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FACULDADE DE ESTUDOS ADMINISTRATIVOS DE MINAS GERAIS

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

Resenha do Livro: RAMOZZI-CHIAROTTINO, Zélia. Psicologia e epistemologia genética


de Jean Piaget. São Paulo: E.P.U, 1988.

Davidson Pessôa Palhares

Belo Horizonte
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2007
Epistemologia genética de Jean Piaget

Piaget era um biólogo por formação, no entanto, teve antecedentes intelectuais no


campo da filosofia, da psicologia, da matemática, da lógica, da física além da biologia. Em
seus estudos interdisciplinares, sempre pesquisando diversos assuntos, Piaget abriu um novo
campo de estudos: A Epistemologia Genética.

De acordo com a autora a epistemologia tradicional só conhecia os resultados finais de


um complexo processo de formação, mas não como se inicia e como se dá esse processo. A
Epistemologia Genética procura através da experimentação, da observação, desvendar os
processos fundamentais da formação do conhecimento.

O objetivo da Epistemologia Genética é saber em que condições se desenvolve a


inteligência. A obra de Piaget é fonte de conhecimentos importantes. Talvez o mais conhecido
da obra deste epistemólogo sejam as idéias sobre os estágios de desenvolvimento da
inteligência. Porém a preocupação central de Piaget foi à epistemologia. Seu interesse
centrava-se em como a criança aprende, como o conhecimento progride dos aspectos mais
inferiores aos mais complexos e rigorosos.

Creio eu que, através de uma epistemologia associada às diversas disciplinas que


podemos interpretar os conhecimentos passados, historicamente, posicionando-os como
reflexão sobre as ciências, sobre o que fazem, como se constroem e principalmente numa
abordagem pedagógica “como se dá um estágio de menor conhecimento para um estágio de
maior conhecimento”. Esta questão não é apenas uma reflexão científica, mas sim uma
reflexão epistemológica, que mediante a epistemologia e as contribuições de outras
disciplinas, da filosofia e dos estudos epistemológicos de Jean Piaget pode-se encontrar
respostas sobre a construção do conhecimento, fator hoje, necessário e imprescindível de
discussão para os pesquisadores da área pedagógica, no que concerne à aprendizagem
humana.
Acredito que através da história das ciências que podemos interpretar os
conhecimentos transmitidos em detrimento dos conhecimentos atualmente presentes, os
valores da época, as atitudes, as noções e os métodos utilizados. É, portanto, através da
epistemologia que a história das ciências permite discernir os conhecimentos científicos
superados e os conhecimentos científicos atuais. Há uma relação entre o historiador da ciência
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que toma as idéias como fato e o epistemólogo que toma os fatos como idéias, inserindo-os
num contexto de pensamento. Ao meu ponto de vista, tanto a ciência como as filosofias
contribuem para a compreensão das teorias do conhecimento. Não há como pensar
separadamente uma epistemologia, sem relações com a ciência, ou mesmo com a filosofia. E
há de se pensar em ciência com relações com a filosofia. Desta forma, compreendo a posição
das filosofias das ciências articuladas com as demais disciplinas e epistemologias.
Muitas questões de epistemologias, com a contribuição da psicologia das ciências
passaram a ser resolvida. A epistemologia psicológica se articula com as diferentes etapas do
conhecimento, esta elaborada por Piaget, mediante as epistemologias genéticas, criadas para
encontrar respostas que a filosofia das ciências e a história das ciências não puderam explicar
através de suas respostas. É através da contribuição epistemológica psicológica que, hoje,
podemos colocar o problema fundamental sobre as indagações: conhecimento – refletindo e
investigando “como o conhecimento é possível?” Não poderia deixar de mencionar a
Sociologia do Conhecimento, que contribui enquanto atividades sociais inseridas em
determinado contexto sociocultural, esta ainda deverá ser fonte de investigação no sentido de
detectar ainda uma construção sobre as relações sociais do sujeito com a sociedade e cultura,
como construção do conhecimento, desenvolvimento e aprendizagem.
A epistemologia genética de Piaget, devido à importância que, hoje, há nos estudos
sobre ensino e aprendizagem e os modelos construtivistas como prática educacional. Para se
entender a construção do pensamento, o desenvolvimento da inteligência, memória, atenção,
motivação e outros, são necessários entendermos a epistemologia genética desenvolvida por
Piaget, considerada uma das mais importantes das epistemologias por ter sido aplicada com
métodos próprios de investigação, validando teoria e prática de uma observação do sujeito e
da relação com o objeto.
Portanto, no meu entender, a epistemologia genética, extensão das ciências humanas e
da metodologia possibilitou a Piaget a realização de trabalhos sobre o desenvolvimento da
criança. Portanto, volto a colocar que a epistemologia pode ser definida como o estudo da
constituição dos conhecimentos válidos, que dizem respeito, às contribuições dos estudos
sobre o sujeito, o objeto e o processo de estruturação do conhecimento. Para Piaget, a ciência
se faz se tiver reunido três elementos, a saber: elaboração de fatos; formalização lógico-
matemática e controle experimental. Piaget define dois tipos de epistemologias, restritos e
generalizados e defende uma constituição de uma epistemologia científica, livre de toda teoria
filosófica ou de qualquer contaminação ideológica do conhecimento que não se constitui em
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presença das ciências que existem efetivamente, pois tudo o que se deve dizer ao mundo, deve
ser dito cientificamente e não especulativamente.
Foi a partir das questões (as noções básicas do sujeito em crescimento provém da
experiência, são apriorísticas (sistema que se baseia em princípios anteriores à experiência)
ou se constroem? e Qual o mecanismo explicativo da constituição dos conhecimentos?), com
estas expectativas que Piaget averiguou a formação do espaço, do tempo, da causalidade, do
número, das quantidades físicas...; praticamente quase todas as categorias cognitivas, desde as
mais simples até as mais complexas, desde o nascimento até a adolescência.

Segundo a autora, e concordo, o conhecimento é construído a partir das interações


com o mundo. Esse processo é dinâmico e dialético, estamos sempre reformulando nosso
conhecimento e interagindo com o mundo. Partindo de um sujeito ativo e que interage com o
meio nos deparamos como ponto chave da teoria piagetiana.
A psicologia quando quis assumir-se como ciência tinha que ter um objeto de estudo. A
ciência se fazia com objetos mensuráveis, observáveis e controlados experimentalmente.
Assim o comportamento era o objeto de estudo e o comportamento observável é a resposta do
sujeito ao ambiente. É o observável na interação.

Durante muito tempo só se pensou que se fazia psicologia quando se estudava o


comportamento. Piaget não estuda o comportamento. Estuda a conduta. A conduta é mais do
que a resposta ao ambiente. A conduta está impregnada de valores, de intencionalidade. A
conduta não é apenas o comportamento observável, aquela parte que é só o movimento do
sujeito. Na conduta há um componente de valor e intencionalidade.

Penso que Piaget vê como é construído o conhecimento, o conhecimento em termos de


significação. A inteligência constrói significações, dá significado ao mundo.

A autora fala que a significação é dada na relação entre sujeito e ambiente através do
mediador. O mediador é a atividade do sujeito. (Não simples atividade ou experiência física,
mas abstração das coordenações que ligam essas ações, relacionando as propriedades das
ações e não apenas dos objetos). Como, por exemplo, num bebê são os índices perceptivos, os
objetos que ele vai tocar, sentir que darão significado às coisas. Essa atribuição de significado
refere-se às coordenações que ligam as ações da criança. A criança se relaciona com as
propriedades das ações e não apenas dos objetos. (Classifica os objetos em sugável,
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pegável...) Por isso não é só comportamento observável. Assim o sujeito interage com o meio
para adquirir conhecimento.

A inteligência é uma atividade organizadora a partir da qual os objetos adquirem


significações, podem ser compreendidos.

A ação da criança é a ferramenta que existe para dar significado. Essa ação Piaget
define por um constructo que se chama esquema, esquema de ação. Esquema é o significado
que o sujeito coloca no objeto através da ação. É o generalizável na ação. Rangel (1992)
comprova a idéia da autora quando escreve:

Chiarottino, referindo-se aos estudos de Piaget, fala da hipótese deste cientista de


que como existem estruturas específicas para cada função do organismo, da mesma
forma existiriam estruturas específicas para o ato de conhecer que produziriam o
conhecimento necessário e universal, buscado pelos filósofos. Essas estruturas
teriam uma gênese, isto é, não apareceriam prontas no organismo. Esta gênese
justificaria a ausência de lógica no raciocínio das crianças, na primeira infância, em
contraste com a lógica do raciocínio adulto. (RANGEL, 1992, p. 46).

É pela troca do organismo com o meio, ou seja, através da ação adaptativa que ocorre
a construção das estruturas mentais. O sujeito interagindo no mundo, isto é, agindo sobre o
mundo e sofrendo a influência da ação deste sobre si, está em constante processo de
adaptação. Adaptação, na teoria piagetiana, implica num sujeito ativo, capaz de transformar a
realidade na qual interage e de transformar a si mesmo, construindo seus conhecimentos, ou
seja, sua inteligência. Assim o desenvolvimento é um processo contínuo de adaptação.

Na teoria psicogenética, segundo Chiarottino, há fatores internos do sujeito e fatores


de interação do sujeito com a realidade. Existem fatores que são influenciadores do
desenvolvimento e um fator que Piaget considera como dominante. Os fatores influenciadores
são: hereditariedade (maturação biológica), experiência física, transmissão social. O fator
determinante é o processo de equilibração.

A hereditariedade influencia o desenvolvimento, mas é insuficiente para explicá-lo, a


própria maturação está na dependência da atividade do sujeito.

A experiência física é entendida como toda a experiência que resulta das ações
realizadas materialmente; se este é essencial ao desenvolvimento, também é insuficiente
porque a lógica da criança não é resultante apenas dele. É necessária a coordenação interna
entre as ações que a criança exerce sobre os objetos.
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Piaget fala que a transmissão social diz respeito ao fator da educação que é
fundamental, mas não suficiente. Para a transmissão ser possível entre o adulto e a criança ou
entre o meio social e a criança a ser educada, é necessário que ela assimile o que o meio lhe
quer transmitir. E essa assimilação é acionada pelas leis do desenvolvimento.

A equilibração é o fator essencial e determinante no desenvolvimento do sujeito neste


processo de adaptação ao meio em que vive. A equilibração se caracteriza por dois aspectos:
equilibrar entre si os outros 3 fatores do desenvolvimento e equilibrar a descoberta de uma
noção nova, com outras já existentes nas possibilidades de entendimento da criança ou adulto.

A autora fala e concordo que diante do enfrentamento de um conflito cognitivo, é


necessário um jogo de regulações e de compensações para que se atinja uma coerência entre o
que já se sabia com as novidades provocadoras deste conflito; isto acontece pelas leis da
equilibração.

O processo interno de regulação e compensação se dá através de mecanismos internos


de assimilação e acomodação.

Assimilação é o mecanismo que o sujeito aplica para procurar compreender o mundo.


Todas as coisas, todas as idéias (dele e dos outros) tendem ser explicadas, inicialmente, pelo
próprio sujeito em função de seus esquemas ou estruturas cognitivas até então construídas. O
sujeito está num movimento constante de assimilação desta realidade aos seus esquemas ou
estruturas cognitivas. O sujeito está em constante assimilação (retirada de dados). Assim é
que, nós, diante de qualquer situação nova, primeiramente buscamos interpretá-la segundo
nossas concepções atuais, emitindo hipóteses possíveis à sua interpretação dentro do contexto
presente de nossa inteligência. Piaget diz:

(...) pela assimilação, quando o sujeito age sobre o objeto este não é absorvido pelo
objeto, mas o objeto é assimilado e compreendido como relativo às ações do
sujeito. Desde as coordenações mais elementares encontramos na assimilação uma
espécie de esboço ou prefiguração do julgamento: o bebê que descobre que um
objeto pode ser sugado, balançado ou puxado se orienta para uma linha ininterrupta
de assimilação, que conduzem até as condutas superiores, que usa o físico quando
assimila o calor ao movimento ou uma balança a um sistema de trabalhos virtuais.
(PIAGET, 1976, p.69).

O que Piaget fala é apenas um reforçador do que a autora escreve, pois diante de uma
nova situação, a assimilação é possível, ocorre à incorporação desta situação, ou seja, o seu
entendimento, sem implicar necessidades de modificação interior nas concepções de nossos
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sistemas cognitivos. O sujeito age e se apropria do objeto de conhecimento, atribuindo-lhe


significado próprio, já que é integrado às possibilidades de entendimento (inteligência) até
então construídas pelo sujeito.

No entanto, nem sempre ocorre à assimilação pura, uma situação nova pode provocar
perturbação quando deparamos com uma característica da experiência que contradiga as
nossas hipóteses possíveis de interpretação.

Acomodação é quando o objeto que se pretende assimilar impõe resistências e não é


possível a sua apreensão o sujeito faz um esforço em sentido contrário ao da assimilação, isto
é, se lança em movimento de acomodação. Modifica as suas hipóteses anteriores às exigências
por esta ‘novidade’ e torna possível sua assimilação. A acomodação surge a partir das
perturbações provocadas pelas situações novas que o sujeito enfrenta.

Segundo Piaget na acomodação, o sujeito age no sentido de se transformar, ajustando-


se através de um esforço pessoal e espontâneo às resistências impostas pelo objeto de
conhecimento, que não foi possível ser assimilado imediatamente.

A autora explica bem que o ato inteligente é a atividade em que ocorre equilíbrio entre
a assimilação e a acomodação. Aí o sujeito é capaz de inventar uma solução própria para uma
situação-problema que vivencia, sustentada na experiência lógico-matemática.

O prazer e a necessidade devem estar presentes nas atividades pedagógicas, pois


impulsionam a ação, também pela natureza afetiva. A necessidade impulsiona o sujeito no
sentido de conquistar o objeto desejado. Colocam em funcionamento as formas atuais de
conhecer (assimilação), também no sentido de implusionar o sujeito a se apropriar de um
novo objeto de conhecimento que impõe resistência à sua assimilação. O sujeito, então, age
para transformar-se e acomodar-se ao objeto.

Quando o sujeito é capaz de integrar o novo conhecimento aos instrumentos


cognitivos construídos por modificação, melhoramento e superação das formas anteriores de
pensar, conceber e interpretar a realidade cessa a sua ação reequilibradora, pois ele atingiu um
novo patamar de equilíbrio, superior e melhor do que os conquistados anteriormente.

Quando o sujeito tem consciência de que é capaz de se auto-superar apropriando-se do


objeto de conhecimento aparece o prazer também presente nesse processo.
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O processo de equilibração explica a construção das estruturas da inteligência: é no


equilíbrio progressivo entre a assimilação e a acomodação que o pensamento atinge sua
crescente mobilidade, perpassada pela ação adaptativa do sujeito ao meio. O processo de
equilibração é contínuo.

Muito se fala e alguns consideram que Piaget leva em conta a experiência e a atividade
do sujeito, relacionando-o ao empirismo. Ou então, considerando que a simples exploração,
proporcionando muitos materiais para a criança brincar olhar, explorar, leve a construção de
conhecimento e de estruturas mais complexas.

Existem dois tipos de experiência, duas formas de lidar com os materiais: experiência
física e experiência lógico-matemática.

A experiência física, ou seja, agir sobre os objetos propriamente ditos. Concepção


clássica do que seja experiência. O sujeito age sobre o objeto e pela abstração das ações que
exerce sobre os objetos, descobre as propriedades físicas deste objeto, bem como as
propriedades observáveis das ações realizadas materialmente. Pela experiência física a criança
descobre as propriedades físicas do objeto.

Porém, sem uma organização estruturada no nível da inteligência, não seria possível o
entendimento de tais propriedades, isto é, precisa ocorrer a assimilação deste objeto às
estruturas da inteligência até então construídas pela criança. É aí que se evidencia a inter-
relação entre a experiência física e a experiência lógico-matemática.

A experiência lógico-matemática envolve não somente as abstrações exercidas sobre


os objetos, mas as abstrações das coordenações que ligam essas ações; ela se relaciona com as
propriedades das ações e não apenas dos objetos.

É característica da experiência lógico-matemática a abstração reflexiva. A abstração


reflexiva é construída na mente do sujeito ao criar relacionamentos entre vários objetos e
coordenar essas relações entre si. Na abstração simples, é a abstração do próprio objeto, ou
seja, de suas propriedades mediante a observação das respostas que o objeto dá à ação
exercida sobre ele. Ex.: estabelecer relações entre a massa de modelar e outros objetos,
coordenar mentalmente essas relações, classificar objetos que são moldáveis dos que não são.
Nesse caso a criança já pensa no objeto em si, mas relaciona-o com outros objetos, em função
das ações exercidas sobre ele e coordenando essas relações no seu pensamento.
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A partir de um dado momento o sujeito é capaz de realizar operações lógico-


matemáticas dispensando a experiência física, interiorizando as ações em operações
simbolicamente manipuláveis. Neste nível existe uma lógica e uma matemática pura onde a
experiência física é inútil.

Muitas vezes pensamos (senso comum) que a informação “entra pelos sentidos”. Entra
pela palavras do professor, pelo desenho do quadro... A psicologia clássica fala em
associação. Os neurologistas falam das zonas de associação: percepção tátil associa com a
percepção olfativa... Desta forma pensamos que tendo a experiência, fazendo a exploração
sensorial nós teremos as noções, o conhecimento.

É preciso criar relações com o pensamento, e se o pensamento não cria relações não
entra pela visão, se não tem significado no pensamento podemos olhar para a correia que não
vamos compreender.

A autora é coerente aos escritos de Piaget, porque a informação não entra pelos
sentidos, o conhecimento não é transmitido de fora para dentro. Essa informação que entra
pelos sentidos é processada pelo pensamento, pelas operações que o pensamento faz. E o
pensamento só age sobre essa informação quando ele atribui significação, se não tem
significado a criança não consegue representar. Não adianta manipular objetos se não se faz a
transição. Como trabalhar com a experiência com significação e depois formalizar aquilo para
a linguagem científica, para a matéria que estamos trabalhando com a criança? É necessário
criar noções que no início serão pré-noções, depois essas noções devem virar conceitos claros
que serão ferramentas de construir mais conhecimentos. O ensino tradicional dá a fórmula
para a criança aplicar. Mas nós precisamos desenvolver a capacidade de pensar para testar o
que nós sabemos. O quanto esse conhecimento vale e o quanto pode melhorar.

A abstração reflexiva é considerada por Piaget um dos aspectos mais gerais do


processo de equilibrarão e um dos motores do desenvolvimento. Ela se apóia nas
coordenações das ações do sujeito, podendo estar inconsciente ou haver tomada de
consciência. Na abstração reflexiva, assim como no processo de equilibrarão, um conceito
presente e importante é o da reequilibração. A reequilibração é a possibilidade de superar os
desequilíbrios provocados por alguma situação perturbadora e inesperada, gerando
contradições no pensamento do sujeito.
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Concordo com a autora quando ela fala que na abstração reflexiva ocorre um processo
de reorganização da estrutura com as novas combinações que surgem a partir desse
movimento reequilibrador. Essa reorganização utiliza os elementos do sistema anterior,
integrando a ele as ‘novidades’ provocadoras do desequilíbrio. A abstração reflexiva possui
dois aspectos inseparáveis: o ‘refletir’, ou seja, a projeção sobre o plano superior daquilo que
é retirado do plano inferior, e a ‘reflexão’ ato mental de recontrução e reorganização, no
plano superior, do que é transferido do inferior.

Resumindo gostaria de salientar que Piaget, em sua teoria, nos mostra como acontece
o desenvolvimento cognitivo, ou seja, o desenvolvimento do pensamento na criança. Desde os
estágios iniciais até a formalização do conhecimento, na adolescência. O importante é
considerar que o desenvolvimento cognitivo, na teoria piagetiana, não ocorre nos moldes do
empirismo, como provendo unicamente da experiência, imposto de fora para dentro e o
sujeito sofrendo passivamente a influência do meio. Nem tampouco é considerado inato e já
presente no sujeito. O que é inato é a flexibilidade (primeiramente neurônica, e depois, motora
e semiótica) para fazer as combinações. O resultado dessas combinações é a invenção, a
construção do conhecimento.

Bibliografia Complementar:

PIAGET, Jean. A Equilibração das Estruturas Cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1976.

RANGEL, A. C. Educação Matemática e a Construção do Número pela Criança. Porto


Alegre: Artes Médicas, 1992.

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