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Tradição e futuro da

Agronomia?
Sociedade de Geografia de Lisboa
30 de Junho de 2010
Pedro Aguiar Pinto
ISA /UTL
ernardo de Claraval (1090
(1090--1153)
Reformador da Ordem de Cister
Fundador do Mosteiro de Alcobaça
que lhe foi doado por D. Afonso Henriques
(1153)
Sede portuguesa dos frades agrónomos

Há cinco estímulos que incitam o homem à Ciência:


Há homens que querem saber pelo simples gosto de saber:
É baixa curiosidade
Outros procuram conhecer para serem conhecidos:
É pura vaidade
Outros querem possuir a ciência para a poderem revender e ganhar
dinheiro e honrarias:
A motivação é mesquinha
Mas alguns desejam conhecer para edificar:
E isto é caridade
outros para serem edificados:
E isto é sabedoria
O sustento da Pátria
1910 – 1917 – 2010
O sustento da Pátria
Conhecer para edificar
Agronomia e Agricultura
Agricultura Agronomia
As culturas que se praticam e A produção de materiais
o modo como são orgânicos nos campos
cultivadas são decisões agrícolas depende das
humanas, dependendo capacidades fisiológicas
também da utilidade dos das plantas e animais e do
produtos, custos de ambiente em que crescem.
produção e risco envolvido Estas matérias são sujeito
Objectivo principal: de análises ecológicas,
produção de alimentos e baseadas em princípios
fibra biológicos, químicos e
físicos.
Como nasce uma Ciência

Conhecimento sistematizado movido


por três linhas de força principais
• 1802 Inglaterra • 1802 Alemanha
• 1813 Humphry-
Humphry-Davy
– Debulhadora a vapor – Primeira Escola Superior de
– Elements of Agricultural Agronomia em Möglin
Chemistry • 1820 Inglaterra (Thaer)
• 1823 Elias Fries – Introdução do guano na • 1815 Hungria
– Systema mycologicum Europa
– Segunda Escola Superior de
• 1838 Carl Burmeister • 1826 Inglaterra Agricultura da Europa em
– Manual de Entomologia – Primeira gadanheira Georgikon (Samuel Tessedik)
mecânica • 1818 Alemanha
• 1840 Justus von Liebig
– Lei do mínimo • 1831--36
1831 – Hoenheim (Schwertz)
– Viagem do H.M.S. Beagle • 1820 França
• 1855 Alphonse de
Candolle • 1845 Inglaterra – Escola Agro-Florestal de
– Géographie botanique – Produção de superfosfato Roville(1822)
raisonnée • 1850 França – Escola Agro-Florestal de
Nancy (1824)
• 1859 Charles Darwin – Uso de enxofre contra o
oídio – Escola Agro-Florestal de
– The origin of species Grignon (1826)
(Economia da Natureza) • 1860 Estados Unidos
• 1866 Gregor Mendel – Mecanização em série do • 1843 John Bennet Lawes
– Experiências de hibridação matadouro de Chicago – Rothamstead
em plantas • 1865 França, Portugal, • 1853 Portugal
• 1866 Ernst Haeckel Espanha, Itália
– Instituto Agrícola de Lisboa
– General Morphology – Invasão da filoxera • Cursos para abegões,
(oecologia) • 1870 Estados Unidos lavradores e agrónomos
• 1886 Vasili Dokouchaev – Ceifeira-atadeira • 1862 Estados Unidos
– Classificação de solos mecânica – Land-grant Universities
• 1888 Martinus Willem • 1879 Inglaterra e França • 1871 Itália
Beijerink – Fosfato Thomas – Enciclopedia Agraria Italiana
– Rhizobium • 1890 França (Gaetano Cantoni)
– Primeiros herbicidas • 1911 Portugal
– Instituto Superior de
Agronomia
• 1802 Inglaterra • 1802 Alemanha
• 1813 Humphry-
Humphry-Davy
– Debulhadora a vapor – Primeira Escola Superior de
– Elements of Agricultural Agronomia em Möglin
Chemistry • 1820 Inglaterra (Thaer)
• 1823 Elias Fries – Introdução do guano na • 1815 Hungria
– Systema mycologicum Europa
– Segunda Escola Superior de
• 1838 Carl Burmeister • 1826 Inglaterra Agricultura da Europa em
– Manual de Entomologia – Primeira gadanheira Georgikon (Samuel Tessedik)
mecânica • 1818 Alemanha
• 1840 Justus von Liebig
– Lei do mínimo • 1831--36
1831 – Hoenheim (Schwertz)
– Viagem do H.M.S. Beagle • 1820 França
• 1855 Alphonse de
Candolle • 1845 Inglaterra – Escola Agro-Florestal de
– Géographie botanique – Produção de superfosfato Roville(1822)
raisonnée • 1850 França – Escola Agro-Florestal de
Nancy (1824)
• 1859 Charles Darwin – Uso de enxofre contra o
oídio – Escola Agro-Florestal de
– The origin of species Grignon (1826)
(Economia da Natureza) • 1860 Estados Unidos
• 1866 Gregor Mendel – Mecanização em série do • 1843 John Bennet Lawes
– Experiências de hibridação matadouro de Chicago – Rothamstead
em plantas • 1865 França, Portugal, • 1853 Portugal
• 1866 Ernst Haeckel Espanha, Itália
– Instituto Agrícola de Lisboa
– General Morphology – Invasão da filoxera • Cursos para abegões,
(oecologia) • 1870 Estados Unidos lavradores e agrónomos
• 1886 Vasili Dokouchaev – Ceifeira-atadeira • 1862 Estados Unidos
– Classificação de solos mecânica – Land-grant Universities
• 1888 Martinus Willem • 1879 Inglaterra e França • 1871 Itália
Beijerink – Fosfato Thomas – Enciclopedia Agraria Italiana
– Rhizobium • 1890 França (Gaetano Cantoni)
– Primeiros herbicidas • 1911 Portugal
– Instituto Superior de
Agronomia
• 1802 Inglaterra • 1802 Alemanha
• 1813 Humphry-
Humphry-Davy
– Debulhadora a vapor – Primeira Escola Superior de
– Elements of Agricultural Agronomia em Möglin
Chemistry • 1820 Inglaterra (Thaer)
• 1823 Elias Fries – Introdução do guano na • 1815 Hungria
– Systema mycologicum Europa
– Segunda Escola Superior de
• 1838 Carl Burmeister • 1826 Inglaterra Agricultura da Europa em
– Manual de Entomologia – Primeira gadanheira Georgikon (Samuel Tessedik)
mecânica • 1818 Alemanha
• 1840 Justus von Liebig
– Lei do mínimo • 1831--36
1831 – Hoenheim (Schwertz)
– Viagem do H.M.S. Beagle • 1820 França
• 1855 Alphonse de
Candolle • 1845 Inglaterra – Escola Agro-Florestal de
– Géographie botanique – Produção de superfosfato Roville(1822)
raisonnée • 1850 França – Escola Agro-Florestal de
Nancy (1824)
• 1859 Charles Darwin – Uso de enxofre contra o
oídio – Escola Agro-Florestal de
– The origin of species Grignon (1826)
(Economia da Natureza) • 1860 Estados Unidos
• 1866 Gregor Mendel – Mecanização em série do • 1843 John Bennet Lawes
– Experiências de hibridação matadouro de Chicago – Rothamstead
em plantas • 1865 França, Portugal, • 1853 Portugal
• 1866 Ernst Haeckel Espanha, Itália
– Instituto Agrícola de Lisboa
– General Morphology – Invasão da filoxera • Cursos para abegões,
(oecologia) • 1870 Estados Unidos lavradores e agrónomos
• 1886 Vasili Dokouchaev – Ceifeira-atadeira • 1862 Estados Unidos
– Classificação de solos mecânica – Land-grant Universities
• 1888 Martinus Willem • 1879 Inglaterra e França • 1871 Itália
Beijerink – Fosfato Thomas – Enciclopedia Agraria Italiana
– Rhizobium • 1890 França (Gaetano Cantoni)
– Primeiros herbicidas • 1911 Portugal
– Instituto Superior de
Agronomia
Eficiência da Agricultura

No século passado, a Agricultura,


fundamentada na Agronomia
conseguiu um desempenho
impressionante...
População mundial
6,852,891,769
6000000
10:19 30 Jun2010

5000000

4000000

3000000

2000000
1920 1940 1960 1980 2000

FAOSTAT Agricultural data (1998) - http://apps.fao.org/page/collections?subset=agriculture


Uso do solo à escala global

Área
(Mha)
Terra arável 1375
Culturas permanentes 128 4936 38% Florestas
32%
Prados permanentes 3433 Prados permanentes
26%
Florestas 4157
Outros usos 3955
Total 13048
Águas interiores 339
Área total 13387 Culturas permanentes
1%
Terra arável
11%

A produção actual de trigo e arroz


Outros usos
(370Mha – 7,5% da área agrícola) 30%

têm energia e proteína suficientes


para 7 000 000 de pessoas

FAOSTAT Agricultural data (2000) - http://apps.fao.org/page/collections?subset=agriculture


FAOSTAT Agricultural data (1998) - http://apps.fao.org/page/collections?subset=agriculture

Área agrícola / Área total (%)

35%
40%
45%
50%

1960
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1995
Evolução da fracção de área agrícola

2000
FAOSTAT Agricultural data (1998) - http://apps.fao.org/page/collections?subset=agriculture Evolução da população agrícola

70%

60%

50%

y = -0,0038x + 8,0621
R2 = 0,999
40%

30%

20%

y = -0,0079x + 15,902
R2 = 0,9899
10%
y = -0,0039x + 7,9143
R2 = 0,9618

y = -0,0011x + 2,264
0%
R2 = 0,9425
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Desenho da paisagem
Evolução histórica da produtividade
Reino Unido, 99
8000
Evolução histórica da França, 99
7000 produtividade do arroz no
Japão e do trigo no Reino Japão, 99
6000 Unido.
Unido
Outras produtividades
Produção (t/ha)

5000
nacionais referentes a 1968
(Evans, 1975)
4000 Formosa

Actualização de alguns casos França


México
3000 a 1999 (FAO, 2000)
Ceilão Itália
Tailândia Indonésia Tailândia, 99
USA
2000 Índia
Filipinas URSS, 99
Canadá
1000 Arroz, Japão URSS
Paquistão Austrália
Índia
Trigo, Reino Unido
0
800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
Anos
Como é que a produtividade aumentou assim?

Outros factores negativos não identificados -23

Aparecimento de novas doenças e pragas -8

Acréscimo de mecanização da cultura 5 Mecânica

Alteração de sequências culturais (Intensificação) -7

Agravamento dos problemas de erosão -8

Melhoria do arranjo espacial das plantas


Fisiologia
8
Climatologia
Melhoria da determinação da data de sementeira 8

Aumento do controlo de doenças e paragas 21 Fitopatologia


Redução da aplicação de estrumes e matéria orgânica -28

Acréscimo de aplicação de fertilizantes comerciais Química 47

Introdução de cultivares melhoradas Genética e Melhoramento 58

-40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60


Lei de Liebig – factor limitante
Interface entre disciplinas

Física Química

Agronomia Sociologia
Biologia

Rota centrífuga?
Economia
Os grandes “progressos” contemporâneos...

A “Revolução Verde”

Irrigação de alto rendimento

Agroquímicos

Mecanização
… na produtividade física ...

 Trigo: duplicação da produtividade


nos últimos 25 anos

 Tomate: duplicação da
produtividade nos últimos 10 anos
… e no trabalho ...

Tempo necessário para lavrar 1 hectare,


por homem:

Enxada: 38 dias

Tracção animal: 2,5 dias

Tractor: 2 h
… estão também na origem
de novas e preocupantes
questões !
… e outros riscos
para a saúde pública

Êxodo Rural
Erosão
do solo

Resíduos de
pesticidas nos alimentos...
Erosão genética
Poluição dos aquíferos
Fluxo de energia num ecossistema natural
Conceito de ecossistema (Tansley, 1936)
Ecologia dos sistemas (Odum, 1953)
Radiação
solar
Ambiente aéreo

Metano
Reflexão

Produtos
vegetais

Plantas
Animais

Produtos
animais

Dejecções
Senescência

Solo
Fluxo de energia num ecossistema agrícola
Radiação
solar
Ambiente aéreo

Metano
Reflexão
Processamento Produtos
Combustível vegetais
Colheita

Máquinas Conservação

Cultura
Animais

Produtos
Pesticidas animais

Dejecções
Irrigação
Senescência, doenças e pragas

Solo Exportação
Fertilização

Subsídio de energia
Agricultura e ambiente
• Principais agentes de impacte ambiental
• Dimensão da actividade
• Trabalho do solo e pastoreio Solo

• Uso de fertilizantes Água

• Irrigação Ar

Recursos
• Uso de pesticidas
Agricultura e ambiente
• Principais agentes de impacte ambiental
• Dimensão da actividade
• Trabalho do solo e pastoreio
Trabalho do solo Solo

• Uso de fertilizantes
Fertilização Água

• Irrigação Irrigação Ar

Recursos
• Uso de pesticidas
Pesticidas
4 sub-
sub-sistemas de Agricultura

Sub-sistema
Sub- Sub-sistema
Sub-
biológico empresa

Sub-sistema
Sub-
Sub-sistema
Sub-
sócio--
sócio
trabalho
económico

Adaptado de Raeburn (1983)


4 sub-
sub-sistemas de Agricultura

• plantas • preços de produtos


• animais • preços de factores
• meio físico • plano de produção
• técnica cultural • risco e incerteza

• operações agrícolas • mercados agrícolas


• trabalho • mercado fundiário
• máquinas agrícolas • políticas e legislação
• energia • investigação e educação

Adaptado de Raeburn (1983)


4 sub-
sub-sistemas de Agricultura

• plantas • preços de produtos


• animais
Sub--sistema
Sub • Sub-
Sub -sistema
preços de factores
• meio físico
biológico • empresa
plano de produção
• técnica cultural • risco e incerteza

• operações agrícolas • mercados agrícolas


Sub--sistema
Sub
• Sub--sistema
Sub
trabalho • mercado fundiário
sócio--
sócio
• trabalho
máquinas agrícolas • políticas e legislação
económico
• energia • investigação e educação

Adaptado de Raeburn (1983)


Técnicas
Clima Solos Preços ...
culturais

AgriBase
Agri Base
Modelo de dados conjugando modelos de culturas, bases de
dados relacionais e sistemas de informação geográfica
Risco de erosão
Slope and Length Factor Rain Energy Factor
Soil Erodibility Factor

Modelo de dados simplificado

K
Classe Textura

SOL Caracterizacao Classe estrutura K A

Classe permeabilidade
LS
DTM

Textura CTextura Perm Erod


Arenoso Ligeira Elevado 1
Arenoso-franco Ligeira Elevado 1
Argilo-arenoso Média Médio 5
Argilo-limoso Pesada Baixo 5
Argiloso Pesada Baixo 5
Franco Média Médio 3
Franco-arenoso Média Médio 3
Franco-argilo-arenoso Média Médio 3
Franco-argilo-limoso Média Médio 5
Franco-argiloso Média Médio 3
Franco-limoso Média Médio 5
Limoso Média Médio 5
Agricultura
de Precisão

+ MO

- MO
A aplicação conjugada de diversas tecnologias (GPS, GIS, VRT,
Sensores, Mapeamento de Colheita) permite melhorar a gestão
espacial e temporal de cada parcela da exploração agrícola.

O fundamental não são as tecnologias mas sim o manuseamento e


utilização da informação espacial e temporal.
Adubação Fosfatada
Mapa do P assimilável
ppm
180
500
160
450 140
100 ha 120
400
100
350 80
60
300
100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 40
Teor de P médio: 70 ppm 30 amostras / 100 ha 20
10
Unid.
P2O5
Mapa das necessidades de P 600
500
500
450
400
400
300
350 200
300 100
100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600

Necessidades médias: 490 Unid. 0


A partir do mapa de colheita
Unid.
Diferenças entre P em fertilização uniforme e precisa P2O5
100
500

450 P a mais 0

400
-100
350 P a menos
-300
300
100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600
-500
Necessidades médias: 490 Unid.

A quantidade total é idêntica mas mal distribuída


Serviços dos ecossistemas - avaliação

Estação micrometeorológica
automática para quantificar os
diversos papéis de uma
pastagem e floresta adjacente
na recarga do aquífero para
outros utilizadores locais de
água.
Palani Ranch, Kona, Hawai‘i.
Mobilização mínima
• Sequestro de
Carbono --
1ton/ha/ano
1ton/ha/ano de CO2
• Preservação da
camada arável –
25x109 tons/
tons/ano
ano
perdidos por erosão
à escala global
• Melhoria da
qualidade da água
• Reducão de
trabalho,, tempo,
trabalho
combustível e
desgaste de
equipamento
• Melhoramento da
produtividade
• Melhor habitat para a
vida selvagem
Agronomia: tradição e futuro

A análise de sistemas e a capacidade actual de


colher,
organizar e manipular
informação
podem restituir à Agronomia do futuro, aquilo que é
a sua tradição:
uma ciência integradora que fundamenta um dos
sistemas de suporte da vida do Homem
- a Agricultura -
sem comprometer o ambiente em que decorre

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