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Psicodinâmica do adolescente – Kessler et alii

Psicodinâmica do adolescente envolvido


com drogas

Felix Kessler*
Lisia von Diemen**
Ana Carolina Seganfredo**
Iversom Brandão**
Patrícia de Saibro*
Bruno Scheidt***
Rodrigo Grillo***
Sérgio de Paula Ramos****

“sobre o uso de drogas... trata-se de atos dependência de álcool, em adolescentes de 12


que visam ao alívio da dor ou apenas ao a 17 anos, de 5.2%. Essa mesma pesquisa
desejo do prazer? ”1 aponta os maiores índices de dependência de
Thomas de Quincey, 1821. Confissões de tabaco e maconha, assim como o uso na vida
um comedor de ópio. de maconha e cocaína, para a região sul do
Brasil.
INTRODUÇÃO A gravidade desses números fica poten-
cializada pelo alto índice de comorbidade psi-
O consumo de tabaco por adolescentes quiátrica relacionado ao uso de drogas nessa
escolarizados dobrou nos últimos quinze anos. faixa etária. O Methodos for the Epidemiology
O uso de maconha quadruplicou e o uso de of Child and Adolescent Mental Disorder
cocaína multiplicou-se por dez, em Porto Ale- (MECA)4 encontrou um risco 20 vezes maior de
gre2. Esses dados tornam o estudo sobre o uso haver algum Transtorno de Conduta (incluindo
de drogas, entre adolescentes, extremamente personalidade anti-social, déficit de atenção e
relevante. Além da alta prevalência, a gravida- transtorno opositivo desafiante) entre os ado-
de dos problemas associados a esse consumo lescentes com abuso ou dependência atual de
é preocupante. Da mesma forma, o primeiro álcool, maconha ou outra droga ilícita. Dos ado-
levantamento domiciliar sobre uso de drogas lescentes dependentes químicos, 76% apresen-
realizado no Brasil3 mostra uma prevalência de taram outro diagnóstico, comparado com 24.5%
dos que não utilizavam substâncias psicoati-
* Médico psiquiatra, mestrando em Psiquiatria Universidade Federal do Rio vas. Clark e colaboradores5 encontraram que
Grande do Sul. adolescentes com dependência de álcool têm
** Médico psiquiatra, Hospital de Clínicas de Porto Alegre. 7.1 vezes mais chance de ter Transtorno de
*** Médico psiquiatra, Hospital Presidente Vargas. Conduta, 2 vezes mais Transtorno Opositivo
*** Médico psiquiatra, Hospital Mãe de Deus. Desafiante, 2.8 vezes mais Transtorno de Défi-
**** Médico psiquiatra e psicanalista, Hospital Mãe de Deus. cit de Atenção e Hiperatividade e 3.1 vezes

Recebido em 24/01/2003. Revisado em 11/03/2003. Aprovado em 18/03/2003. 33

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mais Depressão do que os controles. Aqueles cência. Sussman e colaboradores8 evidencia-


que buscavam tratamento tinham maior chance ram, como fatores de risco, ser do sexo mascu-
de ter algum outro transtorno psiquiátrico asso- lino, fumar, ter inabilidade de lidar com a raiva e
ciado, mais estressores psicossociais e pior apresentar depressão. Outro achado desse es-
funcionamento social. tudo foi que o adolescente que não mora com
As conseqüências na vida dos adolescen- um dos pais tem mais risco de usar drogas. Em
tes decorrentes do uso de drogas são inúmeras revisão realizada por Simkin 9 sobre o tema,
e muito graves. O suicídio na adolescência, por encontrou-se como fatores de risco: 1) cultural
exemplo, apresenta uma forte relação com o e social: permissividade social, disponibilidade
uso de substâncias psicoativas6. de droga, extrema privação econômica e morar
A importância desses fatos contrasta com em favela 2) interpessoal: a) na infância – famí-
a carência de estudos controlados sobre a efi- lia com conduta álcool e droga relacionadas,
cácia das técnicas terapêuticas utilizadas nesta pobre e inconsistente manejo familiar, persona-
faixa etária, bem como de seus respectivos lidade dos pais e abuso físico b) na adolescên-
suportes teóricos. Por isso, Kaminer7 destaca a cia – conflitos familiares e ou sexual, eventos
tendência dos profissionais dessa área de apli- estressantes (como mudança de casa e esco-
carem as mesmas técnicas utilizadas com os la), rejeição dos seus pares na escola ou outros
adultos. contextos, associação com amigos usuários. 3)
Um dos objetivos desta revisão é descre- Psicocomportamental: precoce e persistente
ver os principais achados de pesquisa na área problema de conduta, fracasso escolar, vínculo
de adolescência e drogas, principalmente no frágil com a escola, comprometimento ocupa-
que concerne aos fatores de risco e proteção cional, personalidade antisocial, psicopatologia
para o seu uso. Pretende-se também analisar (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperativi-
algumas das principais teorias psicanalíticas dade, depressão e transtorno de conduta, ou
relacionadas à dependência química na ado- ansiedade nas mulheres), atitudes favoráveis
lescência e discutir a sua utilidade clínica no para drogas, inabilidade de esperar gratifica-
contexto das abordagens terapêuticas. Não se ção 4) Biogenético: genealogia positiva para
visa a avaliar detalhadamente as técnicas utili- dependência química e vulnerabilidade psicofi-
zadas no tratamento dos adolescentes depen- siológica ao efeito de drogas. Em contrapartida,
dentes químicos, mas tecer algumas conside- o estudo descreve alguns fatores de proteção:
rações sobre esse tema para tornar mais clara ambiente estável, alto grau de motivação, forte
a relevância da psicodinâmica. vínculo pais-criança, supervisão parental e dis-
É importante esclarecer que as teorias a ciplina consistentes, ligação com instituições
serem discutidas a seguir, de forma alguma, pró-sociais e associação com amigos não usuá-
invalidam ou excluem as novas descobertas rios. Outro achado relatado foi que o tratamento
das neurociências na área da dependência quí- precoce do THDA reduz em 85% o envolvimen-
mica, tampouco questionam os resultados posi- to com drogas.
tivos obtidos por outras formas de intervenção Brown10 enfatiza que o exercício de coloca-
(técnicas cognitivo-comportamentais, entrevis- ção de limites por parte dos pais, o monitora-
ta motivacional, modelo dos 12 passos, acon- mento familiar e ter uma refeição diária junto
selhamento, grupos, e outros tratamentos psi- com os filhos funciona também como fator de
cosociais). Desse modo, espera-se contribuir proteção. Além desses, afirma que a religiosi-
para um melhor entendimento e tratamento des- dade praticada e o trabalho comunitário seriam
ses pacientes, privilegiando-se o paradigma fatores de proteção familiar.
psicodinâmico. Miles11, ao estudar a relação do uso de
drogas na adolescência com características dos
CONTEXTUALIZAÇÃO DAS pais, percebeu que apenas um terço deles apa-
DROGAS NA ADOLESCÊNCIA receram para a entrevista. O número de casais
(pais) que tinham relacionamento informal (61%
Evidências clínicas: dos dependentes químicos versus 7% dos não
dependentes), problemas com o álcool, drogas
Fatores de risco e proteção para uso de ilícitas e transtorno de personalidade antisocial
drogas na adolescência: era superior aos dos controles. As mães apre-
sentavam maior prevalência de tabagismo, al-
Diversos estudos foram realizados na ten- coolismo e uso de cocaína. Nessa mesma li-
tativa de determinar fatores de risco e de prote- nha, Bensley12 acrescenta que adolescentes
34 ção com relação ao uso de drogas na adoles- com história de abuso físico ou sexual na infân-

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cia têm 2.8 vezes mais chance de uso leve ou aumentaram a chance de ter filhos alcoolistas,
moderado de drogas na adolescência e 3.4 de e, mais, que mães que proveram relações calo-
uso pesado. Crianças que sofreram abuso físi- rosas não tiveram menos alcoolismo do que as
co ou sexual na infância têm 12.2 vezes mais demais na prole. Tais achados contrastam com
chance de experimentar maconha ou usar ál- os relativos à figura paterna, pois claramente
cool antes dos 10 anos. Ademais, quanto mais uma relação calorosa com o pai foi capaz de
precoce o abuso do álcool ou drogas, mais gerar menos alcoolismo, e, inversamente, foi
estaria relacionado com abuso físico ou sexual marcante a prevalência de abuso alcoólico en-
na infância. tre aqueles que tiveram má relação com o pai”.
Newcomb13 demonstrou ainda que, quanto Para este autor, seria maior o fator protetor de
maior o número de fatores de proteção, menor boas relações na infância do que etiogênica a
será o consumo de drogas pelos adolescentes, presença de fatos traumáticos. A hereditarieda-
e, caso inverso, quanto maior o número de de, a etnicidade (ser latino) e a presença de
fatores de risco, maior a prevalência de consu- comportamentos anti-sociais na infância foram
mo. os fatores mais associados ao futuro alcoolista,
na amostra estudada por Vaillant.
Estudos Prospectivos
Psicodinâmica do adolescente envolvido
Entre tantos estudos que envolveram a com drogas:
busca da etiologia da dependência química,
destacaram-se aqueles que partiram de amos- Sabe-se que, ao passar para a adolescên-
tras de crianças e as estudaram por décadas, cia, o jovem experimenta uma mudança tanto
na esperança de identificar diferenças (e seme- fisiológica quanto psicológica. Ao lado das mo-
lhanças) entre aquelas que foram desenvolven- dificações em seu corpo, também surgem trans-
do alcoolismo e as que não o foram14. formações nas suas percepções em relação a
Dentre os estudos prospectivos, dois deles si próprio e aos outros. Ele passa, então, por
serão privilegiados nesta revisão, devido às um período de maior fragilidade egóica. O re-
suas qualidades metodológicas. McCord e Mc- sultado é uma volta narcísica para o seu mundo
Cord15 foram capazes de localizar, durante qua- interno, com questionamentos sobre os pais, as
se 30 anos, 255 dos 325 meninos estudados. instituições e a sociedade. Esta volta narcísica
Esses “meninos”, ao final do estudo, estavam provoca uma série de ansiedades naturais do
com idades entre 30 e 35 anos. Eles demons- período, como as da identidade pessoal, as
traram que os futuros alcoolistas foram, na in- depressivas, pela perda da identidade infantil,
fância, mais autoconfiantes, menos perturba- e até paranóides, devido à luta interna que
dos por medos normais, mais agressivos, passa a travar em busca desse novo conheci-
hiperativos e heterossexuais que os que não mento. Concomitantemente, há a formação de
desenvolveram alcoolismo. novos grupos, mas é também um período de
Talvez o mais interessante e discutido dos isolamento, em que o jovem busca compreen-
estudos prospectivos seja o de Vaillant16, que der as mudanças pelas quais está passando.
escreveu o livro A História Natural do Alcoolis- De forma ampla, o entendimento psicodi-
mo, por possuir amostra e seguimento maiores. nâmico dos adolescentes tem sido um desafio
Este autor e seus colaboradores acompanha- para os profissionais da saúde mental. Torna-
ram sua amostra de 660 indivíduos, proceden- se ainda mais complexa a compreensão daque-
tes de duas subamostras (de 204 e 456 meni- les que utilizam substâncias psicoativas. São
nos, respectivamente) por mais de 50 anos. escassos os estudos nessa área, e poucos au-
Após todo este tempo, ele dispõe de dados de tores arriscaram-se a aprofundar esse tema. No
559 “meninos”. Brasil, por exemplo, a Revista Brasileira de Psi-
Com relação à teoria da oralidade, Vai- canálise, nos últimos 30 anos, nada publicou
llant17 descreve que “não há mais oralidade sobre a matéria.
entre crianças que serão abusadoras de álcool, Várias teorias psicodinâmicas sobre a gê-
comparadas com as demais. Entretanto, existe nese desta condição já foram desenvolvidas:
mais oralidade entre alcoolistas que nos grupos teoria das gratificações narcísicas, teoria da
controles, ou seja, a oralidade vem com o alco- oralidade, teoria das relações maníacas e teo-
olismo em vez de precedê-lo”. Vaillant16, 18 tam- ria das perversões. Rosenfeld19 concluiu que
bém estudou o impacto da figura da mãe nos havia um consenso entre a maioria dos autores
meninos de sua amostra. Concluiu que “mães da época que em ambos (uso de drogas e
que proporcionaram cuidados inadequados não alcoolismo) havia “uma importância dos aspec- 35

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tos orais, mania, depressão, impulsos destruti- de psíquica do dependente de drogas é domi-
vos e auto-destrutivos e perversão, tais como a nada por uma forte experiência de ambivalên-
homossexualidade e o sadomasoquismo”. No cia na relação com a imagem da mãe, posterior-
entanto, desde então, os autores centraram-se mente estendida à droga e a outras pessoas do
em outros pontos que pensam ser mais rele- seu círculo de relações, incluindo o terapeuta.
vantes. Para este trabalho foram selecionados Ele diz: “ao mesmo tempo que o adicto clama
os trabalhos daqueles autores de reconhecida pelo amor objetal da mãe, ele o despreza” e
reputação e com maior número de publicações relaciona isso ao fim do efeito da droga, uma
na área da dependência química. Algumas des- vez que, além da garantia do prazer (aproxima-
sas teorias serão comentadas ou complemen- ção da mãe), o usuário também tem a garantia
tadas com comentários ou vinhetas clínicas dos do pós-efeito (distanciamento). Não deixa de
autores deste artigo. ser um controle onipotente do objeto. Ele ainda
Atualmente, a maioria dos autores concor- acrescenta que muitos usuários de drogas apre-
da que o envolvimento com substâncias psico- sentam uma certa alexitimia (incapacidade de
ativas implica uma relação narcisística. Clark20, expressar os seus sentimentos), como se hou-
mesmo em 1919, já sublinhava a importância vesse uma economia dos afetos e de sua não
das regressões profundas no alcoolismo, tais representação.
como as identificações primárias com a mãe, Uma completa união com o objeto parece
combinadas ao intenso auto-amor (narcisismo); ser ameaçadora, uma vez que o caráter ambi-
Kielholz21 incluiu o alcoolismo como uma neuro- valente da relação significa que ele está conta-
se narcísica. Rosenfeld21 refere que os depen- minado com intenso ódio, inveja e medo de ser
dentes seriam portadores de inveja primária do ferido, uma visão compartilhada com outros au-
seio materno, o que levou a paciente que ilustra tores como Kernberg25. Como conseqüência da
seu trabalho a precocemente preterir o seio em ambivalência, a criança não é capaz de introje-
favor de seu próprio polegar. A droga, nesta tar a imagem da mãe, o que leva a uma falta
perspectiva, seria um substituto deste polegar. das funções de auto-cuidado, comum nos adic-
Apesar de inúmeros autores, além dos já tos. Soma-se a isso um sentimento de insegu-
citados, no início do século vinte, terem elabo- rança e dependência.
rado algumas teorias sobre a dependência quí- Khantzian26, um dos autores mais produti-
mica de adultos, a maioria dos artigos que se vos dessa área, postula que indivíduos depen-
referem a adolescentes sugiram a partir da dé- dentes de drogas apresentam uma predisposi-
cada de 70. Ainda assim, é válido ressaltar que ção ao uso e a se tornarem dependentes,
algumas das teorias abaixo relatadas também principalmente devido a um severo prejuízo do
foram desenvolvidas na análise de casos de ego e distúrbios do senso do self, envolvendo
adultos. dificuldades com instintos, affect defense, auto-
Kohut22, 23 investigou jovens dependentes e cuidados, dependência e necessidade de satis-
concluiu que eles carecem de um objeto bom fação. As enormes e persistentes dificuldades
interiorizado. As funções paterna e materna en- dos dependentes de heroína chamaram, desde
contram-se comprometidas. A personalidade muito cedo, a atenção do autor, principalmente
encontra-se privada de coesão, como se faltas- no que diz respeito aos sentimentos e impulsos
se a imagem idealizada do pai e a empatia da associados à agressão. A maneira drástica
mãe. Nesse contexto, as drogas transformari- como a heroína aliviava os sentimentos disfóri-
am a realidade ansiogênica em neutra, refor- cos de raiva e desassossego foi um ponto co-
çando nos usuários a sua onipotência. “É o mum encontrado nas observações clínicas do
triunfo da negação”. Segundo ele, a função da pesquisador, levando-o a acreditar que o uso
terapia seria proporcionar uma gradual identifi- da droga poderia ser visto como uma maneira
cação e introjeção de elementos bons pelo pa- de auto-medicação, sua hipótese mais conheci-
ciente, com o estabelecimento de uma forte da. Segundo essa teoria, os efeitos psicoativos
aliança terapêutica. específicos de cada droga interagem com os
Entretanto, o vínculo inicial com os depen- transtornos psiquiátricos e estados afetivos do-
dentes químicos é extremamente frágil e, devi- lorosos.
do a essa negação e onipotência, é importante Ilustra esse ponto o relato de um paciente,
cativá-los, evitando confrontações ou posturas jovem de dezenove anos, com uma história de
que possam ser interpretadas como autoritárias cinco anos de abuso de cocaína, que relatou,
ou preconceituosas. durante a entrevista inicial, uma persistente
Krystal24 também fez importantes contribui- sensação de dificuldade de socialização, baixa
36 ções nesse campo. Ele descreve que a realida- auto-estima, iniciadas no início da adolescên-

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cia. Contou que com a cocaína passara a sen- identificação para aliviar por si mesmo seus
tir-se mais “solto“, com mais energia para fazer estados de tensão psíquica ocasionaria mais
suas atividades diárias e menos preocupado tarde uma busca no mundo externo de algo que
com a opinião ou julgamento dos outros em substituísse a mãe, como a droga. O objeto
relação a si. adictivo seria então um objeto transitório, como
Olievenstein27 chama a atenção para o pro- postula a autora, e não transicional, uma vez
blema da falta. Para esses autores, talvez mais que resolveria momentaneamente a tensão psí-
importante do que o prazer narcísico propiciado quica através de solução somática e não psico-
pelas drogas, estaria um sentimento de falta, lógica.
geralmente aliviado por elas. As mães não sufi- Quanto às questões técnicas, diversos au-
cientemente boas (Winnicott27) gerariam um es- tores descrevem que a contratransferência com
tado de crônica falta. Uma falta oceânica e o dependente químico é semelhante àquela que
jamais saciável. Desta ótica, o depender de se experimenta com pacientes psicóticos, pro-
drogas seria o resultado do deslocamento des- vocando reações de intensa frustração, ódio ou
te sentimento de falta para uma “coisa”, com a desesperança, devido às freqüentes recaídas.
notória vantagem de esta ser alcançável em Alguns pacientes podem ter a necessidade de
qualquer esquina do mundo14. serem hospitalizados várias vezes antes de al-
David Rosenfeld 28 , concordando com cançarem a abstinência.
Khantzian, observa diversas estruturas psico- Imhof30 refere que esses pacientes fazem
patológicas comuns na drogadição, com sua com que o psicanalista,muitas vezes, cumpra
própria dinâmica inconsciente e psicogênese uma função de um objeto inanimado, ou seja,
infantil, em que cada indivíduo procura a droga uma droga. “O perigo que o psicanalista corre é
por um determinado motivo. Certos pacientes começar a funcionar como um objeto não hu-
não têm noção de perigo, pelo comprometimen- mano, respondendo ao que foi transferido”. É
to dos processos de introjeção dos objetos pa- muito sutil a forma com que o paciente vai
rentais e sentem o seu mundo interno esvazia- transformando o analista em um objeto inani-
do e sem vida. Constantes condutas de risco mado, a ser usado nos momentos de necessi-
podem ser entendidas, então, como fruto da dade. Ele explica que é importante que o tera-
necessidade de sentirem-se vivos. peuta perceba esse tipo de relação para poder
Um adolescente de dezessete anos, usuá- revertê-la.
rio de múltiplas drogas desde os seus 11 anos, Uma moça de 22 anos, com uma história de
referia uma história de abandono pelos pais na 7 anos de uso de maconha e cocaína, costuma-
infância, tendo sido criado pela avó materna, va procurar o seu terapeuta somente após o
junto com seus três irmãos. Desde cedo, envol- uso de drogas. Solicitava sessões extras e,
veu-se em furtos e roubos. O jovem descrevia quando isso não era possível, propunha um
sentimentos crônicos de vazio interno e des- encontro rápido, mesmo que fosse nos interva-
controle de impulsos. Contou que obtinha pra- los de 10 minutos entre as sessões, para poder
zer nas situações de alto risco de vida. De desabafar, e no dia da sessão não comparecia.
forma impressionante, após uma overdose de Nesses casos, o terapeuta deve cuidar para
cocaína, dizia sentir-se mais vivo. não se comprometer com o superego dos pais,
Outra autora que fala sobre a relação da tampouco assumir uma posição maternal de
droga com os estados afetivos é Joyce Mc Dou- extremo zelo e preocupação31. Ele deve estar
gall29. Ela coloca o comportamento adictivo ciente de que as interpretações podem ser des-
como uma solução à intolerância afetiva. O ob- valorizadas, o que, freqüentemente, pode des-
jeto de adição seria experimentado como es- pertar contra-atitudes negativas do terapeuta.
sencialmente bom, um objeto idealizado, com Os desafios e agressões impõem ao terapeuta
uma promessa de prazer e capaz de resolver uma atitude de abstenção de toda contra-agres-
magicamente as angústias e os sentimentos de são.
morte interna. A solução adictiva teria origem
principalmente na relação mãe-bebê, quando a ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
mãe sente-se fusionada ao bebê e cria uma TERAPÊUTICAS
relação de dependência do bebê à sua presen-
ça. Isso dificultaria que a criança constituísse Historicamente, as abordagens psicotera-
em seu mundo interno as representações ma- pêuticas utilizadas com usuários de drogas têm
ternas e, mais tarde, paterna cuidadoras, capa- sido um reflexo das modalidades mais proemi-
zes de conter e manejar seus estados de sofri- nentes, em cada época particular, aplicadas
mento psíquico. A falta de objetos internos de para os outros transtornos mentais. A técnica 37

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psicanalítica clássica já foi indicada, há algu- A eficácia da psicoterapia dinâmica para


mas décadas, como o tratamento de escolha adolescentes dependentes químicos ainda é
para esses pacientes. Contudo, esse modelo um campo a ser melhor explorado, em relação
terapêutico isoladamente demonstrou resulta- aos adultos39.
dos desanimadores. Este fato tem sido atribuí- Um estudo interessante, realizado com de-
do à falta de ênfase no controle dos sintomas pendentes químicos, avaliou o desempenho dos
relacionados ao uso da droga e pelo foco mais terapeutas e suas variações, demonstrando que
dirigido aos aspectos psicodinâmicos, em detri- terapeutas mais interessados e capazes de uma
mento dos aspectos biológicos e sociais. Ilustra melhor aliança terapêutica, bem como os que
essa dificuldade, como Ramos32 demonstrou, o conseguiam prover uma relação mais calorosa
ocorrido com Anna O., a primeira paciente da tinham melhores resultados40. A confidenciali-
história da psicanálise. Breuer tratou-a, subes- dade também parece ser algo fundamental, que
timando os efeitos do consumo de hidrato de necessita ser discutida com os pacientes ado-
cloral e morfina praticados pela paciente. Com lescentes, uma vez que 25% dos pacientes re-
isso, duas semanas após ter dado-lhe alta, a latam que abandonariam o tratamento caso
paciente precisou ser hospitalizada novamente. soubessem que o sigilo seria rompido41.
A clássica neutralidade analítica e as inter- A escolha da abordagem terapêutica está
pretações tendem a ser geradores de ansieda- intrinsecamente ligada ao tipo de paciente e à
de, desencadeando recaídas33. Entretanto, um fase (ou estágio de mudança) do tratamento em
número de diferentes intervenções de “orienta- que o paciente se encontra. Sabe-se que qual-
ção psicodinâmica” já foi desenvolvido, tais quer tratamento, em dependência química, é
como intervenção em crise, terapia suportiva e melhor que nenhum tratamento e que 10 anos
psicoterapia expressiva, e algumas delas já fo- após o Projeto Match42, que comparou três ti-
ram testadas em dependentes químicos com pos de tratamentos em um grande número de
resultados semelhantes aos de outras técnicas alcoolistas (após 1 ano, os pacientes bebiam
cognitivo-comportamentais, psicosociais, gru- 75% menos dias e 80% menos quantidade, mas
pos de auto-ajuda e em forma de aconselha- apenas 35% estavam abstêmios), nenhum tipo
mento34, 35. Outros estudos mostram ainda que, de tratamento para dependentes químicos con-
a longo prazo, a psicoterapia psicodinâmica segue alcançar a abstinência total em muito
provou ser mais efetiva do que o aconselha- mais do que um terço dos pacientes, após um
mento35. ano de tratamento.
Devido às inúmeras razões relacionadas Considerando o acima exposto, Wurmser43
ao melhor entendimento do paciente e ao vín- propõe um tratamento seqüencial, no qual, em
culo com o terapeuta, a perspectiva psicodinâ- primeiro lugar, tentar-se-á fazer com que o pa-
mica torna-se uma ferramenta muito útil na con- ciente se desintoxique. Quando possível, em
ceitualização dos dependentes químicos, regime ambulatorial, mas sempre que necessá-
ajudando na formulação das estratégias com- rio, com hospitalizações em unidades especiali-
portamentais efetivas e no aprofundamento da zadas. Durante este primeiro momento, todos
qualidade da recuperação desses pacientes. os esforços deverão ser engendrados para se
Sabe-se também que os distúrbios emocionais fazer uma completa avaliação diagnóstica do
e interpessoais, abordados nas terapias psico- paciente e de sua família, bem como, através
dinâmicas, são importantes precipitantes de da utilização de técnicas motivacionais, ajudar
“fissuras” e recaídas. O manejo desses aspec- o paciente a aderir ao tratamento. É necessária
tos é extremamente relevante para a prevenção uma abordagem mais suportiva, não confronta-
destas recaídas36. tiva e mais diretiva por parte do terapeuta.
Entretanto, a maioria dos estudiosos dessa Utilizam-se também nessa fase, técnicas
área alega que os dependentes químicos de- de grupo e de aconselhamento. Uma vez o
vem estar estabilizados em relação à sua absti- paciente desintoxicado, diagnosticado e moti-
nência das drogas37 ou, pelo menos, no estágio vado, as terapias cognitivo-comportamentais já
de mudança de ação38, para poderem benefici- comprovaram sua eficácia na manutenção da
ar-se das abordagens psicodinâmicas. Além abstinência, que deve ser monitorada pela fei-
disso, esses pacientes deverão ter uma per- tura de screenings de drogas na urina duas
cepção do sofrimento intrapsíquico, um desejo vezes por semana. A maioria dos casos neces-
pelo auto-conhecimento – mais que puramente sitará permanecer em tratamento por um ano
a remoção dos sintomas – e uma habilidade de ou mais dentro desse referencial terapêutico,
atribuir parte do seu sofrimento aos problemas até que reúna condições de estabilidade para
38 internos29. um trabalho orientado psicanaliticamente.

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Se for constatada a presença de comorbi- blemas em conjunto. Deve-se evitar oferecer


dade, esta deve ser tratada da forma mais con- ao paciente o que “sei fazer”, dispondo-lhe o
veniente, associando-se farmacoterapia à psi- tipo de tratamento mais adequado naquele mo-
coterapia. Da mesma forma, famílias mento.
disfuncionais deverão receber indicação de te- Assinala-se ser indicado, após um período
rapia de família. As terapias seqüenciais, ou as sustentável de manutenção da abstinência e
combinadas, no tratamento das dependências quando o paciente desejar e puder, a subse-
químicas, são vistas como uma estratégia tera- qüente psicoterapia de orientação analítica, ou
pêutica44. mesmo psicanálise, para a elaboração da rela-
ção simbiotizada e dos aspectos narcísicos
CONCLUSÃO rumo a uma relação de objeto independente,
mesmo que isso exija o encaminhamento para
Através dessa revisão, pôde-se constatar a um profissional especializado nessa técnica.
relevância do estudo do envolvimento dos ado-
lescentes com o uso de substâncias psicoati- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
vas, assim como a abrangência desse assunto,
tanto pela compreensão teórica, quanto pela 1. De Quincey T. Confissões de um comedor de ópio. Porto
definição das abordagens terapêuticas. Alegre: Editora L&P; 2001.
Percebeu-se uma carência de trabalhos 2. Ramos SP, Saibro P. Prevalência do consumo de drogas
por adolescentes escolarizados na cidade de Porto Ale-
psicanalíticos nessa área, assim como de pes- gre. Comunicação pessoal; 2003
quisas com os adolescentes usuários de dro- 3. Carlini EA, Galduróz JE, Noto AR, Nappo SA. I levanta-
gas, sendo que poucos autores arriscaram-se a mento domiciliar sobre uso de drogas no Brasil. Estudo
tecer considerações terapêuticas e aprofundar- envolvendo as 107 maiores cidades do país – 2001.
Secretaria Nacional Anti-Drogas (SENAD) e Centro Bra-
se nesse tema. sileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CE-
Em relação às teorias psicanalíticas, o fato BRID). São Paulo: Cromosste Gráfica e Editora Ltda;
2002.
é que, sejam por atributos maternos, por carac-
terísticas do próprio indivíduo (constitucionais 4. Kandel DB, Johonson JG, Bird HR, Weissman MN, Goo-
dman SH, Lahey BB, et al. Psychiatric comorbidity among
ou não), ou sejam ainda por ambos, parece adolescent with substance abuse disorders: findings from
haver uma concordância, entre os autores revi- MECA study. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 1999
june;38 (6): 693-99.
sados, de que existiria fundamentalmente uma
5. Clark DB, Pollock N, Bukstein OG, Mezzich
relação narcísica objetal na qual a substância AC,Bromberger JT, Donovan JE. Gender and comorbid
seria a fonte de prazer narcísico14. psychopathology in adolescents with alcohol dependen-
É interessante notar que as contribuições ce. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 1997 Sep;
36(9):1195-203.
dos psicanalistas citados encontram suporte
6. Rowan AB. Adolescent substance abuse and suicide.
nos estudos prospectivos sobre fatores de risco Depress Anxiety 2001; 14(3):186-91.
e proteção mencionados no início do artigo, 7. Kaminer Y. Adolescent substance abuse treatment: Whe-
estabelecendo uma relação clara entre a vivên- re do we go from here? Psychiatric Services 2001; 52 (2):
147-49.
cia psíquica dos cuidados parentais e a função
da droga no contexto afetivo de cada paciente. 8. Sussman S, Dent CW, Galaif ER. The correlates of subs-
tance abuse and dependence among adolescents at high
As evidências clínicas também indicam a hipó- risk for drug abuse. J Subst Abuse 1997; (9): 241-53.
tese de que o comprometimento de aspectos da 9. Simkin DR. Adolescent substance use disorders and co-
função paterna, que inclui o monitoramento e morbidity. Pediatr Clin N Am 49 2002; (49): 463-77.
definição dos limites, pode ser um fator prepon- 10. Brown RT. Risk factors for substance abuse in adoles-
cents. Pediatr Clin N Am 2002; (49): 247-55.
derante para o desencadeamento e manuten-
11. Miles DR, Stallings MC, Young SE, et al. A family history
ção da dependência química. and direct interview study of the familial aggregation of
Pelo exposto neste trabalho, ainda ficou substance abuse: the adolescent substance abuse study.
evidente que a tarefa de tratar um adolescente Drug Alcohol Depend 1998; (49): 105-14.
envolvido com drogas é complexa, e as diferen- 12. Bensley LS, Spieker SJ, Van Eenwyk J, Schoder J. Self-
reported abuse history and adolescent problem beha-
tes escolas psicoterápicas têm apresentado re- viors. II. Alcohol and drug use. J Adolesc Health 1999
sultados modestos, nenhuma delas sendo ca- Mar; 24(3):173-80
paz de atender os diferentes problemas 13. Newcomb MD. Identifying high-risk youth: prevalence and
patterns of adolescent drug abuse. In: Adolescent Drug
impostos, sugerindo-se tratamentos seqüenci- Abuse: clinical assessment and therapeutic interventi-
ais ou combinados. ons. NIDA Res Monogr 1995; 156.
Essa proposta é de difícil consecução e, 14. Ramos SP. A questão das drogas e a Psicanálise. Traba-
muitas vezes, pode ser mais indicado um traba- lho para membro efetivo da Sociedade Psicanalítica de
Porto Alegre; 1998.
lho com uma equipe de diferentes profissionais
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da área da saúde, que possa tratar esses pro- 39

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RESUMO
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O uso e o abuso de drogas pelos adolescentes é
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31. Imhof J. Countertransference issues in alcoholism and modelos psicoterápicos de orientação analítica, em
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dependentes químicos, é também discutida.
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Psicodinâmica do adolescente – Kessler et alii

psychoanalytic psychotherapy in chemical Endereço para correspondência:


dependents is also discussed. Felix Kessler
Rua Dona Laura, 354/301
Keywords: Adolescence, adolescent, 90430-090 – Porto Alegre – RS
psychodynamics, psychoanalysis, psychoanalytic Fone: 33328172
psychotherapy, chemical dependency, drug abuse E-mail: kessler@ez-poa.com.br
and dependency.

Title: Psychodynamic of the adolescent involved with Copyright  Revista de Psiquiatria


drugs do Rio Grande do Sul – SPRS

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