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Quando nos referimos à produção audiovisual em celulares é raro encontrar um

exemplo plenamente clássico em termos de enquadramentos, ângulos ou foco: o ruído


ou o descontrole parecem ser a regra. Diversas características reforçam essa idéia,
começando pela presença do aparelho na rotina e no cotidiano das pessoas, interface de
fácil operação e acessibilidade econômica, que em conjunto dão força às idéias de
produção caseira e de filmagem acidental. Para Mantovani (2006), são alteradas as
lógicas da circulação do audiovisual de “um para muitos” para “muitos para muitos”.
Além disso, as imagens produzidas por esses aparelhos superam a lógica de produção
baseada no olho humano: os movimentos do corpo, das mãos e dos braços, a
materialidade e a inconstância de quem carrega o aparelho substitui, na maioria das
vezes, todos os resquícios da clássica perspectiva renascentista. Segundo Laurence
Herszberg, diretora do Forum des Images10 , é complicado dar uma definição do que
seria um filme feito com o uso do telefone celular: “(...) há, antes de tudo, uma
espontaneidade, uma liberação. Quem faz, diz que há um certa espontaneidade no ato de
filmar, que muda o olhar, porque a câmera está todo o tempo no bolso”. E também
porque não se filma da mesma maneira: não se gruda mais o olho na lente, ou seja, é
liberado o olhar entre quem filma e quem é filmado. A câmera hoje está no bolso e na
palma da mão, tornando possível a qualquer pessoa gravar algo em trânsito, em
deslocamento pela cidade ou em qualquer situação. “Hoje estes lances do olhar que
desvia do assunto em direção às coisas mais inesperadas podem ser registradas com um
simples gesto do punho bolso adentro, para sacar o celular (...)” (BASTOS:2007:1).
São práticas que estimulam o fazer em trânsito e compartilhado; são formatos de curta
duração e de baixa resolução, que colocam ênfase na visibilidade de uma criação
espontânea. Tasajärvi (2006) afirma que os filmes de microcinema, termo que ele utiliza
para denominar os trabalhos audiovisuais criados para celular “(...) não são apenas
filmes curtos vistos em uma tela pequena” (TASAJÄRVI:2006:6), pois possuem
características próprias. “Filmes do tipo tem seu poder expressivo, assim como suas
limitações, atrelados às características dos terminais móveis” (TASAJÄRVI:2006:6).
Para Litchty (2006), os dispositivos móveis desafiam muitos de nossos pressupostos
fundamentais sobre arte, além de criarem novos terrenos sociais que ainda estão sendo
explorados.
Ao usar dispositivos móveis para criar arte, a forma e a função do dispositivo, a
forma que interagimos com eles, e os efeitos sociais resultantes são como que seu
conteúdo. Os dispositivos móveis desafiam muitos de nossos pressupostos
fundamentais sobre arte, e eles também criam novos terrenos sociais que estão
sendo explorados. Os aparelhos de mão e os computadores vestíveis criam canais de
comunicação tanto quanto o estoque de objetos de arte; eles também criam uma
rede pública (ou rizoma) que estimula uma linguagem comum entre seus usuários.
(LITCHTY, 2006, p. 1)
De acordo com Bastos (2007), no contexto de mídias portáteis e ubíquas, como o
celular, não é possível tratar o audiovisual da mesma forma que se faz com trabalhos
para exibição em tela única.
O que aparece como vídeo, nas várias interfaces atualmente disponíveis, é resultado
de um processo de codificação em que não há representação, mas números em
movimento por interfaces. As condições para fazer imagens e sons circularem pelas
redes contemporâneas é mais recente. Talvez, por isso, a maior parte do audiovisual
publicado na Internet, armazenado em iPods ou capturado com celulares poderia
ser exibidos no cinema ou na TV sem prejuízo para sua fruição. (BASTOS, 2007, p.
1)
pontuam a singularidade dos produtos destas mídias móveis. Os audiovisuais que aqui
são formados partilham de uma linguagem que resgata itens do cinematismo tradicional,
como o uso da imagem como ponto central da construção cinematográfica, mas que,
principalmente faz uso de novas possibilidades tecnológicas, como
poder agregar dados distintos (fotografia, música, dados de GPS) em busca de um novo
produto.

A experiência de ver filmes em telefones celulares é relativamente privada, o que


permite um alto nível de personalização, diferente do que ocorre no cinema tradicional,
que é feito para grandes audiências, onde espectador precisa ir à sala de exibição, na
hora correta e acompanhar atentamente o filme.
Para Mantovani (2006a) as principais características que definem as mídias móveis
estão compreendidas através das relações entre o uso pessoal versus uso compartilhado,
e do uso portátil versus o uso estático. As possibilidades oferecidas pelas mídias
portáteis modificam a lógica da circulação do audiovisual que é de um para muitos e
aproximam o lidar com áudio e a imagem em movimento de um fazer individual. A
portabilidade dos
aparelhos unida à possibilidade de digitalização12 permite que um banco de dados seja
facilmente transformado por qualquer usuário, à sua maneira, em um acervo de imagens
e sons que também pode ser transmitido a outras pessoas no tempo que este usuário
desejar.
São práticas que estimulam um fazer em trânsito e compartilhado, são formatos de baixa
resolução e curtíssima duração que colocam ênfase na visibilidade de uma criação
espontânea, em um retrato público do cotidiano, da intimidade, e das infinitas
segmentações sócio-culturais do mundo.
Esta arte feita a partir de dispositivos digitais móveis é definida por
muitos autores como a arte da mobilidade. A definição é correta, mas, segundo
Beiguelman (2005), muito genérica. O que a autora pretende com esta afirmação é
ressaltar as diferenças e particularidades existentes entre a arte que é feita para esses
dispositivos móveis e a arte feita com estes dispositivos. Faremos, então, essa distinção
antes de continuarmos. Nas palavras da autora:.
A diferença não reside na preposição, mas nos formatos e objetivos de
proposição. No primeiro caso – arte para dispositivos móveis – a palavrachave
é compartilhamento. No segundo, cibridismo (interconexão entre
redes on e off-line) (BEIGUELMAN, 2005: 151).
A primeira destas potencialidades, a mobilidade e o caráter nômade das
obras, advém da possibilidade dada pelos dispositivos digitais móveis de a obra ser
realizada em constante movimento. Neste caso, o deslocamento do artista no espaço
geográfico passa a integrar a obra.
encontrando formas de apresentação que levam em consideração por exemplo, a
especificidade temática do filme com relação ao local de projeção, seja em espaços
expositivos típicos do circuito da arte ou em locais abertos e espaços públicos urbanos.

Os recentes cruzamentos dos formatos audiovisuais com a tecnologia mobile vem


conferindo novo fôlego aos formatos de baixa resolução e curtíssima duração tais
eventos colocam ênfase na visibildade da criação espontânea de formatos como o
chamado cinema de bolso ou o mobile vídeo, nada mais que novas variantes de
‘microcinema’, contribuindo para que ocorra uma cristalização deste e de vários outros
termos que buscam no cinema sua maior referência.
São formatos que utilizam-se do termo ‘cinema’ apenas como referência carregada
de um
significado simbólico adquirido ao longo do século XX.
O cinema empresta credibilidade e grandeza a seus desdobramentos, considerados
‘menores’ em
termos de resolução técnica, custo, envolvimento de atores, complexidade narrativa ou
impacto
sensorial, e consequentemente um certo glamour.
A acessibilidade das redes que se formam na web ou nos canais wireless, a
disponibilidade de recursos cada vez mais encontrados nas faixas dos baixos orçamentos
vem mudando definitivamente o panorama da produção dita ‘avulsa’ ou genuinamente
‘independente’ de vídeos e filmes, fazendo mesmo com que a palavra vídeo adquira
significados cada vez mais amplos, democráticos e mesmo banais. O maior controle
sobre o processo de produção torna o filme uma obra mais personalizada e mais
intimista, em relação mais direta com o objeto/universo retratado. Há algo mais que
simplesmente curioso nessas formas de ‘micro-mídia’ que primam pela portabilidade:
elas possuem uma paradoxal estabilidade. As pequenas telas tendem a permanecer e a se
difundir, migrando entre fabricantes, tecnologias e plataformas. Mas continuarão a
existir por muito tempo, senão em baixa resolução, com certeza em pequenas dimensões.
E nesses formatos criados para as minúsculas telas de celulares e dispositivos móveis a
portabilidade, tanto de captação como de visualização, é oferecida como diferencial
atrativo. São características que dão um ar de novidade ao meio, revitalizando
possibilidades anteriores que se mesclam sugestivamente às novas. Começa-se a pensar
os vídeos realizados a partir de novas técnicas e equipamentos portáteis menos como
novos produtos de consumo e mais a partir de suas potencialidades São perspectivas a
serem
descobertas e ‘espaços’ a serem criados, que fazem repensar a sala de cinema tradicional
e os
espaços expositivos, evidenciando impasses e anacronismos ligados aos meios portáteis.
O trem, que segundo Consuelo Lins “é inspiração”14 de um festival temático também na
França é tema de “Leituras” (Lecutres,2005), da própria Consuelo. O belo filme
experimental de Consuelo, captado com celular, apresenta o que os franceses andam
lendo no movimento dos vagões.
A linguagem da nova mídia também reconfigura e revigora os conceitos de plano e
montagem cinematográfica. Por aí as diversas produções são importantes e contribuem
para uma nova linguagem audiovisual. Do ponto de vista de quem está produzindo
conteúdo tanto para como com celular, o produtor Cavi Borges observa:
Acho que quando filmamos pelo celular temos que abandonar nossos vícios e
pensamentos adotados com a câmera tradicional. Ajudei a produzir e realizar o curta “O
Filme do filme roubado do roubo da loja de filme”, que foi filmado em poucas horas
(...). Além disso, dirigi e produzi 20 episódios para a série
humanóides, que faz parte do primeiro canal de TV para celular do Brasil (OI TV
MOVEL). 15
pensando o desafio de ao mesmo tempo abandonar e reler os vícios que a câmera
tradicional trouxe consigo ao longo dos tempos.
08 de abril de 2008

Filmes na palma da mão

Alessandro Soler - O Globo - RJ

Já foi dito que o cinema sepultaria o teatro e que a TV sepultaria o cinema. Já se disse
que a internet sepultaria jornal, TV, cinema e tudo que veio antes. Não demora e o
celular será o novo “carrasco” dos catastrofistas. Bola da vez na indústria do
entretenimento, os conteúdos para telefones móveis — grande parte gerada nas câmeras
deles — já são tão levados a sério que festivais tradicionais de cinema os aceitam, e
outros são criados só para eles. Esta semana, pela primeira vez, o Grande Prêmio da
Academia Brasileira de Cinema entregará o troféu da categoria celular.

Portais oferecem conteúdos exclusivos para telefones no exterior.

No Brasil, espera-se um canal de TV para celular já em 2008. Se a resolução dos


monitores era caída até há alguns anos, hoje vêem-se longas-metragens com razoável
nível de detalhes em aparatos modernos.

Mas o que se discute não é só a adaptação de produtos de outras mídias para o


monitorzinho. A busca de uma linguagem específica é o grande desafio.

— Para passar bem no celular, o filme deve ter planos fechados. Dá para flagrar, com
câmera de celular, um rato entrando num buraco na parede, captar um universo pequeno,
coisas rápidas. Uma câmera grande não dá mobilidade — compara o estudante de
cinema Bill Labonia, que participou do Festival do Minuto com “Celular”, a história do
roubo de um telefone visto pela câmera embutida nele.

Quem também soube aproveitar as especificidades do aparelho foi o cineasta André


Amparo, com “Toró”, minimetragem que faturou os R$ 10 mil do primeiro lugar no
Festival Bahia Celular Filme, ano passado. O filme explora a luz ambiente e se
beneficia da camerazinha para flagrar a caminhada de uma larva no pára-brisas de um
carro.

— É mole gravar com as câmeras leves, práticas e cada vez mais modernas dos
telefones. Cheguei a pegar um pouco da era analógica. Ter acesso a uma ilha de edição
era difícil. A evolução das tecnologias é louca, mas, quando se trata de celular, pegou
pesado — diz André.

— Já participei de festivais de filmes de celular na França, na Coréia do Sul. Dá para


inscrever onde for, não tem mais despesa de correio. É só fazer upload.

Para ele, o celular é o meio ideal para um mini-documentário. É discreto e disseminado,


e sua presença não altera o comportamento das pessoas. O publicitário Thiago Valente
sabe bem disso. Há alguns meses, fascinado com a conversa de duas senhoras numa
viagem entediante de metrô, ele gravou o vídeo que abriu o projeto “O Rio pelos olhos
do celular”. Em pouco tempo, amigos começaram a enviar mais flagrantes: — Não sou
cineasta e, de repente, meu vídeo é visto por um monte de gente no YouTube. A
tecnologia de hoje democratiza, todo mundo participa da arte. E a mensagem, às vezes,
é mais importante que a estética.

Malu Teodoro, cineasta de 21 anos, não concordaria. Seus vídeos com e para celular são
marcados por experimentações. Ela funde imagens, trabalha com cores, explora as ainda
limitadas capacidades técnicas da maioria dos aparelhos da melhor maneira possível.

— Evito diálogos. A imagem tem que falar por si. Planos muito abertos não funcionam.
E, depois da maior autonomia dada pelas câmeras digitais, a gente volta a ser mais
dependente da luz, a câmera do celular capta menos — enumera.

Nada que tenha impedido Sabrina Fidalgo de registrar shows do DJ Sany Pitbull, à
noite, para o documentário “Cidade do funk”, que ela produz com amigos da Alemanha.
Estudante da Escola de Cinema de Munique, em 2006, ela bolou a idéia de contar a
história do funk desde os primórdios ao constatar a popularização do ritmo por lá.

— O documentário é em HD. Mas haverá imagens do Sany na turnê na Europa feitas


com celular. Era a primeira vez dele fora do Brasil. Eu pensei: “Putz, não tem
cinegrafista e preciso captar essa emoção!” A imagem em celular representa uma visão
particular — define. — Na cultura digital, todo mundo pode ser cineasta e fotógrafo. O
que seria uma imagem tosca se converteu em nova linguagem.

Quando as pessoas não entendem algo, elas repudiam, excretam ou negam!


O cineasta David Lynch (que fezTwin Peaks), por isso, ele resolveu abrir sua
metralhadora giratória contra o Mundo.com. Ele tem algumas razões!

A tecnologia é uma dualidade – existe os que amam e os que odeiam o tecnológico –


neste caso o celular. Lynch está no grupo dos que odeiam o gadget. No DVD império
dos sonhos Lynch faz uma parodia com os comercias do iPhone, a idéia de assistir a um
filme na tela de um aparelho celular não atrai o interesse de Lynch.

“Se você está vendo o filme em um telefone, nem em um trilhão de anos você irá ter a
experiência do filme. Você pensa que terá, mas você será enganado. É muito triste
pensar que alguém pode acreditar que pode assistir a um filme na bosta de um telefone
caia na reall” Isto mesmo caia na real e vá procura uma tela que não meça apenas
8cmx6cm ou pouco mais que isto. Disse Lynch em seu vídeo que circula no YouTube.

Lynch afirma que no mundo real o aparelho não passa de um rotundo disparate, um
desserviço á experiência cinematográfica. Lembra, que a indústri cinematográfica é
aprimorada ao longo de 113 anos, sempre com acréscimos: som, cores cinemascopio,
Dolby, etc.

Ele acredita que “coisas como celulares” acabaram com as salas de exibições de filmes,
eliminando o ritual cinematográfico.

Eu acredito, que a mobilidade ajuda o mundo! Acredito que devemos fazer experiências
e fazer comunicação, filmes e publicidade em telinhas 6 x 6
Acredito que que sociedade imediatista o celular é o grande mito.
Apesar de toda esta tecnologia caminhar para a humanidade 4.0, vai demorar muitos e
muitos anos para as pessoas largarem seus simples prazeres como: assistir um filme em
uma enorme tevisão ou ler um bom livre em um monte de papel. Eu acredito nisso e
você?

As cellcams possuem especificidades que diferem suas produções daquelas realizadas


por outras câmeras digitais, a imagem não permite planos muito gerais, onde detalhes
são requeridos para a contemplação, devido ainda a baixa-resolução e tamanho da tela de
exibição. O vídeo em si é inadequado para anotar informações abundantes pois ele “não
aceita detalhamentos minuciosos e na qual a profundidade de campo é continuamente
desmantelada pelas linhas de varredura” (MACHADO, 1997, p.193). O close aparece
com força nas produções, um tipo de enquadramento compelido pela presença do
aparelho nas mãos.
... em um festival de closes determinados pelo apontar dos personagens para os objetos
ou para os rostos.
O espaço reduzido da tela inibe-nos ainda mais de observar detalhes, de contemplar a
imagem. O pixel desconstrói com o rosto do personagem em pequenos elementos, o
movimento denuncia-o ainda mais, assim tela-reduzida, imagem e som de baixa-
resolução, mobilidade (deslocamento da câmera), planos seqüência e closes fazem parte
dos elementos vistos em grande parte das produções com estes aparelhos.
Estamos com o olho a poucos centímetros do aparelho, seus elementos visuais
concorrem com o entorno e com os ícones na própria tela, se estivermos caminhando ou
no ônibus precisamos estar observando ligeiramente o nosso redor. O perfil cognitivo
requerido do usuário é o múltiplo para este conseguir estar na superfície de todas as
atividades: sem tropeçar, sem ser atropelados
ou esbarrar.
O áudio neste(s) vídeo(s) é capturado ainda na produção com microfones
omnidirecionais embutidos, ressaltando o som como elemento diegético onde o universo
sonoro escutado é objetivamente o mesmo compartilhado pela personagem. No registro
sonoro das produções em geral, temos o equivalente a imagem pixelada ainda que a alta
qualidade nestes casos indique uma inviabilização da transmissão do arquivo. A
facilidade de transmissão também condiciona uma breve duração dos vídeos.
As narrativas multiformes poderão ser usadas nas produções para/com estes dispositivos.
Janet Murray
“escrita ou dramatizada que apresenta uma única situação ou enredo em múltiplas
versões – versões estas que seriam mutuamente excludentes em nossa experiência
cotidiana. Assim, ele cria vários futuros, vários tempos, os quais iniciarão outros que,
por sua vez, vão ramificar-se e bifurcar-se em outros tempos.”…

As cenas carregam algo que foi particular a aquele usuário. Alguns usam a baixa
resolução da imagem é usada não como um defeito mas como um elemento estético, o
defeito como efeito. O
pixel tornou-se o ícone do amadorismo e passa a ser utilizado como elemento estético
nos trabalhos de alguns videoastas (LUCENA, 2007b) é também, o elemento que
confere identidade a estas produções.
“Em um momento em que se observa uma euforia em busca de pureza e qualidade da
imagem junto à produção de cinema digital e da televisão de alta definição, o contraste
com esse tipo de produção é de fato gritante. Observa-se, todavia, que se trata de
contextos diferentes, principalmente no que diz respeito aos objetivos e alvos destas
produções, trata-se de
uma produção alternativa, experimental” (SILVA, p.13)
Uma linguagem de imagem-câmera, que busca capturar o homem e seu entorno físico no
tempo presente da filmagem.

tomadas com apenas um nível em foco levam o montador a fazer mais cortes, já que o
tempo de leitura do espectador é menor do que em planos com diversas escalas de
profundidade.
Além disso, as imagens produzidas por esses aparelhos superam a lógica de produção
baseada no olho humano: os movimentos do corpo, das mãos e dos braços, a
materialidade e a inconstância de quem carrega o aparelho substitui, na maioria das
vezes, todos os resquícios da clássica perspectiva renascentista.
O que irá definir a importância expressiva da cena será o incomum, o subvertido,
detalhes e minúcias fazem a diferença neste tipo de produção. Temos que aprender a
olhar com atenção as cenas cotidianas: inspecionar os vincos e delicadezas da face de
uma pessoa; espiar por uma fresta indiscreta; invadir intimidades e espaços exclusos; ser
capaz de conduzir esta câmera por lugares e caminhos estreitos.
O roteirista Marcos Rey a narrativa precisa ser contada de acordo com o ritmo e as
particularidades da linguagem audiovisual.
A integração de câmeras de vídeo em aparelhos celular chama a atenção, neste contexto,
por combinar a) naturalização do processo de captação de imagens na vida das pessoas
b) uma ligação direta com computadores e redes informacionais e c) possibilidades
estéticas e de linguagem que diferenciam estes dispositivos de aparelhos como câmeras
Hi-8s, HDs, Mini Dvs.
como a baixa resolução da imagem é usada não como um defeito mas como um
elemento estético3, uma identidade dos vídeos realizados hoje com estes equipamentos.
o audiovisual em telefones celulares pode ser pensado basicamente de duas formas: o
vídeo feito por um celular, e o vídeo feito para ser veiculado em celular.
A mobilidade proporcionada pelas câmeras presentes em telefones celulares serve como
diferencial frente às filmadoras tradicionais. Segundo Marcos Bastos: Mesmo no caso
dos trabalhos mais apegados aos formatos tradicionais, chama atenção a impossibilidade
de dissociar as cenas produzidas da leveza do telefone celular, sua simbiose com o corpo
e sua mobilidade (em dois sentidos, pois as mídias portáteis são ao mesmo tempo fáceis
de movimentar na mão e fáceis de transportar de um lugar para outro).
A documentarista Consuelo Lins também fez um projeto semelhante. Em 2005, ela
produziu Leituras/Lectures, um curta que traz trechos de leituras feitas por passageiros
emtrens e metrôs na França. Consuelo gravou várias pessoas lendo, sem que elas se
dessemconta. Depois, ao pedir autorização para usar a imagem, pediu para que elas
lessem, em voz alta, um trecho do livro. Na edição, som e imagem foram superpostos,
dando a sensação de que a narrativa acontecia dentro da cabeça das pessoas.
Quando a experiência é roteirizada e editada, ela se esvazia e perde a qualidade do
natural, do real. Hoje em dia os roteiros não se contentam mais em organizar o cinema
de ficção, os filmes de televisão, os jogos de vídeo, as agências matrimoniais, os
simuladores de vôo. A ambição deles ultrapassa o domínio das produções do imaginário,
para colocar em sua responsabilidade as linhas de ordem que enquadram aquilo que se
deve nomear precisamente 'nossas' realidades (...) (Jean-Louis Comolli, em Sob o risco
do real).
Para Andrucha, o celular se mostrou uma linguagem a mais. “Não gosto desses
paradigmas de que o novo vai acabar com o velho, a popularização da tecnologia já está
invadindo o mundo e as mídias, o que ajuda no descobrimento de novas linguagens”. O
espectador, mais distraído e disperso, uma vez que não está na sala escura do cinema,
pode construir sua leitura a partir de um plano inicial, entretanto interrupções,
eliminação de trechos menos importantes, novas edições, o lugar onde se assiste, enfim,
todas as escolhas do espectador transformam sua percepção em relação ao conteúdo e o
tornam um criador, um autor.
Para se desenvolver microcinema precisaríamos ter conhecimento dos comportamentos,
os mais típicos pelo menos, dos espectadores enquanto participam da sessão móvel, pois
eles podem se tornar um fator muito decisivo na percepção do conteúdo. Filme de
desastre de avião.
De acordo com Bastos (2007), no contexto de mídias portáteis e ubíquas, como o
celular, não é possível tratar o audiovisual da mesma forma que se faz com trabalhos
para exibição em tela única.
O que aparece como vídeo, nas várias interfaces atualmente disponíveis, é resultado de
um processo de codificação em que não há representação, mas números em movimento
por interfaces. As condições para fazer imagens e sons circularem pelas redes
contemporâneas é mais recente. Talvez, por isso, a maior parte do audiovisual publicado
na Internet, armazenado em iPods ou capturado com celulares poderia ser exibidos no
cinema ou na TV sem prejuízo para sua fruição. (BASTOS, 2007, p.1)
As formas de produzir e difundir os vídeos independentes exigem que os criadores
busquem alternativas para contornar as limitações técnicas. Nesse caso, atributos como
resolução de imagem, fidelidade de cores, tamanho da tela e qualidade de áudio ficam
em segundo plano, dando prioridade para as formas de distribuição. A idéia de
microcinema é associada aos vídeos que são criados em função dessas particularidades,
buscando alternativas para facilitar sua propagação pelos meios independentes. São
produções de maioria amadora, porém não despretensiosas em termos de audiência. São
vídeos diversificados em gêneros e formatos, que têm grande aceitação por pessoas que
estão acostumadas a lidar com mídias e suportes digitais com destaque para o público
jovem e para os computadores com acesso à internet
As regras específicas para o formato do microcinema desafiam os autores a buscar
soluções criativas para realizarem seus vídeos, contornando a precariedade técnica, ou
mesmo se apropriando dela. Isso vai “exigir criadores bem preparados tecnicamente e
críticos de arte competentes para diferenciar aqueles que sabem apenas utilizar as
funcionalidades já dadas pelos programas e equipamentos, daqueles que as transformam
e as recodificam” (BEIGUELMAN, Giselle. 2005. O Microminimo Comum).
Toda a estrutura do cimena foi modificada. Sua linguagem e os modos de relaçao
com o espectador também forma afetados, assim como as midias on-line tambem
modificaram as midias off-line. Para o espectador, não cabe mais a funçao passiva
de receptor dentro do meio. A ele cabe reagir e criar, buscar e adaptar, sentir e
modificar sua leitura do espetáculo.
A reflexão acadêmica também não está alheia a este processo.
Uso de ferramentas digitais permitirá o fortalecimento de uma cinematografia
independente que conta com a colaboração de diversas áreas de produção de imagens
dentre elas o design.
Discutir sobre o emprego dos meios digitais na diseminação de informasção e nos
experimentso de lingugem.
Como as experiências com o novo suporte podem fomentar a criaticvidade e a inovação
além de permitir uma interação espectador-obra. A linguagem como um campo de
experimentações e não como um criador de limites
O design, como atividade e método encontra na pratica cinematográfica, um novo campo
de ação. Envolvendo-se em diversas etapas de realização audiovisual, o dsigner pode
colaborar na figuração de representações e na sistematização de procedimentos. Práticas
em exercício, conjugadas com novas oportunidades, delineiam facilidades de atuação
onde a estética e a técnica se imbricam às questões econômicas na fomentação de obras
provocadoras revolucionárias.
A vida contemporânea se apóia progressivamente nas imagens e em seu múltiplos
circuitos.
O vídeo, em suas várias vertentes digitais, está hoje em todo o lugar, entre todas as
coisas, de forma muito mais penetrante e exponencial, e em formatos muito mais
radicais do que se previa nos anos 90.
Muitas das diferenciações de linguagem que se faziam em função de suportes de
captação, procedimentos técnicos ou de processamento de imagens perderam o sentido.
Um aspecto significativo do audiovisual produzido com e para mídias móveis é a
mudança do contexto em que dá-se a exibição. Ao invés da sala escura e contemplativa,o
destino dos trabalhos em dispositivos portáteis podem ser lugares claros, ruidosos,
entrópicos. No lugar do ritual de concentração e da sensação de isolamento, há uma
divisão da atenção entre a tela e o entorno.
Não se trata de um modo de exibição particular das mídias portáteis, na medida em que
as videoinstalações e o vídeo multiplicado por suportes diversos já haviam rompido com
o formato estático da sala de exibição e / ou com a geometria ascética do cubo branco. O
próprio cinema, a rigor, surge em contextos entrópicos e apenas num segundo momento
desloca-se para as salas escuras. Na mostra Para além da tela pequena, os vídeos de
bolso experimentam um trajeto semelhante, ainda que particular. São formas explodidas,
em multi-telas, de diversos tamanhos, que inserem formatos típicos do microcinema em
situações de exibição momentaneamente fi xas, buscando uma sintonia com o caráter
expositivo desta mostra.
A migração da dinâmica da indústria cinematográfi ca para a plataforma celular, na qual
o celular seria o terminal sobre o qual seriam consumidos os fi lmes, e eles, por sua vez,
sofreriam mudanças em suas estruturas narrativas, para que pudessem se adaptar ao
formato curto, imposto pela recepção de conteúdos celulares;
3. A busca por novas formas de construir conteúdos a partir da noção de dispositivo. O
dispositivo celular, a partir de seus hardware e software, permite ao usuário fazer, criar,
armazenar, modificar e enviar. Isso implica que, em um futuro próximo, a indústria
cinematográfica pode incorporar conteúdos que possuam os conceitos de interatividade e
mobilidade.
a instantaneidade que o telefone celular nos dá de concretizar velozmente o ato de
desejar capturar uma imagem que “vemos por aí” e a realização desse desejo. Essas
primeiras imagens, criadas a partir das possibilidades do celular, estão muito próximas
do conceito de Registro.
Registro como imagem que comprova que o que estamos vendo na imagem aconteceu
dessa forma na realidade. Registro como captura de uma parcela de tempo e de espaço
do que é real. Registro como imagem de uma imagem do que vimos. Registro como
tentativa objetiva de
um ato subjetivo. quando estamos no processo de captura de imagens com um
dispositivo celular, não há mediação da linguagem audiovisual construída ao longo de
125 anos de história do cinema. Fazemos, simplesmente, a imagem a partir da linguagem
que nos permite a interface celular: uma imagem sem gravidade. O telefone celular é
muito leve, podemos movimentá-lo em todas as direções, sua interface pequena nos
permite colocá-lo em locais inesperados, podemos filmar sem aproximar o olho do
visor, pois enxergamos tudo à distância sobre uma tela, o fato de ser portátil nos permite
filmar enquanto caminhamos, dirigindo, comendo, falando... são imagens que se podem
fazer “enquanto” fazemos outras coisas.
A euforia quanto à imagem celular está relacionada ao que é permitido pela capacidade
tecnológica do dispositivo. A câmera telefone celular é um dispositivo que muda o
centro de gravidade da lógica de produção audiovisual, de distribuição e de recepção da
indústria audiovisual tradicional, pois o usuário aparece como o centro de todas as
operações constitutivas, ele encarna todos os papéis: executor, criador, arquivista,
distribuidor e receptor. Isso faz com que, imediatamente, a criação de conteúdos
audiovisuais tenha outros parâmetros de produção, distribuição e recepção, diferentes
daqueles do cinema, da televisão e da Internet.
A tecnologia celular cria um novo paradigma para a indústria audiovisual. Sua
linguagem se concebe a partir da velocidade, do imediatismo, da simultaneidade, da
multimídia, do fato de ser portátil, de sua funcionalidade múltipla, da mobilidade e da
interatividade
Sofia Suarez

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