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Com a derrota militar francesa em Portugal e na Península Ibérica, foi retomado em Portugal
o regime de Monarquia Absoluta.
Forma de exercício do poder constituinte
O Parlamento, designado por Cortes, tinha estrutura unicameral e era eleito bienalmente
por voto censitário (os eleitores teriam de deter bens provenientes de atividades
económicas) e capacitário (não tinham capacidade eleitoral ativa, de entre outros, as
mulheres, os analfabetos, os criados, os vadios e não dispunham de capacidade eleitoral
passiva, para além destes, os bispos, os magistrados, os falidos, e outras categorias.
D. João VI acabo por ser forçado a dissolver as Cortes e a revogar a Constituição, em 1823,
sendo nomeada uma Junta Preparatória, chefiada por Palmela, para elaborar uma Carta
Constitucional.
A Carta Constitucional de 1826
Contexto histórico-político
Para selar o compromisso político, D. Pedro outorgou uma Constituição aos portugueses,
que tinha, previamente, outorgado ao Brasil. A Carta espelhava um efetivo equilíbrio entre
o tradicionalismo e o liberalismo.
Forma do exercício do Poder Constituinte
O Rei era, igualmente, chefe do poder Executivo dispondo, de largas faculdades para, por
exemplo, nomear altos funcionários, chefias militares, executar as leis e curar da segurança
interna e externa do Estado.
O poder legislativo era exercido pelas Cortes, assumindo estas uma estrutura bicameral,
que eram integradas por uma Câmara de Pares, nomeados sem número fixo pelo Monarca
e por uma Câmara de Deputados, com um mandato de 4 anos e eleitos por voto indireto,
censitário e capacitário.
O poder judicial era qualificado como um poder independente, sendo composto por juízes
e jurados.
Direitos fundamentais
O controlo de constitucionalidade era exercido por via política através das Cortes e do
próprio Monarca.
Vigência: as três “vidas” da Carta
A primeira e efémera vigência da Carta teve lugar entre Julho 1826 e Maio de 1828.
A segunda e não menos curta vigência teve lugar entre 1824, data da derrota dos
absolutistas, do exílio de D. Miguel e da entronização de D. Pedro como Rei de Portugal e o
ano de 1836, em que, depois da sua morte, uma revolução de democratas-radicais dirigida
pelo Marechal Saldanha pretendeu repor em vigência a Constituição de 1822.
A terceira vigência da Carta, essa particularmente longa, teve lugar entre o ano de 1842 e
a revolução republicana de 1910 que derrubou a monarquia. Durante o terceiro ciclo de
vigência a Carta experimentou diversas revisões (1852 e 1885-1886).
É então convocada uma Assembleia Constituinte, no mesmo ano, com o propósito de rever
a Constituição de 1822, acabando o processo por resvalar para a feitura de outra
Constituição que começou por pretender ser um compromisso entre cartistas e vintistas.
Forma de exercício do poder constituinte
O Parlamento possuía uma estrutura bicameral, sendo composto por uma Câmaras de
Deputados e um Senado. A Câmara de Deputados era designada por sufrágio direto,
restrito e censitário, sendo os deputados eleitos com um mandato de 3 anos e sendo exigível
para que se pudesse ser eleito, ser-se detentor de uma renda de 400 mil reis. Os senadores
eram eleitos por sufrágio direto, restrito e censitário, com um mandato de 6 anos, devendo
renovar-se metade do Senado sempre que se registassem eleições para a Câmara de
Deputados. Vigorava, também, um regime capacitário no Senado, na medida em que,
para se poder se eleito senador, necessário seria integrar uma categoria de notabilidades
estatutárias e profissionais, como grandes proprietários e comerciantes, embaixadores,
oficiais generais, juízes do Supremo Tribunal, bispos e professores universitários de certas
Escolas.
As leis eram deliberadas mediante o voto das duas câmaras.
O poder jurisdicional pertencia aos tribunais e era exercido por juízes e jurados, podendo
também integrar juízes de paz.
A Constituição experimentou uma vigência perturbada que mediou entre 1838 e 1842,
nunca tendo sido aceite pela elite política.
Em 1842, por via de um golpe militar, Costa Cabral, colidera um governo de ditadura e
abole a Constituição de 1936, impondo a terceira vigência da Carta.
A Constituição Republicana de 1911
Contexto histórico-político
No dia 5 de outubro de 1910 rebenta em Lisboa uma revolução republicana que triunfa.
José Relvas proclama a República.
Forma de exercício do poder constituinte
O exercício do poder constituinte assumiu uma forma autocrática de tipo convencional.
O Presidente da República era eleito pelo Congresso, em sessão conjunta, por um mandato
de 4 anos, não podendo ser reeleito. As suas funções eram, essencialmente,
representativas, certificatórias e, residualmente, arbitrais. Não dispunha da faculdade de
dissolver as câmaras do Congresso nem de vetar as leis (nem sequer de requerer a
reapreciação).
Tentativas de formar Governo fora do arco da confiança dos partidos não eram bem
sucedidas. O poder imenso do Parlamento abatia-se sobre o Governo, pois os Ministros
estavam vinculados a comparecer nas sessões do Congresso, estando os membros do
Executivo sujeitos a votos de confiança ou desconfiança das câmaras. O Governo só
subsistia se obtivesse a confiança das duas câmaras do Congresso, mas chegava a demitir-
se quando era colocado em minoria numa só câmara. Partidos da oposição obstruíam o
Ministério e quando não o logravam derrubar recorriam ao golpe de estado. Sucederam-
se múltiplos executivos frágeis com um partido dominante: o Partido democrata-radical de
Afonso Costa.
O Presidente da República passou a ser eleito diretamente por sufrágio universal, entre
cidadãos do sexo masculino, e dispunha de competência para nomear e demitir os
ministros, sendo a cabeça do poder Executivo. No que respeita ao Congresso, alterou-se a
estrutura e composição do Senado concebido como câmara travão, composto por 49
senadores eleitos pelas províncias e 28 por seis categorias profissionais (envolvendo esta
componente da composição do órgão, um primeiro ensaio da instituição de uma câmara
corporativa). Este sistema presidencialista desmoronou-se em 1918. O Parlamento repôs a
velha Constituição em vigor.
O período 1919-1926: a agonia do parlamentarismo
A reposição em vigor do texto original da Constituição de 1911 intentou alcançar um
mínimo de governabilidade num sistema parlamentar caótico.
Através de duas revisões constitucionais, foi atribuída competência ao Presidente da
República para dissolver as Câmaras, quando o exigissem os “interesses da Pátria” e
mediante prévia consulta ao Conselho Parlamentar. Foi consagrada a dispensa de
referenda ministerial para a nomeação do Governo e prevista a delegação de poderes
legislativos aos órgãos das possessões ultramarinas. Estas alterações não lograram, contudo,
alterar o sistema político ou mitigar a instabilidade institucional e a degradação progressiva
do regime.
Direitos fundamentais
A Constituição de 1911 assumiu uma natureza utilitária, não conferindo particular relevância
aos direitos sociais.
Revisão Constitucional e controlo de constitucionalidade
O Presidente da República era eleito por sufrágio direto, por um mandato de 7 anos e
suscetibilidade de reeleição.
O Presidente representava a Nação e respondia, apenas, diante dela. Era o chefe supremo
das Forças Armadas, nomeava e demitia livremente o Presidente do Conselho de Ministros
e os restantes membros do Governo sob proposta deste, dissolvia livremente a Assembleia
Nacional, conferia ao Parlamento poderes constituintes extraordinários, promulgava e
vetava os atos legislativos dos órgãos de soberania (tendo o veto sobre as leis eficácia
suspensiva e, sobretudo os decretos-leis, eficácia absoluta). Muitos dos seus atos estavam,
numa lógica chanceleriana, sujeitos a referenda ministerial.
O Governo
O Parlamento era composto por uma câmara política, a Assembleia Nacional e por uma
Câmara auxiliar, a Câmara Corporativa.
A Assembleia Nacional era composta por 90 deputados eleitos por sufrágio direto, por um
mandato de 4 anos. Vigiava pelo cumprimento da Constituição, exercia poderes de revisão
constitucional, acompanhava politicamente a atividade do Executivo e exercia a função
legislativa, resumindo-se, contudo, a aprovar, a par de algumas leis estruturantes de ordem
financeira e relativas ao Ultramar, as bases gerais dos regimes jurídicos (leis de grandes
princípios a desenvolver por decreto-lei do Governo). Funcionava durante um período
anual de 3 meses.
Apenas com a revisão constitucional de 1982 o Estado Português transitou para um estatuto
de democracia plena que, contudo, nunca deixou de se ressentir de entorses criadas pelo
processo revolucionário e por um período oneroso e desnecessário de “pretorianismo
arbitral”, ocorrido entre 1976 e o mesmo ano de 1982.
Forma de exercício do poder constituinte
Fontes cognitivas
No plano interno, a Carta Constitucional, a Constituição de 1911 e a Constituição de 1933.
A nível externo, a Constituição francesa de 1958, italiana de 1947 e alemã de 1949. Também
constituições de países comunistas do Leste europeu e de regimes revolucionários do norte
de África e América Latina. Além disso, a Constituição comunista de Jugoslávia.
Sistema político
Foi instituído, no quadro de um modelo de Estado social de Direito assente numa
democracia representativa, um sistema político de governo semipresidencialista que, com
o tempo e a prática política, fez acentuar oscilantemente o seu pendor, ora parlamentar,
ora governativo.
Foi criado, com a 1ª revisão constitucional, em 1982, um Tribunal Constitucional que opera
no contexto de um sistema misto de controlo da constitucionalidade: a fiscalização
concreta (alargada a todo os tribunais, com recurso possível ou necessário para o Tribunal
Constitucional) e a fiscalização abstrata (preventiva, sucessiva e por omissão) que é
tramitada em via direta para o Tribunal Constitucional mediante pedidos formulados por
órgãos e titulares de órgãos constitucionais.
Vigência