Você está na página 1de 21

PRODUÇÃO

AUDIOVISUAL

Michael Abrantes Kerr


Linguagem e técnica
do audiovisual
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever a linguagem do audiovisual.


 Definir o público consumidor do audiovisual.
 Identificar estratégias de linguagem e seu respectivo impacto.

Introdução
Quando você liga uma câmera e a aponta para um espaço, captando e regis-
trando uma imagem em movimento, automaticamente uma linguagem está
sendo usada. Assim como a fala e a escrita, também há uma língua chamada
audiovisual. Mesmo quando não estamos conscientes disso, ela está sempre
pronta para traduzir imagens e sons em mensagens completas e complexas.
Ninguém nos ensina a assistir televisão ou filmes no cinema. Com o tempo,
interagimos com esses meios e vamos absorvendo e compreendendo sua
linguagem dia após dia. É dessa forma que somos alfabetizados audiovisual-
mente sem perceber, pois se trata de um aprendizado constante e sequencial.
Neste capítulo, você vai conhecer um pouco sobre a linguagem audio-
visual e como seus códigos são construídos por meio de diferentes técnicas.

1 A influência do ambiente sobre a linguagem


Ao assistir programas de televisão, filmes, vídeos na internet, entre outros, estamos
adquirindo uma bagagem de expressões auditivas e visuais que vão organizando
nossa compreensão sobre aquilo que recebemos. É dessa maneira, por repetição,
que os códigos vão sendo estabelecidos. Assim, quando nós mesmos temos de
produzir esse tipo de conteúdo, a tendência é repetirmos aquilo que apreendemos
como espectadores. Por isso, quando você for filmar algo com uma câmera, estará
usando uma linguagem que conhece, um código que já domina.
2 Linguagem e técnica do audiovisual

O limiar da humanidade coincide com o advento da linguagem, que funda


uma nova relação do homem consigo mesmo e com o mundo. A linguagem
suscita uma consciência da consciência. A história introduz, sobreposta à
hereditariedade natural, uma hereditariedade cultural. Esboça, assim, uma
nova dimensão da consciência humana (JAPIASSU, 1978, p. 103).

Nesse sentido, vale uma questão para discutirmos mais adiante nesta
unidade: como estão se desenvolvendo os códigos audiovisuais na contempora-
neidade à medida que vários produtos audiovisuais recebem rótulos diferentes
do que estampavam no passado? Como a linguagem está se transformando e de
que maneira isso vai afetar a produção audiovisual num futuro não tão distante?
Retornaremos a essas questões ao final do capítulo, mas, para que possamos
refletir sobre elas, precisamos conhecer a fundo a linguagem audiovisual. Para
isso, vamos tratar de entender o que é um código.
Um código é um sistema de signos, ou seja, símbolos que, por convenção,
permitem a transmissão de mensagens que vão de um emissor para um recep-
tor. De forma geral, a linguagem é uma combinação de códigos. E, no atual
momento, em que os meios se misturam, podemos perceber que os códigos
transitam e se renovam.

Cada meio é codificado, definindo-se um código pela repetição periódica, mas


cada código é um estado perpétuo de transcodificação ou de transdução. A
transcodificação ou transdução é a maneira pela qual um meio serve de base para
um outro ou, ao contrário, se estabelece sobre um outro, se dissipa ou se constitui
no outro. Justamente, a noção de meio não é unitária: não é apenas o vivo que
passa constantemente de um meio para o outro, são os meios que passam um no
outro, essencialmente comunicantes (DELEUZE; GUATTARI, 2008, p. 118).

Segundo McLuhan (2011), além do meio, há o ambiente exercendo influência


sobre a mensagem. Esse ambiente é invisível. O olhar atento, de fora do meio,
pode entrever como ele age sobre os objetos e como pode ir produzindo novos
tipos de códigos. É, então, nesse ambiente, onde diversas forçam convivem,
que devemos entrar para observar a construção dos códigos.
As linguagens visuais e audiovisuais têm uma relação direta com a cons-
trução de sentido, o qual se completa naquele que está diante dessas obras.
Portanto, um significado é estabelecido a partir da maneira como a pessoa
compreende o código ofertado. Tal entendimento remonta a um passado muito
remoto. Para isso, basta voltarmos às imagens rupestres e aos desenhos impres-
sionantes de bisões. Naquela época, talvez o significado fosse diferente daquele
que compreendemos atualmente, pois o que fazemos hoje são conjecturas a
Linguagem e técnica do audiovisual 3

partir da imaginação. Daquela época até os dias atuais, podemos verificar


diferentes códigos que vão estabelecendo as mais variadas linguagens escritas,
visuais e sonoras. O audiovisual foi se estabelecendo dentro desse cenário.
A arte rupestre é uma das mais antigas representações artísticas conheci-
das, datada do período Paleolítico Superior (entre 50 mil e 10 mil anos atrás).
Trata-se de uma arte feita de gravuras nas cavernas, nas paredes de rocha. Os
códigos e, consequentemente, a linguagem podem ter começado no interior
desses espaços. A finalidade das gravuras em Altamira (Figura 1), na Espanha,
ou Lascaux, na França, parecia puramente utilitária na sua época. Dessa forma,
seria possível traduzir essa arte nos dias de hoje e compreender inteiramente
o sentido que seus criadores queriam passar?

Figura 1. Arte rupestre na caverna de Altamira, Espanha.


Fonte: Cave of Altamira (2008, documento on-line).

Seria praticamente impossível traduzir essa arte totalmente, pois teríamos


que conhecer com precisão os códigos que regiam o grafismo dos símbolos
da época. O processo é comparável a nossa relação com um texto: à medida
que o lemos, nosso cérebro vai traduzindo configurações gráficas em códigos
preestabelecidos que conhecemos anteriormente. Assim, a tradução se efetiva.
Quando não dominamos o código, o que podemos fazer é supor algo, como o
que ocorre quando tentamos ler a arte rupestre, esbarrando em aproximações.
4 Linguagem e técnica do audiovisual

A explicação mais provável para essas pinturas rupestres ainda é a de que


tratam-se das mais antigas relíquias da crença universal no poder produzido
pelas imagens; dito em outras palavras, parece que esses caçadores primitivos
imaginavam que, se fizessem uma imagem da sua presa — e até a espicaças-
sem com suas lanças e machados de pedra —, os animais verdadeiros tam-
bém sucumbiriam ao seu poder. Tudo isso, é claro, não passa de conjecturas
(GOMBRICH, 1999, p. 42).

Tratando dos códigos audiovisuais, podemos dizer que áreas como a se-
miótica, a comunicação e as artes têm se preocupado bastante em discutir
para fazer evoluir seus conceitos. Há outros campos que também realizam
pesquisa sobre linguagem; entretanto, o que parece nos interessar mais para
refletir acerca do audiovisual perpassa essas três grandes áreas.

As expressões de arte rupestre mais significativas foram encontradas na Europa,


em particular no norte da Espanha e sul da França, datando de aproximadamente
35.000 a 15.000 a.C., portanto, no Paleolítico Superior. A descoberta das cavernas
de Altamira (Espanha) e Lascaux (França) fomentaram uma revolução no que até
então se conhecia sobre o passado da arte. Altamira foi descoberta em 1868, sendo
o primeiro conjunto pictórico pré-histórico de grande extensão conhecido até
então. Lascaux foi descoberta em 1940, sendo caracterizada por um conjunto de
corredores de aproximadamente 250 metros de comprimento, com desnível de 30
metros (NOVAES, 2008).

2 Os códigos e seus públicos específicos


A linguagem audiovisual pode ser entendida como “o conjunto das formas
de organização artificial da imagem e do som que utilizamos para transmi-
tir ideias ou sensações, ajustando-o à capacidade humana de percebê-las e
compreendê-las” (BRAVO, 2006, p. 27). Portanto, há códigos organizados
que ofertam sentidos, buscando que os espectadores reconheçam aquilo que
estão assistindo.
Linguagem e técnica do audiovisual 5

Bordwell e Thompson (2013) acreditam que um audiovisual se torna envol-


vente para o público quando existe um determinado padrão desenvolvido pelos
elementos que formam a obra. Isso acaba despertando o interesse das pessoas,
pois vai ao encontro daquilo que elas buscam dentro de suas expectativas,
suas experiências e seus repertórios. Observaremos a seguir componentes que
fazem parte da linguagem e que formam os estilos e os produtos audiovisuais.
São eles que vão se estruturar para criar padrões que vão ao encontro do
público. É importante ressaltar que muito daquilo que se estuda acerca da
linguagem e técnica audiovisual passa necessariamente pelo cinema, pois foi
com ele que as imagens em movimento se iniciaram e nele que os códigos
foram se estabelecendo para transitar para outros meios, como vídeo, televisão,
internet, entre outros.
Quando assistimos a um produto audiovisual, estamos sempre diante de
pistas, ou seja, de códigos estruturados para nos dizer alguma coisa. Tudo o
que estamos vendo não foi colocado ali por acaso, sem que fosse pensado e
planejado. Os elementos visuais e sonoros que vemos estão organizados de
forma a afetar uns aos outros e aos espectadores.

Um filme não é um conjunto aleatório de elementos. Como todo trabalho


artístico, um filme tem uma forma. Por forma fílmica, no sentido mais amplo,
entendemos o sistema geral de relações que percebemos entre os elementos
do filme todo (BORDWELL; THOMPSON, 2013, p. 111).

Enquadramentos, movimentos de câmera, angulações e fotografia são alguns


dos elementos que dão forma aos produtos audiovisuais e criam seus estilos
próprios. Tais elementos se relacionam e podem influenciar no desenvolvimento
de uma história ou intensificar aquilo que vemos. Um filme, por exemplo, ao
repetir certas combinações daquilo que o constitui, cria um sistema de regras
próprias, internas, que vai criando nos espectadores expectativas do que pode
e deve se concretizar.
Portanto, podemos dizer que as obras vão criando convenções a partir de
experiências anteriores já apresentadas no filme e daquilo que os espectadores
já têm como conhecimento adquirido por terem assistido algo parecido no
passado. No entanto, também é possível que alguns produtos audiovisuais
sejam desenvolvidos sem utilizar códigos estabelecidos. Nesse caso, tais obras
também podem criar suas próprias convenções:
6 Linguagem e técnica do audiovisual

Uma obra de arte não usual tem suas próprias regras, o que cria um sistema
formal não ortodoxo que podemos aprender a reconhecer e ao qual é possível
reagir. Consequentemente, os sistemas apresentados por obras não conven-
cionais podem eles mesmos criar novas convenções, gerando assim novas
expectativas (BORDWELL; THOMPSON, 2013, p. 117).

A partir disso, podemos dizer que cada realizador de uma obra usa um
estilo, seja próprio ou baseado em algo existente. A forma muda de acordo com
a intenção daquilo que se quer transmitir como informação: entretenimento,
notícia, propaganda, etc. Entretanto, para todos há técnicas em comum da
linguagem audiovisual sendo utilizadas.
De forma abrangente, o elemento da linguagem audiovisual que abordare-
mos é a imagem. Ela é um componente básico marcado por uma ambivalência,
pois, ao mesmo tempo em que é produto de um aparelho técnico (câmera) que
reproduz a realidade, também inventa o seu mundo por meio de conceitos. Ao
apontar uma câmera para um determinado local e enquadrar um espaço, o
realizador está escolhendo mostrar aquilo que lhe interessa. Portanto, podemos
dizer que há um recorte a partir do olhar de alguém. Essa escolha passa pela
câmera que capta as imagens.
Podemos dizer que isso ocorre desde que houve a primeira exibição
pública de um filme, em 28 de dezembro de 1895. Naquele dia, nos porões
do Grand Café de Paris, os irmãos Lumière apresentaram filmes curtos, cada
um possuindo em torno de 1 minuto, no máximo. Neles, era possível assistir
situações do cotidiano, como pessoas jogando cartas, um bebê fazendo um
lanche, operários saindo de uma fábrica ou um trem chegando a uma esta-
ção. Por mais que fossem imagens únicas, sem corte e sem edição, pode-se
dizer que existia atrás da câmera uma pessoa que operava o cinematógrafo
(aparelho desenvolvido por eles para registrar e também projetar imagens),
ou seja, alguém que olhava pela lente e fazia a escolha do que mostrar.

3 Os elementos visuais da linguagem


Desde os primórdios até os dias atuais, todo realizador audiovisual usa técnicas
que codificam as escolhas e traduzem as imagens em intenções. Os componentes
que organizam aquilo que é produzido como imagem são apresentados a seguir.
Linguagem e técnica do audiovisual 7

Plano
O plano é uma imagem entre dois cortes. Trata-se do tempo transcorrido entre
ligar a câmera e desligá-la. É a menor unidade dramática de um produto au-
diovisual, não existindo numa obra unidade inferior ao plano. É nele que tudo
se passa: imagens e sons. A duração de cada plano determina o ritmo de um
filme, que é concretizado pela montagem ou edição, quando são organizados
os planos, uns após os outros. O take (tomada) é o número de vezes que um
mesmo plano é repetido durante uma filmagem.

Cena
A cena é um conjunto de planos com a mesma unidade dramática. Normalmente
(mesmo que não seja uma regra), uma cena pode ser identificada como aquilo
que transcorre em um mesmo cenário.

Sequência
A sequência é formada por um conjunto de cenas. As sequências são carac-
terizadas por ter início, meio e fim. A sequência de uma festa, por exemplo,
pode ser formada pelas pessoas se preparando para sair; elas chegando ao local
da festa; dançando, conversando, sorrindo, etc.; saindo da festa; e voltando
para casa.

Tipos de planos
Os planos são uma tradução visual de um roteiro escrito. É com eles que um
filme, uma telenovela, um programa de televisão ou um vídeo são concreti-
zados. Cada tipo de plano é classificado a partir daquilo que ele enquadra do
espaço que está registrando. Assim, eles podem ser divididos em planos des-
critivos, planos narrativos e planos aproximados. Cada divisão tem subdivisões
e existem diferentes nomenclaturas para cinema e televisão. A classificação
aqui apresentada se baseia em Rodrigues (2002).
8 Linguagem e técnica do audiovisual

 Planos descritivos: servem para descrever os lugares; a relação da


câmera é maior com o espaço captado, ou seja, com os cenários.
■ Grande Plano Geral (GPG) — são planos muito abertos; servem para si-
tuar o espectador em que cidade ou local a cena se desenvolve (Figura 2).

Figura 2. GPG da cidade do Rio de Janeiro.


Fonte: Rio de Janeiro (2008, documento on-line).

■ Plano Geral (PG) — plano afastado, utilizado para mostrar prédios


ou casas onde a cena se desenvolve (Figura 3).

Figura 3. PG de um prédio.
Linguagem e técnica do audiovisual 9

■ Plano Geral Aberto (PGA) — utilizado para mostrar cenas localizadas


em exteriores ou interiores amplos, permitindo captar de uma só vez
o espaço da ação (Figura 4).

Figura 4. Exemplo de PGA.


Fonte: Wilfredor (2014 documento on-line).

■ Plano Geral Fechado (PGF) — usado para mostrar a ação dos atores
e atrizes em relação ao espaço cênico (Figura 5).

Figura 5. PGF de atores.


Fonte: Kozlik/Shutterstock.com.
10 Linguagem e técnica do audiovisual

■ Plano de Conjunto Aberto (PCA) — plano que enquadra três ou mais


personagens (Figura 6).

Figura 6. PCA de atores.


Fonte: George Rudy/Shutterstock.com.

■ Plano de Conjunto Fechado (PCF) — empregado para enquadrar


duas personagens com a mesma função dramática. É um plano muito
usado em conversas (Figura 7).

Figura 7. PCF de conversa.


Fonte: Roman Samborskyi/Shutterstock.com.
Linguagem e técnica do audiovisual 11

Planos de situação (establishing shots) são planos que localizam ou relocalizam o espectador
no espaço cênico. Quando migramos do exterior de um prédio para uma sala no interior
deste prédio, por exemplo, é recomendável um plano exterior que situe o espectador no
ambiente que se desenrola a cena. Outro exemplo é quando uma pessoa está sentada no
banco de um parque. Nesse caso, o ideal é mostrar inicialmente um PGA do parque, pois
assim, quando aparecer o banco, o espectador saberá onde ele está inserido.

 Planos narrativos: servem para narrar a história, pois os planos se aproxi-


mam mais das personagens e da relação que estes estabelecem entre si e com
os cenários. Portanto, há uma atenção dividida entre personagens e cenários.
■ Plano Inteiro (PI) — a câmera enquadra a personagem de corpo
inteiro, da cabeça aos pés. Sobra um pequeno espaço acima e abaixo
da personagem (Figura 8).

Figura 8. PI de pessoa.
Fonte: Ljupco Smokovski/Shutterstock.com.

■ Plano Americano (PA) — a personagem é mostrada do joelho até


a cabeça. A origem deste tipo de plano está nos filmes de faroeste
norte-americanos, tendo o objetivo de mostrar o coldre do revólver
que fica na cintura do caubói (Figura 9).
12 Linguagem e técnica do audiovisual

Figura 9. PA de caubói.
Fonte: Nomad_Soul/Shutterstock.com.

 Planos aproximados: servem para dar ênfase dramática, pois se aproxi-


mam das personagens, enquadrando-as bem de perto. Podemos dizer que
são os planos que possuem a maior carga dramática de todos utilizados.
■ Plano Médio (PM) — a câmera enquadra a personagem da cintura
até a cabeça. É um plano muito usado para mostrar movimento das
mãos em relação ao corpo das personagens. Também é bastante
utilizado na apresentação dos telejornais (Figura 10).

Figura 10. PM de apresentador.


Linguagem e técnica do audiovisual 13

■ Plano Próximo (PP) — também chamado de Primeiro Plano, nele a


personagem é enquadrada do busto até a cabeça, dando grande destaque
à sua presença e servindo para mostrar suas características e atitudes.
Este plano é o mais utilizado em telejornais, pois o apresentador fica
próximo à câmera e, consequentemente, do espectador (Figura 11).

Figura 11. PP de jornalista.


Fonte: claudia veja images/Shutterstock.com.

■ Close (CL) — também chamado de Primeiríssimo Plano, mostra


o rosto da personagem, do ombro para cima, e define sua carga
dramática (Figura 12).

Figura 12. Exemplo de CL.


14 Linguagem e técnica do audiovisual

■ Superclose (SCL) — é um close fechado apenas no rosto da per-


sonagem, enquadrando o queixo e o limite da cabeça (Figura 13).

Figura 13. Exemplo de SCL.


Fonte: shutterstock.com.br

■ Plano-Detalhe (PD) — é um plano que mostra alguma parte do corpo,


como pormenores da boca, orelha ou mão, por exemplo. Também é
utilizado para mostrar objetos (Figura 14).

Figura 14. PD de mão.


Fonte: Serhii Brovko/Shutterstock.com.

Há outros tipos de planos que fazem parte da técnica e que não se enquadram
na classificação aqui apresentada. São eles:
Linguagem e técnica do audiovisual 15

 Plano-máster: capta uma cena por inteiro, a partir de um ponto fixo.


Serve para diminuir riscos de erros de continuidade, pois é utilizado
em conjunto com vários outros planos que mostram outras posições de
câmera e enquadramentos. Portanto, o plano-máster é uma base sobre
a qual vários outros planos são inseridos.
 Plano-sequência: mostra uma cena por inteiro, com a câmera se deslo-
cando no espaço cênico, variando angulações, aproximando e afastando
os enquadramentos, sem que haja corte. Atualmente, há filmes rodados
inteiramente em plano-sequência.

Arca Russa (2002), dirigido por Aleksandr Sokurov, foi o primeiro filme rodado inteira-
mente em um único plano-sequência. Portanto, do início ao fim do filme não há corte
algum ao longo de seus 96 minutos. O filme leva o espectador a um passeio através
de 35 salas do Museu Hermitage, em São Petersburgo, recriando diversos momentos
da história russa entre os séculos XVII e XX. Outras curiosidades da produção é que
participam do filme 2.000 figurantes e 3 orquestras que tocam ao vivo (VILLAÇA, 2002).

Por sua vez, as angulações são utilizadas para acentuar algo dentro do
enquadramento. Portanto, todo plano, quando utilizado com algum tipo de
angulação que seja diferente da normal (convencional), tem alguma oferta de
sentido maior. Assim, há uma combinação de plano e ângulo para instigar o
sentido que o espectador vai formar quando assistir a uma imagem. A seguir,
estão relacionados alguns tipos de angulações que servem para situações
específicas e são utilizadas como convenções estabelecidas nos audiovisuais.

 Câmera sobre o ombro (over shoulder — OS):posicionada atrás da


personagem, mostrando seu ombro e, consequentemente, apresentando
outra pessoa que fica à sua frente. Trata-se de um plano muito usado
para relacionar duas personagens em situação de diálogo. É também
chamado de campo e contracampo.
 Plongée: também chamada de câmera alta. Capta a imagem com a
câmera posicionada de cima para baixo. É comumente utilizada para
passar ideia de inferioridade àquilo que está sendo mostrado.
16 Linguagem e técnica do audiovisual

 Contra-plongée: angulação também chamada de câmera baixa. Aqui a


câmera capta a imagem de baixo para cima. Muito usada para valorizar
aquilo que está sendo mostrado.
 Câmera subjetiva: é um tipo de angulação em que a câmera substitui
os olhos das personagens. Assim, o espectador passa a ver aquilo que a
personagem vê. Assim, o ponto de vista do espectador e da personagem
são idênticos. A câmera na mão do operador assume um ponto de vista
de um ator ou atriz em movimento.

Há ainda os planos neutros, os quais são usados para mudar a direção da


ação ou criar uma situação inesperada. Também podem ser utilizados para
mudar o eixo de câmera. Eis alguns exemplos desses tipos de planos:

 Plano frontal: é um plano em que a pessoa que aparece está falando


diretamente para a câmera ou o espectador. Plano muito utilizado no
telejornalismo, em conjunto com o PM ou o PP.
 Cut in: trata-se de um CL dentro da ação filmada. Um exemplo é mostrar um
CL nos pés de uma pessoa que caminha em direção à câmera, o que permite
cortar para ela mesma caminhando em outra direção no plano seguinte.
 Cut away: é um plano ou CL de outra ação interligada a ela e usado
pelos mesmos motivos de um cut in.
 Plano zenital: este plano é feito a 90° diretamente sobre a cabeça das
personagens.
 Raccord no eixo: quando utilizamos um plano fechado complementando
uma determinada ação no próprio eixo. A câmera está na mesma angulação
e mostra a mesma ação com um corte que aproxima a imagem. Um exemplo
disso seria um plano médio de uma pessoa abrindo uma porta, seguido
de um CL no próprio eixo do plano anterior da pessoa abrindo a porta.

Até aqui, caracterizamos elementos da linguagem a partir de uma obser-


vação de imagens, na sua maior parte, fixas. Entretanto, o código audiovisual
utiliza técnicas que fazem os planos serem realizados em movimento. Assim,
veremos agora a nomenclatura dos planos em movimento.

 Travelling: é um tipo de movimento em que a câmera é colocada em


uma plataforma chamada dolly (um carrinho), que se desloca sobre
trilhos para frente, para trás ou em curvas. Os movimentos também
podem ser conjugados com os movimentos da câmera sobre seu próprio
eixo, para cima, para baixo, esquerda ou direita.
Linguagem e técnica do audiovisual 17

 Steadycam: é um equipamento que fica acoplado ao corpo da câmera e a


um cinto no cinegrafista. Ele permite fazer os mais variados movimentos
com a câmera, apresentando estabilidade o tempo inteiro.
 Câmera na mão: este movimento é usado para mostrar instabilidade.
Muito utilizado para acentuar cenas de ação e deslocamentos das per-
sonagens. Em conjunto com a câmera subjetiva, ajuda a dar a impressão
do espectador estar vendo com os olhos da personagem.
 Grua: é um equipamento parecido ao dolly. Entretanto, faz movimentos
verticais e diagonais, pois a câmera é colocada em um braço mecânico
que sobe e desce.
 Panorâmica: é um movimento horizontal da câmera sobre seu próprio
eixo, seja da esquerda para a direita ou vice-versa.
 Tilt: é o mesmo tipo de movimento que a panorâmica. A diferença é
que se trata de um movimento vertical, de baixo para cima e vice-versa.
 Zoom in e zoom out: são movimentos realizados pelas lentes dentro
das objetivas das câmeras. Portanto, a câmera aproxima (zoom in) ou
afasta (zoom out) a imagem sem se deslocar. A câmera fica no mesmo
ponto e a lente se desloca, ao contrário do travelling, em que a câmera
passeia por meio de um carrinho, mudando de local.
 Foco das lentes: mudar o foco das lentes de uma personagem para
outra dentro de um mesmo enquadramento também pode simular um
movimento de câmera.

Os planos, as angulações e os movimentos de câmera em conjunto com


outros códigos, como a iluminação, a cor, a montagem, a arte e o som, vão
definir o estilo da produção audiovisual. As técnicas são utilizadas em prol
da escolha de formatos e estilos, sejam no cinema, na televisão ou no vídeo.

O estilo [...] é o uso de um padrão de técnicas ao longo do filme. Qualquer filme


tende a se valer de opções técnicas específicas ao criar o seu estilo, e estas são
escolhidas pelo cineasta, dentro das limitações das circunstâncias históricas.
Também podemos ampliar o termo estilo para descrever o uso característico de
técnicas de um cineasta individual ou de um grupo de cineastas. O espectador pode
não perceber conscientemente o estilo do filme, mas este, não obstante, contribui
para a sua experiência do filme (BORDWELL; THOMPSON, 2013, p. 476).

Cada elemento que contribui para definir um determinado estilo está


diretamente ligado ao tipo de público que vai assistir a produção resultante.
Afinal, todo produto tem por finalidade chegar as pessoas, pois uma obra só
se completa em seu espectador.
18 Linguagem e técnica do audiovisual

BORDWELL, D.; THOMPSON, K. A arte do cinema: uma introdução. Campinas: Editora


da Unicamp; São Paulo: Edusp, 2013.
BRAVO, A. R. A dimensão sonora da linguagem audiovisual. São Paulo: Senac, 2006.
CAVE OF ALTAMIRA. Wikiwand, 2008. Disponível em: https://www.wikiwand.com/en/
Cave_of_Altamira. Acesso em: 19 fev. 2020.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora
34, 2008. v. 4.
GOMBRIHCH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
JAPIASSU, H. Nascimento e morte das ciências humanas. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
1978.
MCLUHAN, M. Entrevista com Marshall McLuhan. Revista da Associação Nacional dos
Programas de Pós-Graduação em Comunicação: E-compós, Brasília, v.14, n.3, set./dez. 2011.
NOVAES, S. C. Imagem, magia e imaginação: desafios ao texto antropológico. Mana,
Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 455–475, out. 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132008000200007. Acesso em: 19 fev. 2020.
RIO DE JANEIRO. Wikiwand, 2008. Disponível em: https://www.wikiwand.com/pt/
Rio_de_Janeiro. Acesso em: 19 fev. 2020.
RODRIGUES, C. O cinema e a produção: para quem gosta, faz ou quer fazer cinema. Rio
de Janeiro: DP&A, 2002.
VILLAÇA, P. Arca Russa. Cinema em Cena, 30 nov. 2002. Disponível em: http://cinema-
emcena.cartacapital.com.br/critica/filme/6739/arca-russa. Acesso em: 19 fev. 2020.
WILFREDOR. Panorâmica do Centro de São Paulo, vista desde Viaduto do Chá. Wikime-
dia Commons, the free media repository, 15 nov. 2014. Disponível em: https://commons.
wikimedia.org/w/index.php?title=File:Panoramica_del_Centro_de_S%C3%A3o_Paulo.
jpg&oldid=391159509. Acesso em: 19 fev. 2020.

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.

Você também pode gostar