdo de recursos em insti- cuigdes mercantis. Apesar de seu prestigio ¢ influéncia, nao conseguiram impedir os acor dos que determinavam o fim do trifico* e o aumento das despesas priblicas, que forgavam cada vez mais as necessidades do Eririo. Na Constituinte, os Negociantes nfo estavam fortemente representa- dos, embora alguns deles Id estivessem, por exemplo, Carneiro de Campos. Desde 0 inicio, a disputa em torno dos diferentes projetos de poder no Im- pério dominou os trabalhos. Uma das questdes envolvia também os Negociantes. O deputado vares, padre pernambucano, que havia participado do movimento de 1817, propés projeto que permitia a expulsio de portugueses que tives- sem uma “conduta suspeita”. Sintomaticamente, a principal reacdo foi a de Carneiro de Campos. Quando o projeto de Constituigao, de autoria de Antonio Carlos de Andrada, foi lido, assustou os donos do dinheiro, principalmente ao prever, como base da organizagio do Império, a Comarca ¢ niio a Provincia, colacan- do 0 poder diretamente nas maos dos proprietarios regionais, bem como de- vido a excessiva “liberdade comercial” prevista no projeto, que Ihes retirava a protegao do Estado. Da mesma forma, niio gostaram do sistema eleitoral, nao por ser censitério, mas porque privilegiava os proprietérios de terra, pra- ticamente proibindo-lhes 0 acesso aos principais cargos eletivos. Além disto, proibia que os portugueses de origem, mesmo que naturalizados, ocupassem cargos cletivos ou piblicos por doze anos de domicilio no pafs ¢ n&o fossem casados com brasilciras natas. A discussio do projeto dividiu a Assembléia em campos opostos defi- nitivamente. O esvaziamento do poder do imperador ¢ a afirmagao dos pro- ® Sobre o carster lucrative das sociedades de colonizagdo, enquanto uma associagio econdm a, ver Marco Morel, Sociabilidacdes entre luses e sombras: apontamentos para o estudo histérico das mazonarias da primeira metade do século XIX, Rio de Janeiro, 2002, Ex. mim. * Note-se que as negociagdes a respeito do fim do comércio de escravos esto na base da ‘campanha movida pelos Negociantes contra José Bonifacio, que parece estar muito relacio- nada A sua queda. Ver Théo Lobarinhas Pifieiro, Os Simples Comissdries... op. cit., especial- mente Capitulo 2. ® Pedro Octavio Carneiro da Cunha. “A fundagho de um império liberal: discussao de princi pios”, op. cit., p. 24 78 Negociantes, independéncia e 0 primeiro banco do Brasil prictarios rurais causaram forte reagZo dos Negociantes, de ocupantes de cargos ¢ do proprio monarca. Paralelamente, a restaurago se processava em Portugal ¢ emissarios eram enviados ao Brasil para entendimentos, visandoa reunificagao. Foi neste clima que a crise politica se instalou. Em seu lugar, chegaram as tropas enviadas pelo monarea. A Constituinte foi dissolvida.O imperador nomcou um Conselho de Estado para redigir a nova Constitui- do. Composto pelos Marqueses de Baependy, Caravelas, Inhambupe, Maric4, Nazaré, Queluz, Santo Amaro ¢ Sabaré, além do Visconde de Cachoeira.* ‘Também agora, assim como ocorrera com os Andrada, parecia que 0s Negociantes dominariam 0 Império. Mas a questiio dos tratados firmados com a Inglaterra mostraria 0 quanto isto no passava de uma ilusio. As negociagdes com a Inglaterra e com Portugal foram demoradas Explorando 0 fato da aproximacio da data de expiragao dos tratados de 1819, © Brasil centava explorar o interesse inglés em renova-los. O imperador pas- sou a exigir que o problema fosse solucionado rapidamente, porém nao po- dia sustentar sua posigao €, em 29 de agosto de 1825, accitou 0 acordo com Portugal, firmando Inatado de Pax e Amizade © uma Convengao entre Portugal e 0 Brasil, em condigdes desvantaiosas. Além de fazer parecer a separacio uma concessio do rei portugués, que ainda ficava com 0 titulo honorario de Im- perador do Brasil, garantiam-se os bens dos cidadaos portugueses, inclusive com a devolugao dos jé seqiiestrados. Portugal ainda recebeu uma indeniza- gio de dois milhdes de libras esterlinas, pagas com a transferéncia de uma divida existente coma Inglaterra, ¢ o Brasil renunciavaa anexar qualquer outra possessio lusitan: Apés a assinatura dos acordos com Portugal, continuaram as negocia- cOes com a Inglaterra, sendo a questo do comércio negreiro grande ponto ® José Honério Rodrigues, A Assembléia Consrituinte de 1823, Petropolis, Vozes, 1974; Pedro Octiivio Carneiro da Cunha. “A fundacio de um império liberak: discussio de principios”. op. cit; Liicia Maria Bastos Pereira das Neves ¢ Humberto Machado. U Imperio do Brasil, op. cit. ® Valentim F. Bougas. Histérie da Divida Externay 2 ed.s Rio de Janeiro, Edigdes Financeiras, 1950; Mario Maestri, Uma histéria do Brasil: Inpério, Sto Paulo, Contexto, 1997; Olga Pantaleao, A Presenga Inglesa, Sérgio Buarque de Holanda, Histéria Geral da Civitisacae Brasileira, op. cit pp. 64-99; Pedro Moacyr Campos e Olga Pantaleao, O Reconhecimenso do Império, Sérgio Buat- que de Holanda, Histéria Geral da Civitisagio Brasileira, op. cit., pp. 331-378; Laicia Maria Bastos Pereira das Neves e Humberto Machado, 0 Império do Brasil, op. cit. ® Laicia Maria Bastos Pereira das Neves ¢ Humberto Machado, O Império do Brasil, op. cit. Manoel Mauricio de Albuquerque, Pequena Histéria da Formacd Social Brasiteira, op. cit Mario Maestri, Uma histéria do Brasil: Império, op. cit. 79 Théo Lobarinkas Pitero Dossié de divergéncia. A pressao brivdnica para renovar os tratados de 1810 e sobre a questo do comércio de escravos nao diminuiu, ao contrario, aumentou. Ao mesmo tempo, a chegada da noticia da morte de D. Jodo VI recolocava a querela da sucesso portuguesa. Agora, o monarca brasileiro tinha pressa em resolver os entendimentos com os ingleses. Em 23 de novembro de 1826, foi assinada uma convengio sobre o tré- fico, estabelecendo um prazo de trés anos para sua supressao, apés a ratifica~ Jo pelos dois paises. Em 27 de agosto de 1827, firmaram as partes um trata- do comercial, muito semelhante ao de 1810, com duragio de quinze ano: Assim, quando se abriu a primeira sesstio da Assembléia Geral do Bra- sil, o Imperador podia sentir a oposi¢ao que Ihe vinha da Camara dos Depu- tados, onde os proprictarios de terra © os escravos tinham ampla maioria, a divulgagiio dos acordos com a Inglaterra faria aumentar a oposicao e erodir a sua base politica, dela se afastando os Negociantes, scndo sustentado ape- nas pelos cortesios nos cargos piiblicos ¢ pela tropa Os Negociantes, descontentes com as concessées feitas a Portugal ea Inglaterra, comegaram a se afastar do monarca. Agora, com o fim do trifico, estavam profundamente feridos nos seus empreendimentos. A ratificagilo dos. acurdus ucubou por jogi-los na oposigao, mas, entHo, teriam que secundar os Proprictarios de Terras ¢ Escravos na politica brasileira. Mais tarde, na pri meira fase do periodo regencial, seriam completamente afastados do poder, a0 qual s6 retornariam, ainda assim em posigdo secundéria, com o Regresso. O Banco do Brasil: um grande negocio A criago, 0 funcionamento ¢ 0 fechamento do primeiro Banco do Bra- sil nos permitem apreender a agao dos Negociantes do Rio de Janeiro, em especial no que se relaciona a sua capacidade de enriquecimentoe de defen- der os seus interesses. Nao era nova, em Portugal, a idéia de se criar um banco ligado ao Es- tado, havendo, desde 0 século XVIII, uma proposta de Vandelli, italiano es- tabelecido em Portugal, que defendia a criagdo de um banco que receberia os depésitos piiblicos, dos diamantes, da Casa da Moeda ¢ adiantaria ao go- verno os rendimentos do Erério.“’ As vésperas do século XIX, o conde de Linhares escrevia: * Liicia Maria Bastos Pereira das Neves e Humberto Machado, 0 Império do Brasil, op. cits Mario Maestri, Uma historia do Brasil: Império, op. cit. * Afonso Arinos de Melo Franco, Histéria do Banco do Brasil, op. tp 13. 80 Negociantes, independéncia ¢ o primeira banco do Brasil Em quinto lugar, logo que 0 empréstimo estivesse cheio ou quase cheio e que 9s bilhetes de papel-moeda circulassem sem perda, estabelecer um banco publico, que empreste ao Estado trés ou quatro milhdes de cruzados, a juro moderado, para afiangar 0 erédito de suas operagiies (...). De fato, a sugestao apontava para o principal objetivo do Estado por- tugués na criagao de um Banco: financiar os gastos do préprio governo. No Brasil, 0 alco custo da administracao, da manutengao da Corte ¢ a insuficién- cia de moeda em circulagio & de seu controle, o que se liga, em parte, a0 entesouramento ja mencionado ¢ também a propria estrutura da economia escravista, explicam as dificuldades do governo € elucidam os objetivos en- volvidos na criag3o da empresa, No dia 12 de outubro de 1808, € criado 0 Banco do Brasil. No Alvaré de criagio, a razio da existéncia de tal instituigao é clara, ao afirmar que o Real Erario G..) [no conseguia] realizar os fundos de que depende a manutengao da Monarquia (...) 0s bilhetes de direitos das Alfandegas, tendo certos prazos nos seus pagamentos, ainda que sejam de um crédito estabelecido, nao sao pré- prios para o pagamento de soldos, ordenados, juros ¢ pensdes que constituem 08 alimentos do corpo politico do Estado, os quais devem ser pagos nos seus vencimentos em moeda corrente (...).¥ Como s tos da administracio e da Corte foi a raziio fundamental para o surgimento da mais antiga instituigdo de crédito oficial do pats. O capital inicial seria de 1.200 contos, ido em 1.200 agdes ~ que tinham, como vantagem, a garantia da impenhorabilidade ~ ¢ a instituigao teria um prazo de funcionamento autorizado de 20 anos. Os quarenta maio- res acionistas, que formariam a Assembléia Geral, deveriam ser portugueses, embora nio fosse proibida a venda de agdes a estrangeiros. Era necessario Vé, financiaras atividades do governo e garantir os pagamen- " Rodrigo de Souza Coutinho, “Reflexdes Politicas sobre o meio de restabelecer 0 crédito piiblico © segurar recursos para as grandes despesas do Reino”; citado em Afonso Arinos de Melo Franco, Histéria do Banco do Brasil, op. cit., p. 13. © A este respeito, ver Candido José de Aratijo Viana (Marqués de Sapucai), Relatério sobre 0 melhoramento do meio circulante, Rio de Janeiro, Typographia Nacional, 1833. Sobre outras ca racteristicas do meio circulante, ver Théo Lobarinhas Pifeiro, Os Simples Gomissdrias.., op. 8 Aleard de 12 de Outubro de 1808, Cria um Banco Nacional nesta Capital, Ministério da Fazen- da, Legistapzo sobre Papel-Moeda, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1923, ar Théo Lobarinkas Piftero Dossié possuir, pelo menos, cinco agdes para participar da Assembléia Geral, estan- do limitado a quatro 0 ntimero de votos. Depois da Assembléia Geral, vinham 08 6rgios gestores do Banco, que seria dirigido por uma Diretoria, composta de 4 acionistas ¢ uma Junta de Deputados, constitufda por outros 10. Scus membros seriam renovados, pela metade, a cada ano, mas poderiam ser reeleitos. A primeira Dirctoria e a primeira Junta seriam nomeadas pelo re- gente ¢, posteriormente, passariam a ser eleitas pelos acionistas.* Os mesmos Estatutos fixavam as operagdes previstas para o Banco: desconto de efeitos comerciais, empréstimos, depésito a prazo de dinheiro € valores, aceite de letras (do governo € de particulares) ¢ cambio (comércio de moedas). Detinha ainda o monopélio da venda de diamantes, pau-brasil e marfim, bem como de realizar operagdes financeiras do governo. Além des- tas, a emissdo de bilhetes era outra operagao permitida e a grande raziio fi- nanceira para a existéncia da institui Segundo 0 ato que o criou, o Banco sé entraria em funcionamento quando houvesse capitalizado, no minimo, 100 contos, ou seja, tivessem sido adquiridas, pelo menos, 100 agdes, o que significava, de fato, menos de 10% do capital inicial estabelecido. A quantia era grande e nao foi facilmente conseguida. Para alcang4-la, foi preciso exercer pressao sobre 0s donos do dinheiro. Em jancito de 1809, 0 principe regente escreveu aos capitées-ge- rais para que chamassem os comerciantes ¢, mostrando-lhes as vantagens de participar do empreendimento, instassem que (..) por todos os modos que dita a prudéncia e a raz%o, que cada um dos indi- viduos empregados no comércio dessa capitania haja de entrar para o referido Banco com 0 ntimero de ages que as suas forgas ¢ o desejo de promover os seus interesses Ihe permitir> Mesmo assim, os Negociantes no demonstraram grande interes pelo Banco e, embora atendessem ao pedido com pequenas quantias, prefe- riam colocar seus recursos nos scus proprios negécios. Somente ao findar 0 ano € que se conseguiu quantia suficiente para integralizar o capital necess4- rio a fim de que o Banco do Brasil comegasse a funcionar, 0 que ocorreu em * Estaruros para o Banco Piiblico estabelecido em virtude do Aloaré de 12 de outubro de 1808, Mix nistério da Pazenda, Legislagdo sobre Papel-Moeda, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1923. Omer Mont'Alegre, Capital e Capitalismo no Brasil, Rio de Janciro, Expressio Culeur 1972, p. 40. 8&2 Negociantes, independéncia e 0 primeira banco do Brasil 11 de dezembro de 1809, mais de um ano depois do Alvara que o criou € dos Estatutos que estabeleceram sua estrutura. Sua primeira diretoria era composta por Joao Rodrigues Pereira de Almeida, José Marcelino Gongalves, Manoel Caetano Pinto ¢ Jotio Morgan. Da Junta de Deputados, participavam: José Pereira Guimaraes, Fernando Carneiro Leao, Antonio Gomes Barroso, Antonio da Cunha, Domingos Antunes Guimaraes, Luiz de Sousa Dias, Antonio da Silva Lisboa, Joaquim Antonio Alves, Inacio Bento de Azevedo ¢ Bernardo Lourengo Viana. Joao Rodrigues Pereira de Almeida, Manoel Caetano Pinto, Fernando Carneiro Leao, Antonio Gomes Barroso ¢ Luiz de Souza Dias eram importantes Ne- gociantes no Rio de Janciro.” Como até meados de 1812, apenas 126 agdes haviam sido vendidas, o governo resolveu adotar outras medidas, constatando a necessidade, para atrair acionistas, de aumentar as expectativas de lucro da instituigio. Assim, foi decidido que agdes o Banco passaria a receber, durante dez anos, ¢ impostos que somariam 100 contos anuais, devendo tal quantia ser transformada em ages pertencentes & Coroa, que nao receberiam dividendos durante cinco anos. revertidos aos acionistas particulares, além da emissio, pelo governo, de letras com 6% a0 ano, sobre adiantamento das receitas das capitanias, que teriam pagamento preferencial a quaisquer outras, tendo 0 Banco um juiz privativo, que atuaria nas causas em que a instituigio fosse parte, para apre- ciar os seus interesses e 0s dos acionistas.** Com tantas vantagens recebidas, os Negociantes comegaram a se in- teressar pelas agdes do Banco. O maior afluxo de capitais particulares, a par- tir deste momento, demonstra que tais homens de negocios n’io apenas prefe- % Afonso Arinos de Melo Franco, Histéria do Banco do Brasil, op. cit., p. 35. ® Jot Lufs Ribeiro Fragoso, Homens de Grossa Aventura: acumulagao e Merarquia na Praca do Rin de Janeiro (1790-1230), Rig de Jancinn, Arquivo Nacional, 1992, pp. 198, 201, 261 e 263. Ver também Riva Gorenstein. “Comércio ¢ Politica: © enraizamento de interesses mercantis porcugueses no Rio de Janeiro (1808-1830)", Lenira Menezes Martinho e Riva Gorenstein, Negociantes ¢ Caixciros na Sociedade da Independencia, Rio de Jancito, Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes, Departamento Geral de Documentagio e Informacao, Div de Editoragio, 1993, pp.1 pp. 147 e segs. ™ Vietor Viana, O Banco do Brasil. Sua formagao, seu desenvolvimento e sua missao nacional, Rio de Janeiro, Typ. do Jornal do Commercio, 1926, pp. 84 ¢ segs. Ver também Afonso Arinos de Melo Franco, Histéria do Banco do Brasil, op. cit. Nesta obra, hé uma descrigao pormenoriz: da dos impostos eriados © uma anélise das vantagens auferidas pelos acionistas do Banco do Brasil Théo Lobarinkas Pittero Dossié tiam, em principio, apostar em seus préprios empreendimentos, como po- diam influir diretamente na diregio econdmica que estava sendo dada ao feino, estabelecendo condigdes para sua participagao nos projetos do gover- no e, como no caso, vendendo caro a sua adestio. Quando da liquidagao do Banco do Brasil, os lucros realizados pelos acionistas foram enormes, apesar da precaria situagao da instituigao. Assim, podemos observar que, a partir do ingresso dos capitais dos Negociantes, o Banco passou a ter outra fungao, secundaria, e nao antecipa- da. Além de financiar os gastos do governo, foi étimo investimento para gran- des capitais privados. Em 1821, 22,379% dos mesmos eram formados por dinheiro advindo dos impostos. De igual forma, o nivel de emissao deixa clara a principal fun- sto do Banco, ou seja, a de financiar os gastos ptiblicos, 0 que esté na raiz dos problemas que ira sempre apresentar. Outro ponto importante a se conside- tar € a distribuigao de dividendos, que nao cessou de crescer, cumprindo o prometido pelo governo, em 1812, garantindo altos lucros para os acionistas, apesar do crescente endividamento, como se vé pelo aumento dos valores de seus bilhetes em circulacao. Em 1816, as necessidades do governoo levaram a tentar ampliar a atua- 40 do Banco do Brasil, mandando abrir caixas filiais nas principais cidades. Apesar de planejadas para diversas pragas, cfetivamente sé funcionaram ade Salvador (1818) ¢ a de Sao Paulo (1820).° Com tal criag&o e dando curso for- gado as notas dos bancos nas demiais regides, passou-se a remeter os metais das mesmas para o Rio de Janeiro. Provavelmente, af reside a resisténcia & implantagao das agéncias 0 alcance limitado da iniciativa governamental. A liquidagao do primeiro Banco do Brasil se insere na crise econdmica vivida no pais, ao mesmo tempo em que a agrava. Deve ser entendida nao apenas como uma crise comercial, mas também como fruto da instabilida- de politien do periodo, o que acarretava a elevagio dos gastos militares do governo, ¢ da crise monetiria.” Se a criagdio do Banco do Brasil teve, como primeiro objetivo, criar um instrumento de sustentagio para as despesas do Estado, a politica monetaria © a atuagao do Banco sdo elementos que se confundem. Da satide financeira " Bernardo de Souza Franco, Os Bancos do Brasil, Rio de Janeiro, ‘Typographia Nacional, 1848, p. 12. ©Th 9 Lobarinhas Pificiro, Os Simples Comissiérios.... op. ci ot Negociantes, independéncia e 0 primeiro banco do Brasil da instituigao dependia o bom desempenho do ‘Tesouro, que foi sempre 0 seu maior devedor. Durante a maior parte da década de 1810, as finangas ptiblicas demons- traram algum equilibrio, embora com problemas de endividamento do Te souro com 0 Banco do Brasil. O ano de 1818 pode ser visto como um marco inicial do declinio da normalidade financeira, que iria levar praticamente ao ahandono da moeda metélica,!! apesar de todas as medidas jd mencionadas para garantir recursos a instituigao, 0 que vale dizer ao Tesouro. Em 1818, diante do problema colocado pela falta de moedas metilicas no Rio de Janeiro, o que gerava incerteza sobre a capacidade de o Banco do Brasil honrar seus bilhetes, ainda mais que, para um capital de 1,719 contos de réis, havia em circulagao de notas no valor de 3.632 contos de réis,"* 0 go- yerno joanino criou, m4 de julho de 1818, uma caixa especial no Banco, com 0 objetivo de adquirir ouro e prata, Além disto, para facilitar a recuperagio das reservas, revogou-se a proi- bigdo do transporte de ouro em pé para fora da Capitania de Minas Gerais, desde que dirigido ao Banco, além de serem criadas Caixas Filiais do Banco naquela Capitania, objetivando acelerar a compra de ouro, Para completar, foi proibida a exportago de moeda metalica do Rio de Janeiro, devendo as remessas, para honrar compromissos, ser fetuadas com letras do Banco do Brasil. Os anos de 1819 e 1820 nao foram de todo melhores, seja para o Te- souro Real, seja para o Banco do Brasil, embora este, com os recursos dos impostos criados em 1812, tivesse conseguido aumentar o scu capital, que atingiu 0 total de 2.069 contos de réis, como observou Sousa Franco. Em 1821 —ano fundamental para o processo de independéncia do Brasil —o Banco passou a ser praticamente uma repartigao do Erario Real. Diante dos temores a respeito da instituigao, foi constituida uma Comissio para ve- rificar a real situagdo do Banco, composta por Joio Rodrigues Pereira de Al- meida, depois bario de Ub, representante da Fazenda Real junto & Direto- ria do Banco € um dos maiores Negociantes da cidade; Joao Pereira da Costa eS. Paio, funciondrio da Fazenda Real; Joaquim José Pereira de Faro; Francis Horace Say, Histoire des relations commerciales entre la France et le Brésil, Patis, 1839, p. 93. * Amaro Cavalcanti, 0 Meio Circulante Nacional, Rio de Janeito, Imprensa Nacional, 1893, 2 vols., vol. I, p. 34 * Afonso Arinos de Melo Franco, Histéria do Banco do Brasil, Vol 1, op. cit. pp. 71-74, 8 Théo Lobarinkas Pitero Dossié co José da Rocha ¢ José Antonio Lisboa, todos Negociantes ¢ acionistas do Banco. Dos trabalhos desta Comissao resultaram dois importantes documen- tos. José Antonio Lisboa informa que a situagao do Banco se devia a atuacdo de seus dirigentes até a data de 23 de marco, seja por erro, seja por prevarica- $40, sem contudo nomear os responsaveis.** Por seu lado, S. Paio escreveu uma nota, que foi inserida no orgamento do ano de 1821, na qual reconhece que “(...) 0 erédito do Banco de dia em dia vai desgragadamente diminuin- do”, bem como o grande peso que os empréstimos feitos ao governo ajuda- vam @ arrasar a situagio da institui¢go, 0 que aprofunda em outro documen- to, respondendo as provocagdes de Lisboa." Quanto aos diretores que ha- viam lesado o Banco, a partir de informacdes de Melo Morais, Franco diz tra~ tarse de Luiz de Sousa Dias, Fernando Carneiro Leao, Joaquim José de Sequeira ¢ Amaro Velho da Silva, nomes destacados na Praga ou na socieda- de do Rio de Janeiro. As demincias de S. Paio engrossaram intimeras outras ja havidas contra pessoas da administragao joanina: nada foi feito. Tabela 4.5 Demonstrativo da situagao do Banco do Brasil em 23 de mango de 1821 Gréditos do Banco Contos de Reis Empréstimos, ete, 3.304 Moeda metilica nos cofres do Banco 1.315 Total 4.618 Dividas do Banco | Notas em circulagao | 8.872 Depésitos para operagdes cambiais | 662 | Depésitos a prazo | 245, | | Bilhetes de Montevidéu a serem pagos 230 | | Dividendos nao pagos e outras dividas 142 Depésitos do piiblico 482 Total = _ 10.634 Saldo desfavorével ao Banco | 6.016 | Fonte: Carlos M. PELAEZ ¢ Wilson SUZIGAN. Histéria Monetdiria da Brasil: andlise politica, comportamento e instituigdes monetdrias. Rio de Janciro, IPEA/INPES, 1976,p. 45 * Idem, p. 84, * José Antonio Lisboa, Reflextes sobre 0 Banco do Brasil oferecidas aos seus acionistas, Rio de Janciro, Typographia Nacional, 1821. * Joao Ferreira da Costa 8. Paio, Garza dirigida aos acionistas do Banco do Brasil, em conseqiténcia de certas reflexes sobre a mesmo, Rio dle Janeiro, 1821. 86 Negociantes, independéncia e 0 primeira banco do Brasil A tabela acima permite compreender a situagao dos empréstimos do Banco. Pode-se constatar a existéncia de um passivo superior a 6 mil contos de réis — 1.315 contos em moedas € 8.872 contos de notas em circulagio — a0 que se junta o fato de seu capital ser de apenas 2.235:000$000." Tudo isto leva a verificacio das dificuldades existentes. Entretanto, ainda assim, 0 Balanco apresentado informava a existéncia de um lucro, até aquela data, de 51:232$000. Tal resultado demonstra, de forma clara, a existéncia do lucro ficticio, anecessidade de distribuigdo de dividendos ¢ a forga dos deventores de capi- tal, atrafdos pelos diversos mecanismos para as vendas das agdes. No dia da divulgagao do balango ~ 23 de margo — quando jé se acredita que resolvera retornar a Lisboa, 0 monarca transformou @ divida do Erario com o Banco em divida nacional, passando 0 Estado a responsabilizar-se pela mesma, além de determinar o depésito, na instituigao, de todos os diaman- tes existentes no Brasil. Ao mesmo tempo, ficou decidido que se negociaria um empréstimo, a ser garantido pelas rendas da alfandega do Rio de Janeiro, com limite de 6 milhdes de cruzados, a fim de ser paga a divida do governo com o Banco do Brasil.** Apesar de todas as medidas, que até fizeram diminuil a pressdo sobre as notas em circulagao, a situagio do Banco nfo se alterou muito, o que se liga as dificuldades de 0 préprio governo pagar as suas dividas junto 4 insti- tuigdo , principalmente, as garantias dadas aos acionistas quanto aos divi- dendos, o que pressionava, através de lucros ficticios, os cofres da empresa. Além disto, a dupla e contradit6ria fungao que o Banco exercia — de um lado, deveria ser o regulador da circulagio monetéria ¢, de outro, fornecer recursos para as despesas do governo — implicava cm nao haver metal, diamantes ou impostos que pudessem garantir a sua liquidez. Aprofundando a crise ¢ a desvalorizagio de seus bilhetes, no dia 25 de abril daquele ano, a Corte Portuguesa retornava a Lisboa, nfo sem antes tro- car, nos cofres do Banco, todas as suas letras por metais. A quantia rctirada foi tio clevada e provocou tio forte impacto sobre as finangas~ tanto do Ban- co, quanto do governo — que, nas préprias palavras de Pedro I, em 1823: 7 Amaro Cavalcanti, 0 Meio Circulante Nacional, op. cits pp. 34-35. 4 © decreto estd transcrito por Amaro Cavalcanti, O Meio Circulante Nacional, op. cit., pp. 40- 41. Ver também Bernardo de Souza Franco, Os Bancas do Brasil, Rio de Jancito, Typographia Nacional, 1848, pp. 11 ¢ segs.; Afonso Arinos de Melo Franco, Hisiéria do Banco do Brasil, op. cit, p. 89. 7 Théo Lobarinkas Pittero Dossié Consegui (¢ com que gléria 0 digo) que 0 Banco, que tinha chegado ao ponto de ter quase perdido a fé publica e ter por momentos a fazer a bancarrota, en do ficado no dia em que o Senhor D. Joao VI saiu & barra com duxentos contos em moeda, nica quantia para troco de suas notas (...)” [zrifos meus). ‘Também 0 Tesouro se apresentava em péssimas condigées. Para fazer frente as despesas, D. Pedro utilizou os mesmos instrumentos que seu pai, ou seja, langou mao dos ja reduzidissimos recursos do Banco do Brasil, ex- plorando 0 velho mecanismo das emissées, Assim, aprofundou-se a crise da troca dos bilhetes, levando o presidente da Junta Diretora do Banco a apro- var uma tabela para a troca das notas emitidas e fixando o ntimero de pessoas que seriam atendidas diariamente. Como exemplo, ao apresentar uma nota de 1:000$000, 0 portador levava do Banco 800$000 em notas, 150$000 em prata © 50$000 em cobre. Se quisesse trocar uma nora de 100$000, sairia com 74$000 em notas, levando em prata 15$000 e em cobre 11$000, Se a nota apresenta- da fosse de 12$000 — ou menor - todo 0 troco seria feito em cobre.” Apesar do que diziam os estatutos da instituigao e a legislaciio, a medi- da de limitar o troco das notas bancérias inaugurou um novo regime moneté- rio, que agora tinha por base um papel-moeda inconverstvel. As guerras de independéncia, a montagem de um novo aparelho de governo ea instabilidade politica do periodo em nada ajudaram a melhorar a situacdo financeira do Banco ou do Tesouro. Ao contrario, vamos assistir a um aprofundamento da crise, que sé sera, por vezes, minorada através dos em- préstimos, ora internos, ora externos. Analisando a situacao critica da instituigdo, seria interessante indagar- se como nao fechou antes. Entender a manutengao do Banco no pode ser explicado somente pela entrada de recursos oriundos de feitos pelo governo imperial, uma vez que s6 uma parte foi utilizada para pagar a divida cxisten- te com 0 governo, sendo que, em 1825, 0 total devido ja era de 8.207:028$799 = jf amortizados, com recursos do “empréstimo da independéncia”, 2.644:633$452 de principal € juros — tendo ainda o governo assumido cerca de 16.000 contos por ocasio da liquidagiio do Banco." © Falas do Trano desde a ano de 1823 att ano de 1889, Rio de Jancio, Imprensa Nacional, 1889. * Visconde do Rio Seco, Exposizae analitca ¢justificarioa da conduta e vida puiblica, Rio de Jax neito, 1821 # O crescimento da divida do governo com 0 Banco, bem como os mecanismos de amortiza- Gio © novo endividamento esto bem demonstrados em Afonso Arinos de Melo Franco, His- 1éria do Banco do Brasil, op. ci., capteulos V, Vie VII. 88 Negociantes, independéncia e 0 primeira banco do Brasit Anecessidade do governo, no inicio do Império, em poder langar mao dos recursos ~ ainda que escassos — do Banco para fazer frente a seus com- promissos € a principal razio da continuidade, ao lado do lucrativo negécio que 0s acionistas fizeram e continuaram fazendo com 0 movimento da em- presa. Quanto ao governo, o seu nivel de endividamento ¢ a maneira como forgava as emissdes do Banco demonstram a impossibilidade de, de imedia- to, abrir mao daquele meio de financiamento. Em relagao aos acionistas, 0 balango de 23 de margo de 1821, apesar de um saldo desfavorivel de 6 con- tos de réis, apresentava um luero, até aquela data, de 51:232$000. Naquele mesmo ano, o Banco distribuiu dividendos de 353 contos de réis, ou seja, cerca de 15% do capital. Por outro lado, entendo que a decisao de terminar, no final da década, com a instituigao foi o primeiro passo nas tentativas de sancamento das fi- nangas ptiblicas do Império e, ao mesmo tempo, reflete a disputa politica no seio do Estado, nao sendo por acaso que a lideranga na proposta de extingao fosse exercida pelo grande repr Cavalcanti, enquanto os acionistas do Banco, em sua maioria grandes Nego- ciantes, desejavam manté-lo em funcionamento. Os eventos se sucederam rapidamente. Em 1826, formou-s misstio composta por dois senadores € dois deputados, por proposta do entZo deputado Campos Vergueiro, para estudar a situagao do Banco do Brasil. No ano seguinte, a partir do relatério dos parlamentares, foi claborada uma pro- posta para consolidagdo da divida do governo com o Banco e indicada a ne- cessidade de uma reforma na instituigdo. Ao mesmo tempo, devido ao pro- blema da grande circulagio de moedas de cobre ~ falsas ou ndio — determi nou-se a troca das mesmas, na Provincia da Bahia, por notas do Tesouro, ver- dadeiro papel-moeds Ao iniciar-se 0 ano de 1829, 0 grande debate era entre a reforma ca liquidagdo do Banco. Na proposta apresentada pelo Ministério da Fazenda, uma comisstio seria nomeada para administrar a institui¢do, composta por quatro representantes do governo e trés indicados pelos acionistas, devendo comegara retirar imediatamente as notas de circulagdo, além de trocar as que continuassem a circular e examinar a situagao das caixas filiais de $. Paulo ¢ Bahia. Os recursos necessérios para garantir as operagdes seriam consegui- sentante dos proprictirios rurais, Holanda © uma co- % Amaro Cavalcanti, O Meia Girculante Nacional, op. cit, p. 34 39 Théo Lobarinhas Pittero Dossié dos através de empréstimos no exterior, para o que, desde logo, a Assembléia Geral do Brasil estaria autorizando o governo a contrair. A proposta de refor- ma apresentada nao agradou nem aos Negociantes ¢ aos acionistas do Banco, que sobre cle perderiam o controle, nem aos Proprictarios de ‘Terra € aos Escravos, hé muito em briga com o imperador. O substitutivo apresentado na Camara, encabegado por Holanda Cavalcanti, previa o fim do estabeleci- mento, a transformacio de sua divida em responsabilidade do Erario pribli- co. Ao mesmo tempo, 0s acionistas teriam garantido 0 seu direito de receber 0 valor de suas ages. Uma comissdo dos acionistas e de representantes do governo ficaria encarregada da liquidagio.> Com 0 fechamento do Banco — em 11 de dezembro de 1829, quando encerrava 0 prazo de 20 anos previstos no alvaré de criag%o — 0 governo assu- mia 0 pagamento dos bilhetes ainda em circulagio, que seriam trocados por notas do Tesouro. Além disto, foi formada uma Comissao, eleita pelos acio- nistas e mais um representante indicado pelo governo, para acompanhar a liquidagao, que durou anos. Somente em 1835, efetivamente cla se encer- rou, sem nenhum prejufzo para os acionistas. Ao contrério, receberam o seu capital, através do pagamento, pelo gnverno, de 80% do valor nominal de cada agio, em notas do Tesouro. ” 0 Banco devia ao governo, por sentenga judicial, pois o ministério abriu mao da divida.* Somando-se aos 12,3% ao ano, em média, de dividendos que haviam recebido durante o funcionamento do Banco, foi um excelente ne- gécio. ambém nio precisaram pagar os 420 contos que Conclusao Se 0 poder que acharam ter conseguido no Primeiro Reinado niio pa sou, de certa forma, de uma ilusao, uma vez que niio conseguiram impedir a assinatura de tratados que contrariavam os seus interesses, passando para a oposigao, em posigo secundaria em relagio aos Proprietarios de Terras Escravos, que iriam, a partir de 1831, afirmar, cada vez mais, a sua domina- $40, os Negociantes conseguiram, por outro lado, assegurar diversas vanta- gens conseguidas e tentar disputar, ao longo do Segundo Reinado, com os ® Afonso Arinos de Melo Franco, Histéria do Banco da Brasil, op. cit., pp. 191-193, * A marcha das negociagdes entre acionistas ¢ governo, com sua legislacao e atividades, esté muito bem deserita por Afonso Arinos de Melo Franco, Histiria do Banco do Brasil, op. cit. pp. 247 ¢ 8 Negociantes, independéncia ¢ 0 primeiro banco do Brasit proprietarios escravistas 0 poder no Estado Imperial, embora fossem, na maioria das vezes, derrotados nesta luta. Por outro lado, a sua trajetéria, especialmente a partir de 1808, nos aju- daa entender o seu papel politico ¢ a importancia deste grupo na construcio do Império, sendo o Estado, surgido neste processo, entendido como uma alianga especifica entre Proprietirios de Terras e Escravose Negocian- fes, embora necessirias sempre que sc considere, na anélise de sua estrucura ¢ dinamica, as clivagens regionais. Conseguiram, através de sua organizacao ~ Corpo do Commercio, Sociedade dos Assinantes da Praga e Associacao Comercial do Rio de Janeiro salvaguardar 0s seus interesses ¢ manter uma posigao privile- giada na economia do pai Souberam ainda tirar proveito de seus recursos para, especialmente no perfodo anterior & ruptura com Portugal ¢ durante o Primeiro Reinado, acu- mular cada vez mais riqueza, diversificando sempre as suas atividades, como a segunda meade do século XIX iria mostrar. Da mesma forma, sua ago € 0 uso sistemndtico de suas fortunas impli- caram na transformacdo em grandes negécios dos projetos de que participa- ram e, como vimos, mesmo a faléncia pode-se tornar em grande fonte de lucros Sua atuagdo se confundiu com a gestdo das finangas pdblicas, sendo beneficiados por grande transferéncia de recursos dos proprictarios rurais ~e mesmo do aparelho de Estado — em seu favor, Se terminaram como parceiros menores na alianga do Estado Impe- rial, souberam utilizé-la para enriquecer cada vez mais, ajudando a tornar 0 pais cada vez mais pobre. mt

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