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Dramatugia Comica em Platao Observacoes PDF
Dramatugia Comica em Platao Observacoes PDF
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2
comédia
antiga,
mas
se
se
problematizar
o
que
se
entende
por
'gênero',
como
em
CHARALABOPOULOS
2012,
PUCHNER
2010,
NIGHTINGALE
2000.
3
mas
ocupa-‐se
mais
fazer
com
que
Íon
exiba
seu
déficit
cognitivo
quanto
justamente
o
conhecimento
de
sua
arte.
Essa
assimetria
desestabiliza
as
expectativas
em
torno
do
tipo
geral
das
duplas
cômicas,
que
mesmo
baseadas
na
disparidade
dos
atributos,
possuem
um
horizonte
de
solidariedade
e
vínculo
entre
os
integrantes.
Mais
especificamente:
segundo
dados
de
John
Bremer,
temos
a
seguinte
estatística:
1-‐
número
de
falas
do
texto:
171.
2-‐número
de
falas
de
Sócrates:
86
3-‐número
de
falas
de
Íon:
85
4-‐
número
de
palavras
do
diálogo:
3.859.
5-‐número
de
palavras
de
Sócrates:
3155.
6-‐número
de
palavras
de
Íon:
704
7-‐
número
de
sílabas
do
diálogo:
7.776
8-‐
número
de
sílabas
de
Sócrates:
6.377
9-‐
número
de
sílabas
de
Íon:
1.399
A
partir
da
materialidade
linguística
do
texto,
temos
que
,
em
um
primeiro
momento
o
balanço
entre
as
participações
parece
equilibrado,
como
convém
a
uma
dupla
cômica,
ao
termos
equânimes
oportunidades
de
se
apresentar,
de
mostrar
seu
material:
Sócrates
e
Íon
dividem
ao
meio
o
número
total
de
falas
do
texto.
Avançando
e
detalhamento
esses
números,
começamos
a
qualificar
essa
participar
e
passamos
a
confrontar
o
modelo
performativa
tradicional
das
duplas
com
sua
refiguração
por
Platão.
Em
sua
materialidade
linguística,
a
figura
de
Sócrates
em
suas
falas
manifesta
uma
desproporção
aritmética:
do
total
de
palavras
de
palavras
proferidas
no
diálogo,
Sócrates
é
responsável
por
82%
delas.
Assim,
Sócrates
fala
mais,
falas
as
frases
maiores,
constituindo
uma
perspectiva
hegemônica
do
texto,
um
centro
de
orientação
do
diálogo.
Os
dados
linguísticos
aponta
para
algumas
conclusões
na
forma
como
Platão
se
utiliza
do
procedimento
da
dupla
cômica.
Primeiro,
falar
mais
é
ocupar
mais
tempo.
Seguindo
ainda
os
dados
de
J.
Bremer,
pressupondo
uma
velocidade
5
audiência(
V.
PADILHA
2011),
embora
o
recurso
esteja
presente
na
formação
de
agentes
cômicos
diversos
como
a
do
circo
e
do
teatro
de
rua.
Em
alguns
contextos
hodiernos,
o
termo
aparece
em
oposição
a
um
modelo
de
atuação
que
prescinde
da
relação
imediata
com
o
espectador
(quarta
parede),
como
vemos
em
SOFREDINI
1980.
Para
um
relato
de
contato
com
a
experiência
de
triangulação,
v.
SOFFREDINI
&
PACE
201O.
6
de
Sócrates.
Assim,
aquilo
que
Sócrates
atribui
a
Íon
reforça
e
confirma
aquilo
que
a
audiência
concorda
sobre
Sócrates.
A
manipulação
do
procedimento
da
dupla
cômica
por
parte
de
Platão
no
diálogo
Íon
acaba
por
descolar
a
figura
de
Sócrates
da
de
Íon
e
reforçar
o
acordo
entre
Sócrates
e
a
audiência,
no
caso
o
círculo
platônico.
Em
virtude
disso,
Íon
passa
a
ser
o
alvo
de
sátira.
O
rebaixamento
de
Íon
reforça
os
vínculos
e
a
solidariedade
entre
Sócrates
e
a
audiência.
Para
tanto,
é
preciso
dedicar
tempo
para
dissecar
Íon,
para
analisar
o
que
ele
faz7.
Dessa
forma,
o
procedimento
da
sátira
aqui
performado
exibe
sua
face
biforme:
o
rebaixamento
do
alvo
observacional
está
vinculado
ao
seu
conhecimento.
A
sátira
ambivalentemente
depende
do
jogo
de
proximidade
e
distância
entre
audiência,
satirista
e
alvo
observacional.
Parte
do
tempo
de
Sócrates
no
diálogo
é
dispensado
em
exibir
aquilo
que
sabe
da
atividade
de
Íon.
A
sátira
platônica,
como
no
uso
dos
duplos,
também
é
diversa,
pois
não
se
restringe
ao
rebaixamento
de
uma
personalidade
histórica,
de
um
indivíduo
singular.
O
que
importar
para
Platão
não
é
o
rapsodo
Íon,
mas,
a
partir
da
atividade
de
Íon,
a
amplitude
da
performance,
em
suas
dimensões
compositivas,
realizacionais
e
recepcionais.
Este
deslocamento
negocia
com
a
tradição
ateniense
das
sátiras
performadas
publicamente
nas
comédias.
Em
sua
discussão
sobre
a
sátira
de
figuras
públicas
entre
os
anos
de
432/431
e
405/404
em
Atenas,
Alan
Sommerstein
conclui
que
aqueles
que
foram
alvo
de
rebaixamento
cômico
(komodoumenoi)
apresentavam
características
que
o
faziam
conhecidos
do
público.
Por
sua
atividade
ou
funções,
por
prestígio
familiar
ou
adquirido
instantaneamente,
a
notoriedade
revela-‐se
ambivalente:
o
indivíduo
adquire
projeção
social,
mas
ao
mesmo
tempo
sua
trajetória
é
contrabalanceada
pela
apreciação
pública,
ampliada
e
redefinida
no
espetáculo
da
comédia.
No
caso
de
Íon,
não
temos
uma
figura
conhecida
que
é
alvo
da
sátira.
Íon
é
um
amálgama
de
traços
atribuídos
à
sua
profissão.
Essa
diferença
platônica
reside
no
deslocamento
do
aspecto
publicista
da
sátira
da
comédia
para
a
dimensão
específica
do
grupo
platônico.
Em
uma
sociologia
da
recepção,
temos
7
Para
um
contraponto,
v.
MOTA
2011
sobre
a
comunidade
pitatórica
e
a
poeta-‐autor
por
meio
do
trabalho
do
intérprete-‐rapsodo.
Tal
fenomenologia
do
processo
composicional-‐recepcional
de
eventos
performativos
não
apenas
decompõe
e
descreve
as
funções:
também
os
valoriza.
A
instância
do
intérprete,
do
performer,
do
rapsodo
é
negativamente
assinalada.
Logo,
temos
a
proposição
de
uma
hierarquia,
de
uma
ordem
de
valores
com
suas
implicações
cognitivas.
Porém,
essa
estrutura
de
causa
e
efeito
que
se
aplica
à
produção
e
recepção
de
eventos
performativos
possui
contornos
bem
delineados.
A
função
do
intérprete,
do
performer,
daquele
que
está
imediatamente
vinculado
à
um
contexto
efetivo
de
troca,
é
o
mais
baixo
grau
da
escala.
Se
se
seguisse
uma
lógica
linear
estrita,
o
último
grau
da
cadeia,
o
do
público,
teria
o
menor
índice
cognitivo,
o
menor
valor,
por
estar
mais
longe
da
fonte
causal,
a
musa10.
Mas
Platão
manipula
o
esquema
geométrico
e
situa
o
rapsodo,
a
antepenúltimo
posição,
como
o
ponto
de
desequilibrio,
de
tensão
da
cadeia.
Ao
impor
uma
ordem
sobre
a
ordem
descrita,
sobre
a
fenomenologia
de
eventos
performativos
concretos,
Platão
demonstra
que
a
escolha
da
hierarquia
é
prévia.
Íon
e
sua
arte
já
de
antemão
são
tomados
por
antimodelos
daquilo
Platão
e
seu
círculo
defendem.
A
analogia
com
os
aros
de
ferro
mantidos
juntos
pelo
força
do
imã
só
é
efetiva
no
discurso
platônico.
Com
isso,
temos
que
Platão
constrói
sua
argumentação
por
meio
de
uma
analogia
que
não
se
verifica
em
sua
total
aplicação.
Desse
modo,
a
analogia
só
funciona
se
acatada
pelo
grupo
que
compartilhe
as
mesmas
referências
e
disposições
do
propositor
do
discurso.
Ou
seja,
a
efetividade
da
analogia
depende
da
pressuposição
partilhada
entre
a
figura
e
sua
audiência.
Para
produzir
este
consenso
é
preciso
um
acordo
prévio.
Assim,
o
rebaixamento
da
figura
de
Íon
e
de
suas
habilidades
e
de
todo
o
conjunto
de
referências
relacionados
a
este
atividades
é
anterior
ao
texto
de
Íon:
era
algo
que
definia
o
grupo
platônico.
Logo,
se
a
escritura
de
Íon
é
o
registro
dos
pressupostos
do
grupo
em
torno
de
Platão,
o
rebaixamento
do
rapsodo
tanto
explicita
aquilo
que
é
considerado
negativo
quanto
positivo
por
esta
comunidade.
Se
Platão
aplica
uma
analogia
deficitária
para
ratificar
posições
prévias,
a
prática
do
grupo
se
perfaz
nessa
distinção
por
pressuposição.
Se
Platão
se
vale
de
uma
hierarquia
pra
10
Íon
535
e.
11
11
PERKS
2012.
12
BAKHTIN
1987.
13
MORREAL
2009a,
MORREAL
2009,
LATAR
1998.
12
14
Íon
538b
-‐539e.
15
Íon
539e,540d.
V.
GOLDBALTT
2006.
13
17
V.
MOTA
2010.
18
COLLINS
2001.
17