Você está na página 1de 2

O CINE TEATRO DE

MOÇÂMEDES

Beneficiando de uma situação privilegiada, quase a meio da Rua da Praia do


Bonfim, a olhar para a Avenida, num local onde nos anos 1940 havia um pequeno
largo ajardinado denominado Jardim da Colónia, para o qual estava reservado o
monumentos aos colono fundadores, eis o Cine Teatro de Moçâmedes, o popular
"Cinema do Eurico", dotado de uma traça arquitectónica considerada
revolucionária para a época, a ARTE DÉCO, essa maravilha que foi trampolim
decisivo para a arquitectura modernista, surgida nas primeiras décadas do
século XX na Europa, que se espalhou por todo o mundo Ocidental, e chegou às
terras do Namibe.
De planta rectangular contínua e uniforme, a ARTE DÉCO, de início marcada por algum
rebuscamento, foi-se tornando mais simples, e com passar do tempo, e a influência do
cubismo, tornou-se mesmo a preferida no mundo dos Cine Teatros.
O Cine Teatro de Moçâmedes abrange os 2500m2 de área, 25x50m, e um corpo em
volumes geométricos bem definidos, horizontais, verticais, arredondados,
zigzagueantes, com materiais como o vidro, o ferro, que se faz sobressair na estética
exterior, enquanto na sala interior assume proporções generosas entre a plateia e o
balcão, fazendo-se o acesso ao balcão por uma escadaria lateral com pormenores
igualmente Déco. Foi inaugurado na década de 1940, nos pós 2ª Grande Guerra (1939-
45), e veio preencher uma lacuna aberta com a demolição do primitivo Teatro Garrett,
a bela sala de espetáculos de que falaremos mais adiante, propriedade de Raúl de
Sousa, situada na Rua Calheiros, onde os moçamedenses viram correr as primeiras
peças de teatro e revista e os primeiros filmes, grande parte dos quais ainda em
cinema mudo. Eram proprietários do Cine Teatro de Moçâmedes, Eurico Martins,
António Pedro Bauleth, Gaspar Gonçalo Madeira e António do Nascimento Marques.
Com a demolição do Teatro Garrett para dar lugar ao edifício-sede do Atlético Clube
de Moçâmedes, na Rua Calheiros, a cidade ficou temporariamente sem sala de
espectáculos, até que surgisse o Cine Teatro de Moçâmedes, e nesse interim era no
pequeno palco do edifício-sede do Clube Recreativo e Beneficiente, o popular Ferrovia,
sito na Rua Serpa Pinto, sem grandes condições de acomodamento, que sob a
exploração do mesmo Raúl de Sousa, decorriam sessões cinematográficas e peças de
teatro, sem nunca atingir o grande público que tinha entranhada a ideia que somente
os sócios do Ferrovia poderiam frequentar aquele espaço.

O surgimento do Cine Teatro de Moçâmedes veio preencher uma lacuna que se fazia
sentir no seio de uma população que clamava por um lugar onde pudessem assistir às
mais diversas manifestações culturais e artísticas, peças de teatro locais e vindas de
fora, actos de variedades, exibição de filmes, etc, em condições de acomodamento e
modernidade, mau grado ser esse um tempo de pós-guerra, de retracção económica e
financeira, de racionamentos, senhas para aquisição de alimentos, etc etc. Para se
fazer uma ideia de como era a casa da máquina naquele tempo, onde Eurico Martins
perdeu um braço, acabei de colocar a foto imediatamente acima.

Fonte: Mossâmedes do Antigamente

Mapa

Você também pode gostar