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Processo de descolonização

Ver artigos principais: Guerra de Independência de Angola e Guerra Colonial


Portuguesa

Forças Armadas Portuguesas marchando em Luanda durante Guerra Colonial Portuguesa (1961–


74).

Soldados portugueses nas matas angolanas durante a Guerra de Independência de Angola (1961–


1974)

Alcançada a desejada "ocupação efectiva", Portugal — melhor dito: o regime ditatorial,


entretanto instaurado naquele país por António de Oliveira Salazar — concentrou-se em
Angola na consolidação do Estado colonial. Esta meta foi atingida com alguma eficácia.
Num lapso de tempo relativamente curto foi edificada uma máquina administrativa dotada
de uma capacidade não sem falhas, mas sem dúvida significativa de controle e de gestão.
Esta garantiu o funcionamento de uma economia assente em dois pilares: o de uma
imigração portuguesa que, em poucas décadas, fez subir a população europeia para mais
de 100 000, com uma forte componente empresarial, e o de uma população africana sem
direito à cidadania, na sua maioria — ou seja, com a excepção dos povos (agro-)pastores
do Sul — remetida para uma pequena agricultura orientada para os produtos exigidos pelo
colonizador (café, milho, sisal), pagando impostos e taxas de vária ordem, e muitas vezes
obrigada, por circunstâncias económicas e/ou pressão administrativa, a aceitar trabalhos
assalariados geralmente mal pagos.[nota 5]
Entre 1939 e 1943, o exército português realizou operações contra os nómadas Mucubal,
acusados de rebelião, que levaram à morte de metade de sua população. Os
sobreviventes foram encarcerados em campos de trabalho forçado, onde a grande maioria
deles pereceu devido à brutalidade do sistema de trabalho, subnutrição e execuções. [25]
Nos anos 1950 começou a articular-se uma resistência multifacetada contra a dominação
colonial, impulsionada pela descolonização que se havia iniciado no continente africano,
depois do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.[26] Esta resistência, que visava a
transformação da colónia de Angola em país independente, desembocou a partir de 1961
num combate armado contra Portugal que teve três principais protagonistas:

o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), cuja principal base social
eram os ambundos e a população mestiça, bem como partes da inteligência branca, e
que tinha laços com partidos comunistas em Portugal e países pertencentes ao
então Pacto de Varsóvia;

a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), com fortes raízes sociais entre
os congos e vínculos com o governo dos Estados Unidos e ao regime de Mobutu Sese
Seko no Zaire, entre outros;

a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), socialmente
enraizada entre os ovimbundos e beneficiária de algum apoio por parte da China.[nota 6]

Logo depois do início do conflito armado, uma "ala liberal" no seio da política portuguesa
impôs uma reorientação incisiva da política colonial. Revogando já em 1962 o Estatuto do
Indigenato e outras disposições discriminatórias, Portugal concedeu direitos de cidadão a
todos os habitantes de Angola[nota 7] que de "colónia" passou a "província" e mais tarde a
"Estado de Angola". Ao mesmo tempo, expandiu enormemente o sistema de ensino,
dando assim à população negra possibilidades inteiramente novas de mobilidade social —
pela escolarização e a seguir por empregos na função pública e na economia privada. [nota 8]

Membros do FNLA durante treinamentos em 1973

Recrutas da FNLA em um campo de refugiados angolano no Zaire em 1973

A finalidade desta reorientação foi a de ganhar "mentes e corações" das populações


angolanas para o modelo de uma Angola multi-racial que continuasse a fazer parte de
Portugal, ou ficar estreitamente ligado à "Metrópole". Essa opção foi, no entanto, rejeitada
pelos três movimentos de libertação que continuaram a sua luta. Nesta começaram,
porém, a registar-se mais retrocessos do que progressos, e nos primeiros anos 1970 as
hipóteses de conseguir a independência pelas armas tornaram-se muito fracas.
Na maior parte do território a vida continuou com a normalidade colonial. É certo que
houve uma série de medidas de segurança, das quais algumas — como controles de
circulação, ou o estabelecimento de "aldeias concentradas" em zonas como o Planalto
Central, no Cuanza Norte e no Cuanza Sul.[nota 9] — afectaram a população em grau maior
ou menor.
A situação alterou-se completamente quando em abril de 1974 aconteceu em Portugal
a Revolução dos Cravos, um golpe militar que pôs fim à ditadura em Portugal. Os novos
detentores do poder proclamaram de imediato a sua intenção de permitir sem demora o
acesso das colónias portuguesas à independência. [27]
A perspectiva da independência provocada pela Revolução dos Cravos em Portugal, em
abril de 1974, e a cessação imediata dos combates por parte das forças militares
portuguesas em Angola, levou a uma acirrada luta armada pelo poder entre os três
movimentos e os seus aliados.
A FNLA entrou em Angola com um exército regular, treinado e equipado pelas Forças
Armadas Zairenses, com o apoio dos EUA; o MPLA conseguiu mobilizar rapidamente a
intervenção de milhares de soldados cubanos, com o apoio logístico da União Soviética; e
a UNITA obteve o apoio das forças armadas do regime de apartheid então vigente
na África do Sul. Esforços do novo regime português para que se constituísse um governo
de unidade nacional não tiveram êxito. Entretanto, a luta da liderança do MPLA pelo poder,
antes e depois da declaração da independência, causou inúmeras vítimas. [28]
O conflito armado levou à saída — com destino a Portugal, mas também à África do Sul e
ao Brasil — da maior parte dos cerca de 350 000 portugueses que na altura estavam
radicados em Angola.[29] Em consequência da política colonial, estes constituíam a maior
parte dos quadros do território, o que levou a que a administração pública, a indústria, a
agricultura e o comércio caíssem em colapso. Por outro lado, os ovimbundos que tinham
sido recrutados pela administração colonial para trabalhar nas plantações de café e tabaco
e nas minas de diamantes do Norte, também decidiram voltar às suas terras de origem no
planalto central. A outrora próspera economia angolana caiu assim em decadência. [30]
No dia 11 de novembro de 1975 foi proclamada a independência de Angola, [31] pelo MPLA
em Luanda, e pela FNLA e UNITA, em conjunto no Huambo. As forças armadas
Portuguesas que ainda permaneciam no território regressaram a Portugal. [32]

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