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Do livro Carnaval do Recife (2000)

LIVRO: CARNAVAL DO RECIFE – LEONARDO DANTAS SILVA

O registro em disco do frevo pernambucano chega ao seu auge em 1952, quando o sr. José
Rozenblit vem inaugurar, na Estrada dos Remédios nº 855, a sua fábrica. Sob o selo Mocambo
foram surgindo em discos 78 rotações por minuto os mais importantes sucessos do nosso
carnaval e da música regional, chegando aquela fábrica a estabelecer escritórios no Rio de
Janeiro (Avenida Rio Branco nº 14), São Paulo (Praça das Bandeira nº 40) e Porto Alegre (Rua
do Riachuelo nº 1252). O primeiro disco com selo Mocambo veio surgir no carnaval de 1953.
Tinha o nº 15.000, matriz nº 500, trazendo na face A o frevo-de-rua Come e dorme, de Nelson
Ferreira, e na face B, o frevo-canção Boneca, com letra de Aldemar Paiva e música de José
Menezes. Tendo como intérpretes o cantor Claudionor Germano, orquestra e coro sob a
direção do próprio Nelson Ferreira, o primeiro disco com o novo selo veio a ser gravado nos
estúdios do Rádio Club de Pernambuco, na Avenida Cruz Cabugá, em Santo Amaro, tornando-se
no grande sucesso do carnaval daquele ano.

No primeiro disco despontam, além de Nelson Ferreira responsável pela direção da orquestra e
arranjos, os nomes de Aldemar Paiva, que vem depois alcançar sucesso com Saudade, gravado
por Alcides Gerardi, e Frevo de Saudade, este parceria com o próprio Nelson Ferreira, e o de
José Menezes, já famoso pelas gravações de Freio a óleo (RCA 80075-b/1950) e Baba de
moça (Continental 16661-a/1953), gravados respectivamente pelas orquestras de Zacarias e de
Severino Araújo.

Sob o selo Mocambo foram surgindo em discos 78 rpm os mais importantes sucessos do nosso
carnaval, como o frevo Vassourinhas, de Matias da Rocha e Joana Batista, gravado em junho de
1956 pela orquestra de Nelson Ferreira apresentando, pela primeira vez em disco, as
variações em sax-alto, compostas por Felinho (Félix Lins de Albuquerque) em 1941, por ele
executadas na segunda parte, em dezesseis compassos sem interrupção, segundo a matriz nº
R.696. Ainda na mesma fábrica veio a ser prensado o disco, Frevo dos Vassourinhas nº 1, com
orquestra e coro sob a direção de Clóvis Pereira, produção autônoma com o selo
“Repertório” nº 9093, matriz R 285, gravado na sua versão cantada no auditório do Rádio
Jornal do Commercio.

Mas o grande lançamento da Mocambo para o Carnaval Brasileiro aconteceu com um frevo-de-
bloco Evocação em 1957, disco em 78 rpm nº 15142 B, matriz R 791. Foi a grande criação de
Nelson Ferreira, a quem coube a direção da orquestra e do coral do Bloco Carnavalesco
Batutas de São José. Foi o primeiro grande sucesso produzido no Recife que veio a ser cantado
em todo o país, tendo vendido centenas de milhares de cópias em todo o Brasil, graças à força
do rádio e da televisão. Em qualquer festa carnavalesca a marcha tornou-se obrigatória e,
mesmo nos dias atuais, é comum encontrar-se grupos de foliões cantando animadamente em
uma só voz:

Felinto…, Pedro Salgado,


Guilherme, Fenelon,
Cadê teus blocos famosos ?!
Blocos das Flores…, Andaluzas…,
Pirilampos…, Apôis-Fum…
dos carnavais saudosos ?!..”
Na alta madrugada,
O coro entoava,
do bloco a marcha-regresso,
que era o sucesso
dos tempos ideais
do velho Raul Moraes:
“Adeus, adeus, minha gente,
que já cantamos bastante”…
E o Recife adormecia,
ficava a sonhar
ao som da triste melodia…

Evocação foi o grande sucesso daquele carnaval de 1957, não só no Rio de Janeiro onde a
Mocambo vendia centenas de milhares de cópias, mas em todo o Brasil onde chegava a força
do rádio e a televisão já se fazia presente, o que levou o seu autor, Nelson Ferreira, a sair do
Recife a fim de gravar programas especiais no Rio e São Paulo.

Não somente sucessos produzidos no Recife, mas também outros, de compositores cariocas,
que vieram a ter o selo Mocambo, prensados na fábrica da Estrada dos Remédios, para depois
conquistar o Carnaval Brasileiro, a exemplo de Máscara Negra, marcha-rancho de Zé Kéti e
Pereira de Matos, gravada por Dalva de Oliveira para o carnaval de 1967; Ôbá, com a turma do
Bafo da Onça, em 1962 (nº 15403-b); Ó Malhador, Dircinha Batista, 1963 (nº 15478 b); Samba
do Saci, Bloco do Bafo da Onça, 1963 (nº 15489 b); Último a saber, Dircinha Batista, 1963 (nº
15482 a); Cabeleira do Zezé, Jorge Goulart, 1964 (nº 15544 b); A índia vai ter neném,
Dircinha Batista, 1964 (nº 15543).

Mas o grande sucesso de vendagem da Rozenblit, no período de 1953 a 1983, quando veio
fechar as suas portas como gravadora, foi o long-play com as músicas de Lourenço da Fonseca
Barbosa, campeão de todos os carnavais e que atende pelo apelido familiar de Capiba. No
disco, feito para o carnaval de 1959, sob o título Capiba – 25 anos de frevo, gravado ao vivo
nos estúdios da Rozenblit, com orquestra e coro sob a direção de Nelson Ferreira e tendo
como intérprete Claudionor Germano, LP nº 40039, foram reeditados sucessos carnavalescos
daquele compositor produzidos entre 1934 e 1959. Juntamente com o disco de Capiba foi
produzido, para o mesmo carnaval, O que eu fiz e você gostou, LP nº 40040, com frevos-
canções de Nelson Ferreira, alguns deles em parceria com Sebastião Lopes, Ziul Matos, Osvaldo
Santiago e Aldemar Paiva, dentre outros, que, juntamente com o primeiro, veio consagrar o
cantor Claudionor Germano como o mais importante intérprete da música carnavalesca
pernambucana de todos os tempos. Também em 1959 a Rozenblit lançou Velhos Carnavais do
Recife (LP 40 178), com orquestra e coro sob a direção de Nelson Ferreira. No ano seguinte,
no rastro do sucesso dos dois primeiros, foram lançados Carnaval começa com C, de Capiba, e
O que faltou e você pediu, de Nelson Ferreira, também gravados ao vivo nos estúdios da
Rozenblit por Claudionor Germano e orquestra sob a direção do próprio Nelson Ferreira.

Em 1973, foram relançados com nova apresentação três LPs de Capiba: 25 anos de frevo( LP
60044); Carnaval começa com C (LP 60106) e Frevo alegria da gente (LP 60060). De Nelson
Ferreira vieram a ser lançados: Meio século de frevo-canção (LP 60042); Meio século de frevo-
de-rua (LP 60041); Meio século de frevo-de-bloco (LP 60040); Meio século de valsas (LP
60043), permanecendo em catálogo uma série de antologias do carnaval pernambucano, como
os cinco volumes do Baile da Saudade, com Claudionor Germano e orquestra de Nelson
Ferreira (LP 90005 e LP 90007) e Expedito Baracho e orquestra de Clóvis Pereira (LP 90013 e
LP 90016); Carnavalença – Carnaval dos Irmãos Valença, gravado por Expedito Baracho e
orquestra de Nelson Ferreira (LP 90010) ; O Frevo Vivo de Levino Ferreira, gravado pela
orquestra de José Menezes (LP 90008); Olinda Carnaval I e II, em 1979 e 1982 (LP 20.000 e
LP 20018); Grandes Frevos de Bloco (LP 60030); Sua Exa. o frevo de rua, gravado pela Banda
Municipal do Recife (LP 60059); Viva o Frevo, antes lançado com o título Frevo na gafieira (LP
40076/1959), tendo Martins do Pandeiro como intérprete, com lançamentos consecutivos em
1973 e 1979; João Santiago e os 50 anos do Bloco Batutas de São José, com orquestra e coro
sob a direção do próprio João Santiago dos Reis em 1983 (LP 90021), Carnaval do Nordeste
volumes I e II , gravados respectivamente pelas orquestras de Guedes Peixoto e Ademir Araújo,
sob o patrocínio da Sudene (LP 90018 e LP 20021); Capiba – 86 anos, com Claudionor Germano
e orquestra de Clóvis Pereira em 1990 (LP 804083).

Alguns desses lançamentos foram transformados, pela Polidisc em fitas cassetes e, mais
recentemente, em compact-laser (1994), continuando o Capiba – 25 anos de frevo como o
campeão de vendas ainda em nossos dias.

Com o aparecimento de uma fábrica de discos no Recife, as gravadoras do Sul, RCA Victor,
Copacabana, Odeon, Colúmbia, Philips, entre outras, continuaram com os lançamentos das
músicas inéditas feitas para o carnaval do Recife, em 78 rotações por minuto e long-plays, até
1982, quando o interesse ficou restrito à reedição de antigos sucessos do carnaval brasileiro e
aos sambas-enredo da Liga de Escolas de Samba do Rio de Janeiro, contribuindo assim para o
quase desaparecimento da marchinha carioca nos festejos carnavalescos.

Dentre outros lançamentos discográficos dos anos cinqüenta, vale registrar o aparecimento do
78 R.P.M. com o maior sucesso carnavalesco de Luiz Bandeira, É de fazer chorar, gravado por
Carmélia Alves, juntamente com outro sucesso de Capiba, Nem que chova canivete, lançado
pela Copacabana no carnaval de 1957 sob o nº 5699, matriz 1725.

No âmbitos dos long-plays, destaque especial para Carnaval com os Irmãos Valença, Colúmbia
nº 40010, matriz XMB 394; Antologia do Frevo, com orquestra de José Menezes e coro de
Joab, Philips nº 6349.314, matriz 6349.314, produzido por Toinho Alves (Quinteto Violado) em
1976 com sucessivas regravações; Baile da Saudade, com orquestra de José Menezes e coro,
Bandeirantes nº BR 73000, em 1980; Frevança – II Encontro Nacional do Frevo e do Maracatu,
gravado ao vivo no Teatro do Parque (Recife) em 19 de setembro de 1980, lançado pela RGE nº
306.3134; os dois primeiros discos da série O Bom do Carnaval, com o cantor Claudionor
Germano, pela RCA nº 1070317 e nº 1070411, em 1980 e 1982.

Frevos inéditos, em faixas independentes, no entanto, continuaram a figurar nos discos de


Alceu Valença, Moraes Moreira, Quinteto Violado, Caetano Veloso, Nando Cordel, Carlos
Fernando (Asas da América), Maria Betânia, Geraldo Azevedo, Chico Buarque de Holanda, Gal
Costa, Beth Carvalho, Nara Leão, Banda de Pau e Cordas, Conjunto Dominó, dentre outros, não
faltando também os frevos instrumentais interpretados por Sivuca, Hermeto Pascoal, Ed
Maciel, Dominguinhos, Severino Araújo, Osvaldinho, Renato Borguette, Canhoto da Paraíba e o
Conjunto de Cordas Dedilhadas, só para citar esses.

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