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ABATE CLANDESTINO EM MONTES CLAROS

PREJUÍZOS FINANCEIROS
E
RISCOS À SAÚDE PÚBLICA

Montes Claros
2009
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Introdução

Montes Claros possui uma situação privilegiada no cenário da bovinocultura


nacional. A região é possuidora de um extenso rebanho bovino de excelente qualidade,
fazendo com que a mesma obtenha prestígio singular no cenário nacional. Além do
mais, nossa cidade é conhecida pela qualidade de sua carne, principalmente pela carne
de sol, que é um dos produtos mais tradicionais de nossa região. Contudo, confrontando
essa posição grandiosa e de destaque, infelizmente, deparamo-nos com um grave
problema que vem se estendendo há décadas, o abate clandestino de animais.

O abate clandestino é caracterizado por ser realizado em locais inadequados -


Fazendas, Periferias, e outros - ou ainda em locais adequados, mas que não contam com
a fiscalização de um órgão público competente.

Segundo o Agência Minas, site oficial de Notícias do Governo do Estado de


Minas Gerais, o abate clandestino em 2005 representava 60% das atividades no estado,
sendo os maiores índices registrados no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha, ou
seja, mais da metade da carne consumida pela população era de origem ilegal.

Com base nessas informações o próprio governo lançou no ano seguinte o


Programa Minas Carne, com o objetivo de reduzir o abate ilegal inspecionando toda a
cadeia da carne. Atingiu no mesmo ano um decréscimo inexpressivo da ilegalidade para
49%. Mas os benefícios gerados para a nossa região foram simplórios, pois, segundo o
mesmo site o Programa obteve R$ 60 milhões junto ao BDMG para investimentos na
otimização e modernização do setor. Os investimentos que foram empregados
beneficiaram somente os Frigoríficos Exportadores, tais como: 3A Indústria e Comércio
Ltda., no Triângulo Mineiro, Frisa, em Nanuque, no vale do Mucuri e o Independência,
em Janaúba, região do Norte de Minas. Notoriamente os frigoríficos de Montes Claros
não foram incluídos nesse Programa, embora os mesmos tenham corajosamente
investido parte de seu capital na melhoria da qualidade do serviço prestado à população
consumidora de nosso município.
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Competências para Fiscalização

As competências legais nas quais se exercem os serviços de inspeção sanitária e


industrial de produtos de origem animal são: o Serviço de Inspeção Federal (SIF), no
qual se registram os estabelecimentos que comercializam produtos entre Estados ou
para Exportação, o Serviço de Inspeção Estadual (SIE), no qual se registram os
estabelecimentos que comercializam produtos para outros Municípios e o Serviço de
Inspeção Municipal (SIM), no qual se registram os estabelecimentos que comercializam
produtos dentro do Município.

As fiscalizações realizadas pelos órgãos competentes tornam-se, de fato, um


agregador de valores à saúde pública, ao meio ambiente e à arrecadação fiscal. Tais
serviços quando bem implementados geram confiança no mercado consumidor sobre a
origem e procedência da mercadoria que será consumida. Sabe-se que a carne, mesmo
obtida de animais sadios é um veículo potencial de contaminantes de naturezas diversas,
como as biológicas, as físicas e as químicas, nas suas diversas fases de processamento.
Tais contaminações passam pelo processo de produção, transformação, armazenamento,
transporte e comercialização.
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Fiscalização da Carne Bovina abatida ilegalmente


Clandestinidade

A clandestinidade é definida por duas condições: a sonegação fiscal dos impostos


arrecadados e a ação burlativa sobre a fiscalização prestada pelos órgãos de serviço de
inspeção sanitária. Tais situações sempre ocorrem simultaneamente, ou seja, o abate
clandestino procede sem a inspeção sanitária e sem a arrecadação de impostos.

As principais causas do abate clandestino em Montes Claros estão ligadas à


grande disponibilidade de pequenos grupos de animais, estes muitas vezes doentes ou
para descarte, à sonegação de taxas e impostos, à grande deficiência no sistema de
fiscalização, à facilidade de comercialização do produto no comércio varejista, à
desinformação do consumidor e principalmente à falta de punição aos infratores.
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Espantosa é a observação de que 95% da carne consumida em Montes Claros é de


origem clandestina, uma vez que os frigoríficos locais, Frigonildo Indústria e Comércio,
Frigorífico Boi em Pé e Frigorífico Maisa, requerem há mais de 10 anos o serviço de
inspeção municipal e o mesmo ainda não foi implementado. Fato este que pode ser
comprovado pelos inúmeros requerimentos enviados à prefeitura. Desta forma, pode-se
categorizar que, além do abate praticado nas fazendas, aqueles realizados nos
frigoríficos também são considerados clandestinos.

Ressalta-se que a percentagem de consumo da carne clandestina mencionada


acima abrange todos os ambientes de comércio de carne freqüentados pela população.
Ambientes estes tais como: hospitais, órgãos públicos, churrascarias, restaurantes,
lanchonetes, bares e afins.

Carne assada com cisticercose bovina servida em restaurante.


Em nosso município deparamo-nos com um quadro gravíssimo no que diz
respeito ao abate clandestino. Os animais são abatidos em fazendas da redondeza e por
não haver uma preocupação com as exigências de saúde pública, tanto as carcaças como
as vísceras são transportadas em veículos impróprios, tais como: veículos abertos sem
refrigeração, caminhonetes e até absurdamente carroças que comumente transportam
esterco bovino. Tal situação contribui sobremaneira para a contaminação destes
produtos.
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Seguem algumas fotografias de abate clandestino:


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Características do Abate Clandestino.


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Características do Abate Clandestino.

Prejuízos Causados pelo Abate Clandestino

São grandes os prejuízos causados pelo abate clandestino, arrastando-se dos


pecuaristas aos frigoríficos, afetando negativamente os cofres públicos e alcançando
prejudicialmente os consumidores finais.

Tais prejuízos têm onerado drasticamente os setores supramencionados,


acarretando sérios problemas sob os diversos segmentos do comércio da carne. Para
constatação citam-se alguns setores significativamente prejudicados por essa prática
perniciosa: a Saúde Pública, o Trabalhador, o Pecuarista e o Município.

Prejuízos à Saúde Pública


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A carne contaminada com doenças como brucelose, cisticercose, tuberculose e


toxoplasmose acarretam problemas graves à saúde dos consumidores de carne bovina e
suína, pois, conforme pesquisa realizada pela ABIF (Associação de Bancos e
Instituições Financeiras) cerca de 7 a 12% das internações por alterações psíquicas nos
centros de saúde pública dos municípios são oriundos da ingestão de carnes
contaminadas. Isso sem considerarmos outras patologias de menor gravidade como as
intoxicações alimentares, que não são de notificação obrigatória.

Abaixo constam algumas doenças e suas formas de contaminação.

Brucelose

A brucelose é uma zoonose importante tanto para a saúde pública quanto para a
economia. É uma doenças transmitida pelos alimentos.

Em saúde ocupacional ocupa lugar de destaque por afetar grupos profissionais


da área da pecuária que lidam com animais. Acomete, ainda, os funcionários que
participam diretamente do abate de animais e que estão expostos ao sangue, carcaças e
vísceras. Enfrentam o mesmo risco os médicos veterinários quando praticam as
atividades de assistência a criações ou quando exercem a inspeção sanitária de produtos
de origem animal nos abatedouros e frigoríficos.

A brucelose é provocada por bactérias de gênero Brucella, são reconhecidas


como as mais importantes, do ponto de vista da saúde pública, a B. melitensis, B.
abortus, B. suis e B. ovis. Além dessas, também podem ser mencionadas a B. canis e B.
neotomae.

A brucelose tem distribuição mundial, embora cada espécie apresente suas


próprias características de difusão. É certo que quanto mais primitivas as condições de
desenvolvimento das explorações zootécnicas da região, maior a oportunidade de
permanência e difusão do agente na natureza.
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Ocorrência no Homem

A infecção no homem ocorre diretamente, mediante contato com animais, ou


indiretamente, por ingestão de produtos de origem animal, ou nas dependências dos
próprios abatedouros. O período de incubação varia de uma a três semanas, podendo
prolongar por vários meses. A duração da doença e muito variável, podendo persistir
por semanas ate mesmo há vários anos.

É uma doença infecciosa septicêmica de inicio repentino e insidioso, com febre


contínua, intermitente ou irregular. Os linfonodos, medula óssea, baça e fígado são o
alvo preferencial da bactéria.

A sintomatologia da brucelose é variável, pois depende da resistência do


hospedeiro e da espécie da brucela que o paciente alberga. De modo geral, a
manifestação é aguda e consiste em calafrios, suores intensos e elevação de temperatura.
Astenia, febre vespertina de 40ºC e suores noturnos constituem sintomas comuns da
infecção. Ainda podem ser observada, insônia, impotência sexual, constipação,
anorexia, cefaléia, artralgia e dores generalizadas. Na evolução do quadro clinico, o
paciente pode manifestar irritação, nervosismo e depressão em decorrência do seu
próprio estado.

Nas áreas enzoóticas de brucelose bovina e suína, o contato com animais é a


forma predominante da doença. O homem adquire a infecção quando entra em contato
com fômites contaminados, notadamente quando é obrigado a intervir nos trabalhos de
parto, ao manipular fetos e envoltórios fetais, ou ao entrar em contato com secreções
vaginais e excreções de animais infectados. Nestas circunstancias a bactéria penetra ela
pele, ou pode ser levada pelas mãos à conjuntiva.

Diagnóstico
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Nos seres humanos, ao lado das manifestações clinicas e das evidencias


epidemiológicas, deve-se submeter os pacientes a provas sorológicas de confirmação da
infecção. O isolamento e a tipificação do agente constitui prova definitiva e pode dar
indicação segura da fonte de infecção. Contudo, nem sempre é possível colher material
do paciente na fase mais adequada da infecção, principalmente quando medicado
previamente com antibióticos.

Controle e Prevenção

O papel desempenhado pelos animais na epidemiologia da brucelose é essencial,


por esta razão é fundamental o controle da doença nas áreas consideradas enzoóticas.

Assim, o controle higiênico sanitário dos rebanhos é importante, preconizando-


se que todos os animais sejam submetidos às provas sorológicas para identificação de
reagentes.

O controle da brucelose como doença ocupacional é mais difícil e deve-se basear


em educação sanitária. Nos estabelecimentos de abate, a utilização de equipamentos de
proteção individual deve ser rigorosamente supervisionada, de modo a diminuir o risco
de infecção durante as diferentes operações com sangue, carcaças e vísceras.

Mesmo após a adoção de programas de erradicação da brucelose bem sucedidos,


há a possibilidade de introdução de animais infectados nos rebanhos, devido ao
abrandamento das ações precedentes, por esse motivo, faz-se necessária a continua
vigilância das zonas de produção animal, sobretudo nas bacias leiteiras.

Cisticercose bovina

A ocorrência da teníase no homem é diretamente influenciada por princípios de


higiene. A cisticercose bovina, por sua, vez, tem origem nas, mas condições de manejo
e, sobretudo, na contaminação ambiental.
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No contexto epidemiológico, o complexo teníase-cisticercose, determinado pela


T. saginata, apresenta vários elementos dignos de menção, notadamente aqueles
pertinentes à relação hospedeiro/parasita.

Cumpre destacar que a cisticercose bovina é um problema atual, determinando


prejuízos econômicos nos matadouros e frigoríficos responsáveis pelo abate, além de
representar um fator de risco para a saúde publica.

Portanto, dada a relevância dos fatos, é necessário analisar os diferentes elos da


cadeia de transmissão da cisticercose bovina, determinar as medidas preventivas
principais e estabelecer os aspectos primordiais para o controle da infecção, tanto no
homem quanto nos bovinos.

O homem adquire a infecção ao ingerir carne bovina crua ou insuficientemente


cozida que contenha cisticercos viáveis. Esse hábito alimentar é característico de
indivíduos e famílias e pode ser influenciado também pela profissão, idade, sexo e
estado civil. O fator cultural também influi no hábito alimentar, visto que, em algumas
regiões do mundo, a pratos típicos de culinária preparados com carne crua ou mal
cozida. A degustação da crua durante a sua preparação e antes de estar totalmente
cozida é outro hábito que propicia a infecção.

Depois de algumas semanas após a infecção, o parasita atinge o intestino –


comumente designado solitária, podendo ai permanecer por 25 a 35 anos. O parasita
atinge de 4 a 12 metros de comprimento e formado por uma cadeia de 1 mil a 2 mil
segmentos que possuem milhares de ovos (50.000 a 1000.000).

Diariamente de 10 a 15 segmentos são eliminados pelo hospedeiro. A cada dia,


de 500 mil a 1 milhão de ovos são eliminados por um único hospedeiro, contaminando
o meio ambiente.

Os principais fatores que favorecem a contaminação do meio ambiente com ovos


abrangem a higiene pessoal deficiente e o saneamento publico ou local precários,
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associados ao fácil deslocamento do homem, representando, sobretudo pelas viagens em


massa e migrações de trabalhadores.

O complexo teníase/cisticercose apresenta distribuição mundial com regiões de


alta endemicidade como na America Latina. Estima-se que haja 60 milhões de casos
humanos no mundo.

Apesar da importância econômica e de saúde publica dessa zoonose, não se


conhece sua verdadeira ocorrência no Brasil, devido à escassa divulgação dos dados
obtidos nos estabelecimentos de abate com serviço de inspeção federal e nos
laboratórios de saúde publica, além do fato da não obrigatoriedade de notificação dos
casos humanos.

Prevenção em Saúde Pública

Os programas de prevenção do complexo teníase/cisticercose abrange medidas


aplicáveis as populações humanas e bovinas e ao ambiente.

As medidas aplicáveis à população humana são basicamente três: educação


sanitária, diagnóstico e tratamento quimioterápico.

A educação sanitária é imprescindível para que haja o esclarecimento da


população a respeito do modo de transmissão e prevenção da doença. A orientação deve
enfatizar a não ingestão de carne crua ou mal cozida, bem como daquela proveniente de
abate clandestino, ou seja, sem a devida inspeção oficial.

O diagnóstico e tratamento dos casos positivos são medidas aplicáveis a


populações de áreas endêmicas, todavia a aplicação dos mesmos no nível massal não é
indicada devido à dificuldade de realização e aos custos econômicos.
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Os quimioterápicos indicados para o tratamento da teníase humana são a


niclosamida ou o praziquantel. Durante o tratamento haja higiene pessoal cuidadosa
para prevenir que o ambiente, principalmente o domiciliar, seja contaminado por ovos.

Prevenção em Saúde Ambiental

As medidas aplicáveis ao meio ambiente objetivam evitar a dispersão de ovos e


são baseadas, primordialmente, na educação sanitária. Esta tem como objetivo a
orientação da população quanto ao destino adequado das excretas humanas, evitando-se
a contaminação de água, solo e alimentos, e também quanto a se evitar o uso de
efluentes de esgotos para irrigação de pastagens.

Prevenção em Saúde Animal

As medidas de uso corrente, aplicáveis á população bovina, abrange o


diagnostico em matadouros e a destinação adequada das carcaças e órgãos afetados.
Os métodos diagnósticos in vivo são representados por provas sorológicas, como
fixação de complemento, hemaglutinação indireta, teste imunoenzimático e outras.

Controle

A inspeção de carnes, realizada em matadouros, possibilita o diagnostico de


cisticercose bovina mediante o exame post mortem. Neste exame, são realizadas
incisões na musculatura esquelética e em órgãos nos quais os cistos são encontrados
com maior freqüência, e o diagnóstico é feito por meio de visualização macroscópica
dos mesmos. Porem o fato de a cisticercose apresentar-se, na maioria dos casos, sob
forma de infecção moderada, e a impossibilidade de ser realizar um grande numero de
incisões nas carcaças e órgãos determinam que muitos casos positivos deixem de ser
diagnosticados. Apesar dessa limitação, em muitos países, a inspeção de carnes é a
única medida aplicada, rotineiramente, como controle e na prevenção do complexo
teníase/cisticercose.
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A destinação adequada de carcaças e órgãos contaminados depende do grau de


infestação. O critério para classificação e os tipos de destinação previsto na legislação
variam de acordo com cada pais. De modo geral, a condenação total é indicada para os
casos de infecção generalizada. No Brasil a liberação da carcaça para o consumo in
natura é prevista quando for encontrado apenas um cisto calcificado após a incisão dos
mesmos. Nos casos de infestação moderada ou localizada, as carcaças e os órgãos
afetados podem ser aproveitados após serem submetidos a um dos seguintes
procedimentos: tratamento pelo frio a temperatura de -10ºC por 15 dias; tratamento pelo
calor à temperatura mínima de 60ºC; ou tratamento pela salga à temperatura de 10ºC
por 21 dias.

Conclusões

A prevenção da teníase humana provocada pela ingestão de carne bovina


contaminada por cisticercose depende, fundamentalmente, de programas com ênfase à
educação sanitária. O sucesso destas ações contribuirá, por outro lado, de modo decisivo
para a diminuição da ocorrência da cisticercose bovina.

O matadouro e mais particularmente a inspeção veterinária desempenha papel de


relevante destaque na prevenção da teníase humana e no controle da própria cisticercose
bovina, como aferidores da qualidade dos programas propostos.

Tuberculose

Há séculos as relações entre a tuberculose dos animais e a do homem constituem


motivo de preocupação para as autoridades sanitárias.

São numerosas as referências feitas anteriormente à era bacteriana, ao perigo que


representa para o homem o consumo de carne de animais sofrendo de caquexia e é
muito provável que nesta designação estivesse incluída a tuberculose bovina.
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De acordo com Koch, ao apresentar em 1882 a sua comunicação sobre a


identificação do agente causal da tuberculose, aponta o escarro do doente tuberculoso
como a principal origem do material infectante e acrescenta: "Uma outra fonte de
infecção da tuberculose constitui, indubitavelmente, a tuberculose dos animais
domésticos, estando em 1º lugar à tuberculose bovina. Com isto, fica também indicada a
posição que a Saúde Pública tem que assumir no futuro, em relação ao problema do
perigo da carne e do leite de animais tuberculosos. A tuberculose bovina é idêntica a
tuberculose do homem e, portanto, uma doença transmissível a este, devendo ser tratada
como as outras doenças infecciosas transmissíveis do animal para o homem. Possa o
perigo, que resulta do uso da carne ou do leite tuberculoso, ser grande ou pequeno, ele
existe e deve por isto ser evitado.

Em 1908, Mantoux instituiu o teste alérgico para diagnóstico e em 1931,


Kuhnaus (apud Feldman, 1955) verificou que a carne poderia transmitir a doença
somente quando o animal era afetado por uma tuberculose generalizada e neste caso,
seria condenado durante a inspeção realizada nos matadouros.

Movidos por pressões econômicas, muitas vezes, os criadores consideram mais


vantajoso manter os animais infectados nos planteis do que enviá-los para o abate. Isso
aumenta o risco de transmissão entre animais e tratadores e coloca em risco a saúde dos
consumidores.

Estima-se que um terço da população mundial esteja infectada com o bacilo da


tuberculose e que a cada segundo alguém seja infectado pelo agente. Por outro lado, é
possível que mais de 50 milhões de pessoas tenham sido infectadas com bacilos
resistente a drogas.

O custo da tuberculose é muito alto para a sociedade, pois 80 % das vitimas


encontram-se na fase de maior produtividade de suas vidas.

O Brasil é um dos países com maior numero de casos de tuberculose nas


Américas.
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Importância em Saúde Pública

O homem é o hospedeiro acidental. O bacilo responsável pela tuberculose no


homem, o M. tuberculosis tem grande similitude como o M. bovis, Mas infecções
humanas a partir de bovinos não atinge proporções muitos elevadas.

A forma pulmonar, com origem na infecção bovina, esta relacionados com


grupos ocupacionais e resulta com maior freqüência, do contato com animais infectados
nos estábulos ou suas carcaças nos matadouros.

Deve-se destacar, que o homem uma vez contraída a doença, pode persistir
como reservatório do bacilo bovino para outros animais do rebanho por muitos anos.

O homem, ainda pode transmitir o M. tuberculosis a varias espécies animais,


provocando tuberculose evolutiva.

O risco para a Saúde Pública de se contrair o agente pela ingestão de produtos


cárneos contaminados torna-se menor, devido a baixa incidência do agente em tecidos
musculares e do hábito de não se comer carne crua no Brasil. Porém, tal risco não deve
ser ignorado, quando se leva em consideração o grande número de abates clandestinos,
ou mesmo o abate de animais descartados de rebanhos positivos em matadouros
municipais, que não atendem as normas de inspeção exigidos pelo rigor da lei.

Grupo de Risco

Pessoas em contato intimo com portadores da infecção tuberculosa constituem


um dos principais grupos de risco da tuberculose. Grupos cujos integrantes encontram-
se debilitados fisicamente como os idosos, ou submetidos à aglomeração e ou estresse,
tal como ocorre com pessoas que moram ou trabalham em casa de repouso, instalações
correcionais, abrigos e centros de tratamento antidrogas, apresentam alto risco de
contrair infecção.
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Médicos-veterinários e trabalhadores de frigoríficos, que mantém um contato


direto com o animal, também estão sujeitos a infecção pelo bacilo bovino devido a
inalação de aerossóis. Outra forma de manifestação da tuberculose bovina em humanos
é o acometimento cutâneo. A contaminação se dá pelo contato direto com carcaças
contaminadas e as classes mais acometidas são os magarefes, auxiliares de inspeção e
médicos-veterinários. Tais lesões, na maioria das vezes, são pouco extensas e
regressivas, manifestando-se na forma de pequenas pápulas, semelhantes a verrugas,
sendo conhecidas como "butcher’s wart", ou verruga do magarefe (Grange & Yates,
1994)

Os trabalhadores rurais que lidam com bovinos, principalmente rebanhos


leiteiros, estão expostos ao risco de contrair a doença devido ao confinamento maior
com reses e a promiscuidade das instalações, onde as condições de higiene são
precárias, tornando o ambiente insalubre.

Prevalência da Tuberculose Bovina em Animais Abatidos em Matadouros

No Brasil, em função da inexistência de políticas de controle eficientes, a


tuberculose bovina encontra-se disseminada por todo o país, sendo sua incidência
variável de acordo com o sistema de exploração animal.

Um método de se avaliar a prevalência da tuberculose bovina é a realização de


uma inquisição epidemiológica em matadouros, procurando, a partir das carcaças e
vísceras desviadas ao Departamento de Inspeção Final (DIF), identificar alterações
anátomo-patológicas características.

Foram inspecionados 1021 animais abatidos no matadouro municipal de Patos


(Paraíba), sendo que 32 carcaças (5,4%) apresentaram lesões semelhantes a tuberculose.
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Vale ressaltar que, quando são evidenciadas lesões primárias pulmonares, o diagnóstico
é realizado de forma efetiva, mas quando se avalia a ocorrência de alterações
secundárias envolvendo cadeias linfáticas, em determinadas situações podem haver
dúvidas no diagnóstico. Isto pode ocorrer devido a algumas semelhanças entre as lesões
causadas em linfonodos pela tuberculose, linfossarcoma e linfadenites inespecíficas.
Sendo assim, o patologista por vezes se depara com situações em que a simples
observação macroscópica não constitui garantia na identificação das lesões,
impossibilitando deste modo um diagnóstico definitivo, salvo em algumas exceções.

A análise histopatológica, confirmando as observações anteriores, apenas 5 das


32 carcaças seqüestradas apresentaram lesões microscopicamente características de
tuberculose.

Diagnóstico

A grande variabilidade de sintomas e lesões, bem como o caráter crônico da


tuberculose, fazem com que o diagnóstico clínico tenha um valor relativo,
proporcionando apenas um diagnóstico presuntivo. Os testes para diagnóstico da
tuberculose se baseiam na detecção de infecções latentes pelo Micobacterium sp.
através de testes alérgicos ou pela detecção do agente em secreções, sendo o último
mais utilizado em humanos.

Conclusão

A importância da tuberculose bovina como zoonose é reconhecida mundialmente


e o estudo dos fatores de difusão de tal enfermidade possui grande relevância. Caso não
sejam adotadas medidas rápidas, uma epidemia de tuberculose poderá ocorrer nos
próximos anos. A falta de diagnóstico efetivo, com a identificação do agente, tem
contribuído para o aumento dos casos no Brasil. A ocorrência de infecções humanas por
microbactérias atípicas à espécie, associadas às reativações de infecções adquiridas na
infância, principalmente relacionadas a SIDA, vem complicar ainda mais a situação.
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Cisticercose em Coração

Tuberculose em Pulmão.
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Prejuízos Ambientais

Os abates clandestinos geram graves impactos ambientais, prejudicando a


diversidade biológica no local em que é praticado. Os dejetos produzidos são
descartados de forma irregular, muitos largados a céu aberto, provocando mau cheiro e
atraindo roedores e carniceiros. Essas ocorrências geram mais onerosidade à saúde
pública devido à concentração de populações poluidoras e contaminadoras.

Além desses riscos o agravamento maior é condicionado à contaminação do solo,


este ficando subutilizado. Os resíduos e efluentes líquidos são lançados em córregos,
poluindo os mananciais e contaminando o lençol freático.
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Dejetos descartados a céu aberto.

Prejuízos aos Trabalhadores


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O abate de animais é uma atividade em que o trabalhador se expõe a um alto risco


de contaminação e de acidentes de trabalho. Sabe-se que o trabalhador que opera no
abate clandestino submete-se a jornadas de trabalho exaustivas e exploradoras e não
conta com qualquer equipamento de segurança que a atividade exige, como: capacetes,
luvas, protetores auriculares, etc. Além do mais, ele não possui a CTPS devidamente
registrada de tal forma que, na ocorrência de um acidente de trabalho ou de uma
contaminação por alguma doença, esse trabalhador ficará totalmente desamparado, não
podendo o mesmo contar com os benefícios que tal lei lhe confere.

Trabalhador exposto a risco de contaminação.


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Trabalhador sem equipamento necessário

Prejuízos aos Pecuaristas

Com relação aos pecuaristas, ao permitir que animais sejam abatidos em suas
propriedades, os mesmos estão promovendo a sonegação fiscal, deixando assim de
contribuir com o município.

Sabe-se também que restos de animais doentes abatidos em suas propriedades


podem contaminar outros animais e pessoas que porventura venham a ter contato com
esses restos.

Muitas doenças poderiam ser evitadas como, por exemplo, a cisticercose. Esta
causada pelo descarte incorreto das fezes humanas, infesta principalmente os tanques
que servem de bebedouros de animais. Neste caso, o fazendeiro não tem conhecimento
de que o animal esteja doente, muito menos possui condições adequadas para combater
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tal problema. Caso o gado destinado ao abate nos frigoríficos fosse devidamente
observado, tal situação seria constatada por profissionais habilitados, que analisam as
vísceras e as carcaças bovinas. Sendo assim, o fazendeiro seria comunicado sobre o
ocorrido, tendo então subsídios então para evitar tal problema, promovendo orientações,
cursos educacionais, treinamentos e a difusão de boas práticas para o manuseio e uso
correto dos procedimentos sanitários.

Prejuízos Financeiros ao Município

Em 1992 uma nova Lei foi editada por meio do Convênio ICMS n°83 para
produtos que fizessem parte da cesta básica. Entre eles a carne bovina teve a base de
cálculo de ICMS reduzida para 7%, promovendo estímulos para o maior consumo
dentre à população. Porém, mesmo com esse incentivo fiscal os abates clandestinos
continuaram e expandiram-se constantemente, acarretando um entrave à arrecadação de
impostos aos cofres municipais.

É importante mencionar que o ICMS não é o único imposto incidente na


comercialização de carnes, a este se somam o COFINS, FUNRURAL, PIS e etc., além
dos custos oriundos do atendimento às normas de inspeção sanitária, necessários aos
estabelecimentos que operam em concordância com a legislação vigente.

Destaca-se que o município deixa de arrecadar a taxa de abate que é paga pelos
frigoríficos, sendo que tal taxa cobre boa parte das despesas provenientes das inspeções.

Em nosso município existem aproximadamente 800 açougues, casas de carnes e


outros estabelecimentos que comercializam carne bovina e suína. Sabe-se que mais da
metade destes estabelecimentos não possuem registros legalizados como alvará de
funcionamento, nem ao menos inscrição estadual, contribuindo para a sonegação de
impostos que seriam destinados aos cofres municipais. Leve-se em consideração a este
fato os prejuízos com as taxas de alvarás que a prefeitura deixa de arrecadar
anualmente.
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Conforme pesquisa realizada pela ABIF, descrito anteriormente, os índices de 7 a


12% de internações hospitalares geram muitos dividendos aos cofres municipais. Logo,
combatendo-se o problema em sua raiz, tais índices poderão ser reduzidos
drasticamente.

Prejuízo aos Frigoríficos

No 1º trimestre de 2008 foi registrado o abate de 7,155 mil cabeças de bovinos,


indicando queda de 10,1% com relação ao mesmo período de 2007, refletindo a baixa
disponibilidade de boi gordo para os frigoríficos. Entre os meses do trimestre atual, o
mês de março apresentou a maior queda no número de animais abatidos (-17,6%). A
falta de animais para abate manteve os preços elevados durante todo o trimestre, Esta
queda no volume de animais abatidos interrompe uma tendência de crescimento do
abate bovino no 1º trimestre observada desde o início da pesquisa em 1997 (Gráfico).
Desde o ano passado o volume de animais abatidos diminuiu a cada trimestre,
acompanhando a escassez de oferta de boi gordo, cujos preços vêm subindo desde
então, isto se deve em boa parte ao abate clandestino,m pois o gado que deveria ser
vendido para os frigoríficos são abatidos nas fazendas.

Fonte de Pesquisa: IBGE.

Dados do Agência Minas indicam que o nível de informalidade é maior no


período de escassez da carne, quando o gado está na entressafra e seus preços são mais
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elevados. Nessa ocasião o consumo da população fica mais sensível à variação dos
preços. Tal situação contribui para o aumento da ilegalidade, pois, por não recolher aos
cofres públicos os impostos devidos, os estabelecimentos que comercializam
mercadorias clandestinas apresentam preços mais baixos, aparentemente mais atraentes,
driblando desonestamente a competitividade dos estabelecimentos que aderem à
legislação.

Situação Atual dos Frigoríficos de Montes Claros

A capacidade de abate dos frigoríficos Frigonildo e Boi em Pé perfazem em torno


de 400 cabeças/dias. Mas, infelizmente, estão abatendo atualmente ínfimos 25 a 30
cabeças/dia. Este fato está desestimulando os investimentos programados para o
crescimento, levando tais empresas a dispensar boa parte do quadro de seus
funcionários por não conseguirem de forma sustentável equilibrar os custos de
operação, contribuindo assim para o aumento do desemprego.

Outro fator que diminui drasticamente o abate e o poder de comercialização dos


frigoríficos é o fato de não serem inspecionados. Não contando com este serviço ficam
impedidos de participarem em licitações por não possuírem o número de registro de
inspeção, documento exigido por empresas e entidades licitantes.

Um fato ainda mais preocupante é que de acordo com notificação do IMA


(Instituto Mineiro de Agropecuária) em breve não será emitido GTA (Guia de
Transporte Animal) para frigoríficos que não sejam inspecionados, selando assim de
vez o fim das atividades dos três frigoríficos de Montes Claros e obrigando a população
montesclarense a consumir apenas carne clandestina.

É importante salientar que esta situação acarreta um grande prejuízo econômico e


social para nossa cidade. Uma vez que os três frigoríficos juntos empregam diretamente
cerca de 200 funcionários, contando ainda com um número expressivo de empregos
gerados indiretamente, passando de 1.000 pessoas – haja vista que são açougueiros,
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marchantes, desossadores, e outros – envolvidos neste ramo de atividade. Sem a devida


fiscalização Montes Claros ficará entregue de vez ao abate clandestino, colocando em
risco total as pessoas que apreciam a carne bovina e suína.

Destacamos que os frigoríficos Frigonildo, Boi em Pé e Maisa são empresas que


se intensificam no investimento do setor da carne, encontram-se localizadas no
perímetro rural, e estão totalmente em dias com os devidos órgãos públicos.
Empenham-se constantemente em promover ao município melhores instalações e
qualidade na prestação de serviços de abate bovino e suíno.

Estas empresas, investidoras em equipamentos, tecnologias e modernidades em


suas linhas de abates, que são altamente prejudicadas, pois, por oferecerem ao mercado
consumidor meios de obterem uma mercadoria de qualidade e procedência veem seus
investimentos exaurirem nas mãos daqueles que, por irresponsabilidades e descasos,
promovem descaradamente o abate clandestino.

Nota-se que as referidas empresas dispõem de condições de abater, com


qualidade, todo o rebanho bovino e suíno consumido pela população de Montes Claros,
pois é possível que firmem contratos para assumir a responsabilidade do abate bovino e
suíno, devidamente legalizado em parceria com o município e seus órgãos competentes
através de cobrança de taxa de sangria.

Tais empresas se mostram abertas para diálogos construtivos e alavancadores de


sucesso no que tange ao abate devidamente legalizado. Porém, para que isso ocorra é
necessário que o município cumpra a lei e crie um serviço de inspeção municipal, pois,
embora estejam em dia com suas obrigações e impostos, empregando vários
trabalhadores e promovendo o progresso da região, as mesmas são consideradas
clandestinas.
28
29

Higiene Pessoal e Limpeza dos Equipamentos.

Como Combater o Abate Clandestino

É possível que se faça em Montes Claros uma fiscalização inteligente de forma


“cirúrgica” prestando com eficiência um serviço necessário à população.

Uma vez que os frigoríficos forem inspecionados, os relatórios de abate contendo


os dados dos compradores (açougues, casas de carnes e outras) forem disponibilizados
diariamente pelos frigoríficos à fiscalização, e esta tenha de antemão em seu cadastro os
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dados e endereço dos possíveis compradores, será possível fazer diariamente um


levantamento e saber quem são os comerciantes que estão adquirindo mercadoria
clandestina. Dessa forma, o município fará economia, pois a fiscalização será
direcionada apenas aos estabelecimentos infratores.

Por tudo isso, acredita-se que a partir do momento em que a fiscalização for
intensificada, contemplando os frigoríficos que serão devidamente legalizados, o
comércio de carnes (açougues, casas de carne, e outros) e os abates clandestinos, será
possível fechar todo o cerco em torno da cadeia da carne. Com isso, evita-se que os
cofres municipais percam mensalmente um montante considerável, que poderia ser
aplicado no município, proporcionando á população melhorias consideráveis nos
diversos âmbitos da política social e nos variados setores que mais carecem de
investimentos.

É importante destacar que o montante arrecadado com as taxas de inspeção e


outros impostos cobriria todo o gasto com a manutenção e com o pessoal envolvidos na
inspeção dos frigoríficos.

Ressalta-se que a prefeitura poderia embasar suas atividades no decreto municipal


de número 2472 de 04/04/2008, o qual foi criado para inspecionar os estabelecimentos
frigoríficos que abatem o rebanho bovino e suíno. Tal decreto bem parametrizado com
um corpo de funcionários habilitados e constantemente treinados poderá se mostrar um
fator de segurança à qualidade da carne consumida em nosso município e um forte
entrave ao abate clandestino.

Posturas no Ministério Público

O Ministério Público do Espírito Santo demonstrou como pode contribuir na


atuação ao combate criminal do abate clandestino, abaixo estão alguns dizeres e
observações exercidos pelo Excelentíssimo Senhor Promotor de Justiça, Doutor
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Gustavo Senna Miranda que promove intensivamente o cumprimento da lei sobre esse
crime à sociedade.

“Como é de conhecimento de todos, uma das condutas que mais vem reclamando
a atenção dos órgãos de execução do Ministério Público diz respeito ao abate
clandestino de animais. Referida conduta tem reflexos em diversas áreas de atuação do
Ministério Público, destacando-se as seguintes: 1) saúde – na medida em que coloca em
risco a saúde da população, já que oferece mercadoria inapropriada para o consumo,
podendo provocar sérias doenças; 2) meio ambiente – na medida em que pode acarretar
poluição ambiental com o depósito irregular da mercadoria ou com dispensa de dejetos
em manancial etc.; 3) consumidor – eis que viola direitos básicos da relação de
consumo, atingindo direito difuso da coletividade.

Não por outro sentido que os(as) Promotores(as) de Justiça Dirigentes


respectivamente dos Centros de Apoio à Saúde, do Meio Ambiente e do Consumidor
estão envidando esforços para coibir tal prática, infelizmente com certa aceitação, por
falta de informação, da população, porém, de efeitos deletérios para a coletividade,
merecendo, portanto, atuação eficaz do Ministério Público, preventiva e
repressivamente.

Exatamente no último sentido, isto é, na atuação repressiva do Ministério Público


no combate à conduta de abate clandestino de animais, que o Centro de Apoio
Operacional Criminal elaborou pequeno estudo (doutrinário e jurisprudencial),
unicamente com o objetivo de auxiliar os órgãos de execução do Ministério Público na
sua atuação prática, portanto, sem qualquer caráter vinculativo.

Além de ser obrigação do Centro de Apoio fornecer suporte jurídico para os


órgãos de execução do Ministério Público, a pesquisa sobre o tema revela-se de grande
utilidade prática, notadamente colegas do interior, que se deparam constantemente com
a conduta ilícita acima citada, cuja tipificação criminal é complexa.
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Assim, é inquestionável que o Ministério Público também pode se valer do direito


penal para coibir a nefasta prática, que tanto mau causa á coletividade, que é o abate
clandestino de animais destinado ao consumo.

Das tipificações possíveis a que encontra maior número de incidência e, portanto,


de aceitação pelos tribunais, é a do art. 7º, inc. IX, da Lei nº 8.137/1990, destacando,
inclusive, que referido delito possui pena máxima superior a dois anos, estando fora da
competência dos Juizados Especiais Criminais, não sendo possível, também, pela pena
mínima cominada (dois anos), nem mesmo a suspensão condicional do processo.

Portanto, pela gravidade de sua pena, poderá, em tese, ser mais eficaz para coibir
a referida prática, merecendo reflexão por parte dos órgãos de execução do Ministério
Público.

Uma vez que os animais não são inspecionados, suas carcaças são destinadas
diretamente ao aproveitamento e consumo humano, sendo que aí se encontra um dos
ganhos do abate clandestino: carcaças que seriam descartadas ou condenadas por riscos
sanitários são aproveitadas.

Parte relevante do fluxo da carne clandestina percorre um caminho absolutamente


distinto, iniciando-se em um ponto de abate não registrado ('frigomato'), passando
diretamente aos açougues, em especial nos bairros mais pobres. A vigilância sanitária,
por sua vez, que seria responsável pela fiscalização da carne já no ponto de venda, não é
capaz de avaliar problemas que levariam à condenação da carcaça no momento do
abate. Os bovinos estão sujeitos a uma série de patologias, muitas delas graves, e em
grande número transmissíveis ao homem pela ingestão ou manuseio das carnes e de
outras partes do animal, as chamadas zoonoses, que são em número superior a 150.”

Considerações Finais
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Assim, para usufruir das vantagens comparativas de uma carne inspecionada,


Montes Claros precisa incluir na sua rotina a questão da segurança alimentar, em suas
vertentes qualitativa e quantitativa. Não se pode esquecer também a questão ambiental e
social. A atenção do mundo moderno se concentra nessas condições. O recente embargo
da nossa carne pela Europa atesta essa assertiva. Dessa forma a inspeção industrial e
sanitária de carnes é uma das funções de responsabilidade exclusiva do Estado. O Prof.
Helly Lopes, em seu livro Direito Administrativo Brasileiro define: “É dever do Estado
tomas todas as medidas requeridas por situações de perigo presente ou futuro que lesem
ou ameacem a lesar a saúde e a segurança do indivíduo e da comunidade”. Em
definitiva, o consumidor montesclarense tem os mesmos direitos que os europeus e
norte-americanos.

Observa-se então que os problemas gerados pelo abate ilegal influenciam


sobremaneira nos custos onerosos aos diversos setores da cadeia da carne e causam
relevantes problemas sociais.

Os prejuízos que são gerados não se limitam somente aos cofres públicos, se
estendem a toda a cadeia produtiva da carne, às pessoas que estão direta e indiretamente
ligados à pecuária e ao comércio da carne em geral, acarretando seqüelas irreparáveis no
que tange à saúde da população, causando grandes prejuízos financeiros às empresas
que investem com seriedade no ramo.

Por tudo isso pleiteamos uma Vigilância Sanitária efetiva, compromissada com o
bem estar público social e econômico de nossa cidade.

Referências Bibliográficas
2000. Tese (Mestrado em Engenharia Agrícola) – Universidade Estadual do Oeste
do Paraná, Paraná.
Ministério Público do Estado do Espírito Santo -
www.mpes.gov.br/anexos/centros_ apoio/arquivos <acesso em 28 de Março de 2009>
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Revista Fundepec - http://www.fundepec.org.br/revista/10/cisticercose.htm


<acesso em 27 de Março de 2009>
Assembléia de Minas - http://www.almg.gov.br/not/bancodenoticias/ <acesso em
26/03 de 2009>
BÁNKUIT, Ferenc Istvan e AZEVEDO, Paulo Furquim – Abates Clandestinos
de Bovinos: Uma Análise das Características do Ambiente Institucional. 2006 -
Zootecnistas e Mestrandos da Universidade de São Carlos UFSCar.
SANTOS, Adriana Helena Gama dos e OLIVEIRA, Octávio Costa de -
Indicadores IBGE – Estatística da Produção Pecuária de 2008, p.4

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