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Assertividade

 
Existe um tipo de comportamento que, quem o tem, sofre
demasiadamente. Refiro-me as pessoas que vivem deixando os
outros fazerem dela de gato e sapato. Em psicologia chamamos esse
comportamento de “Não Assertivo”.
Já ouvi muita gente usando essa palavra de forma errada.
Como por exemplo: “Fulano foi assertivo demais, ele foi lá e despejou
tudo na cara dele”. Isso não é assertividade. Isso é agressividade. È
impossível ser “assertivo demais”, pois assertividade se refere,
principalmente, a equilíbrio.
Ser assertivo, com certeza, é a melhor forma de comportamento
que alguém pode querer desenvolver, porque é a forma mais fácil de
atingir nossos objetivos. Mesmo se o objetivo for uma coisa simples
como uma troca de um produto que não tenha sido entregue com as
especificações combinadas, ou se posicionar diante de alguém que
furou a fila à sua frente, ou de passar orientações para seu filho por
ele não estar cumprindo as regras, ou falar com marido, namorado,
colegas, chefe. Qualquer desses objetivos você, com certeza, atinge
de forma muita mais fácil quando se consegue ser assertivo.
Tem muita gente que não gosta nada da forma como está
conseguindo lidar com as outras pessoas. Sente muita dificuldade em
se colocar objetivamente, mas considera que seria impossível mudar
sua forma de agir, e diz: “Eu sou assim mesmo... o que eu posso
fazer?”... Já ouvi muita gente dizendo: "Eu sei que eu não ajo como
gostaria... mas não dá pra mudar". A boa noticia é que dá para mudar
sim. Existe algo chamado de “Treino de assertividade”.
É possível perceber que ser assertivo é a única forma de
finalmente conseguirmos controlar o nosso ambiente. Controlar como
as pessoas falam conosco, ou como em psicologia nós dizemos: Ser
"Efetivo interpessoalmente".
Por exemplo: Você não quer fazer mais um daqueles
“favorzinhos” que vivem te pedindo, mas fica muito sem jeito em dizer
“não”, ou então sente muita dificuldade em se fazer respeitar quando
os amigos vêm com aquelas brincadeirinhas sem graça, você imagina
que ao mostrar que não gostou você estará perdendo,
automaticamente, perdendo o amigo.
Ser assertivo é justamente conseguir dizer “não”, na hora certa,
da forma certa, e sem se indispor com as pessoas envolvidas. Sendo
que o mais recompensador é perceber que podemos fazer isso, ser
afirmativo, sem se tornar uma pessoa cruel, má ou nos tornarmos uma
pessoa mal vista pelos colegas, ou familiares.
Mas ser assertivo de verdade é conseguir se expressar,
conseguir se colocar de uma forma afirmativa diante das pessoas e
ainda assim ter essas pessoas do seu lado, ainda assim ter a simpatia
das pessoas.
A importância em conquistar esse comportamento assertivo está
no próprio estresse do dia a dia. Quanto menos conseguimos
administrar as cobranças impostas, tanto no ambiente do trabalho
como em casa, mais aumenta a sensação de impotência, aumenta a
raiva e a amargura.
Um bom exemplo disso é quando você pretende mostrar ao seu
chefe, ou seu cliente, aquele projeto maravilhoso que tirou horas do
seu sono, mas se a outra pessoa ficar com aquela cara de incrédulo
na sua frente e você desanimar, perder o rebolado porque se deixou
contaminar pelo desanimo do outro, você não conseguiu ser assertivo.
Esse sofrimento pode ser o causador de uma série de
problemas psicológicos, como por exemplo: Síndrome do pânico,
depressão, ansiedade.
Ansiedade é um transtorno que nem sempre é identificado
facilmente, pois a noção do senso comum é que o ansioso é aquele
que fica andando de um lado para o outro, que é inquieto. O que não é
bem assim. Essa é só uma face da ansiedade. Um transtorno de
ansiedade é também identificado pelas preocupações
desproporcionais.
O comportamento passivo, ou “não assertivo” pode ter sido
aprendido. Culturalmente a mulher é criada para se “comportar” e isto
pode significar não se defender, aceitar o que lhe é oferecido sem
questionar. A mulher aprende que o ideal é estar dentro das
convenções onde se espera que ela nasça, cresça, case, procrie e
seja feliz para sempre. Aliás essa mulher convencional quase não
existe mais. E nem sei se um dia existiu.
Muitas culturas ensinam o comportamento passivo. Não é
incomum alguém dizer às crianças: “Não responda para as pessoas...
Seja um menino bonitinho... Fique quietinho...”
O importante é saber que a assertividade pode ser aprendida,
todo comportamento pode passar por um reaprendizado, e isso
independe da idade.
O que é ser assertivo? É expressar diretamente os seus
pensamentos, suas opiniões, sem ameaçar ou castigar as outras
pessoas. É fazer os outros saberem quem você é, sem dominar ou
humilhar a outra pessoa.
Ser assertivo implica em ser respeitado. É deixar de ser servil. É
não mais fazer de conta que o outro está certo e você deve concordar
com ele só porque o outro é mais poderoso, mais velho, tem mais
conhecimento, é homem, é mulher ou o que for.
É possível que o que você tenha aprendido que era respeito
pode na realidade significar servilismo. Eu não sou machista, em
feminista, o que eu sei é que todas as pessoas merecem o mesmo
respeito.
Ser assertivo implica em dois tipos de respeito, o respeito por
você mesmo, e o respeito pelo outro.
É aí que todo mundo confunde ser assertivo com ser agressivo.
Quando alguém, depois de muito comportamento passivo, acaba
tendo atitudes agressivas, que são o outro extremo, tão indesejável
quanto à passividade.
O comportamento não assertivo pode ser bem observado
quando pensamos em todas as situações em que fomos engolindo,
engolindo, engolindo, até que um dia a conversa acaba em troca de
desaforos e coisas ditas para se arrepender logo no dia seguinte. Aí o
que se consegue é mais um problema, pois em geral a pessoa se
sente culpada por ter explodido, “Poxa vida, não precisava, porque eu
fui fazer isso, que papelão, agora todo mundo vai pensar que eu sou
um descontrolado“.
Quando você não consegue expressar seus pensamentos e
sentimentos de forma honesta, você permite que os outros violem os
seus sentimentos. Mas foi você que abriu essa porta e permitiu que o
outro abusasse.
Quando você começa a agir de forma autoderrotista, por
exemplo, se desculpando por tudo, se desculpando por existir, por
ocupar um lugar no mundo, agindo com falta de confiança, é aí é que
os outros encontram a porta aberta, encontram a fragilidade em você.
Porque a mensagem que você está passando é: “Eu não conto” ,
“Meus sentimentos não importam”, “Suas idéias são as únicas que
valem a pena ser ouvidas”.
Essa mensagem autoderrotista aparece não só nas coisas que
você diz não, parece também na comunicação não verbal. Você
também é não-assertivo quando evita o olhar direto para as pessoas,
ou sua fala é vacilante, a postura do seu corpo é tensa, seus
movimentos são estranhos. E tudo passando a mesma mensagem:
“Eu não sou tão importante. Não sou tão interessante”
Isso é ser não-assertivo. É quando você não tem respeito às
suas próprias necessidades.
Mas tem outra forma não assertiva que é mais sutil ainda de se
perceber, que é quando você não respeita a capacidade do outro em
lidar com os problemas dele. É quando você assume
responsabilidades que não são suas. Quando você assume o
problema do outro porque acha que o outro não tem capacidade de
lidar com aquilo. Mas muitas vezes você não está ajudando o outro.
Você está atrapalhando o crescimento dele, você tirou a oportunidade
dele de adquirir seu próprio aprendizado.
Ser não assertivo é também quando você tenta evitar conflitos a
todo custo. Ex: Pense nas situações em que você disse uma frase
destas: “Eu fiz todo o trabalho sozinho porque sei que não adianta
contar com ninguém mesmo”. “Eu paguei a conta sozinho porque
assim fico livre daquela pessoa.” Aí você reclama que ninguém te
entende. Você se sente sozinho na multidão. Claro! Está faltando
aprender a se comunicar. A parar de se comunicar de forma
incompleta.
Quer um exemplo de comunicação incompleta? É quando você
diz assim: “Meu marido não é nada romântico. Ele tem que saber que
eu gosto de ganhar flores!” Comunicação incompleta é quando você
acha que não precisa dizer uma coisa porque essa coisa é OBVIA!
Mas é obvia pra você, nada garante que é obvia para o outro.
Quem não é assertivo acaba sendo incompreendido. Sente-se
manipulado pelos outros. Sente que os outros não o levam em conta.
Por exemplo: quando seu grupo combina de pedir uma pizza, todos
dão opinião quanto a que sabor encomendar, muitas vezes nem
pedem a sua opinião, mas mesmo se pedirem é possível que acabem
encomendando outro sabor totalmente diferente da que você queria
comer. E olha que é capaz de você pagar pela pizza no final. É por
isso que quem não é assertivo está sempre se sentindo irritado e
acaba sendo hostil, até mesmo sem querer.
E o saldo final disso tudo? Culpa, ansiedade, depressão, baixa
auto-estima e talvez ainda queixas psicossomáticas, como dores de
cabeça, úlceras, causados pelos sentimentos reprimidos.
O Ser humano tem capacidade de suportar frustrações, mas há
limites. Uma hora a coisa tem que sair de alguma forma. E sempre sai
em forma de sintomas. Sintomas somáticos, seu corpo fica doente, ou
sintomas psicológicos. E quando extravasa a coisa sai sempre de
uma forma que não é proporcional ao que está acontecendo na hora,
porque aquela foi só a gota que transbordou o copo.
Mesmo quando aparecem sintomas somáticos como dor de
barriga, falta de ar, dor de cabeça, tonturas, não adianta procurar só o
médico, porque ele vai tratar apenas esses sintomas, quem vai tratar a
causa é o psicólogo. Estes sintomas tem causa psicológica.
Quem não é assertivo tem como problema principal não dizer o
que pensa. Aí os outros tem que ler os seus pensamentos, e é claro
que não é fácil que os outros adivinhem os teus sentimentos . Como
por exemplo: "Eu nem deveria ter que falar, ele tem que saber que eu
quero que ele me ajude", ou "É claro que ele devia saber que eu
fiquei bravo, tava na cara". Portanto o grande problema em não ser
assertivo é pecar em querer que os outros leiam nossa mente.
Outro exemplo: Deixar que os outros tomem decisões por nós.
Você quer sair com amigos, quer fazer um determinado tipo de
programa, mas não se manifesta, fica torcendo pra que decidam fazer
o que você estava pensando. Assim como você não é tão poderoso a
ponto de conseguir ler mentes, as outras pessoas também não, o
resultado mais provável em uma situação dessas é a sua decepção.
Quem tem algum desses comportamentos não assertivos tem
como resultado certo não conseguir gostar de si mesmo, sentimentos
de inferioridade, é a pessoa do tipo que sempre acha que aquela
roupa bacana não fica bem nela, só na vizinha, aquele emprego
interessante também não é para ela, ela jamais conseguiria trabalhar
naquela boa empresa, mas seus colegas... Aí sim, pra eles tudo bem.
Ou também quando a pessoa se coloca em demasia em papel de
subordinação, até mesmo tendo uma posição interessante ainda se
comporta como se fosse subordinada ao seu colega de trabalho que
estaria em nível hierárquico equivalente. Ou dá mais autoridade para
pessoas que até tem poder sob um aspecto específico, por exemplo
permitir que seu chefe se envolva em áreas particulares da sua vida.
Daí vem muito da tensão do seu dia a dia, tentar solucionar
questões do dia a dia com indiretas, dicas, não dá resultado. Você
acaba com o seguinte pensamento: “Não adianta.. já fiz de tudo... não
é possível fazer com que os outros me respeitem” . Aí é que você está
muitíssimo errado, tem o que fazer sim, existe o que em psicologia
chamamos de treino de assertividade.
Preste atenção nos seguintes sintomas: Medo constante de
estar incomodando as pessoas. Medo de chamar a atenção. Sente
que não tem o direito de ocupar muito espaço. O diagnóstico pode ser
a falta de assertividade.
Você deve se dar a oportunidade de repensar tudo esse se
comportamento, ou falta de comportamento, porque para quem é
passivo lhe falta atitude.
Pare de se desculpar por existir. Se goste mais. Invista em você.
Se não consegue sozinho procure ajuda profissional.
Quem vive querendo ser tudo para todo mundo acaba não
sendo nada para ele mesmo.
Não se deixe levar pelo estilo camaleão, que tenta agradar aos
outros e só aos outros, nunca a si mesmo.
Não sinta culpa, troque a palavra culpa por responsabilidade.
Ter responsabilidade significa que você tem condições de ser influente
em sua própria vida.
A pessoa que não é assertiva é do tipo que pode até ser
honesta intelectualmente, mas emocionalmente ela é uma mentirosa.
Ela finge que está tudo bem quando no fundo está sofrendo com as
coisas que estão acontecendo a sua volta, faz cara de paisagem. E
até sua cortesia é uma mentira, porque muitas vezes ela está tratando
muito bem uma pessoa mas é porque tem medo do outro.
Uma pessoa assim está sempre planejando, não consegue ser
espontânea “Se eu for lá agora vai significar que estou interessada, e
não devo demonstrar interesse”, ou “Eu não posso sorrir muito senão
vão me achar uma boba... não posso ficar séria senão vão me achar
esnobe... Não posso ficar de pé senão vão achar que estou sem
graça... não posso sentar senão vão achar que estou de lado”.
Conseguir acrescentar a assertividade em sua vida como opção
de comportamento é o ideal, é o que te dá tranqüilidade mental e
equilíbrio.
 
Marisa de Abreu Alves
Psicóloga
CRP 06/29493-5

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