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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA
REGISTRADO(A) SOB N°

*01120597*

ACÓRDÃO

AGRAVO DE INSTRUMENTO. Ação civil pública.


Decisão que antecipou os efeitos da tutela, para
determinar a suspensão da cobrança do débito em litígio
e da inscrição dos nomes dos associados nos órgãos de
proteção ao crédito, até decisão de primeiro grau, por
vislumbrar fundado receio de dano de difícil reparação
ao patrimônio, nome e imagem dos cooperados. Decisão
mantida. Presença dos requisitos previstos no art 273
CPC Recurso improvido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


AGRAVO DE INSTRUMENTO n° 465 967-4/9-00, da Comarca de SÃO
PAULO, em que figuram como agravante COOPERATIVA
HABITACIONAL DOS BANCÁRIOS DE SÃO PAULO - BANCOOP e
agravada ASSOCIAÇÃO DOS ADQUJRENTES DE APARTAMENTO
DO EMPREENDIMENTO TORRES DE PIRITUBA

ACORDAM, em Quarta Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por votação
\SmjrpQnegarprovimento ao recurso

Agr ivo do inslrumenlo xf 465 967-4/9-00 - São Paulo - voto n° 2890 i


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Trata-se de agravo de instrumento tirado da r


decisão (fl 502) que deferiu em parte pedido de antecipação dos efeitos da
tutela formulado pela agravada na ação civil pública que promove contra a
agravante, para, entendendo haver "justo receio de dano ao patrimônio, ao
nome e à imagem dos cooperados"^ determinar "ao réu que não efetue
cobranças do débito htigioso tampouco lance os nomes dos associados nos
órgãos de proteção ao crédito (SCPC, SEI14SA e outros)^ e também que
"sejam mantidos na posse dos imóveis adquiridos até decisão de primeiro
grau"

A agravante argiii, preliminarmente, carência de


ação, por ilegitimidade ativa da associação, que foi constituída há menos de
um ano e, portanto, não pode ajuizar ação civil pública para defender
mteresses de seus associados (art 5°, I, Lei 7 347/85). Ainda que o julgador
entenda a questão de interesse social (art. 5°, § 4°5 Lei 7 347/85), só poderia
dispensar a exigência legal por decisão fundamentada, sob pena de nulidade
(art 93, IX, CF). No mérito, aponta ausência de prova inequívoca que
convença da verossimilhança do alegado direito dos cooperados, sendo
legítima, por expressa previsão contratual, a cobrança dos valores obtidos na
apuração final do preço de custo da obra i cláusula 16) ou a retomada das
"unidades dos cooperados inadimplentes, repassando-as a outros que se
disponham a pagar seu valor integral de aistcT Sustenta, ainda, ausência
de fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação e que a medida
pode se mostrar irre\ersível, porquanto a situação deficitána em que ficará a
agravante, com a suspensão do pagamento do preço final poderá impedir a
conau^ào de dezenas de empreendimentos em andamento.

h Agr ivo di- instrumento n° 465 967-4/9-00 - São Paulo - voto n° 2890 j

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O pedido liminar foi indeferido (fl 542)

Contra-minuta às fls 545/558, com preliminar de


deserção

Este é o relatório.

Não se cogita de deserção, afinal apenas o porte


de remessa e retorno foi recolhido de forma incompleta, o que não deve
impedir o exame do mérito recursal Anote-se que esta Câmara tende a
admitir certa simplificação dos atos e procedimentos judiciais, relevando,
muitas vezes, formalidades previstas na lei processual, sempre visando à
objetividade e celendade na solução das lides, desde que não haja pengo de
violação de direito dos interessados ou de terceiros. Aliás, "a concepção
moderna do processo, como instrumento de realização da justiça, repudia
o excesso de formaüsmo, que culmina por inviabüiiá-ld' (STJ, REsp
15 713-MG 5 4 J T,rel Mm Sálvio de Figueiredo J 4 12.91)

Afasta-se a preliminar de carência de ação


suscitada pela agravante, por ilegitimidade ativa da associação agravada, por
ter sido constituída há menos de um ano

É certo que o ait 5°, l, da Lei 7 347/85 legituna


extraordinanamente as associações, para defender mteresses de seus
associados, desde que esteja constituída há pelo menos um ano, nos termos
da lei civil Por oulro lado, é fato que a cobrança de saldos remanescentes,
resultado da apuração final do custo da obra, atingiu de fonna inesperada
dezenas de famílias, que sabem do nsco de retomada do imóvel que
adgniní^m e, então, se associaram na expectativa de buscar proteção

h Agpivo dt, instrumento n° 465 967-4/9-00 - São Paulo - voto n° 2890 3

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junsdicional que se estendesse a todos indistintamente e evitando a


propositura de dezenas de ações com o mesmo objeto e causa de pedir e
contra o mesmo réu, alternativa esta que se deve prestigiar em nome dos
princípios da economia processual e da boa-fé objetiva

Para essas situações, aplica-se a exceção contida


no § 4a do mesmo art 5o, em que, uma vez vislumbrado manifesto interesse
social evidenciado pela dimensão ou características do dano, ou pela
relevância do bem jurídico a ser protegido^ é possível se dispensar o
requisito da pré-constituição da associação

Assim, detém a agravada legitimidade para


defender os interesses de seus associados, o que foi tacitamente aceito pelo
MM Juiz a quo, não exigindo a lei especial que o acolhimento da nonna de
exceção se dê de forma motivada Não se entrevê, pois, a alegada nulidade

Ultrapassadas as preliminares, convém lembrar


que no estreito âmbito do agravo não cabe um exame detalhado e refletido
da maténa de fato e de direito como aquele que deve prevalecer no processo
principal, sob pena de se antecipar a outorga do direito material postulado.
A questão, aqui, limita-se, única e exclusivamente ao exame da presença ou
não dos requisitos exigidos pela lei processual para a concessão de tutela
antecipada.

Pois bem

O art 273 do Código de Processo Civil exige, para


a antecipação dos efeitos da tutela junsdicional, a presença concomitante de
#£ipçgii ívoca que convença da verossimilhança da alegação, fundado

Agravo de ircítnimenio n° 465 967-4/9-00 - S3o Paulo - voto n° 2890 A


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receio de dano irreparável ou de difícil leparação e reversibilidade da


medida.

A agravada apresentou ao Juízo farta


documentação apta a convencê-lo a verossimilhança do direito alegado, o
que se deve prestigiar dada a contiguidade do Magistrado com a causa e as
partes. A questão cmge-se ao rateio de alegada diferença de custo da obra,
da qual os associados estão sendo agora cobrados pela agravante, que
admite ter apurado saldo devedor final no custo da construção do residencial
no qual os associados têm seus apartamentos A incerteza do contrato
quanto ao preço total do negócio, o que, é fato, decorre do próprio regime
de construção do empreendimento, confere a verossimilhança necessária ao
deferimento do pedido

O temor dos cooperados quanto aos danos que


podem lhes advir dos atos de cobrança que possam ser praticados pela
agravante é fundado É notório o abalo ao crédito de qualquer indivíduo a
inscrição de seu nome nos cadastros de inadimplentes, sem falar da eventual
retomada do imóvel, para revenda a terceiros Tais riscos não são
contrapostos por um dano superior na esfera jurídica da agravante, que pode
aguardar o desfecho da ação para proceder aos meios coercitivos de
cobrança previsto na lei, se vencedora Há de se analisar a questão sob o
princípio da proporcionalidade

"Pelo principio da proporcionalidade o juiz, ante o


confino levado aos autos pelas partes, deve proceder á
a\>ahação dos interesses em jogo e dar prevalência àquele
que, segundo a ordem jurídica, ostentar maior relevo e

A Agravo de instrumento n° 465 967-4/9-00 - Mo Paulo - voto n° 2890 c


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expressão ( ) Não se cuida, advirta-se, de sacrificar um


dos direitos em beneficio do outro, mas de aferir com
razoabilidade os interesses em jogo à luz dos valores
consagrados no sistema jurídico" (JOÃO BATISTA
LOPES, Tutela antecipada no processo civil brasileiro,
2a ed, SP Saraiva, 2003, p 83)

Por fim, é possível a qualquer tempo a reversão da


medida, caso a agravante consiga apresentar provas suficientes que
convençam o Juízo do desacerto de sua decisão inicial, sem mencionar que a
tutela antecipada nào atinge o exercício do direito constitucional de ação que
lhe assiste

Portanto, não logrou a agravante apresentar


argumento jurídico apto a reformar a r decisão profenda pelo MM Juiz da
causa, que fica mantida, estando presentes os requisitos exigidos pelo art
273 do Código de Processo Civil

Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso

Participaram do julgamento, os Desembargadores


Enio Zuliani (Presidente, sem voto), Fábio Quadros e Natan Zelinschi.

São Paulo, 28 de setembro de 2006

'EIRA LEITE
Relator

Agj.ivo de instrumento n° 465 967-4/9-00 - São Paulo-- voton°2890

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