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A Guerra Colonial em Angola foi um conflito armado que ocorreu entre

1961 e 1974, durante o processo de descolonização de Angola, então uma


colônia portuguesa. A guerra foi travada entre as Forças Armadas Portuguesas
e várias organizações de guerrilha angolanas, incluindo o Movimento Popular
de Libertação de Angola (MPLA), a União Nacional para a Independência Total
de Angola (UNITA) e a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).
A guerra colonial em angola, ou guerra pela independência de angola
pôs de um lado o Estado Português e, do outro, vários movimentos
independentistas – o MPLA (O movimento popular de libertação de Angola), a
UPA (União das populações do Norte de Angola) que depois mudou de nome
para FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola) e a UNITA (União
Nacional para a Independência Total de Angola).
O MPLA foi criado como uma organização nacionalista pela
independência de angola, orientado para a esquerda e centro-esquerda. Já a
UPA/FNLA foi também um movimento nacionalista angolano anticolonialista,
mas com ideologia mais tribalista e anticomunista. A UNITA vai surgir em
meados do conflito da guerra colonial como um movimento pela independência
de angola, também ligado à direita e centro-direita, sendo anticomunista.
Pode considerar-se que este conflito se integra no critério de justiça Ad
bellum, de autoridade competente, tendo em conta que foi iniciado por uma
comunidade de indivíduos contra um governo ilegítimo. Isto porque foram estas
organizações que, em busca da independência de Angola iniciaram este
conflito contra o Estado Português que consideraram ilegítimo. Isto tendo em
conta que em 1945 na Carta das Nações Unidas é proclamado o direito à
autodeterminação dos povos e em 1960 é aprovada a Declaração sobre a
Concessão da Independência aos Países e Povos Coloniais, proclamando o
fim do colonialismo. Por este motivo Angola tinha direito, internacionalmente
reconhecido, em ser independente.
Em relação ao critério do último recurso, podemos afirmar que os
movimentos não teriam outra alternativa se não o conflito armado tendo em
conta que a PIDE e a máquina de opressão do Estado Novo se recusavam a
negociar com estas organizações e capturavam, prendiam, torturavam e
assassinavam os seus membros. Como por exemplo o caso de Agostinho
Neto, presidente do MPLA, que foi preso em Luanda, em 1960, pela PIDE, e
enviado para a cadeia do Algarve. Em protesto os cidadãos da sua terra natal
manifestaram-se numa marcha pela libertação, marcha que foi respondida com
munição, levando à morte de trinta civis.
Já os critérios da probabilidade de sucesso e proporcionalidade de
justiça ad bellum, foram cumpridos tendo em conta que era inevitável a
independência de Angola, tanto pela ilegalidade internacional das colónias
como pela incapacidade das forças armadas portuguesas em combater todas
as frentes daquela que seria a guerra colonial. Simultaneamente, os custos de
mortos da guerra seriam justificados pela independência do povo angolano, fim
da censura e da opressão pelo Estado Novo, além do fim da segregação entre
brancos e negros. Por estes motivos, entende-se que as organizações
independentistas teriam uma grande probabilidade de sucesso e a sua luta era
justificada.
A guerra teve início graças a (sabe-se hoje) pequenas organizações sem
perfil ou estrutura política forte, cujos militantes eram apenas angolanos que
atacaram a prisão da capital, sendo que o MPLA reivindicou este ataque como
tendo sido da sua autoria. Estes pequenos grupos contestavam o status quo
presente em Angola e especialmente em Luanda. Tendo isto em conta
conseguimos perceber que o 4 de fevereiro não teve origem em nenhum dos
grandes movimentos independentistas, nem fazia parte dos seus objetivos
político-militares. No entanto, os líderes do MPLA perceberam que teriam de
utilizar este acontecimento para fortalecer o movimento anticolonialista. Isto
porque desde a sua fundação oficial (em 1960 e não 1956) o MPLA teria
estado “adormecido” e não preparado para um conflito pela libertação de
Angola.
Em 15 de março a UPA provoca um ataque massivo contra populações
civis, propriedade e culturas, gerando medo e pânico que mais aproximaram o
início de conflitos mais violentos.
(Analisando agora os critérios de Jus in bellum...)
Nesta guerra, quanto ao critério da proporcionalidade, há vários fatores
a serem analisados. A quantidade de violência utilizada foi proporcional face ao
objetivo?
Ao longo desta guerra, encontramos diversos momentos de grande
violência. Algumas datas são de fácil destaque.
Primeiramente, 4 de fevereiro- início da luta pela independência do pais,
que se caracterizou por um conjunto de ataques dirigidos por grupos armados
de angolanos contra civis e militares localizados em Luanda. O objetivo
principal era libertar os presos políticos que se encontravam nas cadeias,
acusados de atividades subversivas. Esta data marcante contou com dezenas
de mortes, de ambos os lados.
Em segundo lugar, está a data de 15 de março de 1961. Data do
massacre perpetrado pelas forças de Holden Roberto, a UPA, na região do
norte de Angola. Este massacre tinha em vista a concretização de um grande
conjunto de ações de guerrilha das quais resultaram, alem do massacre de
populações civis residentes em zonas predominantemente rurais, uma
subtração à soberania portuguesa de parte importante de território e de
populações. O resultado deste massacre foi bastante violento, resultando na
morte e mutilação de centenas de pessoas, fossem eles homens, mulheres ou
crianças.
Deste modo, verifica-se que o critério não foi cumprido. Apesar do
objetivo desta guerra ser de grande propósito, pois visava a independência e a
libertação nacional encontra-se um grande uso de violência não proporcional
face ao objetivo, não garantindo o princípio da perseverança da dignidade
humana.
Em relação ao critério de restrição ao uso de armamentos ou
métodos de combate contrários à consciência da humanidade, verifica-se
que esta guerra não acompanhou este critério. A guerra foi extremamente
sangrenta e ambos os lados cometeram atrocidades. Durante a guerra colonial
em Angola foram usados diversos tipos de armamento por ambas as partes,
incluindo armas de fogo, granadas, e helicópteros e aviões de combate.
O exército português utilizou táticas brutais, incluindo queimadas de
aldeias e execuções sumarias, alem de recorrer frequentemente a tortura e
detenções arbitrarias. Por outro lado, os grupos guerrilheiros usavam técnicas
que visavam civis e infraestrutura, incluindo sabotagem e ataques a plantações
e minas. Como resultado, a guerra teve um custo humano elevado, com
estimativas de milhares de mortes.
Por fim, quanto ao critério da discriminação. A guerra colonial em
Angola contou com diversas mortes, incluindo inocentes. Essas mortes foram
perpetradas tanto pelas forças portuguesas quanto pelos grupos de guerrilha
independentista.
Há evidencias de que algumas dessas mortes foram intencionais, por
exemplo massacres de aldeias inteiras por grupos independentistas e
execuções sumarias de civis por soldados portugueses em retaliação por
ataques de guerrilheiros independentistas, enquanto outras foram resultado de
ataques indiscriminados ou de confrontos armados em áreas civis. No geral, a
guerra colonial em Angola foi marcada por uma grande quantidade de violência
e sofrimento para a população civil. Logo, verifica-se que este critério não foi de
todo cumprido.
(Averiguando agora acerca dos critérios pos bellum...)
Em janeiro de 1975 é assinado o acordo do Alvor entre o Estado
Português e a UNITA, o MPLA e a FLNA, com o objetivo de equilibrar o poder
entre os três.
Face ao critério justiça pos bellum da restauração dos direitos
humanos, podemos afirmar que estes foram repostos temporariamente tendo
em conta o conflito que surgiu depois da independência de Angola, entre o
MPLA, a UNITA e a FLNA. Este conflito, a guerra civil de Angola, levou a uma
caça a mestiços (filhos de brancos e negros) e a portugueses.
Simultaneamente foram exilados de Angola milhares de Portugueses, sem
nenhuns dos seus pertences, perdendo tudo o que tinham. Ao mesmo tempo
Portugal, permitiu que a Guerra Civil se instalasse agindo de forma ineficaz.
Por estes motivos podemos afirmar que o critério da restauração dos direitos
humanos, não foi cumprido.
Relativamente ao critério da dissociação entre a liderança política e
militar, podemos avaliá-lo como não cumprido. Tendo em conta que os líderes
militares do conflito da guerra independência depois se tornaram líderes
políticos na independência de Angola e simultaneamente na guerra civil de
Angola. Agostinho Neto líder do MPLA ficou como Presidente de Angola
E por fim, em relação ao critério da proporcionalidade nos termos da
paz, podemos avaliar este critério como cumprido, tendo em conta que
nenhuma das partes foi punida excessivamente, exceto o caso dos civis
(retornados) que perderam a sua propriedade. Isto porque Angola foi deixada
pacificamente, sendo que o efetivo português saiu de forma calma, e foi
deixado um Governo de Transição. Angola também não procurou vingança
contra Portugal. No entanto, a Guerra Civil pelo controlo do país destabilizou
qualquer esforço de paz.
Em suma, a guerra pela independência de Angola foi dos conflitos mais
relevantes da guerra colonial. E resultou num grande número de mortes. O
conflito também levou a uma intervenção estrangeira significativa com a União
Soviética, Cuba e os Estados Unidos fornecendo apoio financeiro, militar e
logístico a diferentes lados do conflito.
Contudo, o conflito termina com o objetivo cumprido- levando à
independência de Angola em 1975. A guerra colonial em Angola é
frequentemente vista como um momento crucial na história da descolonização
africana e das relações entre Portugal e suas ex-colônias.

Webgrafia:

https://observador.pt/especiais/angola-1961-como-os-independentistas-
prepararam-guerra/
https://unric.org/pt/descolonizacao/
https://dre.pt/dre/lexionario/termo/principio-autodeterminacao
https://media.rtp.pt/descolonizacaoportuguesa/pecas/a-posicao-da-onu-
e-a-resposta-portuguesa/
https://ensina.rtp.pt/artigo/o-imperio-de-salazar/

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