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Universidade Federal de Viçosa 1

Departamento de Economia Rural

ELABORAÇÃO E AVALIAÇÃO DE PROJETOS

Aumentar a eficiência do planejamento significa obter e organizar informações de tal


forma, que o empresário rural possa tomar as melhores decisões, aumentando as
chances de, no futuro, a empresa atingir seus objetivos. O planejamento é
essencialmente uma atividade de previsão, sujeito portanto, a variáveis aleatórias. O
planejamento de uma empresa, por mais bem realizado que seja feito, aumenta as
chances de sucesso, não garantindo, entretanto, que os objetivos da empresa serão
atingidos. Por outro lado, em um ambiente de grande competitividade, a falta de
planejamento é a primeira, e uma das maiores, contribuições para o fracasso da empresa.

Teoricamente, divide-se o processo de planejamento em planos, programas e projetos,


tendo como critério de distinção, o nível hierárquico em que as decisões são tomadas. Os
planos, de caráter mais amplo, definem os recursos e instrumentos que serão utilizados
para que determinadas metas sejam atingidas. Um plano divide-se em programas, os
quais estabelecem linhas de ação no sentido de otimizar o uso dos recursos disponíveis.
Projetos são o detalhamento de programas e consistem na unidade básica do
planejamento. No projeto determina-se os bens que serão produzidos e as quantidades a
serem produzidas, definindo como e quais recursos serão utilizados.

Um projeto é definido como “o conjunto de informações internas e/ou externas à


empresa, coletadas e processadas com o objetivo de analisar-se (e eventualmente,
implantar-se) uma decisão de investimento. Pode-se Classificar projetos em função do
setor econômico, onde ocorre o financiamento. Tem-se então projeto:
• agrícola,
• industrial ou
• de serviço.
Outra classificação possível é considerar o projeto do ponto de vista da empresa, aonde
teríamos projetos:
• de implantação
• de expansão
• de modernização ou
• de diversificação.
Finalmente, pode-se classificar projetos em função do uso que o mesmo terá, ou seja,
projetos:
• de viabilidade
• final e
• de financiamento.

Projetos de financiamento são elaborados seguindo exigências de órgãos financiadores.


Este tipo de projeto resulta, via de regra, em preenchimento de formulários padronizados,
nos quais o objetivo principal é sensibilizar os órgãos financiados, afim de que o
financiamento seja concedido. Projetos de viabilidade e projetos finais, por outro lado,
são parte integrantes do planejamento da empresa rural e são avaliados tendo como
referência o planejamento estratégico da empresa. No projeto de viabilidade avalia-se,
como o próprio nome diz, a viabilidade e o impacto que novas possibilidades de
investimento teriam na empresa. No projeto final as avaliações já estão consolidadas e
detalha-se a processo de implantação e aconselhamento do projeto.

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Os custos de estudos de viabilidade são os menores em relação aos outros gastos de


investimento. Estas análises são de vital importância, pois na maioria das vezes as
decisões de investimento são de difícil reversão e de impacto a longo prazo. As
informações obtidas nesta etapa e as decisões tomadas a partir delas, dificilmente podem
ser compensadas por uma administração operacional bem executada. Apesar desta
importância muitas vezes análises de viabilidade não são realizadas, utilizando-se para a
tomada de decisão da empresa projetos de financiamento, os quais, via de regra, são
menos detalhados. Projetos de viabilidade demandam tempo e recursos que podem ser
escassos.

Análise de viabilidade é feita com base em projeções, as quais por definição, são incertas
e realizadas, normalmente, a partir de informações parciais. Muitas informações são de
difícil obtenção e podem demandar análises complexas, aumentando portanto, os gastos
com a coleta e análise de informações. Quanto maior o risco que o projeto pode
representar para a empresa, maiores deverão ser o tempo e os recursos utilizados com a
elaboração e análise de projetos, como é indicado na figura abaixo.
Gastos com elaboração e análise em função do risco para a empresa

Raramente, as informações utilizadas na análise de viabilidade podem ser consideradas


100% confiáveis. Muitas vezes elas são obtidas de fonte secundárias, ou seja, elas são
obtidas através de terceiros, literatura e meios de comunicação. Os gastos com a coleta e
verificação de informações é diretamente proporcional a confiabilidade que se deseja,
crescendo de modo exponencial, como pode ser visto na figura abaixo.

gasto com
análise de custo
viabilidade variável
coleta de
informação

risco para a empresa

gasto com
análise de
viabilidade
Gastos com elaboração e análise em função da confiabilidade

Na elaboração e análise de projetos é de grande relevância determinar o esforço que será


dispendido na coleta, revisão e análise das informações. Existem dois custos que devem
ser levados em consideração. O primeiro deles é o custo da elaboração do projeto e o
outro é o chamado custo associado da inexatidão. Este custo corresponde às perdas que
100% Os dois custos
a empresa terá quanto utiliza nas suas análise dados pouco confiáveis.

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tem comportamento inverso quanto a precisão desejada. Quanto maior a precisão


desejada, maiores serão os gastos com a elaboração do projeto. Por outro lado, quanto
maior a precisão, os riscos de erros, ou seja, o custo da inexatidão serão menores. A
figura abaixo esquematiza o relação entre os dois custos., mostrando o ponto, no qual o
custo é mínimo

$ custo total

custo
elaboração e
análise
Ponto de custo mínimo

As etapas de elaboração de projetos não seguem um mínimo


padrão único, existindo na literatura
precisão
diferentes procedimentos. Para projetos de viabilidade no setor agrícola, consideramos
adequada a divisão esquematizada abaixo.

1) definição dos objetivos e metas

2) diagnóstico da empresa

3) seleção das alternativas para


análise

4) levantamento de preços

5) organização das informações

6) obtenção dos coeficientes


técnicos

7) análise final e conclusão

Etapas da elaboração e análise de projetos

Na primeira etapa são definidas as objetivos e metas da empresa. Em projetos de


viabilidade, esta etapa é de grande importância, principalmente quando o responsável
pelo projeto é um consultor Mesmo nos casos de projetos de menor extensão, como
projetos de expansão, ou quando a própria empresa é a responsável pelo projeto, é

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imprescindível que os objetivos e metas da empresa sejam conhecidos e claros. Esta


definição não é tão simples quanto a primeira vista possa parecer. Principalmente na
agricultura, aonde a maioria das empresas rurais são pequenas ou média, os objetivos da
empresa rural confundem-se com os objetivos do proprietário rural. Neste caso,
conhecimentos básicos de psicologia aplicada à administração tornam-se importantes. Em
projetos voltados para assentamentos rurais, a situação torna-se ainda mais complicada,
pois além de fatores individuais, devem ser levados em considerações variáveis culturais,
sociais e políticas. No exemplo apresentado nesta apostila, a análise é simplificada pelo
fato de considerarmos a propriedade rural uma empresa, na qual o proprietário é um
empresário, não havendo justificativa, portanto, para serem gastos tempo e recursos em
análises mais profundas. Como estamos tratando de projetos de viabilidade, o objetivo
específico do projeto, é contribuir para que os objetivos e metas da empresa sejam
atingidos.

A definição dos objetivos e metas da empresa é condição imprescindível para realizar o


diagnóstico da empresa. Nesta segunda etapa, é realizado o inventário dos recursos da
empresa e feita uma avaliação, tendo como parâmetros os objetivos e metas da empresa,
como também dados de outras empresas e a própria evolução dos indicadores
selecionados.
Os recursos da empresa podem ser divididos em recursos:
• econômico-financeiros
• físicos e
• administrativos

Na avaliação dos recursos econômico-financeiros, são levados em consideração o grau de


endividamento e liquidez da empresa, além dos resultados e rentabilidade econômica,
como receitas e custos. Os recursos físicos podem ser subdivididos áreas e animais de
produção, solo, água, benfeitorias e máquinas/equipamentos. As atividades produtivos
são avaliadas em relação a índices de produtividade. Os outros recursos físicos são
avaliados conforme critérios específicos, como por exemplo, fertilidade, estrutura física e
risco de erosão no caso da análise do recurso solos.

A próxima etapa é selecionar as alternativas que deverão ser analisadas com mais
detalhes e para as quais serão calculados indicadores econômicos.

Existem metodologias para detectar oportunidades, como o brainstorming, com as quais


pode-se identificar alternativas, principalmente produtos com valor agregado para nichos
de mercado. Entretanto, na agricultura o número de alternativas, considerando somente
culturas tradicionais é extremamente elevado, sendo o principal problema a definição de
critérios

A definição dos objetivos e metas da empresa e a análise de diagnóstico realizadas nas


etapas anteriores não são suficientes para que se possa selecionar as alternativas a
serem analisadas. É necessário nesta etapa que se considere fatores de mercado. A
primeira pergunta a ser respondida é se existem compradores para aquela alternativa, ou
seja, antes mesmo do cálculo de indicadores é necessário determinar a existência de
mercado. Para muitos setores tradicionais na agricultura, como soja, milho, arroz, café e
cacau, as informações de mercado são relativamente de fácil obter. Para novos produtos,
ou produtos tradicionais mas direcionados a nichos de mercado, produtos “ecológicos” por
exemplo, as análises demandam mais tempo e recursos, pois as informações relativas a
mercados e a própria atividade são mais difíceis de serem obtidas. Para tais alternativas,
de grande risco, o custo adicional de uma análise de mercado mais detalhada poderá
comperá diminuir os custos relacionadas a inexatidão. Além da análise do mercado é

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necessário que seja levado em conta os canais de distribuição disponíveis. Conhecimentos


básicos de marketing são de grande importância nesta etapa.

O número de alternativas a serem selecionadas deve ser adequada a realidade da


empresa, seus objetivos e de uma estimativa do tempo e recursos disponíveis.

Selecionadas as alternativas a serem analisadas, deve-se obter informações detalhadas


sobre o processo de produção, que permitirão determinar os coeficientes técnicos de cada
atividade. Estes coeficientes definem a quantidade de cada recursos que é necessária
para se obter determinada produtividade Para culturas tradicionais estes coeficientes
podem ser obtidos com relativa facilidade. Para atividade recentes, pode ser necessário
buscar o apoio de um especialista.

A próxima etapa consiste em obter e selecionar preços para os produtos e insumos. É


importante relembrar que um projeto lida com projeções. A seleção ds preços a serem
utilizados no projeto é uma etapa crítica no processo de elaboração e análise de projetos.
A utilização de preços da data da elaboração do projeto pode levar a grandes erros, pois
os preços dos insumos, e principalmente dos produtos, sofrem três tipos principais de
variações, a variação durante o ano (sazonalidade), a existência de ciclos e variações
entre anos (tendências). Estas informações, para atividades tradicionais, estão
disponíveis.

Através da análise de mercado e informações técnicas sobre a alternativa pode-se


detectar fatores que podem influenciar o preço. O acompanhamento da evolução política
e econômica do mercado é de grande utilidade.

A organização das informações técnicos e de preços permite o cálculo de indicadores


econômicos-financeiros. Estas informações são organizadas em forma de orçamento, o
qual procura traduzir em termos monetários as relação entre a quantidade de insumos e
produtos com seus respectivos preços.

Pode-se utilizar instrumentos mais avançados como a programação linear. Para utilizar
este método é necessário estruturar os dados em forma de orçamento, obter os
indicadores e estrutura-los em forma de um modelo pré-definido, o qual pode ser
resolvido utilizando-se computadores.

A última etapa consiste no cálculo dos indicadores, a análise final e a conclusão do


projeto. Os indicadores de cálculo mais simples utilizados são a receita líquida do projeto,
o tempo de retorno do capital e a relação benefício/custo. Com estes indicadores pode-se
descartar projetos inviáveis. Estes indicadores não consideram a variação do capital com
o tempo, sendo portanto inadequados para que projetos sejam selecionados. Os
principais indicadores que levam em consideração o custo do capital são: relação
benefício/custo, o tempo de retorno do capital e o valor presente descontados a uma
determinada taxa de juros, e também a taxa interna de retorno.

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Com os recursos de informática disponíveis pode-se realizar análise de sensibilidade dos


indicadores, seja através de cenários ou utilizando-se de modelos mais sofisticados como
simulação.

Através da programação linear obtêm-se uma solução ótima e a maioria dos programas
que solucionam o modelo apresentam a análise de sensibilidade.

Com os indicadores são feitas as análises finais. Utilizam-se conhecimentos de análise de


projetos tendo sempre como referência os objetivos e metas da empresa.

Informações o cronograma de implantação e os controles que poderão ser feitos durante


a execução do projeto devem ser, tanto quanto possível, adicionadas ao projeto.

O exemplo discutido nesta apostila, segue as etapas discutidas acima. Foram


incorporados no anexo, o cronograma de implementação, informações adicionais sobre
análise de sensibilidade e o modelo de programação linear, além de informações gerais
sobre financiamento de projetos na agricultura e o exemplo da apresentação em forma de
um seminário de 10 minutos.
Utilizamos dados de uma fazenda não identificável, pois contêm informações que
gostaríamos que continuassem a ser exclusivas da empresa em questão. Alguns dados
foram modificados e algumas vezes priorizamos o aspecto didático do material. De
qualquer forma, o projeto apresentado, certamente poderia contribuir para que melhores
decisões fossem tomadas, contribuindo, em última instância, para o sucesso esta
empresa.

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