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Evolução histórica

da contabilidade
Prof. José Américo Pereira Antunes

Descrição História da contabilidade a partir da perspectiva das escolas de


pensamento da contabilidade, com destaque para os eventos
causadores de mudanças estruturais em sua abordagem. Normas
Brasileiras de Contabilidade profissionais e técnicas.

Propósito Apresentar o caminhar histórico da contabilidade e a longa transição da


perspectiva de controle do patrimônio para a outra de prestação de
informações. Esse caminhar revela-se na queda das escolas europeias e
na ascensão da escola norte-americana, uma perspectiva particular
sobre as escolas de pensamento da contabilidade.

Objetivos

Módulo 1 Módulo 2

Evolução histórica da Escolas de pensamento da


contabilidade contabilidade
Descrever a evolução histórica da Comparar as escolas de pensamento da
contabilidade, sobretudo os eventos contabilidade: europeias, norte-americana e
disruptivos. brasileira.

Módulo 3

Construção teórica da
contabilidade

Identificar a construção teórica da


contabilidade por meio de postulados,
princípios e convenções.
meeting_room Introdução
Nesse conteúdo, estudaremos a evolução histórica da contabilidade, com
ênfase nos principais eventos e nas rupturas e consolidações ao longo da
sua trajetória. Estudaremos também as escolas de pensamento da
contabilidade e a construção teórica da contabilidade, com a prevalência do
valor preditivo da informação contábil e da essência sobre a forma. Por fim,
aprenderemos sobre as Normas Brasileiras de Contabilidade.

1 - Evolução histórica da contabilidade


Ao final deste módulo, você será capaz de descrever a evolução histórica da contabilidade, sobretudo os
eventos disruptivos.

Objetivos da contabilidade
Embora existam evidências de registros contábeis rudimentares datados de
milhares de anos atrás, o marco zero da história da contabilidade é usualmente
definido em algum ponto da Idade Média.

Originada a partir da necessidade de registrar transações mercantis primárias, a


contabilidade nasceu como atividade essencialmente técnica, prática,
dispensando uma base teórica que a justificasse. Apenas muito depois, com a
consolidação do processo contábil nas etapas de reconhecimento, mensuração
e evidenciação, a contabilidade ascendeu como ciência social e sua base teórica
foi constituída.

A teoria da contabilidade pode ser definida como as tentativas feitas para


explicar, influenciar e aperfeiçoar os três objetivos da contabilidade. Vamos
conferi-los?

Reconhecimento
Tradução do evento econômico para linguagem binária universal.
Mensuração
Atribuição de valores aos eventos econômicos traduzidos.

Evidenciação
Comunicação desses eventos por meio de demonstrações padronizadas.

Reconhecimento expand_more

Implica transformar o evento em entidades contábeis primárias: ativo,


passivo, patrimônio líquido, receita e despesa. Para tal, utiliza-se uma
linguagem binária, o par débito/crédito.

Mensuração expand_more

Implica atribuir valor aos eventos econômicos traduzidos. O critério de


atribuição de valor dependerá da natureza contábil do evento traduzido, se
ativo, passivo, patrimônio líquido e assim por diante.

Evidenciação expand_more

Implicar dar publicidade aos eventos econômicos, tornando-os


compreensíveis pelos usuários com interesse na informação.

video_library Evolução histórica da contabilidade


Compreenda, em linhas gerais, a evolução histórica da contabilidade.

O início
Embora qualquer tipo de atividade seja um objeto em potencial da ciência
contábil, uma vez que as etapas de reconhecer, mensurar e evidenciar não se
limitam a atividades econômicas tradicionais, a história da contabilidade é uma
história de avanços e consolidações, em linha com os avanços da atividade
econômica. E essa história não começa com a atividade comercial e industrial da
era moderna. Sempre que os assuntos econômicos progrediram além das
condições mais básicas de produção e troca, surgiram sistemas de registro e
formalização de transações baseados em contas.

Há muitos registros contábeis anteriores aos séculos XIII e XIV (SIDEBOTHAM et


al., 1970). A metodologia moderna que, hoje, denominamos contabilidade, porém,
tem como marco histórico a criação do método de registro "partida dobrada", em
resposta aos desafios da atividade comercial crescente, nos séculos XIII e XIV. A
profissão contábil, por sua vez, ganhou impulso a partir das demandas
econômicas da Revolução Industrial. Quanto maior a complexidade da estrutura
de produção e troca, maior a demanda por informações financeiras fidedignas.

O primeiro livro publicado sobre


Retrato de Luca Pacioli (1445–1517) com um
aluno, atribuído a Jacopo de 'Barbari'. contabilidade é de autoria do monge
franciscano Luca Pacioli, um erudito
reconhecido em sua época. Pacioli
incluiu em sua obra Summa di
Aritmetica Geometria Proportioni et
Proportionalita, publicada em 1494,
uma seção sobre contabilidade
intitulada De Computis et Escrituras,
onde descreve o método de registro
"partida dobrada". Essa seção foi
republicada no ano 1504 como obra
individual sob o título La Scuola
Perfetta dei Mercanti.

Pacioli esclarece ainda no livro que não foi o inventor da dupla entrada,
afirmando que ele apenas descrevia o método usado em Veneza há mais de 200
anos. A descrição do método feita por Pacioli é considerada muito clara pelos
teóricos da contabilidade (SIDEBOTHAM et al., 1970). No capítulo 34 da Summa,
ele afirma que nunca deve ser uma quantia entrada em crédito que também não
seja entrada no mesmo montante em débito.

Pacioli também defende o balanço anual de contas, embora o procedimento não


fosse obrigatório, pois não havia regulamentos da lei ou convenções da
sociedade para exigir isso. No capítulo 29 da Summa, ele afirma que é bom que
os livros sejam balanceados anualmente, principalmente para aqueles que
negociam em sociedade, pois, como diz o provérbio: "balanços frequentes
favorecem amizades".

Saiba mais
Os registros contábeis da Idade Média, embora simples, já estabeleciam a
separação entre os registros da entidade e o dos proprietários, um embrião do
que viria a ser o patrimônio líquido e o posterior princípio da entidade.

O desenvolvimento do comércio no século XIV fez surgir conglomerados


empresariais com filiais espalhadas pela Europa, exigindo um aperfeiçoamento
da metodologia de registro das transações. Um exemplo interessante desse
período vem de Florença, região de grande poder econômico e sede do Banco
Medici, pertencente à tradicional família de mesmo nome, considerada a mais
rica da Europa na época.

De acordo com Sidebotham et al. (1970), uma cópia do balanço de cada agência
era enviada todos os anos à Florença e estava sujeita à auditoria, sobretudo
quanto ao controle de vencimentos das operações de crédito e dos créditos
duvidosos. As contas utilizadas pelos Medici continham provisões para salários,
dívidas incobráveis e contingências, e essas provisões podiam ser usadas para
corrigir lucros de exercícios anteriores.

Banco Medici
O Banco Medici, desde a sua criação em 1397 e até sua derrocada em 1494, foi
uma das instituições mais prósperas e respeitadas da Europa. Além da
realização de negócios bancários consideráveis, em Florença e em outras
cidades italianas – e em grandes centros comerciais no exterior, por meio de
filiais –, o banco operava vários estabelecimentos industriais, sobretudo
têxteis.

A estrutura societária adotada pelos Medici não era diferente em essência das
holdings modernas e suas subsidiárias. Nesse ambiente, cada filial e cada
fábrica eram uma entidade separada, com parceiros, capital e contas
separados, embora a família Medici tivesse um controle acionário em cada
uma delas.

O Banco Medici foi uma das primeiras entidades a utilizar o método das
partidas dobradas utilizando débitos e créditos. Qualquer outro sistema mais
simples teria sido inadequado para o alcance, volume e complexidade de suas
transações.

Um novo impulso: a sociedade anônima


O papel de Pacioli como disseminador do método das partidas dobradas foi bem
sucedido. Após a publicação da Summa em 1494, as partidas dobradas
ganharam a Europa. E a Europa foi o palco de outra sequência importante de
eventos para o desenvolvimento da contabilidade.

A Companhia Holandesa das Índias


Símbolo da Companhia Holandesa das Índias
Orientais. Orientais, fundada em 1602, foi a
primeira empresa a emitir ações com
responsabilidade limitada para seus
acionistas. As ações eram transferíveis
e podiam ser negociadas na Bolsa de
Amsterdã, também estabelecida em
1602. Nos anos subsequentes, o
conceito de sociedade por ações, com
existência permanente,
responsabilidade limitada e ações
negociadas em bolsa de valores,
tornou-se uma forma importante da
organização empresarial (SCOTT,
2015).

A demanda por informações financeiras sobre as empresas cujas ações eram


negociadas motivou uma longa transição para a contabilidade financeira. De um
sistema que permitia ao comerciante controlar suas próprias operações, a
contabilidade evoluiu para um sistema capaz de informar os investidores que
não estavam envolvidos nas operações diárias da empresa.

A disponibilização de informações em bases regulares não era suficiente para


satisfazer a necessidade dos novos usuários da informação contábil. Era
necessário que tais informações também fossem confiáveis, fidedignas. Essa
demanda adicional estabeleceu as bases para o desenvolvimento da auditoria e
da regulação governamental acerca da prestação de informações. Em 1844, com
a publicação da Companies Act, a Lei das Empresas Inglesas, surge pela primeira
vez a exigência de fornecimento de um balanço auditado aos acionistas.

A Revolução Industrial
No fim do século XIX, impulsionada pelo advento das máquinas a vapor, a
Revolução Industrial representou novo impulso ao desenvolvimento da
contabilidade. O crescimento das unidades fabris, antes compostas de um líder e
meia dúzia de empregados, para fábricas imensas, com centenas de operários,
exigiu um outro tipo de abordagem contábil. Dessa vez, voltada para a
contabilidade industrial, controle de estoques, custos de produção, embrião do
que viria a ser a contabilidade de custos.

O desenvolvimento da contabilidade de custos foi a resposta da contabilidade


aos crescentes problemas enfrentados pelos industriais sob as condições
comerciais mais competitivas do início do século XX. O protagonismo dos
Estados Unidos nos mercados internacionais eliminou o monopólio antes detido
pelos ingleses. Nesse cenário, a definição de preços competitivos exigia meios
efetivos de identificação e controle dos custos de produção.

Para Sidebotham et al. (1970), havia desafios particularmente


complexos à época. O primeiro deles tratava da distinção
entre custos fixos e variáveis, ou seja, custos que
permanecem constantes, independentemente do nível de
produção, e custos que variam conforme a produção se
expande ou contrai. Isso tem implicações óbvias quando
mudanças no nível de produção são enfrentadas.

Outro desafio era a apropriação dos custos indiretos à produção. Conceitos


derivados da gestão científica, que tiveram um rápido desenvolvimento nos
Estados Unidos na primeira década do século XX, foram introduzidos na
contabilidade de custos. A divisão da fábrica em "centros de produção", nos quais
os custos indiretos poderiam ser alocados com base nas horas-máquina
utilizadas derivam dessa confluência de conhecimentos.

Crises

O crash de 1929
No início do século XX, os principais desenvolvimentos na contabilidade
financeira surgiram nos Estados Unidos, cujo poderio econômico crescia
rapidamente. Segundo Scott (2015), a introdução do imposto de renda
corporativo nos Estados Unidos, em 1909, deu grande impulso à mensuração do
lucro e, em consequência, motivou o surgimento de novos conceitos que
permitiam deduções do lucro, como a depreciação do capital fixo. Contudo, a
contabilidade ainda era uma atividade bastante desregulamentada, permitindo
toda a sorte de manipulações e superveniência de ativos. Uma das práticas mais
criticadas da época eram as frequentes reavaliações de ativos fixos, que levavam
a superestimações do imobilizado, as quais forneceram o combustível para o
excesso de valorização da Bolsa de Valores, descolado da realidade.

O crash de 1929, uma mistura


explosiva de crédito em excesso e de
especulação em ativos mobiliários,
provocou uma forte resposta
regulatória. A mais relevante foi a
criação da Comissão de Valores
Mobiliários (SEC), em 1934, órgão
regulador do mercado de valores
mobiliários, cujo mandato é a proteção
de investidores por meio de uma
estrutura baseada em divulgação de
informações adequadas. Na
contabilidade, o efeito mais visível foi
a fixação do custo histórico como
base de mensuração, uma resposta
direta ao descontrole provocado pelas
constantes reavaliações de ativos.
A quebra de confiança dos anos 1990
O fim dos anos 1990 e o início do século XXI foram o palco da bolha da internet.
A chamada nova economia apresentava modelos de negócios concentrados na
prestação de serviços e baseados na internet. Contrariamente aos segmentos
tradicionais da economia, muitas dessas empresas, especialmente as recém-
criadas, com pouco ou nenhum histórico de lucros, praticamente não
apresentavam ativos fixos, a geração de caixa era negativa e o interesse
despertado por elas derivava de expectativas quanto ao crescimento futuro.

Para isso, relatavam um fluxo de receitas com expectativa de rápido crescimento,


em linha com o crescimento do acesso à internet. Contudo, as estimativas se
mostraram exageradas e tiveram de ser revertidas, levando ao colapso desse
segmento, do qual poucas empresas resistiram. Dois exemplos clássicos de
fraudes contábeis desse tipo são os casos da Enron Corp. e Worldcom Inc.

Esses e muitos outros casos de fraude ocorreram


independentemente do fato de que as demonstrações
financeiras das empresas envolvidas foram auditadas e
consideradas aderentes à regulação norte-americana. Como
resultado, a confiança do público nos relatórios financeiros e
no funcionamento do mercado de capitais foi severamente
abalada. O resultado da perda de confiança do público foi o
aumento da regulamentação (SCOTT, 2015).

A Lei Sarbanes-Oxley, aprovada pelo Congresso dos EUA em 2002, foi a resposta
mais objetiva à crise. Essa lei é abrangente, destinada a regular a atividade de
auditoria e ampliar o alcance da governança corporativa, minimizando a chance
de novas fraudes acontecerem. A criação do Comitê de Auditoria é consequência
da Lei Sarbanes-Oxley, assim como a criação do Public Company Accounting
Oversight Board (PCAOB), agência com mandato para estabelecer padrões de
auditoria e inspecionar e disciplinar auditores de empresas listadas em bolsa.
Outras disposições da Lei Sarbanes-Oxley vão de encontro a fragilidades que
permitiram o surgimento de casos de fraudes contábeis, como da Enron Corp:

1. A restrição de serviços não vinculados à auditoria, mas oferecidos


pelas empresas de auditoria aos seus clientes, como serviços de
consultoria, avaliações.

2. O reporte do resultado da auditoria pelo auditor ao conselho de


administração e não ao CEO da empresa.

3. A composição do comitê de auditoria por diretores independentes da


administração da empresa.

A crise financeira de 2007-2008


O significativo aumento da carga regulatória após a crise de confiança dos anos
1990 não impediu que velhas práticas voltassem a ser utilizadas
indiscriminadamente apenas uma década mais tarde. Uma dessas práticas era a
utilização de sociedades de propósito específico (SPE) para isolar em outra
entidade parte da atividade operacional da empresa "controladora".

A relação societária entre a empresa "controladora" e a SPE é juridicamente


confusa (daí as aspas). Embora haja elementos suficientes para configurar a
relação de controle, a regulação, à época, autorizava a não consolidação dos
balanços. Isso permitia que parcelas indesejáveis de ativos e passivos fossem
deslocadas para essas empresas e lá ficassem isolados, não contaminando o
balanço da controladora.

Esse artifício foi utilizado exaustivamente no caso Enron Corp. Por meio dessas
empresas, a Enron contratava empréstimos no sistema financeiro e transferia
esses recursos para a empresa, mantendo as dívidas isoladas nas SPE. Como
não havia consolidação, a maior parte dos passivos da Enron não aparecia e a
empresa era tida como saudável. Quando, por determinação da SEC, a Enron
consolidou todas as SPE, a realidade foi desmascarada e a empresa mostrou-se
insolvente.

Cerca de dez anos depois, o mesmo artifício foi usado por vários bancos norte-
americanos para alavancar suas posições em hipotecas. Bancos são entidades
altamente reguladas. Submetidos aos denominados Acordos de Capital, também
conhecidos como Acordos de Basileia, devem respeitar limites mínimos de
patrimônio para operar no mercado financeiro. Tais limites relacionam os ativos
de risco da instituição ao seu patrimônio líquido. Dessa forma, há um limite
mínimo de alavancagem que deve ser respeitado. Diferentemente de empresas de
outros segmentos econômicos, bancos não podem alavancar
indiscriminadamente, pois, para cada adicional de risco registrado no ativo, é
necessária uma contrapartida na forma de capital.

Para burlar esses limites e registrar


mais ativos de risco, na forma de
operações de financiamento
imobiliário, do que o capital disponível
suportaria, bancos norte-americanos
utilizaram SPE para registrar
operações de financiamento
imobiliário por eles originadas. Como
as SPE não eram consideradas
bancos, não observavam os limites
mínimos de capital, o que permitiu
uma alavancagem muito além da
admitida para os bancos. Esse foi o
combustível da crise financeira: o
excesso de crédito concedido pelos
bancos turbinou o preço dos imóveis
até que uma crise de confiança
desmontou o castelo de cartas.

As SPE, por sua vez, eram financiadas com passivos de curto prazo, na ordem de
dois anos de maturidade, enquanto mantinham operações de crédito de até 30
anos no ativo. Quando a crise de confiança nas hipotecas subprime se
manifestou, essas SPE não conseguiram rolar seus passivos e foram buscar
financiamento nos bancos "controladores". Isso impôs aos bancos a recompra
dessas operações de financiamento imobiliário. A reentrada dessas operações
nos ativos dos bancos fez com que o capital dos bancos se mostrasse muito
inferior ao exigido pela regulação para fazer face ao risco dos ativos.
Adicionalmente, a queda no valor das hipotecas provocada pela crise impôs
perdas severas aos bancos. Perdas que excediam em muito seu patrimônio
líquido, aprofundando a crise financeira que exigiu a intervenção governamental
para socorrer os bancos.

A contabilidade baseada em
princípios e os formuladores de
padrões contábeis
O último grande impulso na contabilidade deve-se à combinação de dois
desenvolvimentos. O primeiro é a harmonização das normas contábeis em
escala mundial com a ascensão de dois formuladores de padrões contábeis:

O Financial O International
Accounting Accounting
Standards Board Standards Board
(FASB) (IASB)
Responsável pelo Formulador de padrões
estabelecimento de padrões contábeis para os demais
contábeis nos Estados países, sediado na Inglaterra.
Unidos.

O segundo desenvolvimento relevante é a prevalência da contabilidade baseada


em princípios sobre a contabilidade baseada em regras. A ascensão de
formuladores de padrões contábeis e a consequente definição de padrões
contábeis abrangentes e de aplicação obrigatória deriva da dificuldade que a
diversidade de práticas contábeis impõe a comparações entre empresas. Nesse
ambiente, a capacidade de produzir informações úteis para amparar a tomada de
decisões é comprometida. Vejamos o contexto em que o FASB e o IASB surgiram:

flag 1973

O FASB surgiu em 1973 e é uma organização independente,


composta de sete membros remunerados em período
integral, com mandatos de cinco anos renováveis. No
mesmo ano, a SEC reconheceu oficialmente o FASB como
formulador de padrões contábeis de aplicação obrigatória
nos Estados Unidos, conferindo a uma organização privada
o mandato de emitir padrões contábeis.

flag 2001

Já o IASB foi criado em 2001, sucedendo o International


Accounting Standards Committee (IASC), organismo que
exercia funções similares desde sua criação em 1973 pelos
organismos profissionais de contabilidade de dez países
desenvolvidos. Diferentemente do FASB, o alcance do IASB é
mundial. Também diferentemente do FASB, a entrada em
vigor dos pronunciamentos emitidos pelo IASB, os IFRS, não
é automática. Os reguladores locais devem referendar os
IFRS localmente para sua conversão em regulação contábil
obrigatória. No presente, os IFRS são obrigatórios para as
empresas de capital aberto de 166 países.

Dez países desenvolvidos


Alemanha, Austrália, Canadá, Estados Unidos,
França, Irlanda, Japão, México, Países Baixos e
Reino Unido.

No Brasil, a decisão de convergir aos padrões contábeis internacionais foi


determinada pela Lei nº 11.638 de 2007. A partir dela, o Comitê de
Pronunciamentos Contábeis (CPC) foi encarregado de realizar a transição dos
padrões contábeis emitidos pelo IASB para o ambiente doméstico.Criado pela
Resolução CFC nº 1.055/05, o CPC tem como objetivo estudar, preparar e emitir
documentos técnicos sobre procedimentos de contabilidade. Além disso,
compete ao CPC divulgar tais informações, para permitir a emissão de normas
pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do
seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da
Contabilidade brasileira aos padrões internacionais.

O CPC possui 14 membros, sendo que cada uma das 7


entidades que o formam nomeia 2 membros. Além dos 14
membros, são convidados a participar representantes de
outras entidades privadas e dos reguladores do mercado
financeiro.

Os pronunciamentos emitidos pelo CPC, que invariavelmente são traduções dos


pronunciamentos emitidos pelo IASB, não têm valor normativo, pois o CPC carece
de competência legal para tal. Dessa forma, para que os pronunciamentos se
tornem obrigatórios, é necessário que os reguladores, que detêm a competência
normativa, referende-os por meio de atos normativos.

Para que os CPC se tornem obrigatórios para as sociedades anônimas de capital


aberto, a CVM deve referendá-los. No caso das instituições financeiras, o
Conselho Monetário Nacional deve fazê-lo e, assim por diante, de acordo com o
segmento regulado.

De maneira geral, os reguladores referendam os pronunciamentos tão logo o CPC


os emite. A única exceção é o Conselho Monetário Nacional (CMN), que
referendou poucos pronunciamentos para o Sistema Financeiro Nacional. Um
exemplo é o IFRS 9 (CPC 48) que trata de instrumentos financeiros. O profundo
efeito desse pronunciamento nas instituições financeiras e o risco que uma
convergência precipitada poderia trazer para a estabilidade financeira levou o
CMN e o BC a estabelecer um cronograma de convergência que estimasse os
impactos do IFRS 9 (CPC 48) no sistema financeiro. Embora emitido pelo CPC no
fim de 2016, a norma não havia entrado em vigor até a produção desse conteúdo.

A ascensão de formuladores de
padrões contábeis de origem anglo-
saxônica (FASB e IASB) levou ao
segundo desenvolvimento
contemporâneo relevante: a
prevalência da regulação contábil
baseada em princípios em relação à
regulação contábil baseada em regras.
Os padrões contábeis baseados em
regras, típicos de países cuja tradição
jurídica deriva do direito comum,
estabelecem regras detalhadas para o
tratamento contábil dos eventos. Em
contrapartida, padrões contábeis
baseados em princípios, típico de
países cuja tradição jurídica deriva do
direito de costumes (consuetudinário),
define as linhas gerais do tratamento
contábil a ser adotado e deixa a cargo
do julgamento do profissional
(contador, auditor) a alternativa
escolhida.

A adoção de padrões contábeis baseados em princípios significa que a referência


para a elaboração de padrões contábeis passa a ser a estrutura conceitual, o que
garante que a divulgação financeira será relevante para os investidores, e que os
requisitos de reconhecimento e de mensuração serão baseados nas
características qualitativas da informação contábil (SCHIPPER, 2003). A
consequência prática desse modelo é que a sustentação da atuação profissional
não estabelece critérios específicos para o tratamento de situações particulares.

Um sistema contábil baseado em princípios oferece diretrizes para o julgamento


profissional de cada situação particular, em vez de especificar claramente como
promover a classificação, o reconhecimento, a mensuração e a divulgação de
cada evento econômico (DANTAS et al., 2010). A justificativa é que o
oferecimento de um referencial para o julgamento profissional, combinado com a
possibilidade de o contador e o auditor decidirem a melhor forma de elaborar e
divulgar as informações a respeito das operações da empresa, permite a
consideração da essência do negócio, tendo em vista que nem todas as nuances
de uma operação poderiam ser apropriadamente antecipadas pelos reguladores.

Comentário

A contabilidade é um organismo vivo e em constante adaptação e


aperfeiçoamento. A contínua transformação do ambiente econômico e das
necessidades das empresas e dos usuários de informações contábeis são
agentes de mudança que catalisam o processo de evolução da contabilidade. O
futuro reserva desafios ao cumprimento dos objetivos da contabilidade de
reconhecer, mensurar e evidenciar os eventos econômicos, mas é certo também
que os profissionais e acadêmicos de contabilidade estarão à altura deles.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Acerca do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), assinale a alternativa


correta.

Trata-se de um órgão público subordinado à Comissão de


A
Valores Mobiliários.

Desde a respectiva criação, em 2005, além dos


B pronunciamentos técnicos, o CPC passou a emitir as
resoluções do Conselho Federal de Contabilidade (CFC).

O CPC tem prerrogativas legais, portanto a aplicação das


C
próprias normas é obrigatória.

Os pronunciamentos técnicos emitidos pelo CPC subsidiam a


D emissão de normas que permitem a convergência da
Contabilidade Brasileira com os padrões internacionais.

Trata-se de um órgão público subordinado ao Ministério da


E
Fazenda.

Parabéns! A alternativa D está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EO%20CPC%20n%C3%A3o%20tem%20compet%C3%AAncia%20normativa%2C%20raz%C3%A3o%20pela%20qual%20nece

Questão 2

(Adaptada de FCPC - 2019 - Unilab - Técnico em Contabilidade) Baseado no


Metódo das Partidas Dobradas, criado no século XVI pelo frade franciscano
Luca Paciolo, podemos afirmar que

A não existe débito sem crédito correspondente.

B haverá sempre um crédito e um débito de valores iguais.

existem para cada lançamento de débito, dois lançamentos de


C
créditos.

Sempre a soma dos valores creditados será igual a soma dos


D
valores debitados às contas envolvidas.

a soma dos valores creditados será sempre maior do que a


E
soma dos valores debitados às contas envolvidas.

Parabéns! A alternativa D está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3ESegundo%20Pacioli%2C%20%22nunca%20deve%20ser%20uma%20quantia%20entrada%20em%20cr%C3%A9dito%20qu

2 - Escolas de pensamento da contabilidade


Ao final deste módulo, você será capaz de comparar as escolas de pensamento da contabilidade:
europeias, norte-americana e brasileira.

Escolas de pensamento da
contabilidade
Já vimos que, embora os registros históricos que sugerem práticas contábeis
primitivas se percam no tempo, o início formal da contabilidade se dá com a
publicação da obra Summa di Aritmetica Geometria Proportioni et
Proportionalita, do frei italiano Luca Pacioli.

Página de rosto da Summa de aritmética, geometria, proporções e proporcionalidade por Luca Pacioli, edição
de 1523.

Vale lembrar que Pacioli não é o criador das técnicas publicadas em seu livro,
onde afirma que apenas descreveu técnicas largamente utilizadas pelos
comerciantes italianos, em particular o método das partidas dobradas. Apesar de
não ser o autor da técnica, Pacioli é o responsável por sua difusão. Com a
publicação de sua obra, a técnica básica de escrituração contábil ganhou a
Europa e tornou-se dominante.

Por esse motivo, alguns autores definem a publicação de Pacioli como o início do
pensamento científico da contabilidade (IUDÍCIBUS; MARION, 1999). Houve,
porém, poucos avanços dignos de nota, de modo que seria mais adequado
redefinir esse período de relativa estagnação como período pré-científico.

Contismo
Após Pacioli, mas ainda no período pré-científico, a primeira escola de
pensamento contábil relevante nasceu na França: o contismo (RICKEN, 2003).
Um dos participantes mais ativos dessa escola foi Matthieu La Porte que editou
o livro La science des négocians et teneurs de livres, em 1712. Segundo Lopes de
Sá (1997), a obra de Matthieu La Porte destaca-se por ter aberto o caminho para
uma supremacia da França, no século XVIII e em parte do XIX, sendo responsável
pela aceleração da mentalidade científica em contabilidade.

Até o início do século XIX, o contismo ainda possuía muitos seguidores, apesar
do surgimento de novas escolas (RICKEN, 2003). Somente nas primeiras décadas
desse século é que o contismo foi sufocado pela escola lombarda de Francesco
Villa e pela escola personalista, de Francesco Marchi e depois Giuseppe Cerboni,
difundidas principalmente na Itália.

A escola lombarda
A escola lombarda é considerada a primeira escola científica e é uma amostra do
vigoroso desenvolvimento que a contabilidade enfrentou no século XIX. Essa
escola é identificada pela obra La Contabilità applicata alie amministrazioni
private e pubbliche, de Francesco Villa, publicada em 1840. Esse autor busca
desvincular a contabilidade de uma abordagem "mecânica", somente com
números e lançamentos, para mostrá-la como uma fonte de informação
auxiliadora na gestão do negócio. Dessa forma, o fator que mais impulsionou o
desenvolvimento da escola lombarda foi a ligação estabelecida entre a
contabilidade e a administração, demonstrando o quanto a contabilidade pode
auxiliar no controle de gestão (RICKEN, 2003).

Ligação estabelecida entre a contabilidade e a administração.

A escola personalista
O próximo impulso no desenvolvimento da contabilidade veio novamente de
outra escola italiana: A escola personalista, cujo expoente era Francesco Marchi.
Essa corrente tinha ligação com conceitos jurídicos, pessoais, e também com a
administração. Foram os personalistas, por exemplo, que conceituaram a
entidade como um conjunto de direitos e obrigações, demonstrando assim que
as contas sempre se referem a fatos ligados às pessoas, pois os direitos e as
obrigações são também em relação a indivíduos (LOPES DE SÁ, 1997).

Uma variante da escola personalista foi a escola personalista das contas,


estabelecida por Giuseppe Cerboni, em 1873. Ele construiu a teoria personalista
das contas, a partir do trabalho de Marchi (RICKEN, 2003). O mesmo defendia
que a contabilidade, no fim do século XIX, já havia saído da era de transição pré-
científica, entrando definitivamente no estágio científico. Nesse estágio, ela não
mais simplesmente registrava e contava as riquezas, mas contribuía nas áreas
jurídica e administrativa das entidades.

Ligação estabelecida entre a área jurídica, contabilidade e a administração.

A teoria personalista teve extraordinário impulso com o trabalho desenvolvido por


Cerboni, que teve grande interesse pelo aspecto jurídico das relações entre o
proprietário e a entidade, aspecto esse não abordado no trabalho de Marchi. Ele
não abordou esse aspecto em seu trabalho e, por isso, é considerado o iniciador
da teoria personalista, enquanto Cerboni é o construtor (SCHMIDT, 2000). Na
teoria personalista, cada conta assume a configuração de uma pessoa no seu
relacionamento com a empresa ou entidade (NEVES; VICECONTI, 2009). Assim:

Podemos concluir, então, que as obrigações e o patrimônio líquido são pessoas


credoras e representam aquelas pessoas que têm a receber da sociedade,
enquanto os bens e direitos são pessoas devedoras em relação à entidade. Na
época, não existia o conceito de pessoa jurídica, tal como conhecemos
atualmente, e o comerciante era considerado o proprietário dos bens que adquiria
e comercializava. Os relacionamentos comerciais eram pessoais.

Dessa forma, o dinheiro que ele entregava ao banqueiro como depósito seria o
correspondente da moderna conta "Bancos conta movimento"; a importância que
ele devia a outro comerciante corresponderia à conta fornecedores e assim por
diante. Segundo essa teoria, as contas se classificam em contas dos:

Agentes consignatários: representam os bens das entidades.

Agentes correspondentes: representam os direitos e as obrigações da


entidade perante terceiros.

Proprietários: são as contas do patrimônio líquido e suas variações,


inclusive as receitas e despesas.

Embora dominante no século XIX, a escola personalista era alvo de críticas, cujos
principais argumentos eram:

adjust A contabilidade estava se transformando em um campo


com conteúdo excessivo por querer englobar toda a
administração da entidade.

adjust As funções econômicas variavam demasiadamente de uma


entidade para outra. Contudo, Cerboni pensava ter
encontrado um sistema de funções administrativas único,
que serviria para todas as entidades.
adjust Os administradores não podem ser considerados devedores
ou credores do proprietário; devem se responsabilizar
apenas pela gestão da empresa. Um embrião da teoria do
agente e principal.

Escola veneziana ou controlista


Do caldo resultante das críticas à escola personalista, surge a escola veneziana
ou controlista ou ainda teoria materialista, representada por Fabio Besta. Para
Besta, a administração econômica se distingue da geral, pois o objetivo principal
daquela é a produção de mais riqueza, enquanto o objetivo da administração
geral é apenas o ato de administrar ou organizar.

Diferentemente dos personalistas, os controlistas não utilizavam o raciocínio


jurídico, mas sim uma realidade materialista, motivo pelo qual estudaram a
organização administrativa de forma que pudessem defender o controle das
riquezas que era o que acreditavam ser correto (RICKEN, 2003). Para Fábio Besta,
de nada adianta ter somente um direito, se não é possível usufruir dele. É
necessário que o bem esteja de posse da empresa, para que ela possa considerá-
lo seu e de seu direito. O valor de uma coisa se refere à disponibilidade e ao seu
livre uso. Isso significa que sua posse jamais será plena se não lhe é assegurado
isto no presente e no futuro, sem limite de tempo, ou seja, enquanto durar.

Contas materiais Contas diferenciais


Representam bens direitos, Representam as contas do
obrigações. Também podem patrimônio líquido e suas
ser chamadas de contas variações, inclusive as
integrais. receitas e despesas.

O patrimônio é constituído pelas contas materiais ou integrais, ou seja, as contas


representativas dos bens, direitos e obrigações. As contas de patrimônio líquido,
que representam a diferença entre os bens os direitos e as obrigações são as
contas diferenciais.

Moderna escola italiana ou aziendalismo


A escola controlista é sucedida pela moderna escola italiana ou aziendalismo,
com destaque para a figura de Gino Zappa, que criticava os que faziam da
contabilidade um simples instrumento e propunha uma ciência da economia
aziendal, que deveria preocupar-se com todos os fenômenos aziendais,
assumindo a gestão e organização de toda azienda (RICKEN, 2003). Também
não achava correto ter uma posição totalmente pragmática, preocupando-se
somente com a forma de registrar e esquecendo-se da ciência que é a essência
da forma. Lopes de Sá (1997) também afirma que o aziendalismo foi uma
concepção que se formou lentamente ao longo dos anos, consolidando-se por
meio da contribuição de diversos estudiosos.

Escola patrimonialista
O impulso intelectual seguinte na sequência de desenvolvimento da
contabilidade é a escola patrimonialista de Vicenzo Masi. Fundamentada em
uma crítica ao argumento central do contismo, para o qual o registro das contas
era o mais importante dentro da contabilidade e, portanto, preocupavam-se mais
com a forma como o evento seria registrado do que com sua essência, o
patrimônio.

Ricken (2003) assinala que a sociedade sempre precisou registrar aquilo que
possuía por necessidade de se saber quantos eram seus bens e como melhor
administrá-los. Com isso, percebe-se que, de fato, o foco de preocupação sempre
esteve na riqueza e não no registro da riqueza. Dessa forma, o argumento central
do patrimonialismo sempre esteve presente, embora até aquele ponto não tivesse
sido reconhecido como escola de pensamento ou teoria.

Os patrimonialistas estendiam essa crítica a outras escolas além da contista,


como a personalista, a controlista e a aziendalista, pois alegavam que elas
também davam mais importância à forma (que é apenas a parte instrumental de
nossa disciplina, ou seja, os registros e as demonstrações) do que à essência
(que é a parte fundamental que deveríamos nos ocupar, ou seja, o estudo do
fenômeno patrimonial).

Segundo Neves e Viceconti (2009), na teoria patrimonialista, o patrimônio é o


objeto a ser administrado. Dividindo-se da seguinte maneira: as contas que
representam a situação estática são separadas das contas que representam a
situação dinâmica. Vejamos!

Contas patrimoniais Contas de resultado

Representam a situação Representam a situação


estática, ou seja, bens, dinâmica, ou seja, as contas
direitos, obrigações com close que alteram o patrimônio
terceiros e patrimônio líquido: receitas e despesas.
líquido.

Escola neocontista
A partir do fim do século XIX, a França novamente busca um patamar de
destaque na contabilidade, com a nova escola denominada neocontista. Essa
escola surge com um movimento que contraria o personalismo das contas
(Cerboni) e defende o valor delas.

Seu principal colaborador foi Jean Dumarchey que reelaborou o contismo como
corrente de pensamento. Segundo Dumarchey (1933) o valor é a pedra angular
da contabilidade. Para ele, a ideia de valor é que fundamenta a teoria da
escrituração contábil e das contas, que devem refletir o valor dos componentes
patrimoniais. Para Dumarchey, a contabilidade é uma ciência social, que apenas
usa a matemática para seu auxílio, assim como mantém relação com economia,
sociologia e filosofia.

Segundo a doutrina da escola neocontista, as contas são divididas em ativo,


passivo e situação líquida. As contas do ativo e do passivo são representadas
por valores concretos (ou valores diretos ou reais), e a conta da situação líquida é
representada por valores abstratos (ou derivados) (SCHMIDT, 2000).

Decadência da escola europeia


Para Iudícibus (1997), os defeitos da escola europeia podem ser resumidos da
seguinte forma:
I. Falta de pesquisa indutiva sobre a qual efetuar generalizações mais
eficazes.

II. Preocupação com a demonstração de que a contabilidade é ciência,


deixando de conhecer bem as necessidades informativas dos vários
usuários da informação contábil e construir um sistema contábil de
informação adequado.

III. Ênfase na teoria das contas, isto é, no uso exagerado das partidas
dobradas, inviabilizando, em alguns casos, a flexibilidade, necessária,
principalmente, na contabilidade gerencial.

IV. Teorias com pouca aplicação, talvez por imaturidade do sistema


econômico e Institucional.

V. Piora do nível das principais faculdades, principalmente italianas, com


professores mal remunerados e trabalhando de forma independente, dando
expansão mais a imaginação do que a pesquisa séria.

Enquanto declinavam as escolas europeias, florescia a escola norte-americana


com suas teorias e práticas contábeis, favorecida não apenas pelo apoio de uma
ampla estrutura econômica e política, mas também pela pesquisa e trabalho
sério dos órgãos associativos (AMORIM, 1999).

A escola norte-americana de
contabilidade
A escola norte-americana ergueu-se com toda força, principalmente, com o
desenvolvimento industrial. A escola desenvolvia-se por meio da atuação das
associações, com grande ênfase em satisfazer os vários usuários da
contabilidade.

A escola tem como principal característica seu aspecto prático, que trata dos
aspectos gerenciais (como contabilidade de custos, controle orçamentário,
análise de demonstrações contábeis e outros), mas também trata dos aspectos
financeiros da Contabilidade. Nos aspectos teóricos, a escola norte-americana
voltou-se para a explicação da prática contábil.

Um dos principais pontos que também fizeram com que essa escola pendesse
para o lado prático foi a época em que ela surgiu. Nesse período, a demanda por
informações gerenciais (para fins de gestão e administração das empresas) e
também de informações financeiras (para atender a acionistas, investidores,
credores e ao governo) era muito intensa. Com isso, a contabilidade passava a ter
um papel cada vez mais complexo dentro das organizações. Segundo Iudícibus e
Marion (1999) e Iudícibus (1997), algumas razões da ascensão da escola norte-
americana são:

Ênfase no usuário da informação contábil: a contabilidade é


apresentada como algo útil para a tomada de decisões; atender os
usuários é o grande objetivo.

Ênfase na contabilidade aplicada: principalmente na contabilidade


gerencial. Ao contrário dos europeus, não havia uma preocupação com
a teoria das contas, ou em querer provar que a contabilidade é uma
ciência.

Atribuição de importância à auditoria: a preocupação com a


transparência para os investidores das sociedades anônimas (e outros
usuários) nos relatórios contábeis deu à auditoria uma importância
central.

Procura das universidades em busca da qualidade: grandes quantias


foram dedicadas para as pesquisas no campo contábil.
O grande avanço e o refinamento das instituições econômicas e sociais.

O investidor médio é um homem que deseja estar permanentemente


bem informado, sobretudo no curto prazo, mas também no médio e no
longo prazos. Essa demanda exige dos preparadores de demonstrações
financeiras a capacidade de evidenciar tendências.

O governo, as universidades e os corpos associativos de contadores


empregam grandes quantias para pesquisas sobre princípios contábeis.

O Instituto dos Contadores Públicos Americanos é um órgão atuante em


matéria de pesquisa contábil, ao contrário do que ocorre em outros
países.

Você percebe o interesse da escola norte-americana em satisfazer os usuários


contábeis, sejam eles quais forem, empresários, acionistas, governo e outros?

A escola brasileira de contabilidade


Veremos a seguir as raízes da contabilidade no Brasil:

Considera-se que a escola aziendalista foi a primeira escola que


oficialmente ensinou contabilidade em nosso país, baseando-se
principalmente nas obras de Fabio Besta, como você já viu.

A decadência das escolas europeias, acompanhada pela ascensão da


escola norte-americana, porém, também teve consequências no Brasil.

Gradualmente, a influência externa sobre a escola brasileira foi


migrando da escola italiana para a escola norte-americana. Segundo
Marion (1986), a mudança de enfoque da Escola Italiana para a escola
norte-americana deu-se em função da influência de algumas empresas
de auditoria, que acompanhavam as multinacionais norte-americanas.

Multinacionais norte-americanas
As multinacionais, por meio de manuais de procedimentos e treinamento,
formaram profissionais que preparariam as normas contábeis em nível
governamental, influenciando, assim, as empresas menores, incluindo
legisladores e outros.

Para Schmidt (2000), a contabilidade nacional pode ser dividida entre antes de
1964 e depois de 1964. O autor observa que o ano de 1976 marcou uma nova
fase para o desenvolvimento da contabilidade brasileira com a publicação da
nova Lei das Sociedades por Ações.

Antes desse momento histórico, a escola brasileira sofria maior influência das
escolas europeias; depois dele, passou a ser mais influenciada pela escola norte-
americana. A convergência brasileira às normas internacionais de contabilidade
por meio da Lei n. 11.638/07 aproximou a escola brasileira das escolas anglo-
saxãs de maneira definitiva. A uniformização decorrente do processo de
convergência eliminará as particularidades locais em prol de uma escola de
contabilidade única, internacional.

video_library Escolas de pensamento da contabilidade


Confira agora, em linhas gerais, as principais escolas de pensamento da
contabilidade.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

(Adaptada de Cespe - 2016 - Polícia Científica - PE - Perito Criminal - Ciências


Contábeis) A contabilidade como ciência do patrimônio é concepção da
escola contábil

A aziendalista.

B patrimonialista.

C contista.

D personalista.

E personalista e contista.

Parabéns! A alternativa B está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3ENa%20teoria%20patrimonialista%2C%20o%20patrim%C3%B4nio%20%C3%A9%20o%20objeto%20a%20ser%20administra

Questão 2

(Adaptada de Enade - 2015) As áreas do conhecimento embasam-se em


pressupostos e métodos científicos de diversas escolas de pensamento.
Especificamente na área da contabilidade, as escolas de pensamento norte-
americana e italiana são as principais correntes em que se fundamenta a
contabilidade brasileira. Acerca dessas escolas, assinale a opção correta.

A italiana enfatiza a abordagem informacional, enquanto a


A escola norte-americana confere grande importância à
sistematização do plano de contas.

A norte-americana adota a visão estabelecida pelo


neopatrimonialismo, enquanto a escola italiana assume como
B
principal foco a geração das informações contábeis para seus
diversos usuários.
A italiana prioriza as necessidades dos usuários das
informações contábeis, enquanto a escola norte-americana
C
demonstra excessiva preocupação em caracterizar a
contabilidade como ciência.

A norte-americana considera a contabilidade uma fornecedora


de informações econômicas relevantes para os diversos
D usuários, enquanto a escola italiana defende que a
contabilidade deve estudar apenas os eventos que afetam o
patrimônio das entidades.

A italiana considera a contabilidade uma fornecedora de


informações econômicas relevantes para os diversos usuários,
E enquanto a escola norte-americana defende que a
contabilidade deve estudar apenas os eventos que afetam o
patrimônio das entidades.

Parabéns! A alternativa D está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EA%20escola%20norte-americana%20volta-
se%20%C3%A0%20presta%C3%A7%C3%A3o%20da%20informa%C3%A7%C3%A3o%20cont%C3%A1bil%20%C3%BAtil%2C%20amparada

3 - Construção teórica da contabilidade


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar a construção teórica da contabilidade por meio de
postulados, princípios e convenções.

Os princípios da contabilidade
Em 4 de outubro de 2016, o CFC revogou as resoluções nº 750/93 e nº 1.282/10,
que estabeleciam os enunciados dos princípios fundamentais de contabilidade.
No presente, a estrutura conceitual básica da contabilidade é fornecida pelo CPC
00 – Estrutura Conceitual.

Não é possível, porém, dizer que os princípios de contabilidade deixaram de


existir. Os conceitos subjacentes a esses princípios, que derivam dos postulados
contábeis, permeiam os pronunciamentos e o domínio de seus fundamentos
continua necessário. Embora formalmente substituídos pela Estrutura Conceitual,
continuam citados em livros e artigos acadêmicos.
Postulado
Vamos começar entendendo o que é postulado. Para isso, observe as definições
a seguir:

Iudícibus (2009) define que postulados são proposições ou observações


de certa realidade não sujeitas à verificação e constituem a lei maior da
contabilidade, pois definem o ambiente econômico, social e político no
qual atua, o seu objeto de estudo e a sua existência no tempo.

Riahi-Belkaoui (2000) observa que os postulados contábeis geralmente


são aceitos pela virtude da sua conformidade com os objetivos das
demonstrações financeiras, que retratam o ambiente econômico,
político, social e legal no qual a contabilidade deve funcionar. Pode-se
resumir essa visão afirmando que os postulados são enunciados mais
genéricos que dispensam explicações, aos quais se ligam os princípios
e as convenções.

Portanto, é correto dizer que os postulados representam alicerces sobre os quais


se desenvolve o raciocínio contábil, isto é, os postulados são balizadores
essenciais para o alcance dos objetivos propostos. São dois os postulados de
contabilidade consagrados no Brasil. Vejamos!

Postulado da entidade
O postulado da entidade estabelece o patrimônio como o objeto da
contabilidade. Afirma a necessidade de diferenciação entre o patrimônio próprio e
o patrimônio da entidade jurídica, independentemente de pertencer a uma
pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer
natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. É imprescindível distinguir
corretamente a pessoa física da pessoa jurídica.

Conceituar entidade contábil é importante porque define o campo de interesse e,


em consequência, delimita os objetivos e atividades possíveis, assim como os
atributos correspondentes que podem ser escolhidos para inclusão nos relatórios
financeiros (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999). Um enfoque à definição da
entidade contábil consiste em determinar a unidade econômica que exerce
controle sobre recursos, aceita responsabilidade por assumir e cumprir
compromissos e conduz a atividade econômica.

Nesses termos, uma entidade contábil


pode, teoricamente, ser constituída a
partir de qualquer organização
humana com existência formal na
realidade ou não. Pode ser uma
pessoa física, uma empresa, um
município, um estado, ou um país. O
patrimônio é condição fundamental
para a existência da entidade contábil,
ou seja, apenas quando o patrimônio
está juridicamente formalizado como
pertencente à entidade poderá ser
objeto da contabilidade. Essa
exigência restringe o escopo de
aplicação do conceito de entidade às
entidades formalmente constituídas.
Naturalmente, o patrimônio pode ser decomposto em partes, segundo os mais
variados critérios, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, assim como
o patrimônio de diversas entidades independentes pode ser agregado para
constituir um grupo econômico. Tudo em nome do interesse do usuário da
informação contábil. Contudo, nenhuma rearrumação do patrimônio dará origem
a novas entidades. Nesses casos, o que se obtém são unidades de natureza
econômico-contábil.

Avançando do abstrato para o


concreto, pense numa pessoa física
constituída como microempreendedor
individual (MEI). Considerando que o
MEI exerce controle sobre recursos,
aceita responsabilidade por assumir e
cumprir compromissos e conduz a
atividade econômica, o MEI é uma
entidade contábil, embora seja uma
pessoa física.

Pense, agora, em um exemplo contrário: o grupo econômico Petrobras, com mais


de uma centena de empresas sob controle da holding. Cada uma dessas
empresas é uma entidade contábil independente com patrimônio juridicamente
formalizado. Interessa, no entanto, ao usuário da informação contábil uma visão
consolidada do grupo econômico, o que motiva a formação de uma unidade de
natureza econômico-contábil, representada pela consolidação do grupo
econômico Petrobras numa única "empresa" reunindo as informações de todas
as empresas integrantes do grupo.

Tal "empresa" não possui autonomia sobre o patrimônio, razão pela qual não
forma uma entidade contábil. De maneira similar, o interesse do usuário final da
informação contábil do grupo Petrobras pode voltar-se para a atuação da
empresa em setores específicos da economia. Nesse sentido, as informações das
empresas do grupo que atuem em segmentos econômicos específicos são
consolidadas numa única "empresa", formando também uma unidade de
natureza econômico-contábil, mas não uma entidade.

O patrimônio de uma entidade é o conjunto de bens, direitos e de obrigações para


com terceiros juridicamente formalizados como pertencentes à entidade. O
patrimônio pertence à entidade e não se confunde com o patrimônio dos sócios.
Do patrimônio deriva o conceito de patrimônio líquido, mediante a equação
considerada básica na contabilidade, conforme abaixo:

(Bens + Direitos) - Obrigações = patromônio líquido

O patrimônio líquido não é uma dívida da entidade para com seus sócios ou
acionistas, pois eles não emprestam recursos para que ela possa ter vida própria;
os recursos são entregues à entidade para que formem seu patrimônio.

Postulado da continuidade
O postulado da continuidade prevê que o processo contábil deve ser
desenvolvido supondo-se que a entidade nunca terá um fim, ou seja, não tem
prazo estimado de duração. A suspensão das suas atividades pode provocar
efeitos na utilidade de determinados ativos, com a perda, até mesmo integral, de
seu valor. A queda no nível de ocupação pode também provocar efeitos
semelhantes.

De maneira geral, as entidades contábeis são constituídas para atuar por um


período indeterminado (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999). A implicação imediata
dessa premissa é que a entidade contábil continuará funcionando por tempo
suficiente para cumprir seus compromissos existentes. O conceito fundamental
de continuidade fundamenta a utilização do custo histórico como base de valor.
As implicações do conceito da continuidade, também denominado going
concern, na composição do patrimônio da entidade, são mais bem
compreendidas quando utilizamos seu contrário.

Exemplo

Pense em uma empresa que cessou suas atividades, portanto, teve sua
continuidade interrompida e vamos avaliar seus efeitos. Os ativos avaliados pelo
custo histórico devem ser reavaliados pelo preço de liquidação, ou venda forçada.
Dessa forma, todo o imobilizado deve sofrer um impairment correspondente à
diferença entre o custo histórico e o valor de venda forçada. Ativos diferidos, ou
seja, despesas reconhecidas como ativos em obediência ao conceito da
competência (visto mais à frente), devem ser baixados como despesa, uma vez
que a atividade operacional que geraria as receitas futuras que amparam o
registro do ativo não acontecerão. A redução do valor do patrimônio líquido da
entidade é a contrapartida contábil desses eventos e revela o valor embutido na
presunção de continuidade.

Princípios
A ciência contábil sustenta-se em princípios. Princípios são verdades
fundamentais; uma lei ou doutrina abrangente, da qual outras decorrem, ou nas
quais outras estão baseadas; uma verdade geral; uma proposição básica ou
premissa fundamental; uma máxima; um axioma; um postulado. São, portanto,
uma lei ou regra geral considerada diretriz de ação; uma base aceita de conduta
ou prática. É preciso diferenciar os princípios em sua concepção filosófica das
concepções legais definidas nas estruturas conceituais do regramento contábil
(IUDÍCIBUS et al., 2020).

Os princípios originaram-se da necessidade de transformar a abstração dos


postulados em elementos práticos que disciplinassem o comportamento do
profissional de contabilidade, no curso de suas atividades de escrituração dos
fatos e transações e elaboração de demonstrativos. Além disso, os princípios
permitiriam aos demais usuários estabelecer parâmetros de comparação e
credibilidade, a partir dos critérios adotados na elaboração dessas
demonstrações. A última versão dos princípios de contabilidade anterior à
revogação, elencava os seguintes princípios:

Entidade

Continuidade

Oportunidade

Princípio do custo como base de valor

Competência

Prudência

Convenções
Convenções são conceitos que servem como um guia para o profissional da área
contábil, normatizando padrões de conduta na hora de escriturar os fatos
contábeis, tais como:

Objetividade Conservadorismo
Materialidade Evidenciação
Valor preditivo das demonstrações
contábeis
O valor preditivo da informação contábil deriva da característica qualitativa
fundamental de relevância. Nos termos da Estrutura Conceitual, a informação
contábil-financeira será relevante quando fizer diferença nas tomadas de
decisões dos usuários das informações contábeis e, para isso, deve ter valor
preditivo, valor confirmatório ou ambos.

Uma informação contábil-financeira possui valor preditivo quando puder ser


utilizada como um dado de entrada em processos utilizados pelos usuários para
predizer resultados futuros da entidade que reporta a informação. Essa
informação com valor preditivo não precisa ser uma predição ou uma projeção,
mas deve permitir que os usuários possam fazer suas próprias predições.

Do ponto de vista do FASB, normatizador norte-americano, o conceito de valor


preditivo é definido como a qualidade da informação em auxiliar os usuários a
aumentar a probabilidade de realização de previsões corretas sobre os efeitos de
eventos passados e presentes (FASB, 1990). O American Accounting Association
Committee (AAAC), citado por Hendriksen e Van Breda (1999), sugere a existência
de ao menos quatro caminhos pelos quais a informação contábil apresentaria
valor preditivo. Veja a seguir um resumo de todos eles:

Direto: Previsões feitas com base em fluxos de caixa projetados.

Indireto: Previsões feitas com base em fluxos de caixa passados.

Indicadores de orientação: Fornecimento de informações que definem


tendências de comportamento, como, por exemplo, resultados negativos
levando à deterioração de fluxos de caixa.

Informação comprovadora: Fornecimento de variáveis de natureza


contábil que podem ser usadas para prever outras variáveis. São
informações com elevado poder explicativo, como resultados positivos
recorrentes supõem uma boa gestão da entidade.

Como exemplo de valor preditivo da informação contábil, podemos citar:

Os investidores que avaliam empresas (valuation) com base em


informações contábeis.

O efeito que as informações contábeis causam na cotação de empresas


quando as demonstrações contábeis são divulgadas.

De forma semelhante, é a partir de informações sobre o estado financeiro atual


de uma companhia e das mudanças observadas nesse estado que previsões de
sucesso, fracasso, crescimento ou estagnação podem ser inferidas. Os usuários
da informação contábil preferem fontes de informação e métodos analíticos que
tenham maior valor preditivo para atender a seus objetivos específicos. Valor
preditivo, aqui, significa valor como input num processo preditivo, e não, como
uma previsão direta.

A pesquisa acadêmica em contabilidade é rica em exemplos do caráter preditivo


da informação contábil. A partir da análise de 255 empresas listadas na Brasil
Bolsa Balcão, Teixeira et al. (2013) descrevem o valor preditivo das
demonstrações contábeis como forma de segregar as empresas lucrativas das
intermediárias e, por extensão, das deficitárias. Os autores concluíram que há um
valor de previsão alto nos índices calculados a partir dos demonstrativos
contábeis, identificando a composição do endividamento como principal fonte de
segregação das entidades analisadas.
Essência sobre a forma
A prevalência da essência sobre a forma se conecta à característica qualitativa
da informação financeira útil denominada representação fidedigna. Para serem
úteis, informações financeiras não devem apenas representar fenômenos
relevantes, mas também representar de forma fidedigna a essência dos
fenômenos que pretendem representar. Quando essência e forma não forem as
mesmas, a essência deve ser privilegiada para que o fenômeno econômico seja
representado de maneira fidedigna.

A investigação superior da contabilidade, aliada à sua técnica e lógica, tende a


aplicar o princípio da essência sobre a forma, a fim de obter uma autônoma
interpretação dos fatos que ocorrem no patrimônio (SILVA, 2011). O princípio da
essência sobre a forma regula como entender substancialmente um
acontecimento, no seu funcionamento real, de existência, de interpretação, sobre
a sua forma de expressão (SILVA, 2011).

A forma é a materialização da essência, ou sua manifestação demonstrativa; se


o fato acontece, há uma essência, e o registro é uma forma de torná-lo inteligível,
então, o primeiro passo para se ver a forma é que a essência exista como
fenômeno.

Para que haja essência sobre a forma, deve haver realidade, existência,
substância, mas em conexão com os fenômenos patrimoniais. Deve, portanto,
haver o fato, sem o qual não há como avançar em qualquer análise.

Normas Brasileiras de
Contabilidade: profissionais e
técnicas
As Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) são um conjunto de regras
editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) cujo propósito é
regulamentar a atividade contábil no Brasil. Os padrões definidos pelas NBC
definem as diretrizes de conduta ética e norteiam tecnicamente a aplicação dos
procedimentos contábeis. As NBC dividem-se em duas categorias:

Técnica Profissional
Esta categoria junta os Esta categoria regulamenta as
detalhes relacionados aos ações dos contadores em seu
conceitos e procedimentos da exercício.
área.

As NBC seguem os mesmos padrões de elaboração e estilo utilizados nas


normas internacionais e compreendem as normas propriamente ditas, as
Interpretações Técnicas e os Comunicados Técnicos. Veja a seguir um extrato
dos principais pontos das NBC:

Normas Brasileiras de Contabilidade Profissional expand_more

As Normas Brasileiras de Contabilidade Profissionais se estruturam


conforme segue:
I - Geral - NBC PG - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas
indistintamente a todos os profissionais de Contabilidade;
II - do Auditor Independente - NBC PA - são as Normas Brasileiras de
Contabilidade aplicadas, especificamente, aos contadores que atuam
como auditores independentes;
III - do Auditor Interno - NBC PI - são as Normas Brasileiras de
Contabilidade aplicadas especificamente aos contadores que atuam
como auditores internos;
IV - do Perito - NBC PP - são as Normas Brasileiras de Contabilidade
aplicadas especificamente aos contadores que atuam como peritos
contábeis.

A estrutura das Normas Brasileiras de Contabilidade foi definida através


da Resolução CFC 1.328/2011.

Normas Brasileiras de Contabilidade Técnica expand_more

As Normas Brasileiras de Contabilidade Técnica se estruturam conforme


segue:

I - Geral - NBC TG - são as Normas Brasileiras de Contabilidade


convergentes com as normas internacionais emitidas pelo International
Accounting Standards Board (Iasb); e as Normas Brasileiras de
Contabilidade editadas por necessidades locais, sem equivalentes
internacionais.

As NBC TG são segregadas em:

a) normas completas que compreendem as normas editadas pelo CFC a


partir dos documentos emitidos pelo CPC que estão convergentes com as
normas do Iasb, numeradas de 00 a 999.
b) normas simplificadas para PMEs que compreendem a norma de PME
editada pelo CFC a partir do documento emitido pelo Iasb, bem como as
ITs e os CTs editados pelo CFC sobre o assunto, numerados de 1000 a
1999.
c) normas específicas que compreendem as ITs e os CTs editados pelo
CFC sobre entidades, atividades e assuntos específicos, numerados de
2000 a 2999.

II - do Setor Público - NBC TSP - são as Normas Brasileiras de


Contabilidade aplicadas ao Setor Público, convergentes com as Normas
Internacionais de Contabilidade para o Setor Público, emitidas pela
International Federation of Accountants (Ifac); e as Normas Brasileiras de
Contabilidade aplicadas ao Setor Público editadas por necessidades
locais, sem equivalentes internacionais.
III - de Auditoria Independente de Informação Contábil Histórica - NBC TA -
são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas à Auditoria
convergentes com as Normas Internacionais de Auditoria Independente
emitidas pela Ifac.
IV - de Revisão de Informação Contábil Histórica - NBC TR - são as
Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas à Revisão convergentes
com as Normas Internacionais de Revisão emitidas pela Ifac.
V - de Asseguração de Informação Não Histórica - NBC TO - são as
Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas à Asseguração
convergentes com as Normas Internacionais de Asseguração emitidas
pela Ifac.
VI - de Serviço Correlato - NBC TSC - são as Normas Brasileiras de
Contabilidade aplicadas aos Serviços Correlatos convergentes com as
Normas Internacionais para Serviços Correlatos emitidas pela Ifac.
VII - de Auditoria Interna - NBC TI - são as Normas Brasileiras de
Contabilidade aplicáveis aos trabalhos de Auditoria Interna.}
VIII - de Perícia - NBC TP - são as Normas Brasileiras de Contabilidade
aplicáveis aos trabalhos de Perícia.
IX - de Auditoria Governamental - NBC TAG - são as Normas Brasileiras de
Contabilidade aplicadas à Auditoria Governamental convergentes com as
Normas Internacionais de Auditoria Governamental emitidas pela
Organização Internacional de Entidades Fiscalizadoras Superiores
(Intosai).

Interpretação Técnica e Comunicado Técnico expand_more

A Interpretação Técnica tem por objetivo esclarecer a aplicação das


Normas Brasileiras de Contabilidade, definindo regras e procedimentos a
serem aplicados em situações, transações ou atividades específicas, sem
alterar a substância dessas normas.

O Comunicado Técnico tem por objetivo esclarecer assuntos de natureza


contábil, com a definição de procedimentos a serem observados,
considerando os interesses da profissão e as demandas da sociedade.

Inobservância expand_more

A inobservância às Normas Brasileiras de Contabilidade constitui infração


disciplinar sujeita às penalidades previstas nas alíneas de "c" a "g" do art.
27 do Decreto-Lei nº 9.295/46, alterado pela Lei nº 12.249/10, e ao
Código de Ética Profissional do Contador.

Postulados, princípios e convenções da


video_library contabilidade
Compreenda, em linhas gerais, os principais postulados, princípios e convenções
da contabilidade.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

(Adaptada de Consulplan - 2017 - TRF - 2ª Região - Analista Judiciário -


Contadoria) A Resolução CFC nº 1.374/2011 apresenta, entre outros, os
conceitos das características qualitativas da informação contábil-financeira
útil; uma dessas características é a relevância. Sobre ela, a resolução afirma
que uma informação, para ser relevante, deve ter valor preditivo, valor
confirmatório ou ambos. De acordo com a Resolução CFC nº 1.374/2011, a
informação contábil-financeira tem valor preditivo se
A somente for uma predição ou uma projeção.

B for confirmada pela informação confirmatória.

não for capaz de retroalimentar – servir de feedback –


C
avaliações prévias (confirmá-las ou alterá-las).

puder ser utilizada como dado de entrada em processos


D
empregados pelos usuários para predizer futuros resultados.

E somente for uma predição.

Parabéns! A alternativa D está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EO%20valor%20preditivo%20pressup%C3%B5e%20a%20utiliza%C3%A7%C3%A3o%20da%20informa%C3%A7%C3%A3o%2

Questão 2

(Adaptada de Iades - 2019 - CRF-RO - Contador) Na contabilidade brasileira,


em decorrência do processo de convergência para as normas internacionais,
passou a prevalecer o princípio da essência sob a forma, isto é, o registro deve
ter base na realidade econômica da transação, independentemente da forma
jurídica. Com base nessa informação, as duplicatas descontadas classificam-
se em

A passivo.

B ativo circulante.

C contas de compensação.

D contas de resultado.

E patrimônio líquido.

Parabéns! A alternativa A está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EQuando%20ess%C3%AAncia%20e%20forma%20n%C3%A3o%20forem%20as%20mesmas%2C%20a%20ess%C3%AAncia

Considerações finais
Neste material, vimos a evolução histórica da contabilidade e a longa transição
de uma perspectiva de controle do patrimônio para outra de prestação de
informações. Esse caminhar revela-se na queda das escolas europeias e na
ascensão da escola norte-americana, uma perspectiva particular sobre as
escolas de pensamento da contabilidade. A prevalência do valor preditivo da
informação contábil e da essência sobre a forma representam a vitória da
abordagem informacional sobre a abordagem puramente patrimonial.

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A história da contabilidade é rica em eventos que provocaram mudanças
estruturais em sua abordagem. Nas sugestões de leitura a seguir, são
apresentadas a evolução histórica da contabilidade, com destaque para as
rupturas no pensamento e prática da contabilidade que a transformaram no que
é hoje. Confira:

História do pensamento contábil: com ênfase na história da contabilidade


brasileira, de Antonio Carlos Ribeiro da Silva e Wilson Thomé Sardinha Martins.

A history of accounting and accountants, de Richard Brown.

Reflexões sobre as bases filosóficas dos princípios contábeis, de Iudícibus e


outros autores.

Análise discriminante como preditiva de dificuldades financeiras em empresas


brasileiras do mercado acionário, de Teixeira e outros autores.

Referências
AMORIM, L. P. A evolução histórica dos cursos de contabilidade em Santa
Catarina. Florianópolis: CRCSC, 1999.

DANTAS, J. A.; NYIAMA, J. K.; RODRIGUES, F.; MENDES, P. C. Normatização


contábil baseada em princípios ou em regras? Benefícios, custos, oportunidades
e riscos. RCO – Revista de Contabilidade e Organizações, FEA-RP/USP, v. 4, n. 9,
p. 3-29, 2010.

DUMARCHEY, J. Teoria Positiva da Contabilidade. 2. ed. Revista de Contabilidade


e Comércio, Porto, 1933.

HENDRIKSEN, E.; VAN BREDA, M. Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas,


1999.
IUDÍCIBUS, S. Contabilidade Gerencial. 6. ed. reimpr. São Paulo: Atlas, 2009.

IUDÍCIBUS, S. Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 1997; 1999.

LOPES DE SÁ, A. História geral e das doutrinas da contabilidade. São Paulo:


Atlas, 1997.

MARION, J. C. Metodologia de Ensino da Contabilidade (ou geral). Revista


Brasileira de Contabilidade, v. 16, n. 57, p. 7-9, 1986.

NEVES, S.; VICECONTI, P. Contabilidade básica. 14. ed. São Paulo: Frase, 2009.

RIAHI-BELKAOUI, A. Accounting Theory. USA: Cengage Learning EMEA, 2000.

RICKEN, L. S. Principais diferenças entre as escolas europeia e norte-americana


e a influência destas escolas no Brasil. Monografia (Curso de Ciências
Contábeis) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.

SCHIPPER, K. Principles-Based Accounting Standards. Accounting Horizons, v.


17, p. 61-72, 2003.

SCHMIDT, P. História do Pensamento Contábil. Porto Alegre: Bookman, 2000.

SCOTT, W. Financial Accounting Theory. 7. ed. Toronto: Pearson, 2015.

SIDEBOTHAM, R.; BROWN, R.; CHANDLER, G.; DAVIS. W. A. Introduction to the


Theory and Context of Accounting. Oxford: Elsevier, 1970.

SILVA, A. O Princípio da essência sobre a forma e o leasing. Revista Mineira de


Contabilidade, Belo Horizonte, ano 12, n. 41, p. 34-41, 2011.

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