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Maio de 68 (1968)

INFORMAÇÃO IMPORTANTE

O texto que se segue é uma reprodução escrita, com


pequenas adaptações e esclarecimentos, do programa exibido
pela Rádio e Televisão de Portugal, “1968 – Maio de 68”
integrado na série “50 Anos 50 Notícias”, de 2007.

Como tal, cumpre-me esclarecer que toda a informação


constante deste documento foi apresentada pela citada estação
de televisão portuguesa, aquando da exibição do documentário
referido.

Resta-me recordar, em último lugar, que no ano de 2007 a


Rádio e Televisão de Portugal celebrou o seu quinquagésimo
aniversário.
MAIO DE 68 (1968)

Em Paris, os estudantes de Nanterre, liderados por Daniel


Cohn-Bendit, ocuparam a Universidade, reivindicando reformas
no Ensino. O Governo decide encerrar a Faculdade a 3 de Maio, a
resposta dos estudantes é violenta. O Quartier Latin, bairro dos
intelectuais, é ocupado com barricadas. A 6 de Maio, treze mil
estudantes confrontam-se nas ruas com a polícia. Ao gás
lacrimogéneo, os estudantes respondem com pedras e slogans
originais: “A imaginação ao poder”, “A poesia está na rua” e “É
proibido proibir”.

(João Bernardo, exilado político) “Eu chego a uma França em


que a actuação dos jovens é quotidiana, a toda a hora,
discutindo, distribuindo panfletos, etc. A repressão da polícia é
também quotidiana, espancando…”

A 17 de Maio, a revolta alastra às fábricas. A Renault e a


Citroën paralisam. Duas semanas depois, a greve envolve onze
milhões de trabalhadores. A França está parada! De Gaulle
refugia-se na Alemanha e pede intervenção militar.

(João Bernardo) “A classe dominante julga que está


completamente derrotada e os outros e todos acham que não
tinham vencido. E isso demorou uns dias assim…”

Tudo acalma com a demissão do Governo e a marcação de


eleições gerais que reforçam o Gaulismo. As violentas imagens
dos confrontos entre a polícia e os operários e estudantes, nas
ruas de Paris, não são censuradas em Portugal. O Regime gosta
de exibir na televisão o mundo violento para contrastar com este
país (Portugal) de brandos costumes.
(Alberto Martins, Presidente da Associação Académica de
Coimbra 1968/69) “Os jornais portugueses publicaram muitas
coisas, assim como a imprensa e televisão portuguesas, sobre o
Maio de 68, o que conferiu ao estudante o papel de um grande e
importante protagonista na História.”

Os estudantes acharam que também em Portugal podiam


abalar o Regime. Os efeitos do Maio de 68 não se fizeram sentir
logo, porque, em Agosto, Salazar cai da cadeira e, em Setembro,
é substituído por Marcello Caetano.

(Marcello Caetano, Presidente do Conselho de Ministros em


1968) “(…) Pensei, particularmente, na necessidade de não
descurar um só momento a defesa das províncias ultramarinas
(…)”

Mas, ao anunciar a continuidade da Política Ultramarina,


Caetano matou logo as esperanças dos estudantes na “Primavera
Marcelista.”

(Alberto Martins) “Nós tínhamos que decidir ir para a guerra


ou não ir, matar para não morrer, fugir ou não fugir, era um
problema, era uma situação crítica.”

Durante a visita às províncias ultramarinas, em Abril de 1969,


Caetano ainda admite, em Lourenço Marques, conceder uma
“progressiva autonomia” às colónias. Mas depois da visita,
Marcello Caetano muda de ideias…

(Marcello Caetano) “Venho com alma e festa; venho mais


animoso do que nunca; venho, se é possível, mais português do
que parti!”

(João Coito, jornalista Diário de Notícias e comentador RTP


1968-69) “Ele disse-me, quando veio de lá: «João, não faz ideia
daqueles pretos à noite… À noite, eu só via aqueles olhos a piscar
nas árvores… aquelas árvores apinhadas de pretos … tudo a
aclamar Portugal e a aclamar-me também a mim… e a aclamar
Portugal!”. Ele veio de lá completamente modificado, mas não
teve coragem de fazer aquilo que, durante muitos anos, disse
que ia fazer.”

Quando Caetano regressa da viagem por África, já os


estudantes em Coimbra tinham iniciado a sua luta contra o
Regime. Uma revolta com muitas semelhanças com a crise do
“Maio de 68”, em França. A 17 de Abril, Américo Thomaz
inaugura, solenemente, o novo edifício de Matemáticas, na
Universidade.

(Jaime Nogueira Pinto, Jornalista RTP 1968/69) “Eu era uma


pessoa da «direita», portanto eu estava ali a dirigir a equipa da
RTP que estava a fazer as filmagens.”

O Presidente da Associação Académica prepara-se para


interromper o protocolo, pedindo, de surpresa, a palavra, para
espanto de toda a gente.

(Alberto Martins) “Dormi mal (risos), tinha uma percepção


mais ou menos clara do que me ia acontecer, que era
provavelmente ser preso, espancado. Mas, o que fazer? Eu tinha
esse mandato: «Tu vais pedir a palavra, tu és o Presidente da
Associação Académica!”

(Intervenção de Alberto Martins em 1969) “Em representação


dos estudantes da Universidade de Coimbra, peço licença…”

(Alberto Martins) “Américo Thomaz fica muito perturbado,


levanta-se e levanta-se toda a sala…”
(Jaime Nogueira Pinto) “Américo Thomaz não se mostrou, na
altura, nada medroso…”

(Alberto Martins) “Eu saí do edifício da Associação Académica e


fui preso pela PIDE. Estiveram desde as duas horas até ao meio-
dia do dia seguinte a interrogar-me sobre quem éramos nós…”

Depois do incidente, os estudantes fazem greve às aulas. O


Ministro da Educação decide fechar a Universidade, como
aconteceu em França.

(José Hermano Saraiva, Ministro da Educação 1968/69) “A ordem


vai ser restabelecida na Universidade de Coimbra!”

Os estudantes continuam a luta e fazem greve aos exames. A


Universidade é cercada pela polícia e mais de duzentos
estudantes são presos.

(Alberto Martins) “Cinquenta dos estudantes que mais se tinham


destacado na luta foram compulsivamente incorporados no
Exército. Nós fomos para o Exército, portanto como «traidores à
Pátria».

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