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A Vida Dos Outros-Libre
A Vida Dos Outros-Libre
Cheguei a esta resposta inquietante: qualquer um (ou quase) pode se esquecer de sua
humanidade no por convico nem por crueldade ou por medo, mas, simplesmente,
pelo descanso que ele encontra na obedincia, no sentimento de fazer parte de uma
mquina da qual ele pode ser uma pequena engrenagem. Desejar, pensar e agir como
indivduo penoso; muito mais fcil renunciar subjetividade (sempre
atormentada) para transformar-se em burocrata do mal.
Meus argumentos convenceram os que os leram. Mas fiquei com uma pergunta: tinha
jogado um pouco de luz sobre a "banalidade do mal" (como dizia Hannah Arendt),
mas o que continuava misterioso era a banalidade do bem. Entendia como milhares
de homens comuns puderam se tornar algozes; no sabia por que alguns, nas mesmas
condies, tinham encontrado a vontade de resistir.
No penso nos que, animados por seus ideais, levantaram as armas ou a voz contra os
totalitarismos do sculo 20. Gostaria de entender os pequenos gestos de resistncia
que surgiram do nada, sem uma motivao que fosse clara para o prprio agente.
Gostaria de entender o fascista simpatizante que, um dia, no meio de uma batida
policial, escondeu um judeu, um homossexual ou um resistente. Ou o burocrata que,
de repente, apagou o nome de uma famlia de uma lista de deportao ou avisou
algum que ia ser preso, para que fugisse a tempo.
No nosso cotidiano imediato, na esquina de casa, por que, s vezes, se abrem frestas
de humanidade e resistncia na parede uniforme da complacncia?