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Thomas R. Fairchild Wilson Teixeira Marly Babinski <2 dda natureza humana refletir sobre si ¢ sobre 0 mundo ao sea redor, A consciéneia deu ao ser ente — penso, lego ‘axis mas também o desejo de saber do seu passa do ¢ da origem do seu mundo para poder entender seu lugar na Narureza ¢ enfrentar 0 futuro, Todo povo, humano o dominio do tempo pres desde os tempos pré-historicos, guarda seus mitos € histérias sobre sua origem € a eriaclo da Terra. Com © notivel desenvolvimento das ciéncias nos iiltimos culos, a humanidade finalmente comecou a des. vendar, objetivamente, essas questdes ¢ 08 mistérios do mundo em que vive. E € a Geologia, centrada no estudo das rochas, que nos auxilia nessa tarefa fascinante ¢ dificil por- que, 20 contririo das ciéneias exatas, trata-se, em esséncia, de uma ciéncia historica, fundamentalmente dependente do elemento tempo. O fisico ou 0 qui mico, por exemplo, observa ¢ analisa fenémenos iis ~ experiénci troladas, O gedlogo, contudo, busca entender fendmenos findados, ji ha milhares, milhes ou até s € reagdes rigorosamente con bilhdes de anos, pelo exame do registro geolégi- co das rochas, fésseis ¢ estruturas geoldgicas. Esse exercicio trabalhoso é complicado ainda mais pela natureza incompleta e, comumente, muito comple- xa do registro (Fig, 15.1) ¢ também em funcio da superposigio repeticio de fendmenos ao longo da historia geolégica. Para ordenar © comparar eventos passados, 0s geslogos desenvolveram uma escala de tempo padro- nizada ¢ aplicada no mundo inteiro, Neste capitulo, veremos como se divide o ‘Tempo Geoligico ¢ como 2 mudanga paulatina na sua concepeio ¢ magnitude revolucionou nossa percepgio da propria histor stabelecer a idade das rochas, seja por meio do estudo dos fs. ‘Terra, Veremos também como € possivel seis, seja pela medigio de isdtopos radioativos e radiogénicos, avango que culminou com a definigio da idade da Terra em 4,56 bilhGes de anos. Diante dessa dimensio temporal, refletiremos quiio pequeno 0 ser humano no espago-tempo e quiio insignifican te € sua civilizacio milenar. 2» Ongem da Tora é Ta Moteriois terestes gg mae anor 23 . a a pens Roches He j stres ewan POH onS q | | a gee ° spo 1000-1500 ©2000» 2500-3000 ©3500 4000540 Mihows de anos Fanerozsico Proterezéico ————+| ¢ ———Arqueano. —————> Pré-Cambriane. ————___—_+> Fig. 15.1 Distribuigio de rochas sedimentares no registro geolégico. A curva da média de rochas sedimentores preservados ao longo do tempo geolégico sugere que o registro diminui quase que geometricamente com a idade. Seré que realmente houve menos sedimentacdo no passado? Claro que nao! Nossa dificuldade de compreender @ imensidao do tempo anvalvido & que nos dé esta impresséo erénea. Além disso, quarto mais antigo o regisiro sedimentar, menores serao suas chances de ter escapado do dest {s00 erosiva ou translormacdo metamérica. “St Sterosternum tumidum, um membro do grupo dos mesossaurides, canhecidos openos no bocio do Porané € ne bocia contemporéneo de Karroo, na Africa do Sul, extinios hd 245 milhdes de anos. Embora aquéticos, os mesossauridos ndo eram nadadores suficientemente fortes parc terem migrado de Africa pare América do Sul. Simbolizam, portanto, uma das evidéncias de Unido pretérita destes continentes anies do abertura do oceano Ailéntico, Comprimento méximo: 45 em, Foto: Sérgio F Beck Ce ee eR ee 15.1 Como Surgiu a Geologia ¢ uma Nova Concepgio do Tempo 15.1.1 Concepgdes iniciais da idade da Terra € 0 principio da Geologia A idéia de que a Terra poderia ser extremamen. te antiga sé emergiu nesses titimos dois séculos, como conseqiiéncia dos dois grandes movimentos da cultura ocidental que consolidariam a Geologia como uma ciéncia: * Durante 6 Huminismo o ser humano substituiu as explicagdes sobrenaturais para fendmenos da Natureza por leis naturais, fruto de descobertas da observagio, pesquisa cientifica e emprego do. * Com a Revolucio Industrial, inerementou-se a demanda por matérias-primas € recursos energéticos oriundos da Terra Océmputo da Idade da Terra Da Criagio até 0 Dilivio__1.656 anos Do Ditiivi até Abrado_292 Do Nascimento de Abraio até Exodo do Egito 503 Do Exodo até.a Construgéio do Templo 481 / Do Templo até 0 Cattveir_414 Do Cativeiro até o Nascimento de Jesus Crist ou Do Nascimento de Jesus Cristo até he 1560 Made da Terra S520 anes Fig. 18.2 © conceito medieval da idade do Terra. Esse eéleulo do idade da Terra, baseado nas escrturas biblices, foi publicado, no Crénice de Cooper, em Londres, em 1560. Um século de pois, © Acebispo Ussher apresentaric o uhimo fe mais detalhado) cestudo deste ipo Antes disso, nem se cogitava que 0 mundo pudesse ser “imperfeito” ou muito antigo por causa da forte in: fluéncia judaismo pré-cristio, por exemplo, concebia a'Terra como, tendo apenas poveos milhares de anos, Idéia semelhante cligiosa no pensamento intelectual da época, © continuo a ser difundida 20 longo da Idade Média € Renascenca por sibios na Europa, que geralmente air mavam que a criagio do mundo, em eoeréncia com a Biblia, se dew hai cerca de 6.0410 anos (Fig, 15.2). Tal con- cepeia transformou-se definitivamente em dogma em tomo de 1650 quando o religioso Arcebispo Ussher (1581- 1656) (Fig. 15.39), primaz tratado sobre a cronolo, pesqquisada nas escrituras sagradas € em outros docu ‘mentos histéricos. Levando em conta todas as mucangas Irland, publicou volumoso piblica, cuidadosamente cronoldgicas impostas pela troca do calendario juliano pelo calendério gregoriano em 1582, Ussher declarou que a tum domingo, do ano 40004 antes de Cristo, Tal foi a influ éneia de U do século XX como nota de rodapé nas Biblia publ pel o deu-se na noite anterior ao dia 23 de outubro, her que essa data permaneceu até 0 inicio Fig, 15.3 lustres personagens no surgimento de Geologia. co} Arcebispo Usther, respeitado Primaz do Irlanda, em imo: gem do época, Fonte: Bettmonn/ Corbis/ Stock Pholos. b) Nicolau Steno, 0 primeire « enunciar principios de Geologia, Desenho: T. M. Fairchild. c] Coricotura de Jomes Hutton, escacés que estabeleceu o Geologia como uma ciéncia mo: ema, surpreso ao descobrir as imagens de seus rivais no. ‘ofloramento, Fonte: Carbie/ Stock Photos. 4) Sir Charles Lyell, ‘© mais inflvente getlogo do século XIk, popularizou o cone to de uniformitarismo. Fonte: Ann Peck Dunbar Trust. Ki ee O descrédito 20 qual o Arcebispo Ussher é ge- ralmente submetido em livros, em funcio da falta de logica de suas idéias & luz da Ciéncia moderna, € certamente exagerada, pois a hist6ria nos mostra que ele foi um estudioso muito respeitado e influ: ente em sua época. Que isso nos sirva de exemplo para refletir sobre a imagem que geragdes futuras, poderio ter da Ciéncia de hoje No clima intelectual dos séculos XVII © XVIII, que mantinha a idéia do set humano como centro do Uni- verso © a Terra como de seu uso exclusive, comecou a surgir, timidamente, a Geologia. O dinamarqués Nils, Stensen, mais conhecido pelo nome latinizado de Nicolau Steno (1638-1686) (Fig, 15.3b), foi quem primeiro enun- ciou 0s prineipios dessa nova ciéncia. Médico, religioso, (cat6lico convertido do luteranismo) e perspicaz obser- vador, Steno explicou a origem dos géiseres (Cap. 17), reconheceu como dentes fsseis de tubardes as pedras popularmente chamadas de “linguas petrificadas” (elasopeina), constatou a constincia dos Angulos entre fa- ces cristalinas (Cap. 2) € contribuiu para o estudo da anatomia humana. No seu livro Pradramus, publicado em, 1609, ele estabeleceu os trés principios que regem a or- ganizacao de seqjiéncias sedimentares € que até hoje sio chamados, muitas vezes, de principios de Steno (Fig, 15.4): + Superposigdo: sedimentos se depositam em camadas, a8 mais velhas na base as mais novas sucessivamente acima, + Horizontalidade original: depésitos sedimentares se acumulam em camadas sucessivas dispostas de modo horizontal + Continuidade lateral: camadas sedimentares si0 continuas, estendendo-se até as margens da ba- cia de acumulagao, ou se afinam lateralmente. Apesat de simples, esses principios sto absoluta- ‘mente fundamentais na andlise geologica das relacdes temporais € espaciais entre corpos rochosos, Por exem- plo, o principio da superposigio permite ordenar » perturbados e, uma ver conhecida essa ordem, reconhecer situagées em que tenham sido invertidas por processos tectnicos. Ao encontrarmos estratos sedimentares inclinados, € pos- sivel inferir, com base no principio de horizontalidade original, que o pacote sofreu deformacio posterior. cronologicamente estratos 1a E pelo principio de continuidade lateral, podemos, reconstituir a distribuigko geogrifica original de uma camada dissecada pela erosio através da correlagio fisica dos seus vestigios (Fig, mode borers su fe ktrelnote eres > z iF sone rade a cudedn de Nom fe de depen tecamote te be 8 ‘ave oDae Fig. 15.4 A formacéo das rochos e da paisagem, sugerida por Steno (1649), de acordo com os princpios de superposicao, horzontlidade originale coninuidade loteral Conrado, a aplicago indiscriminada desses principi- (8 pode levar a interpretagies equivocadas, Por exemplo, numa sucessio esteatifiada de rochas sedimentares ¢ igneas, o observador deve reconhecer cortetamente a diferenga entre um derrame de lava, cuja formacio obe- dece aesse principio, e um sf, sempreintrusive ¢, portanto, sempre mais novo do que as rochas encaixantes (Caps. 16 € 17), nao se aplicando, agui, 0 principio d superposigio. SLi - is ar b 3 Fig. 1.5 Utilzacdo dos principios de Steno no compo. Uma gedloga investiga ofloramentes A, Be C; em) Pelos principios de superposicdo e de herizontolidade original e opoiada pela, observacao dos coraisfésseis preservados em posicGo de vido}, ala interpreta como normal (ndo perturbado} © arranjo das camadas 1 0 5 no afloramento A, sendo a comade 1 0 mois vyelho e a camade 5, a mais nova, Pelos principios de continui- dode lateral e de sunerposicéo, ela infere que o mesma seqiéncio também se estende até B e C, opresentando-se, porém, pelo, principio de horizentalidade original, ligeiramente dobrada em Be invertida em C. 6} Com bose nessas conclusées, « gedloga, presenta sve inlerpretacdo final sob o forma de um peril geo. légico. Dependendo da energia do meio ¢ da topografia do substrato, o principio de horizontalidade nao se aplica estritamente, como no caso da formacio de ratificagio cruzada em ambientes sedimentares de alta energia (Caps. 9, 12 € 14), ou durante a deposicio sobre as superficies inclinadas de leques aluviais e fren: tes deltdicas (Cap. 10). Nem toda camada termina Jatcralmente por afinamento ou nos limites de bacias, pois comumente um sedimento cede lugar, lateralmen- te, para outro de maneira gradativa, Um atenito, por cxemplo, pode passar para siltito, devido a mudangas na di ete a da fonte, energia do meio, profundidade, sigdes laterais desse tipo, chamadas de mu. dangas de Facies litol6gicas (nesse caso particular, de fi refletem normalmente a distri- buicio de ambientes de sedimentacio distintos no interior de uma mesma bacia (Cap. 9). A migrag esses ambientes a0 longo do tempo produz diferen: tes padrdes de interdigitagio e sucesso de ficies que denotam avangos (transgressdes) € recuos (regressdes) do corpo da gua relativos as margens da bacia, A Fig, 15.6 ilustra algumas situagies de registro sedimentar de diferentes ambientes costeiros. Vé-se, CT bo} ree CU ge ae na parte @ da figura, que o principio de continuidade lateral nio se aplica estritamente, pois as eamadas em ver de se estenderem até os limites da bacia gradam lateralmente para facies sedimentares distintas, cada qual como produto de um ambiente contemporineo di ferente. A parte b mostra como © arranjo geogrifico desses ambicntes c 0 registro sedimentar dessas facies podem se modificar, ou nfo (Seco 4 esquerda), com (© tempo, avancando sobre o continente (transeressio) quando a subida do nivel do mar € mais ripida do que o preenchimento da bacia sedimentar (segio do meio), ou migrando a0 sentido oposto (regtessio) quando os seciimentos oriundos do continente avian: gam mar adentro (secio A direita). A parte r registra a transgressio ovorrida na regio do atual Grand Canyon. (E.UIA) durante 0 Cambriano. O exagero vertical de mais de 210 vezes permite visualizar bem o avango princips hem como os vangos ¢ recuos menores (nos circulos) superimpostos nnesse processo. As duas linhas de tempo (linhas ponti Ihadas, definidas paleontologicamente), pasando lateralmente de uma litologia para outra, demoastram al das ficies de oeste para les que enquanto o arenito Tapeats se depositava na parte central da regiao, 0 folhelho Bright Angel se sedimentava logo a oeste. Pouco depois, 0 mesmo fendmeno repetiu-se entre as lamas do folhelho Bright Angel ¢ os carbonatos do calcirio Muav. Hoje esses txés prineipios de Steno parecem mais do que Sbvios, mas o clima intelectual da Europa no culo XVII era de tran: val e modemo, com Inquisigdes ¢ interpretacdes eruditas da histéria da Tetra base Diblicas, e nas grandes descobert telescépio, o microsc6pio, a fisica e o caleulo. f ‘matico que tenha sido um padre catdlico € naturalista, » entre os mundos medie- nas escrituras cientificas, como 0 imo- Steno, quem tenha enunciado esses principios. A simplicidade do conceito biblico da formacio da Terra refletiu-se também nas primeiras tentativas ciemtficas de ordenar 2 histéria geolbgica do planeta, por volta do século XVII, Entre 1750 ¢ 1760, Giovanni Arduino (1713-1795) nos Alpes italianos ¢ J G, Lehmann (1719-1767) na Alemanb as rochas cristalinas com minérios metilicos, observa das nos niicleos das montanhas, de primérias ou primitivas ¢ as rochas estratificadas bem consolidadas (calearios, folhelhos) com fosse rochas estratificadas pouco consolidadas, com fosscis denominaram, de secundarias; as marinhos e intercalagGes vuleinicas, receberam a de signagao de ter transicional para acomodar rochas intermedifrias en- frias. Posteriormente, surgiu 0 termo 0 ee oy Aenbiante continental Arabiante troneicona ‘Aro, lama Sike, metéria corganico ebundonte Avaio ome Restor da planior © ‘de agua doce estos de plontos @ animals dde guar selobres @ marinhos {eveniueis organiemor do ombi- tents continental Restos de igo, enim rieroorgonismos morinhor hes (berreirs) Mer rose Pantanos costeiros, —30 km: Trormgrssbo 30m < 20 kn = 20km > ‘sfc continents avon robe on main. Fig. 15.6 © conceito de facies sedimentores exemplificado no distribuicao de alguns ambientes costeiros e seus produos litolégicos (fécies) Cte) tre as primérias e secundarias, ¢ em 1829 o francés J. sedi- Desnoyers cunharia 0 vocabulo quaternirio para ‘mentos marinhos recobrindo rochas tercisrias na bacia de Paris (Franga), Os termos “primétio € “secundé- io” ja foram abandonados, mas os termos Terciario © Quaterniio ainda constam da escala moderna do tempo geolégico, embora com conceitos diferentes dos originais (Tabela 15.1). Na segunda metade do século XVIII, essa sub- divisio simples foi interpretada & luz do relato biblico da separagao das terras ¢ das aguas durante a Criagio, De acordo com essa idéia, quase todas as rochas, incluindo rochas igneas como granitos € bas primordial, dai a razio do nome, netunismo, em homenagem a Netuno, o deus do mar da mitolo: gia greco-romana Itos, teriam se precipitado das aguas do mar Jonforme mostra a Fig 15.7, os netunistas acredi tavam que as rochas se formavam em quatro séries seqjienciais a partir das éguas do mar primevo, como relatado na Biblia, Para eles, as duas séries mais antigas, incluindo rochas jgneas e metamérficas, eram precipi- tadas em capas concéntricas sobre toda a superficie original da ‘Terra quando esse mar ainda cobria tudo. As outras duas séries, mais restritas geograficamente € caracterizadas por fosseis, marcas de correntes © ou- m tras estruturas indicativas de aguas mais rasa originadas quando os continentes j se expunham aci- ida do nivel eno, postu ra dentro de imensas ma do nivel do mar. Para explicar a de: do mar primevo os nerunistas, como s dguas sumiam cavidades no interior da Terra (Fig, 15.4). © netunismo teve em Abraiio Gottlob Werner (1749-1817), professor durante 42 anos na Academia de Minas em Freiberg (Alemanha), seu proponente mais, sor de Geologia da sua época, lecionando inclusive para 0 eminente mineralogista (e politico) brasileiro, José Bonificio de Andrada ¢ Silva na década de 1790. Os livros-texto de Geologia tendem a tratar Werner com carismatico, Werner foi o mais renomado prof certo desprezo, por causa da insustentabilidade cientfi- cado netunismo, Mas a influéncia de Werner até 1840, inclusive no proprio bergério da doutrina an- eestendeu tagonica, 0 plutonismo, que nascera no fim do século XVIII em Edinburgo, Eseécia, Por ser um dos primei ros naturalistas a adotar um ponto de vista geolégico-hisvirico, Werner merece ser lembrado como tum dos pioneiros da Geologia Historica, ee re TABELA 15.1 A escala do tempo geolégico (idades segundo Gradstein & Ogg, 1996) Para facilitar « compreenséo da magnitude dos 4.560,000.000 anos de tempo geol6gi- co, veja 0 quadro no contracapa que conta a histéria da Terra como se ela tivesse ocorrido no intervalo de um ano, 0 “Ano-Terra’.

Walcott 693 1 E> tN 5s 4 Cenordico Maceies Sel bag Polecesico Prt-Combnane SE 1 1 1 1 ‘ soot 2500 38004800 Mihses de ance Fig. 15.12 Mudancas no concencdo do enliguidade do Terra nos iltimos 350 anos. ye Ot ee Ley 15.3 Principios e Métodos Modernos da Datagao Absoluta 15.3.1 Decaimento radioativo e a datagio absoluta Como visto antetiormente, a estimativa da idade da Tetra variou muito dos séculos XVI ao XIX. Com a descoberta da radioatividade, este tema ga nhou maior estimulo, ja que estudos realizados por Marie ¢ Pierre Curie ¢ por Ber inicio do século XX, mostra am Boltwood, 0 a possibilidade de empregar um método fisico na determinacio da idade da Terra. Porém, antes de mostrarmos como € possivel determinar a idade das rochas ¢ mine. rais, vamos entender a radioatividade eo fendmeno de decaimento radioativo, sim como toda a ma- (Os minerais ¢ as rochas, a téria do nosso planeta, sio constituides por elementos quimicos que, por sua vez, sio forma- dos por itomos, O micleo de um dtomo é composto por prétons ¢ néutrons ¢ é rodeado por uma nuvem de elétrons (Fig, 15.13). O mimero de protons determina o mimero atémico (Z) do cle- mento quimico € suas propriedades e caracteristicas. Assim, uma mudanga no numero de protons for- ma um novo elemento quimico com diferente cstrutura atémica €, conseqientemente, diferentes propriedades fisicas e quimicas. A soma do ntimero de protons ¢ néutrons de um atomo é por sua vez, denominada mimero de massa do atomo (A). © Carbono, por exemplo, C4 (carbono12) 13¢, (carbone 13) tem niimero atémico 6 © ntimero de massa 12, 13 ou 14, dependendo do nimeto de néutrons pre- sentes no seu aticleo, Elementos com 0 mesmo. nimero atémico mas com diferentes mimeros de a sio chamados is6topos (Fig, 15.13). A grande maioria dos isétopos € estavel, tais como os do BC, © 8C,, mas outros, como 0 "C,, sio instaveis Os iséropos instaveis (radioativos) sao importantes na geologia uma vez que sua taxa de decaimento pode ser usada para determinar idades absolutas de formagio de minerais ¢ rochas. Decaimento radioativo é uma reacio espon tinea que corre no niicleo do sitomo instivel que se transforma em outro tomo estivel; os elétrons, que orbitam 0 nicleo nao si envolvides no pro cesso. O elemento com niicleo atémico instivel, em decaimento radioativo, é conhecido como elemen- to-pai ou nuclideo-pai; 0 novo elemento formado, com nticleo atémico estivel & denominado elemen- to-filho ou nuclideo-filho (ou radiogénico). O processo de decaimento pode ocorrer de trés for mas diferentes, todas resultando em mudangas da cestrutura atémica: decaimento alfa, decaimento beta e decaimento por captura de elétron (Fig, 15.14), Alguns elementos instaveis se transformam em es: cis através de um tinico tipo de decaimento, Por exemplo, © "Rb (aimero atomieo 37) decal para "Se (atimero atémico 38), emitindo apenas uma particula beta; 0 “K (aimero atomieo 19) decai para "Ar (ni: mero atmico 18) com uma Gnica caprura de elétron, Outros isétopos radioativos sofrem decaimentos con. secutivos até se tornarem isitopos estiveis: 0 *°L (atimero atémico 2) , por exemplo, deca para "Pb C4 (carbone 4) Proton Neutron Elétron Fig, 15.13 Esquema mostrando os is isbtopos de Carbono. Todos tam o masme nimera atémice (2 = 6), que é igual ac niimero de prélons no nicleo, mas ndimeros de massa diferentes (A = 12, 13 ou 14), de acarde com © nimero de néutrons (6, 7 ou 8} no niclea frm Ed (mimero atémico 82) apds a emissio de sete particu: las alfa © seis particulas beta, enquanto 0 2"U decai pa Ph através da emissio de oito particulas beta € seis particulas beta (Fig, 15.15). Durante © decaimento radioativo, cada elemen to-pai leva um determinado tempo para se transformar em elemento-filho. Estudos de labo- ratorio tém mostrado que as taxas de decaimento (denominadas constantes de desintegragao) nao sio afetadas por mudangas fisicas ou quimi mportante poi de decaimento de um dado isstopo seja indepen- s do ambiente. Isto é segura que a taxa dente dos processos geolégicos. Portanto, esta taxa a mesma no manto, no magma, num dado mine- ral ou numa rocha. Usarse 0 conceito de meia-vida para expressar as taxas de decaimento radioativo, ou seja, 0 tem- Nocleo do Nocleo do Altera clomento-pai ‘elemento-ihe ‘atomicas Peril Namaste & dhe Deccmmer ‘a a ot at o — 0 3 tu 7 iitron i ue ap. 2 Baron e € pigton Nation Eton Fig. 15.14 Os trés tipas de decaimento radicativo. a} Decoimento alfa, no qual 0 nucleo instével perde dois protons e dois néutrons, diminuindo seu némero atémico em 2 suo massa atémica em 4. b) Decaimenio beta, no qual um dos néutrons do nucleo emite um elétron, trans- formando-se em proton, © que aumenta 0 nimero atémico fem I, mas nao altera © seu numero de massa. c) Decaimento por coptura de elétran ocorre quando um préton coptura um elétron da camada de elétrons que rodeia o nécleo & se transforma em néutron, diminuindo seu numero otmi- oem um, mas néo afetando seu némero de massa. Nee crt eae ey a) po decorrido para que a metade da quantidade ori ginal de atomos instaveis se transforme em jitomos estaveis. Por exemplo, apds decorrido 0 tempo de uma meia-vida, um elemento com 1,000 atomos ins taveis tera 500 dromos instiveis (radivativus) © 500 tomos estiveis (radiogénicos). Apés duas mei das haveré apenas 250 étomos ins! itomos estaveis (Fig, 15.16). O decaimento tadioa eis ¢ 7) tivo nao depende da massa do material presente, mas da probabilidade estatistica de decaimente. Assim, na radioativo presente, seja ela um grama ou uma to: importa a quantidade inicial do elemento mento radioativo nelada, pois as chances do de sao figoro! mente iguais para cada étomo. Apés 0 tempo correspondente a uma meia-vida, a metade da massa original do elemento-pai te do em clemento-filho. £6 conhecimento da meia-vida dos varios is6topos ¢ da atval razao entre 0 ntimero de Ato- mos dos elementos pai ¢ filho da amostra que permite a determinagio de idades de minerais ¢ rochas, A Tabela 15.3 apresenta os principais » radiométrica © suas isétopos utilizados em dai respectivas meia-vidas. DD Tes EES Hi 4 Decaimento alfa \\ Decaimento beta 2 ee SOE Fig. 15.15 Série de decaimento radioative do Urdnic 238 [*U,,} para Chumbo 206 (*Pb,,). Neste processo, cuja meio vido € de 4,47 bilhdes de anos, a emissdo de particulas alfa e pariculas beta transforma © Urénio 238 (radioativo) em Chum. bo 206 {radiogénico}, um elemento estével, opés ter sido formado momentaneamente um grande numero de elemen: 29 90 9) 92 Nomero, 10 intermedisrios, fomibém radioativos. 322 DeciFranpo a TERRA w wa 0 — Tempo ” Mineral na época de eristelizaae, + Atomos do elemento-pai Aromos de clemante fio pos uma maia-vide no sistema 3 pos duas meia-vidas Apes tes ‘moia-vidoe va wis Proporgdo de dtomos-pai restantes (9) (b) Tempo (em meia-vidas) Fig. 15.16 Decoimento radioativo e o conceite de meia-vide. 0) A meio-vide de uma vela corresponde, rigorosamente, 00 tempo ecessério para queimar 6 metade dela porque a queima depende, diretamente, do numero de diomos presentes na vela. b) decaimento radioativo © pracesso é diferente, envolvendo @ estabilidade dos néicleos dos étomos, independentemente da mossa presente, Na curva de decoimento radioative, code unidade de tempo equivale a ume meia-vida, que representa c lempo necessério No pare que metade dos étomos do elemento-pol{radioatvo) se tronstorme em étomos do elemento-fiho (radiogénico) Tabela 15.3 Isétopos mais utiizades em datacéo radioméirica e suas respectivas meia-vidos. CeCe re) Coe 15.3.2Como se determina a idade de uma rocha ou de um mineral? © tamo da geologia que trata da datacio de ro- chas € conhecido como Geocronologia. Para determinar a idade de uma rocha ou mineral € poss: vel aplicar varios métodos tadiométricos, sendo que esta escolha depende da composicio quimica do ma- terial a ser datado, da sua provivel idade ¢ também do tipo de problema geol6gico que se pretende estu- dar. Os métodos radiométricos mais comumente utilizados na geocronologia sto: “IAs, “Rb-Sr, U-Pb, *”Pb-™Ph ¢ n-!8Nd. eke) ‘Argénio 40 A) Estréncio 87 (Se) Neodimio 143 (Nd) Chumbo 208 (Po) Chumbo 207 @2"P9) Chumbo 206 (Pb) Osmio 187 (Os) Reea eR Cee eur) Todos esses métodos exigem laboratérios quimi- cos especiais, onde o ar é punificado através de filtros, 6 ambiente é mantido sob pressio ligeiramente mais alta que 0 af fora do laboratério ¢ as analises qui realizadas em eapelas de fluxo lam ), empreyando apenas reagentes superpuros, tudo para evitar problemas de contaminagio. Apos a prepa: ago quimica da amostea, as razGes entre 0s isotopos ap. ar de ar inde precisio aum equipamento computadorizado chama- ddo espectrémetro de massa de um mesmo elemento sio determinados com Capituto 15 A obtengio de idades de minetais e rochas, inde pendente do método adotado, é feita utilizando @ equacio fundamental da geocronologia, basca- da no processo de decaimento radioativo, representada pela seguinte férmula: A datagio pode ser feita em minerais ou numa amos: ‘tra representativa de rocha, visando a definicao da idade da cristalizacio da rocha ignea ou da idade do metamorfismo ou da deformagio sofia. (Os métodos radiométrieos envolvendo isétopos com, fda longa (Tabela 15.3) sito os mais usilizados para i520 de rochas mais antigas, como as pré-cambrian a Isétopos de meia-vida curta so utilizados para a datacao de materiais geol6gicos € eventos muito mais jovens; 0 ‘C, por exemplo, com meia-vida de 5.730 anos, 6 utiliza: do para datagio de materiais de até 70.000 anos. Porém, recursos teenolégicos modernos tém permitido empre gar alguns isétopos de meia-vida longa no estudo _geocronoligico de materiais muito javens. Os is6topos radioativos de meia-vida longa emprega- dos na geocronologia sto usinio, tro, rubidio, potissio € samario, A maioria destes elementos no forma seus proprios mincras,n ocorrem como “impurezas” nos minerais formadores de rocha. Quando um mineral se forma, os elementos rdioativos presentes continuam a decair, mas a pra os elementos radiogénicos podem se acumular no mesmo reticulo eristalino onde esti locali zado 0 elemento-pai. Vamos & -mplificar este processo usando 0 isétopo “Ar, o elemento-flho produzido pelo decaimento do "K. Por ser um ggis nobre, 0 argénio no participa das ligag ss quimieas, estando como tal aprisio- nado mecanicamente no reticulo ctistalino do mineral Durante o resfriamento de um cristal de hornblenda, a retengio de arpénio se da a temperaturas em torno de eee ett an ners) ; jd na biotita esta temperatura é da ordem de Se © mineral apés atingir esta temperatura for ovamente aquecido a temperaturas mais alta, o retculo ctistalino se abre, ocorrendo o escape ou, eventualmen te, a entrada de argonio por difusio. A temperatura em tema isot6pico se Fecha, € por conseqtiénei relogio” radioméiric, é que o inicio ao funcionamento do conhecida como temperatura de bloqueio. Cada mé: todo radiométrico possui um «temperatura de blogueio istinta, Desta forma, quando determinamos a idade de uma homblend pelo método K-Ar, estamos, na verda de, determinando a época em que o mineral esteve a remperarura de SIPC pela iltima vez. Por outto lado, a idade da biotita da mesma rocha, obtida pelo mesmo métode, indi época quando a rocha esteve 4 tempe ratura de cerca de 300°C © método K-Ar € muito utilizado para determinar ‘© tempo envolvido no resfriamento de compos igneos, ‘ou 0 término de um processo metamérfico, entre ou tras aplicagdes. A presenga de Kem muitos minerais da crosta terrestre toma este método aplicivel em grande rndmero de rochas, enquanto seu tempo de meia-vida permite a datacio de minerais desde muito jovens (50,000 anos) até muito antigos, da ordem da idade da ‘Terra Avangos tecnolégicos introduziram uma variante do método K-Ar que fornece idades muito precisas. Eo método "AnAr, que através de sistemas de fusio pom tual a Jaer possibilta a anilise de crstais individuais, Fm 1997, Paul R. Rene do Laboratério de Geocronologia de Berkeley, California, E. U.\., analisow amostras de rochas vuleinicas da famosa erupgio do Vestivio que causou a destruigio de Pompéia no ano 79 depois de Cristo, Anilises ison6picas de argOnio num crstal de sanidina (feldspato com alto teor de potissio) fornece fam uma idade “Ar-"Ar de 1.925 + 94 anos, que é comparivel 4 idade da erupcio, A eficicia desse método cem materiais geol6gicos muito jovens expande sua apli cago para investigagies aryueologicas estudos de outros registros hist6ricos da Terra. ‘Um outro método radiométrico muito usilizado para datagio de minenais € 0 método U-Pb, que se decaimento de dois isétopos radioativos de unio, o°*L € 0 °*L, gerando 0s is6tapos radioggnicos, 0 °”Pb ¢ 2*Pb, respectivamente. Cada um destes pares (°U. ¢*U2*Pb) fomece uma dade independente e quando coincidem costuma-se chami-lis idades concordantes. Langados em grifico **U-"Pb vs. *U-"Ph, 0s pontos de todas as idades eoncordantes definem a curva con- cordia (Fig, 15.17). Por outro lado, idades discordantes centre 0s dois sistemas sio devidas, em geral, a perdas de Pb do mineral, € neste e2s0 0s pontos analiticos se a sham numa seta denominada discdrdia. A interseccio dessa reta com a curva conedrdia define a idade de cris talizacio do mineral <7 ou! 1 70059 Ha 03 1600, G ade de xia {mihoes de ono 0a py 2y, 2 pHiy Fig. 15.17 Diagrama Concérdia, Neste caso, a idade de crs ‘alizacdo dos cristois de zircdo analisados ¢ obtide através do intercepto superior da reta discérdia com a curva concérdia No método U-Pb nio sio utilizadas homblendas ou micas, mas minerals que contém Ustinio no seu reticulo cristaino, tas como zircio,titanita, monazita, etc. Estes minerais, principalmente zircao (Pig, 15.18), apresentam tum reticulo cristalino muito esistente, que retém com maior into os clementos-pai (Uriinio) como os ele- mentos-filho (Chumbo). Além disso, apresentam temperaturas de bloqueio muito altas para o sistema isotopico U-Pb: cerea de 80KPC no caso do zircio; entre 650 © 700°C para ttanita; e cerca de 650°C para monavita Devido ae sto capazes de preserva alta temperatura de bloqueio, os zie a idade da cristaizagao da rocha fgnea original, mesmo em rochas metamorfisadas em ficies anfibolito (Cap. 18). Adicionalmente, tendo em vista a tem- peranura de bloqueio relativamente mais baixa da ttanita, esta pode ser empregada na determinagio da idade de ‘eventos superimpostos (metamorfismo, por exemplo) as sociados a formagio deste mineral. Os avangos recentes neste método possibilitaram. determinagdes precisas em ctistais mintisculos de zise2o, ou até em partes diferentes de um tinico cristal com evidéncias de sobrecrescimento durante um ou mais eventos Neste titimo caso, € utiliza- do um espectrometro de massa de alta resolucao analitica,o SHRIMP (sensitive high soliton mace specronetr) que permite determinar a idade da cristalizagio ignea do aticleo do mineral € dos eventos metamdrficos registrados no sobrecrescimento e porcoes recristalizadas do cristal Fig, 15.18) Esta técnica foi utilizada na andlise de grios detrticos de zircio do conglomerado Jack Hills da Austria, o que petmitiu cemonstrar serem estes os materiais mais antigos jfencontrades no nosso planeta (4,2 bilhoes de anos). Atu- » método U-Pb € considerado um dos mais precisos para datar eventos igneos e metamérticos, assim Fig. 15.18 Grdo de zircio proveniente do sudoeste do Groenléndia formado por cristalizacéo concéntrica hé 3,8 bi Ihoes de onas. De lado direito, observa'se 0 recrstolizagio parcial ocorrida durante evento metamérfico, ha 2,8 bilhdes de onos, Foto: A. P Nuiman e P Kinney. como as fontes de material detritico em rochas sedimentares, Por estes motivos, este método tem sido ‘muito usiizado para calibrar a escala do tempo peol6gico, Ti possivel também utilizar amostras de rocha-total, em vez de minerais individuais, para obter a idade de cristalizagao de uma rocha ignea ou a idade de ‘metamorfismo, No caso do método Rb-Sr, muito empre _gado principalmente com granitos, virias amostras de um ‘mesmo corpo rochoso so coletadhs, composigées isotdpicas de Rb ¢ Sr determinadas ¢ 0s resultados lancados num diagrama "Sr/*Sr vs. °Rb/*St Se as amosteas analisadas forem da mesma idade, com a mesma ro isot6pica inical de Sr da época da cristaliza- io da rocha e sem distirbios posteriores no seu sistema isot6pico, os dados obtidos deverio se alinhar numa reta, chamada iséeror decaimento do "Rb, podemos calcular com © emprego da equacio da rem, ilustrado pelo Angulo de inclinacao da isGcrona, a idade do conjunto de amostras da mocha, Este €0 diagrama isocrbnico (Fig, 15.19) seus teores € suas Conhecendo-se a constante de Das trés classes de rochas, as igneis sto as mais fics de serem datadas, Por qué? Na cimara magma, 05 ele mentos radioativos sofrem decaimento, liberando os lermentos-filho para o magma, Mas quando os elementos- pai sio aprisionados no reticulo cristaino de um mineral durante o resfiamento do magma, fuga dos elementos- filho torna-se cada vex mais dificil, se no impossivel Com o passar do tempo, de acordo com a meiz-vida do, elemento (Fabela 153), a quantidade do elemento-pai di minui no mineral enquanto a do elemento-filho aumenta Seo sisterna isotpico permanecer fechado desde a erista lizagio da rocha, seni possivel dererminar a quantidade de elementos ¢ obter a idade da rocha jones, utiizando a ‘equacio fundamental da geocronologia Por ee No caso de rochas metamérfieas, a idade obtida te- fletiréa intensidade do metamorfismo que afetou, sempre de mancita diferenciada, os diversos sistemas isot6picos, dos minerais presentes, causando, ou nao, o ganho ou a perda dos elementos-paie filho. Fste ponto € de grande importineia, pois geralmente as idades medidas ne rochas correspondem as idades do ultimo evento que abriu o sistema isot6pico. Dependendo do mineral ¢ do sistema isotépico, 0 momento “congelado” na datacio poderi se referir ao inicio, meio ou fim do evento metamérfico. Quando este processo for brando, nio ssingindo temperaturas suficientemente altas para abrir o sistema isot6pico, a idade obtida poder ser a da erista- lizagio da rocha fgnea original antes do metamortismo, dependendo do método radiométrico empregado. A datacio de rochas sedimentares, por outro lado, & mais complicada, pois elas formam-se a partir de mate- rial oriundo da desagregacio de rochas igneas, ‘metamérficas ou mesmo sedimentares pré-existentes, Por isso, a datacio de rochas sedimentares, se nao scguit eri- {érios rigorosos, pode fornecer nao a idade da deposigao dos sedimentos ou da formagio da rocha sedimentar, ‘mas a idade das rochas da drea-fonte dos detritos, como no caso dos zircdes detriticos de Jack Hills, com idade U-Pb de 4,2 billioes de anos. Contudo, em outros casos, 1 idade pode nio ter significado geoldgico nenhum, se a rocha sedimentar originar-se de detritos de areas-fonte com idades distintas 15.3.3 O método radiométrico *C Como ja vimos anteriormente, 0 carbono possui trés isstopos: "C, "C e "C; sendo os dois primeitos estaveis co terccito, "C, radioativo, com meia-vida de 5.730 anos, A datagao usando oC, ou radiocarbono, € aplicada, portanto, em materiais geol6gicos e biol6gicos relativa- mente jovens (troncos ¢ folhas fésseis, ossos, dentes, conchas etc), sendo de extrema utilidade na Arqueologia nos estudos de mudangas recentes n0 nivel do mar ¢ no cima. OC € formado 1a armosfera superior através da de maios cdsmicos, que Sto particulas de alta enengi foros de "N, conforme ilustrado na Fig, 15.20. , sobre Na medida em que o ¥C se forma, ele se combina com 0 oxigénio para formar didxido de carbono (como acontece também com os demas isétopos de catbono), que circula na atmosfera hidrosfera, sendo absorvido por plantas ¢ animais, Embora 0 ""C decaia para “N, sua continua formagio na atmosfera mantém a tazao"C/"C praticamente constante, a qual € incorporada e mantida pelos organismos vivos, Ao morret, o onganismo deixa de absorver C, embora sen “C continue a decait para 'N, alteranda essa azo ¢ iniciando, em termos _geocmnoligicos,a contagem do religio geokégico. Quanto Tee Cae) E71) mais tempo passar aps 2 morte da planta ou do animal, ‘quantidade de "C preservada Desta forma, ‘comparando a razio de "C/C medida na amostra com a razio modemna universal, é possivel calcular o tempo de corrido desde a morte do organisa. Uma fonte de erro neste método advém das varia ‘96es jit constatadas na produgio de "C ao longo dos Llkimos 70.000 anos, de modo que se tornou necessiio aplicar formulas le corregio avs resultados obtidos para ottigir os crros sistematicos verificados. Uma maneira de confirmar as idades obtidas em certas regides pelo método !"C é através da dendrocronologia, a datacio de troncos de arvores pela contagem © mecicio da espessts ra dos aneis de crescimento. A yariacio na espessura esses anéis reflete no apenas o ciclo anual das esta ‘goes, como também mudangas climiticas de mais longa Rb Sr Fig. 15.19 Diagroma socrdnico Rb-Sr. Os pontos a, b ec represeniam valores isotépicos de trés amosiras no momento do fechamento de seus sistemas isot6picos no passado. Com 0 deccimento do “Rb, estas amostos opreseniam valores ctuais de a’, b’ ec’ A reto definida por estes pontos, @isécrone, leré tum éngulo, a, diretamante proporcional & idade do amosia,, caleulade ne equacdo: tga = (@""~ 1) = it, portanto, 1 = tga CO intercepto da isdcrono com 0 exo ™Si/"*Sr dafine @ razd0 iniciol de Srno sistema, (S1/%5r), urn importante indicador da oFigem (ce do manto ou da crosia} do material analisado, oe Zz Fig. 15.20 Formagéo do '"C 7 ed duragio, Assim, a confrontacio do espectro de anéis pre- seryado num artefato arqueoligico com padroes ji conhecidos para matetias ofiginados nos jiltimos seis ou sete milénios revela nao s6 a idade da pega como tam- bbém as caractersticas do clima na época da sua confeccio. 15.3.4 Como foi determinada a idade da Terra? Desde que a Geocronologia surgiu no inicio do sé- culo XX, um dos seus maiores objetivos foi a determinagio da idade correta da Terra. Mas somente em 1956 € que © geocrondlogo Caire Patterson conse ‘gui datar, com precisio, sua idade, através do método isot6pico *7Pb*Pb (uma variante do método U-Pb). Patterson partia da premissa de que a idade da Terra deveria ser igual a dos meteoritos, uma vez que ambos «levem terse originado na mesma époea, juntamente com ‘© resto do Sistema Solar, ¢ passado, posteriormente, pela mesma evohigio isot6pica. Assim, raciocinou Patterson, se 0 sistema isotdpico nos meteortos se manteve Fecha- do, a sua idade teria de ser igual 4 da Terra, Patterson datou meteoritos férieos elitcos, obtendo uma isécrona «que indicava uma idade de 4,55 + 0,07 bilhoes de anos (Fig, 15.21), Para testar a hipétese de uma origem em comum, ele langou, no mesmo grifieo, os dados refe- rentes is composigies isot6picas de Pb obtidas em sedimentos marinhos fundos, intespretadas como repre- sentativas da composigio média da crosta terrestre. O alinhamento perfeito desses dados com os dos meteoritos demonstrou que a idade, origem e evolucio dos isGtopos dle chumbo eram icnticas. Ou seja, 08 meteoritos € a ‘Terra tém a mesma idade. Investigagées cientificas pos- teriores em outros meteoritos, utlizando outros métodos (CAr*Ar e 'Sm-!°Nd), corroboraram os resultados obtidos por Patterson. 15.4 A Humanidade e 0 Tempo Geologico Vimos neste capitulo que 2 evolucio do conceito de tempo geoldgico se deu em diversas etapas nos ‘ihimos 350 anos. No século XVII, aceitava-se a expli- cagio biblica para a criagio da Terra em poucos dias, ha poucos milhares de anos. No crepasculo do século XVIII, com as palavras “nenhum vestigio de um co- meco, nenhuma perspectiva de um fim”, Hutton acenou com a possibilidade de uma Terra imensuravelmente velha, quase eterna, idgia corrente entre os gedlogos na primeira metade do século XIX. Posteriormente, até o inicio do século XX, gedlogos ¢ fisicos, influenciados pelos modelos precisos de Lorde Kelvin, admitiram uma idade para a Terra de dezenas 1p], ode = 4,55 * 0,07 Ga (eines de anes) 29 pp) ™pp ‘meteorites ferricos |© meteorites iticoe +sedimenios pelagicos oo 8p b/ Pb Fig. 18.21 Diagroma *Pb/%™Pb vs. *Pb/Pb mostrando ‘como foi determinada a dade do Terra por Paterson em 1956. ‘a poucas centenas de milhoes de anos. A Terra come ava a mostrar sinais de sua verdadeira velhice. Com a descoberta e refinamento dos métodos de datagio radiométrica, no decorrer do século XX, foi possivel, finalmente, estabelecer a idade da Terra em mais de 45 bilhdes de anos. Nossa pequet de um intervalo de tempo tio grande, intangi inimaginavel, nao deve ser motivo de lamentagio nem de sensagio de impoténcia. Ao contririo, com a desmistificagao da posi¢io do ser humano na Nature- za—decorrente das descobertas de Copérnico, Gi Hotton, Darwin ¢ outros — devemos nos maravilhar com a grandeza do mundo natural do qual tambem fazemos parte € nos unirmos para preservi-lo para geraghes foturas.

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