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DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
Belo Horizonte
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2007
Epistemologia genética de Jean Piaget
que toma as idéias como fato e o epistemólogo que toma os fatos como idéias, inserindo-os
num contexto de pensamento. Ao meu ponto de vista, tanto a ciência como as filosofias
contribuem para a compreensão das teorias do conhecimento. Não há como pensar
separadamente uma epistemologia, sem relações com a ciência, ou mesmo com a filosofia. E
há de se pensar em ciência com relações com a filosofia. Desta forma, compreendo a posição
das filosofias das ciências articuladas com as demais disciplinas e epistemologias.
Muitas questões de epistemologias, com a contribuição da psicologia das ciências
passaram a ser resolvida. A epistemologia psicológica se articula com as diferentes etapas do
conhecimento, esta elaborada por Piaget, mediante as epistemologias genéticas, criadas para
encontrar respostas que a filosofia das ciências e a história das ciências não puderam explicar
através de suas respostas. É através da contribuição epistemológica psicológica que, hoje,
podemos colocar o problema fundamental sobre as indagações: conhecimento – refletindo e
investigando “como o conhecimento é possível?” Não poderia deixar de mencionar a
Sociologia do Conhecimento, que contribui enquanto atividades sociais inseridas em
determinado contexto sociocultural, esta ainda deverá ser fonte de investigação no sentido de
detectar ainda uma construção sobre as relações sociais do sujeito com a sociedade e cultura,
como construção do conhecimento, desenvolvimento e aprendizagem.
A epistemologia genética de Piaget, devido à importância que, hoje, há nos estudos
sobre ensino e aprendizagem e os modelos construtivistas como prática educacional. Para se
entender a construção do pensamento, o desenvolvimento da inteligência, memória, atenção,
motivação e outros, são necessários entendermos a epistemologia genética desenvolvida por
Piaget, considerada uma das mais importantes das epistemologias por ter sido aplicada com
métodos próprios de investigação, validando teoria e prática de uma observação do sujeito e
da relação com o objeto.
Portanto, no meu entender, a epistemologia genética, extensão das ciências humanas e
da metodologia possibilitou a Piaget a realização de trabalhos sobre o desenvolvimento da
criança. Portanto, volto a colocar que a epistemologia pode ser definida como o estudo da
constituição dos conhecimentos válidos, que dizem respeito, às contribuições dos estudos
sobre o sujeito, o objeto e o processo de estruturação do conhecimento. Para Piaget, a ciência
se faz se tiver reunido três elementos, a saber: elaboração de fatos; formalização lógico-
matemática e controle experimental. Piaget define dois tipos de epistemologias, restritos e
generalizados e defende uma constituição de uma epistemologia científica, livre de toda teoria
filosófica ou de qualquer contaminação ideológica do conhecimento que não se constitui em
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presença das ciências que existem efetivamente, pois tudo o que se deve dizer ao mundo, deve
ser dito cientificamente e não especulativamente.
Foi a partir das questões (as noções básicas do sujeito em crescimento provém da
experiência, são apriorísticas (sistema que se baseia em princípios anteriores à experiência)
ou se constroem? e Qual o mecanismo explicativo da constituição dos conhecimentos?), com
estas expectativas que Piaget averiguou a formação do espaço, do tempo, da causalidade, do
número, das quantidades físicas...; praticamente quase todas as categorias cognitivas, desde as
mais simples até as mais complexas, desde o nascimento até a adolescência.
A autora fala que a significação é dada na relação entre sujeito e ambiente através do
mediador. O mediador é a atividade do sujeito. (Não simples atividade ou experiência física,
mas abstração das coordenações que ligam essas ações, relacionando as propriedades das
ações e não apenas dos objetos). Como, por exemplo, num bebê são os índices perceptivos, os
objetos que ele vai tocar, sentir que darão significado às coisas. Essa atribuição de significado
refere-se às coordenações que ligam as ações da criança. A criança se relaciona com as
propriedades das ações e não apenas dos objetos. (Classifica os objetos em sugável,
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pegável...) Por isso não é só comportamento observável. Assim o sujeito interage com o meio
para adquirir conhecimento.
A ação da criança é a ferramenta que existe para dar significado. Essa ação Piaget
define por um constructo que se chama esquema, esquema de ação. Esquema é o significado
que o sujeito coloca no objeto através da ação. É o generalizável na ação. Rangel (1992)
comprova a idéia da autora quando escreve:
É pela troca do organismo com o meio, ou seja, através da ação adaptativa que ocorre
a construção das estruturas mentais. O sujeito interagindo no mundo, isto é, agindo sobre o
mundo e sofrendo a influência da ação deste sobre si, está em constante processo de
adaptação. Adaptação, na teoria piagetiana, implica num sujeito ativo, capaz de transformar a
realidade na qual interage e de transformar a si mesmo, construindo seus conhecimentos, ou
seja, sua inteligência. Assim o desenvolvimento é um processo contínuo de adaptação.
A experiência física é entendida como toda a experiência que resulta das ações
realizadas materialmente; se este é essencial ao desenvolvimento, também é insuficiente
porque a lógica da criança não é resultante apenas dele. É necessária a coordenação interna
entre as ações que a criança exerce sobre os objetos.
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Piaget fala que a transmissão social diz respeito ao fator da educação que é
fundamental, mas não suficiente. Para a transmissão ser possível entre o adulto e a criança ou
entre o meio social e a criança a ser educada, é necessário que ela assimile o que o meio lhe
quer transmitir. E essa assimilação é acionada pelas leis do desenvolvimento.
(...) pela assimilação, quando o sujeito age sobre o objeto este não é absorvido pelo
objeto, mas o objeto é assimilado e compreendido como relativo às ações do
sujeito. Desde as coordenações mais elementares encontramos na assimilação uma
espécie de esboço ou prefiguração do julgamento: o bebê que descobre que um
objeto pode ser sugado, balançado ou puxado se orienta para uma linha ininterrupta
de assimilação, que conduzem até as condutas superiores, que usa o físico quando
assimila o calor ao movimento ou uma balança a um sistema de trabalhos virtuais.
(PIAGET, 1976, p.69).
O que Piaget fala é apenas um reforçador do que a autora escreve, pois diante de uma
nova situação, a assimilação é possível, ocorre à incorporação desta situação, ou seja, o seu
entendimento, sem implicar necessidades de modificação interior nas concepções de nossos
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No entanto, nem sempre ocorre à assimilação pura, uma situação nova pode provocar
perturbação quando deparamos com uma característica da experiência que contradiga as
nossas hipóteses possíveis de interpretação.
A autora explica bem que o ato inteligente é a atividade em que ocorre equilíbrio entre
a assimilação e a acomodação. Aí o sujeito é capaz de inventar uma solução própria para uma
situação-problema que vivencia, sustentada na experiência lógico-matemática.
Muito se fala e alguns consideram que Piaget leva em conta a experiência e a atividade
do sujeito, relacionando-o ao empirismo. Ou então, considerando que a simples exploração,
proporcionando muitos materiais para a criança brincar olhar, explorar, leve a construção de
conhecimento e de estruturas mais complexas.
Existem dois tipos de experiência, duas formas de lidar com os materiais: experiência
física e experiência lógico-matemática.
Porém, sem uma organização estruturada no nível da inteligência, não seria possível o
entendimento de tais propriedades, isto é, precisa ocorrer a assimilação deste objeto às
estruturas da inteligência até então construídas pela criança. É aí que se evidencia a inter-
relação entre a experiência física e a experiência lógico-matemática.
Muitas vezes pensamos (senso comum) que a informação “entra pelos sentidos”. Entra
pela palavras do professor, pelo desenho do quadro... A psicologia clássica fala em
associação. Os neurologistas falam das zonas de associação: percepção tátil associa com a
percepção olfativa... Desta forma pensamos que tendo a experiência, fazendo a exploração
sensorial nós teremos as noções, o conhecimento.
É preciso criar relações com o pensamento, e se o pensamento não cria relações não
entra pela visão, se não tem significado no pensamento podemos olhar para a correia que não
vamos compreender.
A autora é coerente aos escritos de Piaget, porque a informação não entra pelos
sentidos, o conhecimento não é transmitido de fora para dentro. Essa informação que entra
pelos sentidos é processada pelo pensamento, pelas operações que o pensamento faz. E o
pensamento só age sobre essa informação quando ele atribui significação, se não tem
significado a criança não consegue representar. Não adianta manipular objetos se não se faz a
transição. Como trabalhar com a experiência com significação e depois formalizar aquilo para
a linguagem científica, para a matéria que estamos trabalhando com a criança? É necessário
criar noções que no início serão pré-noções, depois essas noções devem virar conceitos claros
que serão ferramentas de construir mais conhecimentos. O ensino tradicional dá a fórmula
para a criança aplicar. Mas nós precisamos desenvolver a capacidade de pensar para testar o
que nós sabemos. O quanto esse conhecimento vale e o quanto pode melhorar.
Concordo com a autora quando ela fala que na abstração reflexiva ocorre um processo
de reorganização da estrutura com as novas combinações que surgem a partir desse
movimento reequilibrador. Essa reorganização utiliza os elementos do sistema anterior,
integrando a ele as ‘novidades’ provocadoras do desequilíbrio. A abstração reflexiva possui
dois aspectos inseparáveis: o ‘refletir’, ou seja, a projeção sobre o plano superior daquilo que
é retirado do plano inferior, e a ‘reflexão’ ato mental de recontrução e reorganização, no
plano superior, do que é transferido do inferior.
Resumindo gostaria de salientar que Piaget, em sua teoria, nos mostra como acontece
o desenvolvimento cognitivo, ou seja, o desenvolvimento do pensamento na criança. Desde os
estágios iniciais até a formalização do conhecimento, na adolescência. O importante é
considerar que o desenvolvimento cognitivo, na teoria piagetiana, não ocorre nos moldes do
empirismo, como provendo unicamente da experiência, imposto de fora para dentro e o
sujeito sofrendo passivamente a influência do meio. Nem tampouco é considerado inato e já
presente no sujeito. O que é inato é a flexibilidade (primeiramente neurônica, e depois, motora
e semiótica) para fazer as combinações. O resultado dessas combinações é a invenção, a
construção do conhecimento.
Bibliografia Complementar:
PIAGET, Jean. A Equilibração das Estruturas Cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1976.