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Um Papa nada Pop

Desde que foi eleito em 2005, o papa Bento XVI vem demonstrando,
através de suas declarações e atos, a sua posição teológica conservadora em
defesa da doutrina tradicional católica. O papa Bento XVI difere em muito de
outras posições que a Igreja Católica já tomou em seu passado recente. A
Teologia da Libertação, por exemplo, tão forte nos anos 70 e 80 no Brasil e
América Latina, agora, não tem mais a força de antes, em parte, graças as
linhas conservadoras adotadas pela Igreja. Mas o que o papa tem feito?

Em 2005, o papa aprovou um documento que exclui do sacerdócio


qualquer seminarista com “tendências homosseuxais”. Para a Igreja, o
comportamento homossexual é “intrinsecamente ruim”.

Em 2007, o papa autorizou a volta e a promulgação da missa em latim,


algo altamente criticada por membros internos da Igreja que viram nessa atitude
um retrocesso dos avanços da Igreja nos anos 60. Em 2007, também declarou
que a Igreja era contra as pesquisas com células-troncos, pois a dignidade do
ser humano “é intocável em todos os estados de sua existência”.

Em um documento divulgado nesse mesmo ano de 2007, o papa


reafirmou que a Igreja Católica era a única verdadeira e que era a única que
salvava. Para quem é católico, a declaração pode até parece não ter grandes
consequências. O problema é o que se lê nas entrelinhas, por exemplo, no que
afeta outros cristãos no mundo, como os protestantes e evangélicos, e as outras
religiões não cristãs.

O papa Bento XVI tem sido controvertido em outras áreas também, como
na música, por exemplo. Em 2007, O papa proibiu concertos pop no Vaticano.
Esse concerto acontecia todos os anos como uma forma de arrecadar fundos.
Seu desgosto por certos tipos de música já é fato conhecido, mesmo
antes de ele se tornar papa. Em 2000, ele declarou que os festivais de rock são
uma forma de idolatrar e que o rock e a música pop são trabalhos de Satã.

O papa Bento XVI tem sido conservador em assuntos de família também.


Em 2008, reafirmou que a Igreja Católica condenava qualquer forma de
anticoncepção. Para o papa, o único método contaconceptivo aceito pela Igreja
é a observação dos ciclos naturais da fertilidade da mulher, isto é, abstinência
no período de fertilidade. Mas somente quando o casal, por “circunstâncias
graves”, justifiquem adiar os nascimentos.

Os judeus também tiveram seu momento de frustração com o papa Bento


XVI. No começo de 2009, por ocasião do Dia Internacional da Memória das
Vítimas do Holocausto, como um ato de misericórdia, o papa Bento XVI
concedeu perdão a quatro arcebispos excomungados pelo então papa João
Paulo II. Até aí tudo bem. O problema foi que um dos arcebispos era Richard
Williamson, domiciliado na Argentina, e famoso por negar o Holocausto. Na
visão de Williamson, as câmaras de gás nunca existiram e o extermínio de 6
milhões de judeus nunca ocorreu. Bem, um pouco demais para o Dia
Internacional da Memória!

Mas nem tudo parece ser conservador na Igreja. Em outubro de 2009, a


Igreja anunciou que iria incluir padres casados da Igreja Episcopal Anglicana nos
seu quadro. Embora esta “abertura” se refira apenas aos anglicanos, isso pode
indicar que a Igreja está dando algum sinal de modernidade. Mas isso só o
tempo vai dizer!

Denise Maria Osborne é mestranda em Lingüística Aplicada na Columbia


University (Nova York) e professora de português como língua estrangeira.
dmdcame@yahoo.com
Artigo originalmente publicado pelo Jornal Clarim (Minas Gerais, Brasil):

Osborne, D. (2010, June 4). Um Papa Nada Pop. Clarim, Ano 15, n. 721, p. A2.

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