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Universidade São Tomás de Moçambique

Tema 1: Introdução ao estudo da contabilidade

1.1 Evolução Histórica da contabilidade

A história da contabilidade é tão antiga quanto a própria história da civilização e durante um longo
período, foi tida como a arte de escrituração mercantil.

Pode-se resumir a evolução da contabilidade da seguinte forma:

I. Período Empírico (dos primórdios à 1494)

A génese da contabilidade é explicada – segundo a maioria dos autores – pela necessidade sentida pelo
homem de preencher as deficiências da memória, mediante um processo de classificação e registo que
lhes permitisse recordar facilmente as variações sucessivas de determinadas grandezas, para que em
qualquer momento pudesse saber da sua extensão.

Assim, a contabilidade primitiva visava fundamentalmente suprir as limitações da memória humana.


Além disso, desempenhava igualmente uma outra função importante: a de constituir um meio de prova
entre partes discordantes ou em litígio.

Mas, embora a técnica de registo se tenha aperfeiçoado progressivamente, acompanhando a crescente


complexidade das trocas, a verdade é que, até 1494, a contabilidade teve um carácter empírico,
essencialente prático, não ultrapassando o registo simplista e incompleto da realidade económica
observada.

II. Período Científico (de 1494 aos nossos dias)

Este período compreende as seguintes fases:

A. Fase Legalista (de 1494 a 1914)


A fase legalista inicia-se em 1494, com o aparecimento da obra “Summa de arithmética, geometria,
proportioni et proportionalita”, do italiano Lucas Pacioli, a qual descreve, pela primeira vez, o célebre
princípio das “partidas dobradas” que veio revolucionar a técnica contabilística, possibilitando aos
comerciantes e mercadores um melhor conhecimento da sua situação financeira, muito especialmente das
suas dívidas a receber e a pagar. Partida dobrada representa um registro, patrimonial ou de resultado do
período, que representa "algo que vai, simultaneamente a outro algo que vem", portanto, são lançamentos
de débito e crédito, ou de haver e dever de igual valor.

No entanto, as informações fornecidas pela contabilidade da época estavam dominadas por preocupações
de ordem jurídica, na medida em que os registos eram considerados, sobretudo, como meio de prova das
operações realizadas, e o conhecimento da situação do comerciante (determinada pelos seus bens, direitos

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e obrigações, ou seja, pela relação entre os recursos próprios e alheios) interessava, especialmente, para
avaliar as possibilidades de cumprimento das suas obrigações actuais e futuras, porquanto os seus bens e
direitos constituíam a melhor garantia dos credores.

B. Fase Económica (de 1914 a 1950)


O surgimento na alemanha, no período 1918/1923, de uma inflação galopante, verifica-se que a
contabilidade, embora desse a conhecer os direitos e obrigações do comerciante perante terceiros, já não
podia oferecer uma imagem válida da situação da empresa, na medida em que o valor contabilístico dos
bens ficava, dia a dia, cada vez mais desactualizado. Então, as informações contabilísticas deixam de
representar qualquer garantia para terceiros, até porque empresas que continuavam a apresentar elevados
lucros se iam encontrando em situação financeira cada vez mais difícil, em consequència da sua
progressiva descapitalização.

Perante esta situação, muitos autores alemães começam a pôr em causa a subordinação das informações
contabilísticas aos aspectos jurídicos, passando a dar maior importância aos aspectos económicos, numa
séria tentativa para conferir validade àquelas informações.

Em 1919, a importância relativa das finalidades da informação contabilística é, definitivamente, invertida,


ou seja, a qualidade dessas informações fica estreitamente vinculada ao conhecimento da realidade
económica, tanto de ordem empresarial como nacional, devendo proporcionar aos responsáveis, a todos
os níveis, uma adequada tomada de decisões, enquanto os aspectos legalistas passam para uma posição
secundária.

A contabilidade deixa de preocupar-se exclusivamente com o passado e começa a considerar seriamente o


presente, na medida em que possa servir de predição ao futuro – as tomadas de decisões passam a apoiar-
se numa base informativa substancialmente mais ampla, aspecto que vem enriquecer notavelmente a
contabilidade. Abrem-se, portanto, novos horizontes à ciência contabilística, que rapidamente recupera e
alarga o seu prestígio, sendo esta a época em que aparecem alguns conceitos fundamentais e se começam
a aplicar critérios mais válidos, os quais acabam por impor a actualização da respectiva legislação,
completamente alheada das novas realidades económico-empresariais, muito embora não tenham
conseguido eliminar radicalmente o anterior princípio da “objectividade” legalista.

C. Fase Formalista (de 1950 aos nossos dias)


A complexidade de certos problemas bélicos e a necessidade da sua rápida resolução obrigaram os
cientistas que trabalhavam no Pentágono a desenvolverem um conjunto de novas técnicas quantitativas,
designadas por Investigação Operacional, com o auxílio de computadores cada vez mais aperfeiçoados,
pois também nesta fase se verifica uma verdadeira revolução no campo da Informática e da Cibernética.
Muito cedo se constatou que essas técnicas de investigação operacional poderiam ser aplicadas, com
resultados surpreendentes, nos mais diversos ramos de actividade científica, sempre que estivesse em
causa a escolha da melhor entre várias soluções possíveis.

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Assim, a partir de 1950, vários autores passam a dedicar-se ao estudo da análise formal da contabilidade,
estabelecendo axiomas, definições, teoremas e requisitos, susceptíveis de tratamento lógico e matemático,
para chegar a resultados cada vez mais ricos de potencialidades explicativas e preditivas. No entanto, a
formalização rigorosa da teoria contabilística só é estabelecida em 1954, pelo canadiano Richard
Mattessich.

Actualmente, a contabilidade é regida por Normas Internacionais de Relato Financeiro (IFRSs e IAS)
elaboradas e publicadas pelo IASB.

1.2 Conceito de Contabilidade

A palavra contabilidade tem a sua origem no termo latinizado “contábil” e significa sistema de contas
organizadas para determinado fim. Muitos são os conceitos de contabilidade. Vejamos alguns deles:

● “A Contabilidade é uma arte. É a arte de registar todas as transacções de uma companhia que
possam ser expressas em termos monetários. E é também a arte de informar os reflexos dessas
transacções na situação económico-financeira dessa companhia” (Nelson Gouveia);

● “A Contabilidade é a ciência que estuda o património à disposição das aziendas, em seus aspectos
estáticos e em suas variações, para enunciar, por meio de fórmulas racionalmente deduzidas, os
efeitos da administração sobre a formação e a distribuição dos créditos” (Prof. F. Hermann Jr.);

● Segundo Gonçalves da Silva, a contabilidade em strictus sensu, ou seja escrituração é a técnica de


registo e de representação de todas as transformações sofridas pelo património de qualquer
entidade económica durante o exercício da sua actividade, de modo a saber em qualquer
momento a sua composição e o seu valor e a contabilidade latu senso é a ciência dos processos
descritivo-quantitativos utilizados na análise, registo, interpretação e controlo dos factos de
gestão, visa «quantificar» tudo o que ocorre numa unidade económica fornecendo,
simultaneamente, dados para a tomada de decisões da gestão”.

Enfim, existem inúmeros conceitos de vários autores sobre a Contabilidade. Entretanto, todos esses
conceitos convergem nitidamente em seus enunciados para o controle do património através das
informações prestadas pela Contabilidade.

1.3 Natureza, Objecto e Finalidade da Contabilidade

Natureza

O registo da actividade económica de qualquer unidade económica faz-se de acordo com a chamada
técnica contabilística, a qual compreende a captação, mediação e representação dos factos observados e
o seu tratamento com vista à obtenção de determinadas informações.

Essa técnica apoia-se actualmente num conjunto coerente de definições, postulados e requisitos,
conducentes por via inferencial a teoremas e leis que conferem à contabilidade um carácter científico,
tanto mais que esta disciplina utiliza um método específico, distinto de qualquer outro.
Portanto, a contabilidade é uma ciência de natureza económica.

Objecto

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Segundo CAMPIGLIA (1966:10) “a definição de uma disciplina qualquer, que atenda aos requisitos da
lógica e da compreensão universal do seu objecto, é matéria das mais difíceis e ponto de controvérsia
entre seus doutrinários”. Pelas abordagens desenvolvidas pelas diferentes escolas da Contabilidade,
divergências houveram quanto ao objecto da mesma, pois, se para os contistas o objecto da contabilidade
era o estudo das contas; para os personalistas o estudo das relações de débito e crédito entre os
proprietários e os agentes consignatários; os controlistas, o controlo económico; para os aziendalistas a
“azienda”; hoje constatamos que ocorre entre os estudiosos uma convergência de que o objecto da
contabilidade é o património das entidades conforme podemos verificar na visão de alguns autores citados
a seguir:

FRANCO (l997:19) “é o património e seu campo de aplicação o das entidades económico


administrativas, assim chamadas aquelas que para atingirem seu objectivo, seja ele económico ou social,
utilizam bens patrimoniais e necessitam de um órgão administrativo que pratica os actos de natureza
económica e financeira necessária a seus fins”.

CARNEIRO (1960:21) “é o património, sobre o qual se exerce a administração económica, no sentido da


sua permanência e produtividade, cujo conjunto constitui a azienda”.

D’AMORE (1976:20) “o património das entidades públicas e particulares, considerando, naturalmente,


qualitativa e quantitativamente em seus dois aspectos – estático e dinâmico”.

Assim, podemos afirmar que o objecto da contabilidade é o patrimônio das entidades econômico-
administrativas sob dois aspectos, o estático e o dinâmico. Estático – o patrimônio da empresa é
apresentado em sua composição, em determinado momento, isto é a realidade económica passada e
presente. É uma “fotografia” do patrimônio. Dinâmico - estudo das mudanças ocorridas na composição
patrimonial no decorrer do período, isto é a realidade económica futura de qualquer unidade económica.

Finalidade da Contabilidade

Desde os seus primórdios que a finalidade básica da Contabilidade tem sido o acompanhamento das
actividades realizadas pelas pessoas, no sentido indispensável de controlar o comportamento de seus
patrimónios, na função de produção e comparação dos resultados obtidos entre períodos estabelecidos.

A aplicação da Contabilidade a uma entidade particularizada busca prover os usuários com informações
sobre aspectos de natureza econômica, financeira e física do patrimônio da entidade e suas mutações, o
que compreende registros, demonstrações, análises, diagnósticos e prognósticos, expressos sob a forma de
relatos, pareceres, tabelas, planilhas e outros.

Assim, podemos afirmar que a finalidade da ciência da contabilistica é a obtenção de informações úteis
para todos os interessados, com vista a uma racional tomada de decisões.

1.4 Divisões da Contabilidade

A contabilidade está dividida em duas grandes áreas:

● Contabilidade Externa, Geral ou Financeira - regista as operações externas da empresa, isto é,


aquelas que respeitam à empresa no seu todo (regista factos patrimoniais que fazem prova perante
terceiros; permite conhecer em qualquer altura a situação patrimonial na empresa; dá a conhecer o
resultado obtido com a exploração da empresa; possibilita a elaboração de análises económicas e
financeiras);

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● Contabilidade Interna, Analítica ou de Gestão - regista as operações internas e visa o apuramento
de resultados não globais, isto é, por produto, por departamento, etc. (fornece o custo de cada
produtos ou serviço produzido pela empresa; permite a criação de centros de custos dentro da
própria empresa; possibilita estudos de rentabilidade interna; auxilia a gestão no controlo e
tomada de decisões).

1.5 Relações da Contabilidade com outras Ciências

Relações formais

Tendo por objecto a realidade decorrente da actividade económica, exercida pelo homem, numa
sociedade complexa, caracterizada pela divisão do trabalho, a Contabilidade não pode deixar de estar
relacionada com o Direito (conjunto de leis ou preceitos reguladores da vida social).

De facto, se os registos contabilísticos gozam de determinada eficácia jurídica (força probatória), se as


informações contabilísticas interessam à generalidade das pessoas, nomeadamente aos administradores,
sócios, pessoal, financiadores e Estado, compreende-se que o Direito imponha determinadas formas para
a obtenção e apresentação dessas informações contabilísticas, muito especialmente o Direito Comercial,
regulador das relações comerciais, e o Direito Fiscal, regulador das relações entre o Estado e os
contribuintes.

Relações Instrumentais

A contabilidade está relacionada com a Matemática, Estatística e outras técnicas quantitativas, na medida
em que utiliza estas ciências como instrumentos para a consecução dos seus fins.

Relações essenciais

Como ciência de índole económica relaciona-se com a economia e gestão. Mas existe algumas diferenças,
tais como:

● Enquanto a economia estuda a combinação óptima dos factores de produção, com vista à
obtenção dos melhores resultados, a contabilidade apenas estuda a captação, medição e
representação da realidade observada e os desvios entre o que devia ser e o que foi.

● Enquanto a gestão empresarial se preocupa essencialmente com a tomada de decisões, a


contabilidade apenas se preocupa com a obtenção das informações que possam servir de base
para aquelas decisões.

1.6 Requisitos da Informação financeira

Para que a informação financeira divulgada seja útil é necessário que seja entendida pelos utentes, o que
só acontecerá se reunir as seguintes características:

a) Compreensibilidade – a informação financeira deve ser rapidamente compreendida pelos


utilizadores.

b) Relevância - é entendida como a qualidade que a informação tem de influenciar as decisões dos
seus utentes, ao ajudá-los a avaliar os acontecimentos passados, presentes e futuros ou a
confirmar ou corrigir as suas avaliações. A relevância é afectada pela sua natureza e
materialidade.

c) Materialidade – a informação é material se a sua omissão ou incorrecção poder influenciar as


decisões económicas dos utilizadores tomadas com base nas demonstração financeiras.

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d) Fiabilidade - é a qualidade que a informação tem de estar liberta de erros materiais e de juízos
prévios, ao mostrar apropriadamente o que tem por finalidade apresentar ou se espera que
razoavelmente se apresente, podendo, por conseguinte, dela depender os utentes.

e) Oportunidade - a informação deve ser fornecida no momento em que é necessária, pois em caso
contrário esta pode perder a sua relevância.

f) Comparabilidade - a divulgação e a quantificação dos efeitos financeiros de operações e de outros


acontecimentos devem ser registadas de forma consistente pela empresa e durante a sua vida, de
modo que os utilizadores sejam capazes de comparar as demonstrações financeiras de uma
entidade no decurso do tempo a fim de identificarem tendências na sua posição financeira e nos
resultados das suas operações.

g) Quantificação - a informação deve ser quantificável, traduzida em números, geralmente


representativos de unidades monetárias, mas algumas vezes de unidades físicas. Uma informação
qualitativa corre o risco de ser diferentemente interpretada por cada pessoa.

h) Economicidade - o custo da informação deverá ser inferior à vantagem que ela proporciona. Em
caso contrário, será preferível prescindir dessa informação.

i) Verificabilidade - a informação deve ser aquela que seria obtida por indivíduos qualificados que
trabalhassem independentemente uns dos outros.

j) Objectividade - as informações não devem ser influenciadas por razões de ordem pessoal, de
acordo com as conveniências circunstanciais.

1.7 Contabilidade Financeira Vs Contabilidade de gestão

1.7.1 Os Usuários da informação Contabilística

Hoje em dia, considera-se que existem diversas entidades interessadas nas demonstrações financeiras,
como sejam: os que a preparam, os que a auditam, os que a analisam e os que a utilizam. Usuários das
Informações Contabilística são todas as pessoas físicas ou jurídicas que, directa ou indirectamente,
tenham interesse na avaliação e no desenvolvimento da entidade. Cada usuário procura satisfazer algumas
das suas necessidades de informação de que destacamos:

a) Investidores – necessitam de informação que os ajude a determinar se devem comprar, deter ou


vender os seus investimentos. Os accionistas estão, por seu lado, interessados na informação que
lhes possibilite determinar a capacidade de a empresa pagar os seus dividendos.

b) Trabalhadores – estão interessados na informação que lhes permita avaliar a capacidade da


empresa em proporcionar remunerações, pensões de reforma e oportunidade de emprego.

c) Financiadores – desejam ter informação que lhes possibilite determinar se os seus empréstimos e
correspondentes juros serão pagos nas respectivas datas de vencimento.

d) Fornecedores e outros credores – estão interessados em informação que lhes permita determinar
se as quantias que lhes são devidas serão pagas nas respectivas datas de vencimento.

e) Clientes – têm interesse em informação acerca da continuidade da empresa, especialmente


quando têm com ela, envolvimentos a longo prazo, quando estão dependentes dela.

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f) O Governo – requerem informação a fim de regularem as respectivas actividades e determinarem
as políticas de tributação como base para o cálculo do rendimento nacional e para fins
estatísticos.

g) Público - as empresas afectam o público de várias formas. Assim, por exemplo, ao encerrar uma
empresa socialmente responsável numa determinada zona, pode afectar o bem-estar da população
local

1.8 Funções da Contabilidade

Função de Registo

Uma das funções primordiais da contabilidade na empresa é a de registar todos os factos que provocam
alterações no seu património. Para a contabilidade poder cumprir esta missão, a empresa deve munir-se de
todos os documentos obrigatórios ou facultativos que a tornem apta a fornecer informações claras,
precisas e concisas a todos os interessados na sua vida.

Função de Controlo

A contabilidade permite o exame e a crítica das operações realizadas pela empresa. Através do controlo
dos registos podemos:
✔ Prevenir e detectar erros ou fraude;
✔ Fazer comparações entre os valores previstos e a realidade conseguida, dando assim possibilidades
à administração de pedir explicações aos responsáveis pelos desvios observados;
✔ Comparar os valores obtidos pela empresa com os das empresas similares.

Função de Avaliação

A contabilidade desempenha uma função primordial, neste campo, já que permite:


✔ Apreciar se a situação económica e financeira da empresa é boa ou mã;
✔ Conhecer, com a maior exactidão possível, os custos por que os produtos ficaram à empresa;
✔ Determinar, com base nos preços de custo, os preços de venda dos produtos, de modo que se
atinjam os objectivos propostos pela administração da unidade produtiva;
✔ Determinar a quantidade, qualidade e valor das matérias-primas e das matérias subsidiárias a
adquirir e a consumir ou das mercadorias a adquirir;
✔ Analisar, comparativamente, a produtividade dos trabalhadores da empresa com a das outras
empresas similares.
✔ Analisar, comparativamente, o desempenho da empresa ao longo do tempo e o desempenho da
empresa com o das outras empresas similares.

Função Previsão

A previsão - a análise realizada permite prever a evolução futura da empresa a partir dos factos ocorridos,
é feita com base em documentos chamados orçamentos, elaborados a partir de dados fornecidos pela
contabilidade não só da empresa mas também doutras empresas. Os orçamentos podem ser:
✔ Gerais – quando abrangem todos os aspectos e sectores da empresa;
✔ Parciais – quando se referem apenas a determinados sectores, destacando-se entre estes:

● Orçamento de vendas – nele se prevêm a quantidade, qualidade e valor dos produtos que a
empresa espera vender;

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● Orçamento de compras – nele se prevêm a quantidade, qualidade e valor das mercadorias e
das matérias-primas e subsidiárias necessárias ao bom abastecimento dos armazéns da
empresa;
● Orçamento de produção – nele se prevêm a quantidade e valor dos produtos a fabricar, bem
como os respectivos custos.

1.9 Hipóteses Básicas da Contabilidade

Contabilistas utilizam uma série de conceitos subjacentes projectados para assegurar a coerência no
exercício das suas funções. Estes incluem os princípios de como os contabilistas devem tratar os dados
financeiros relevantes e as convenções de como eles devem lidar com questões específicas que possam
surgir. Mas estes são sustentados por cinco premissas básicas, que são efectivamente a base fundamental
de qualquer conjunto de contas:

● A empresa é uma entidade independente: as contas da empresa deveram referir-se


exclusivamente sobre a empresa e não incluir os assuntos financeiros privados de quaisquer
indivíduos, isto é, a empresa é considerada uma entidade separada e distinta do proprietário.
Como parte deste pressuposto, as contas irão indicar claramente o nome da empresa a que se
referem. A suposição entidade separada ajuda a distinguir claramente os activos que pertencem à
empresa e aqueles que pertencem a indivíduos.

● Continuidade das operações: a empresa está operando em continuidade, não existindo


probabilidades de se liquidar a curto prazo.

● Unidade de moeda: tudo o que consta nas contas da empresa, ou todas as transacções devem ser
expressas em termos monetários, e que a moeda utilizada deverá ser consistente (por exemplo,
MZN). Permite determinar o valor da empresa.

● Período contabilístico: refere-se ao período de tempo usado como referência para a elaboração
das demonstrações financeiras, no qual todas as transacções realizadas pela empresa naquele
periodo, devem ser registadas dentro desse período. O período contabilístico mais comum que a
maioria das empresas utiliza é o ano fiscal. Isso permite a comparação do desempenho da
empresa ao longo do tempo.

● Regime de competência contabilística (Base do Acréscimo): as transacções, especificamente


aqueles relativos aos rendimentos e despesas são reconhecidas e registadas nos livros no
momento em que haja substância da transacção, isto e, o rendimento é reconhecido quando
obtido independentemente da data de pagamento. Por outro lado, as despesas são registadas
quando incorridas independentemente de que foi pago em dinheiro ou em termos de crédito.

1.10 Normalização Contabilística em Moçambique

Normalização contabilística é o conjunto de normas e procedimentos de aplicação generalizada às


empresas que permite que o mesmo facto patrimonial tenha sempre igual tratamento contabilístico.

Em alguns países, o processo de normalização é liderado por organismos que agrupam os profissionais de
contabilidade e auditoria, noutros a normalização se traduz em actividades legislativas dos próprios
governos. Moçambique seguiu esta última tendência, tendo em 1984 aprovado o Plano Geral de
Contabilidade – PGC - (Resolução no 13/84 de 14 de Dezembro), com o objectivo de normalizar a
contabilidade das empresas. O PGC - (Resolução no 13/84 de 14 de Dezembro) que passou a se aplicar
desde o exercício contabilístico de 1986, a todas as unidades económicas que mantinham contabilidade
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organizada, com excepção das que exerciam a actividade nos ramos bancários e de seguros, que foi
revogado e substituído por meio do decreto no 36/2006 de 25 de Junho. Este decreto aprovou um novo
plano de Contabilidade ajustado a nova realidade económica caracterizada por diversas transformações
económicas aliadas ao processo de internacionalização das actividades económicas e ao impacto das
rápidas inovações nas tecnologias de informação e comunicação e ao mercado financeiro.
Com o desenvolvimento da contabilidade e a aplicação generalizada das Normas Internacionais de
Contabilidade, tornou-se necessário aprovar um Sistema de Contabilidade para o Sector Empresarial em
Moçambique (SCE), visando a adopção dum Plano Geral de Contabilidade baseado nas Normas
Internacionais de Relato Financeiro, aplicável a grandes e médias empresas, e a introdução de alguns
ajustamentos no Plano Geral de contabilidade aprovado pelo Decreto 36/2006 de Junho, para as restantes
empresas. Assim sendo, foi aprovado pelo decreto no 70/2009 de 22 de Dezembro, o Sistema de
Contabilidade para o Sector Empresarial em Moçambique (SCE), que integra:
a) O Pano Geral de Contabilidade para Empresas de Grande e Média Dimensão, abreviadamente
designado por PGC-NIRF;
b) O Plano Geral de Contabilidade para as Pequenas e demais empresas, abreviadamente designado
por PGC-PE.

1.10.1 Plano Geral de Contas-NIRF


Para efeitos de aplicação do PGC-NIRF e PGC-PE, as empresas classificam-se:
a) Empresa de grande dimensão: veja o número 2 do artigo 2 do decreto no 70/2009 de 22 de
Dezembro;
b) Empresas de média dimensão: veja o número 3 do artigo 2 do decreto no 70/2009 de 22 de
Dezembro;
c) Pequenas e demais empresas: veja o número 4 do artigo 2 do decreto no 70/2009 de 22 de
Dezembro;
O PGC-NIRF (Art.6 do decreto no 70/2009 de 22 de Dezembro) entrou em vigor no exercício económico
que se iniciou em 1 de Janeiro de 2010 para as empresas de grande dimensão e; em 1 de Janeiro de 2011
para as de média dimensão. O PGC-PE entrou em vigor no exercício económico que se iniciou em 1 de
Janeiro de 2011.
O PGC-NIRF está dividido em capítulos seguintes:
● Capítulo 1.1 – Introdução ao PGC – aqui se define o novo PGC, apresenta-se a base do PGC-
NIRF que são as NIC (Normas Internacionais de Contabilidade) e NIRF (Normas Internacionais
de Relato Financeiro) emitidas pela IASB (International Accounting Standards Board) e descreve
o que será tratado em cada um dos capítulos subsequentes;
● Capítulo 1.2 – é dedicado ao quadro conceptual, onde se trata entre outras matérias, as
características qualitativas da informação financeira, o reconhecimento e a mensuração dos
elementos das demonstrações financeiras;

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● Capítulo 1.3 – é dedicado a estabelecer as regras de transição para as entidades que aplicam pela
primeira vez o PGC-NIRF;
● Capitulo 1.4 – compreende o conjunto de 28 NCRF’s. que são aplicadas no reconhecimento,
mensuração, apresentação e divulgação das futuras transacções e acontecimentos.
● Capitulo 1.5 – inclui quadro de contas de aplicação obrigatória.
● Capítulo 1.6 – compreende os modelos obrigatórios de demonstrações financeiras.
● Capitulo 1.7 – compreende um glossário de termos e expressões usadas nas NCRF;
● Capítulo 1.8 – é um quadro de equivalência entre NCRF’s e as correspondentes NIC’s e NIRF’s.
O PGC-PE é composto por:
● Capítulo 2.1 – Introdução ao PGC-PE – apresenta o conceito do PGC-PE, a base de elaboração do
PGC-PE e descreve o que será tratado em cada um dos capítulos subsequentes;
● Capítulo 2.2 – bases conceitos e princípios contabilísticos
● Capítulo 2.3 – mensuração dos elementos das demonstrações financeiras
● Capítulo 2.4 – compreende o quadro e códigos de contas;
● Capítulo 2.5 – compreende os modelos de demonstrações financeiras;
● Capítulo 2.6 – apresenta o conteúdo e movimentação de algumas contas.

1.10.2 Objectivos da Normalizacao Contabilistica


A normalização tem como objectivo o estabelecimento:
● Um código de contas;
● Uma terminologia;
● Modalidade de Funcionamento das Contas;
● Critérios valorimétricos;
● Métodos gerais de determinação dos resultados;
● Modelos do Balanço e da Demonstração de Resultados.
1.10.3 Vantagens da Normalizacao Contabilistica
a) Para as empresas:
● Possibilita a comparação imediata das informações contabilísticas;
● Organização dos Serviços de Contabilidade.
b) Para os particulares e o Estado:
● Permite a avaliação da situação patrimonial da empresa;
● Utilização imediata de diversos dados para fins estatísticos dada a sua comparabilidade.

1.10.4 Tipos de impostos existentes em Moçambique


A Lei 15/2002 de 26 de Junho, define o sistema tributário da República de Moçambique.
Imposto é uma prestação que é feita pelo sujeito passivo junto do sujeito activo no âmbito da obrigação
fiscal ou por outras palavras trata-se de uma prestação definitiva e unilateral estabelecida pela lei a favor
do estado ou outro ente de direito público com poder para a sua cobrança.

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O número 1 do artigo 4 da lei 15/2002, define o imposto como um pagamento para o Orçamento do
Estado, com natureza unilateral e obrigatória, incluindo encargos legais e juros previstos em normas
tributárias.
O sistema tributário da República de Moçambique integra os impostos nacionais e autárquicos.
Segundo o número 3 do artigo 56 e o número 1 do artigo 70, da Lei 15/2002, de 26 de Junho, os impostos
do Sistema Tributário Nacional classificam-se em:
a) Impostos directos – são aqueles que incidem sobre os rendimentos obtidos, tais são: IRPS
(Imposto de Rendimento sobre Pessoas Singulares) e IRPC (Imposto de Rendimento sobre
Pessoas Colectivas).
b) Impostos indirectos – são aqueles que incidem sobre o consumo ou despesa, integrando: IVA
(Imposto sobre o Valor Acrescentado), ICE (Imposto sobre o Consumo Específico) e Direitos
aduaneiros;
c) Outros Impostos – o Sistema Tributário de Moçambique se completa com outros impostos,
nomeadamente: Imposto do Selo; Imposto sobre sucessões e doações; SISA, Imposto especial sobre o
jogo; Imposto de Reconstrução Nacional; Imposto sobre Veículos, outros impostos e taxas especificas
estabelecidas por lei.
d) Impostos autárquicos – o Sistema Tributário Autárquico, aprovado pela Lei nº 1/2008, de 16 de
Janeiro, compreende os seguintes impostos e taxas: Imposto Pessoal Autárquico; Imposto Predial
Autárquico; Imposto Autárquico de Veículos; Imposto Autárquico de Sisa; Contribuição de
melhorias; Taxas por Licenças concedidas e por actividade económica; Tarifas pela prestação de
serviços. (Artigo 2 do Decreto 63/2008, de 30 de Dezembro).

1.10.5 IVA

O Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) é um imposto indirecto que incide sobre as
transmissões de bens e as prestações de serviços efectuadas a título oneroso no território
nacional. Abrange também as importações de bens.
A lei 32/2007 de 31 de Dezembro, aprova o Código de Imposto sobre o Valor Acrescentado
(CIVA). Esta Lei sofreu alterações ao longo do tempo que resultaram na sua republicação
através da Lei 13/2016 de 30 de Dezembro.
A taxa do IVA é 17%. O IVA que consta nas facturas ou documentos equivalentes emitidos pela
empresa designa-se de IVA Liquidado. O IVA relativo às aquisições da empresa é designado de
IVA dedutível.

As isenções do IVA estão previstas no capítulo II do CIVA. Neste capítulo, destacam-se as


seguintes operações isentas:
- Transmissão de bens e prestação de serviços de saúde;
- As transmissões de bens e prestações de serviços efectuadas por entidades sem fins lucrativos:
entidades públicas, creches, jardins-de-infância, lares residenciais, organizações de natureza

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política, sindical, religiosa, filantrópica, recreativa, desportiva, cultural que a única contrapartida
seja uma quota fixada nos termos dos respectivos estatutos;
- As transmissões de bens e prestações de serviços do ensino: estabelecimentos públicos ou
privados integrados no SNE e reconhecidos nos termos legais, Instituições de formação
profissional;
- As operações bancárias e financeiras;
- A locação de imóveis para fins de habitação, comerciais, industriais e de prestação de serviço;
- As operações de seguro e resseguro bem como as prestações de serviços conexas;
- As transmissões de bens e prestações de serviços no âmbito de actividades agrícola, silvícola,
pecuária e pesca: produtos provenientes da produção utilizando os recursos próprios do produtor,
indústria de produção de rações destinadas a alimentação de animais para o consumo humano,
medicamentos destinados a aplicar na veterinária;
- A exploração e prática de jogos de fortuna ou azar e de diversão social;
- A transmissão de bens e prestações de serviços para fins culturais e artísticos: direitos de autor
e autorização para utilização da obra intelectual, transmissão de jornais, livros;
- As transmissões de farinha de milho, arroz, pão, sal iodado, leite em pó para lactentes até um
ano, trigo, farinha de trigo, tomate, batata, cebola, petróleo de iluminação, carapau, bicicletas
comuns e preservativos;

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