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Já foi dito que o cinema sepultaria o teatro e que a TV sepultaria o cinema. Já se disse
que a internet sepultaria jornal, TV, cinema e tudo que veio antes. Não demora e o
celular será o novo “carrasco” dos catastrofistas. Bola da vez na indústria do
entretenimento, os conteúdos para telefones móveis — grande parte gerada nas câmeras
deles — já são tão levados a sério que festivais tradicionais de cinema os aceitam, e
outros são criados só para eles. Esta semana, pela primeira vez, o Grande Prêmio da
Academia Brasileira de Cinema entregará o troféu da categoria celular.
— Para passar bem no celular, o filme deve ter planos fechados. Dá para flagrar, com
câmera de celular, um rato entrando num buraco na parede, captar um universo pequeno,
coisas rápidas. Uma câmera grande não dá mobilidade — compara o estudante de
cinema Bill Labonia, que participou do Festival do Minuto com “Celular”, a história do
roubo de um telefone visto pela câmera embutida nele.
— É mole gravar com as câmeras leves, práticas e cada vez mais modernas dos
telefones. Cheguei a pegar um pouco da era analógica. Ter acesso a uma ilha de edição
era difícil. A evolução das tecnologias é louca, mas, quando se trata de celular, pegou
pesado — diz André.
Malu Teodoro, cineasta de 21 anos, não concordaria. Seus vídeos com e para celular são
marcados por experimentações. Ela funde imagens, trabalha com cores, explora as ainda
limitadas capacidades técnicas da maioria dos aparelhos da melhor maneira possível.
— Evito diálogos. A imagem tem que falar por si. Planos muito abertos não funcionam.
E, depois da maior autonomia dada pelas câmeras digitais, a gente volta a ser mais
dependente da luz, a câmera do celular capta menos — enumera.
Nada que tenha impedido Sabrina Fidalgo de registrar shows do DJ Sany Pitbull, à
noite, para o documentário “Cidade do funk”, que ela produz com amigos da Alemanha.
Estudante da Escola de Cinema de Munique, em 2006, ela bolou a idéia de contar a
história do funk desde os primórdios ao constatar a popularização do ritmo por lá.
“Se você está vendo o filme em um telefone, nem em um trilhão de anos você irá ter a
experiência do filme. Você pensa que terá, mas você será enganado. É muito triste
pensar que alguém pode acreditar que pode assistir a um filme na bosta de um telefone
caia na reall” Isto mesmo caia na real e vá procura uma tela que não meça apenas
8cmx6cm ou pouco mais que isto. Disse Lynch em seu vídeo que circula no YouTube.
Lynch afirma que no mundo real o aparelho não passa de um rotundo disparate, um
desserviço á experiência cinematográfica. Lembra, que a indústri cinematográfica é
aprimorada ao longo de 113 anos, sempre com acréscimos: som, cores cinemascopio,
Dolby, etc.
Ele acredita que “coisas como celulares” acabaram com as salas de exibições de filmes,
eliminando o ritual cinematográfico.
Eu acredito, que a mobilidade ajuda o mundo! Acredito que devemos fazer experiências
e fazer comunicação, filmes e publicidade em telinhas 6 x 6
Acredito que que sociedade imediatista o celular é o grande mito.
Apesar de toda esta tecnologia caminhar para a humanidade 4.0, vai demorar muitos e
muitos anos para as pessoas largarem seus simples prazeres como: assistir um filme em
uma enorme tevisão ou ler um bom livre em um monte de papel. Eu acredito nisso e
você?
As cenas carregam algo que foi particular a aquele usuário. Alguns usam a baixa
resolução da imagem é usada não como um defeito mas como um elemento estético, o
defeito como efeito. O
pixel tornou-se o ícone do amadorismo e passa a ser utilizado como elemento estético
nos trabalhos de alguns videoastas (LUCENA, 2007b) é também, o elemento que
confere identidade a estas produções.
“Em um momento em que se observa uma euforia em busca de pureza e qualidade da
imagem junto à produção de cinema digital e da televisão de alta definição, o contraste
com esse tipo de produção é de fato gritante. Observa-se, todavia, que se trata de
contextos diferentes, principalmente no que diz respeito aos objetivos e alvos destas
produções, trata-se de
uma produção alternativa, experimental” (SILVA, p.13)
Uma linguagem de imagem-câmera, que busca capturar o homem e seu entorno físico no
tempo presente da filmagem.
tomadas com apenas um nível em foco levam o montador a fazer mais cortes, já que o
tempo de leitura do espectador é menor do que em planos com diversas escalas de
profundidade.
Além disso, as imagens produzidas por esses aparelhos superam a lógica de produção
baseada no olho humano: os movimentos do corpo, das mãos e dos braços, a
materialidade e a inconstância de quem carrega o aparelho substitui, na maioria das
vezes, todos os resquícios da clássica perspectiva renascentista.
O que irá definir a importância expressiva da cena será o incomum, o subvertido,
detalhes e minúcias fazem a diferença neste tipo de produção. Temos que aprender a
olhar com atenção as cenas cotidianas: inspecionar os vincos e delicadezas da face de
uma pessoa; espiar por uma fresta indiscreta; invadir intimidades e espaços exclusos; ser
capaz de conduzir esta câmera por lugares e caminhos estreitos.
O roteirista Marcos Rey a narrativa precisa ser contada de acordo com o ritmo e as
particularidades da linguagem audiovisual.
A integração de câmeras de vídeo em aparelhos celular chama a atenção, neste contexto,
por combinar a) naturalização do processo de captação de imagens na vida das pessoas
b) uma ligação direta com computadores e redes informacionais e c) possibilidades
estéticas e de linguagem que diferenciam estes dispositivos de aparelhos como câmeras
Hi-8s, HDs, Mini Dvs.
como a baixa resolução da imagem é usada não como um defeito mas como um
elemento estético3, uma identidade dos vídeos realizados hoje com estes equipamentos.
o audiovisual em telefones celulares pode ser pensado basicamente de duas formas: o
vídeo feito por um celular, e o vídeo feito para ser veiculado em celular.
A mobilidade proporcionada pelas câmeras presentes em telefones celulares serve como
diferencial frente às filmadoras tradicionais. Segundo Marcos Bastos: Mesmo no caso
dos trabalhos mais apegados aos formatos tradicionais, chama atenção a impossibilidade
de dissociar as cenas produzidas da leveza do telefone celular, sua simbiose com o corpo
e sua mobilidade (em dois sentidos, pois as mídias portáteis são ao mesmo tempo fáceis
de movimentar na mão e fáceis de transportar de um lugar para outro).
A documentarista Consuelo Lins também fez um projeto semelhante. Em 2005, ela
produziu Leituras/Lectures, um curta que traz trechos de leituras feitas por passageiros
emtrens e metrôs na França. Consuelo gravou várias pessoas lendo, sem que elas se
dessemconta. Depois, ao pedir autorização para usar a imagem, pediu para que elas
lessem, em voz alta, um trecho do livro. Na edição, som e imagem foram superpostos,
dando a sensação de que a narrativa acontecia dentro da cabeça das pessoas.
Quando a experiência é roteirizada e editada, ela se esvazia e perde a qualidade do
natural, do real. Hoje em dia os roteiros não se contentam mais em organizar o cinema
de ficção, os filmes de televisão, os jogos de vídeo, as agências matrimoniais, os
simuladores de vôo. A ambição deles ultrapassa o domínio das produções do imaginário,
para colocar em sua responsabilidade as linhas de ordem que enquadram aquilo que se
deve nomear precisamente 'nossas' realidades (...) (Jean-Louis Comolli, em Sob o risco
do real).
Para Andrucha, o celular se mostrou uma linguagem a mais. “Não gosto desses
paradigmas de que o novo vai acabar com o velho, a popularização da tecnologia já está
invadindo o mundo e as mídias, o que ajuda no descobrimento de novas linguagens”. O
espectador, mais distraído e disperso, uma vez que não está na sala escura do cinema,
pode construir sua leitura a partir de um plano inicial, entretanto interrupções,
eliminação de trechos menos importantes, novas edições, o lugar onde se assiste, enfim,
todas as escolhas do espectador transformam sua percepção em relação ao conteúdo e o
tornam um criador, um autor.
Para se desenvolver microcinema precisaríamos ter conhecimento dos comportamentos,
os mais típicos pelo menos, dos espectadores enquanto participam da sessão móvel, pois
eles podem se tornar um fator muito decisivo na percepção do conteúdo. Filme de
desastre de avião.
De acordo com Bastos (2007), no contexto de mídias portáteis e ubíquas, como o
celular, não é possível tratar o audiovisual da mesma forma que se faz com trabalhos
para exibição em tela única.
O que aparece como vídeo, nas várias interfaces atualmente disponíveis, é resultado de
um processo de codificação em que não há representação, mas números em movimento
por interfaces. As condições para fazer imagens e sons circularem pelas redes
contemporâneas é mais recente. Talvez, por isso, a maior parte do audiovisual publicado
na Internet, armazenado em iPods ou capturado com celulares poderia ser exibidos no
cinema ou na TV sem prejuízo para sua fruição. (BASTOS, 2007, p.1)
As formas de produzir e difundir os vídeos independentes exigem que os criadores
busquem alternativas para contornar as limitações técnicas. Nesse caso, atributos como
resolução de imagem, fidelidade de cores, tamanho da tela e qualidade de áudio ficam
em segundo plano, dando prioridade para as formas de distribuição. A idéia de
microcinema é associada aos vídeos que são criados em função dessas particularidades,
buscando alternativas para facilitar sua propagação pelos meios independentes. São
produções de maioria amadora, porém não despretensiosas em termos de audiência. São
vídeos diversificados em gêneros e formatos, que têm grande aceitação por pessoas que
estão acostumadas a lidar com mídias e suportes digitais com destaque para o público
jovem e para os computadores com acesso à internet
As regras específicas para o formato do microcinema desafiam os autores a buscar
soluções criativas para realizarem seus vídeos, contornando a precariedade técnica, ou
mesmo se apropriando dela. Isso vai “exigir criadores bem preparados tecnicamente e
críticos de arte competentes para diferenciar aqueles que sabem apenas utilizar as
funcionalidades já dadas pelos programas e equipamentos, daqueles que as transformam
e as recodificam” (BEIGUELMAN, Giselle. 2005. O Microminimo Comum).
Toda a estrutura do cimena foi modificada. Sua linguagem e os modos de relaçao
com o espectador também forma afetados, assim como as midias on-line tambem
modificaram as midias off-line. Para o espectador, não cabe mais a funçao passiva
de receptor dentro do meio. A ele cabe reagir e criar, buscar e adaptar, sentir e
modificar sua leitura do espetáculo.
A reflexão acadêmica também não está alheia a este processo.
Uso de ferramentas digitais permitirá o fortalecimento de uma cinematografia
independente que conta com a colaboração de diversas áreas de produção de imagens
dentre elas o design.
Discutir sobre o emprego dos meios digitais na diseminação de informasção e nos
experimentso de lingugem.
Como as experiências com o novo suporte podem fomentar a criaticvidade e a inovação
além de permitir uma interação espectador-obra. A linguagem como um campo de
experimentações e não como um criador de limites
O design, como atividade e método encontra na pratica cinematográfica, um novo campo
de ação. Envolvendo-se em diversas etapas de realização audiovisual, o dsigner pode
colaborar na figuração de representações e na sistematização de procedimentos. Práticas
em exercício, conjugadas com novas oportunidades, delineiam facilidades de atuação
onde a estética e a técnica se imbricam às questões econômicas na fomentação de obras
provocadoras revolucionárias.
A vida contemporânea se apóia progressivamente nas imagens e em seu múltiplos
circuitos.
O vídeo, em suas várias vertentes digitais, está hoje em todo o lugar, entre todas as
coisas, de forma muito mais penetrante e exponencial, e em formatos muito mais
radicais do que se previa nos anos 90.
Muitas das diferenciações de linguagem que se faziam em função de suportes de
captação, procedimentos técnicos ou de processamento de imagens perderam o sentido.
Um aspecto significativo do audiovisual produzido com e para mídias móveis é a
mudança do contexto em que dá-se a exibição. Ao invés da sala escura e contemplativa,o
destino dos trabalhos em dispositivos portáteis podem ser lugares claros, ruidosos,
entrópicos. No lugar do ritual de concentração e da sensação de isolamento, há uma
divisão da atenção entre a tela e o entorno.
Não se trata de um modo de exibição particular das mídias portáteis, na medida em que
as videoinstalações e o vídeo multiplicado por suportes diversos já haviam rompido com
o formato estático da sala de exibição e / ou com a geometria ascética do cubo branco. O
próprio cinema, a rigor, surge em contextos entrópicos e apenas num segundo momento
desloca-se para as salas escuras. Na mostra Para além da tela pequena, os vídeos de
bolso experimentam um trajeto semelhante, ainda que particular. São formas explodidas,
em multi-telas, de diversos tamanhos, que inserem formatos típicos do microcinema em
situações de exibição momentaneamente fi xas, buscando uma sintonia com o caráter
expositivo desta mostra.
A migração da dinâmica da indústria cinematográfi ca para a plataforma celular, na qual
o celular seria o terminal sobre o qual seriam consumidos os fi lmes, e eles, por sua vez,
sofreriam mudanças em suas estruturas narrativas, para que pudessem se adaptar ao
formato curto, imposto pela recepção de conteúdos celulares;
3. A busca por novas formas de construir conteúdos a partir da noção de dispositivo. O
dispositivo celular, a partir de seus hardware e software, permite ao usuário fazer, criar,
armazenar, modificar e enviar. Isso implica que, em um futuro próximo, a indústria
cinematográfica pode incorporar conteúdos que possuam os conceitos de interatividade e
mobilidade.
a instantaneidade que o telefone celular nos dá de concretizar velozmente o ato de
desejar capturar uma imagem que “vemos por aí” e a realização desse desejo. Essas
primeiras imagens, criadas a partir das possibilidades do celular, estão muito próximas
do conceito de Registro.
Registro como imagem que comprova que o que estamos vendo na imagem aconteceu
dessa forma na realidade. Registro como captura de uma parcela de tempo e de espaço
do que é real. Registro como imagem de uma imagem do que vimos. Registro como
tentativa objetiva de
um ato subjetivo. quando estamos no processo de captura de imagens com um
dispositivo celular, não há mediação da linguagem audiovisual construída ao longo de
125 anos de história do cinema. Fazemos, simplesmente, a imagem a partir da linguagem
que nos permite a interface celular: uma imagem sem gravidade. O telefone celular é
muito leve, podemos movimentá-lo em todas as direções, sua interface pequena nos
permite colocá-lo em locais inesperados, podemos filmar sem aproximar o olho do
visor, pois enxergamos tudo à distância sobre uma tela, o fato de ser portátil nos permite
filmar enquanto caminhamos, dirigindo, comendo, falando... são imagens que se podem
fazer “enquanto” fazemos outras coisas.
A euforia quanto à imagem celular está relacionada ao que é permitido pela capacidade
tecnológica do dispositivo. A câmera telefone celular é um dispositivo que muda o
centro de gravidade da lógica de produção audiovisual, de distribuição e de recepção da
indústria audiovisual tradicional, pois o usuário aparece como o centro de todas as
operações constitutivas, ele encarna todos os papéis: executor, criador, arquivista,
distribuidor e receptor. Isso faz com que, imediatamente, a criação de conteúdos
audiovisuais tenha outros parâmetros de produção, distribuição e recepção, diferentes
daqueles do cinema, da televisão e da Internet.
A tecnologia celular cria um novo paradigma para a indústria audiovisual. Sua
linguagem se concebe a partir da velocidade, do imediatismo, da simultaneidade, da
multimídia, do fato de ser portátil, de sua funcionalidade múltipla, da mobilidade e da
interatividade
Sofia Suarez