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Desde que a fotografia foi aperfeiçoada, em 1841, e nos apresentada na forma como a
conhecemos hoje, muita coisa mudou no mundo das artes. É bem provável que o advento da
fotografia decretasse o final da arte acadêmica propriamente dita, uma vez que para retratar
algo tal qual é, muitos instrumentos desenvolvidos ao longo de todos esses anos, prestassem
para isso com mais precisão. A arte acadêmica não morreu, a fotografia ganhou movimento e
o nascer do cinema trouxe ainda infinitas possibilidades para fazer e expressar arte. Com esses
dois fortes aliados, a liberdade teve que ampliar seu significado.
Fotografia de referência
CLÁUDIO VINÍCIUS - Volta de estrada
Os conceitos mudaram bastante, e isso não há como negar. A representação de algo extraído
do natural (paisagens, retratos, arranjos e construções) passou a adotar a expressão e as
sensações como requisitos muito mais importantes do que a representação fiel daquilo que se
vê. Interpretando aquilo que está diante de si, dentro da sua maneira de ver, o artista
reproduz sensações exclusivamente suas, e por isso mesmo incomparáveis por qualquer efeito
fotográfico.
em ocasiões diferentes.
Embora seja um tema em vários pontos polêmico, a fotografia como referência para a
produção artística tem seus defensores, mas também seus fortes adversários. Esses últimos
alegam que a cópia fiel de uma foto, nada mais é que uma transposição de imagens, ação
isenta da menor criação artística. Seus defensores, em contrapartida, dizem que a fotografia é
apenas um grande aliado tecnológico, que veio incrementar recursos no processo produtivo de
uma obra. Alegam ainda que grandes nomes como Picasso, Dégas, Manet, Courbet, Dali,
Delacroix e muitos outros, incorporaram tais “auxílios” em suas obras, e que elas não
diminuíram em nada, o respeito e o valor que são dados aos seus trabalhos.
Somente os artistas conscientes sabem usar das vantagens desse recurso, seja para a
complementação de esboços ou no arquivamento de várias informações que venham a
enriquecer o processo criativo na produção de uma obra. Eles também são sabedores que a
comodidade de uma informação fotográfica tende sempre a gerar inseguranças no ato do
desenho, e que muitos venham a criar laços de dependência muito grandes com essas
referências. A pintura em plein air, ou mesmo a prática de esboços feitos do natural, são bons
desafios para saber em que grau de dependência o artista está, com relação ao uso de fotos
em seu trabalho. Nesse momento não há recurso intermediário entre o artista e o ambiente
que lhe serve de referência.
Lavadeira - fotografia
EDGAR WALTER - Lavadeira
A fotografia capta momentos de raras luzes, que se perdem rapidamente numa abordagem ao
ar livre. Também é muito útil para congelar movimentos, impossíveis de se fixar num outro
método. Mas a maior vantagem na referência com fotos, é que se torna possível reunir várias
delas para formar uma única cena, atividade aliás, das mais usadas pela maioria dos artistas, e
que obriga o processo criativo em um grau diferenciado dele.
À esquerda: Estrada do velho jacarandá, Dionísio - fotografia de referência
A tecnologia tem sido muito generosa para a captação cada vez mais fiel da cena retratada,
deixando as câmeras cada vez mais eficientes e muito mais fáceis de serem utilizadas. Mas,
essa é uma tentação que deve ser vista com reservas. Não se esqueça que uma câmera, por
mais evoluída que seja, é apenas uma máquina. É você, como artista, que decide qual efeito
realçar em sua cena, que imagem acrescentar ou excluir para que a obra caminhe o máximo
possível dentro da sua intenção. Câmeras, por mais reguladas que estejam, ainda tendem a
simplificar as tonalidades, muitas vezes deixando as áreas de sombras muito escuras, ou
também realçam mais algumas cores que outras. Quando você comparar a foto com a cena ao
vivo, verá quantas sutis e preciosas diferenças se encontram nas duas.
Fotografia de referência
De posse da escolha de uma fotografia para servir como referência para seu trabalho, é
preciso que você faça uma análise criteriosa para decidir sobre o que deve ser acrescentado,
excluído ou modificado, para que esta referência produza bons resultados. Por isso, reproduzir
uma foto que você mesmo tenha feito, seja bem mais fácil para compor seu trabalho, do que
se orientar por uma foto realizada por outra pessoa. Quando você mesmo fotografa, aquele
tema já havia lhe despertado algum interesse, tal cena já formava em sua mente, um esboço
de uma obra.
Fotografia de referência
TÚLIO DIAS - Estrada do interior
Toda composição passa por criteriosos processos para se transformar numa obra
tecnicamente correta e artisticamente agradável de se ver. Os conceitos iniciais para qualquer
composição, também devem ser levados em consideração na hora de utilizar a foto como
referência. Profundidade, proporção, localização do ponto de interesse principal, distribuição
de cores, correta representação de fontes de luz e volumes. Todos esses itens podem não
estar em conformidade na foto que você dispõe a desenhar ou pintar, portanto não hesite
nenhum momento em fazer as correções que sejam necessárias.
Combinar fotos para compor uma cena possui alguns segredos que não podem ser
desprezados. Verifique se as fotos que irá combinar tenham a mesma fonte de luz, proporções
adequadas e se também apresentam riquezas de detalhes compatíveis entre si. No item
perspectiva, fique atento se o ângulo de visão nas duas referências é o mesmo, do contrário,
poderá gerar grotescos erros de profundidade. A proporção é outro item de extrema
importância, e quando incluem figuras humanas o cuidado deve ser ainda maior. Compare a
proporção das figuras humanas com construções à sua volta, bem como a arbustos e animais,
caso existam.
Coleção particular
Grandes visões panorâmicas, que não são conseguidas, mesmo pelas máquinas mais
avançadas, podem ser compostas pela união de duas ou mais fotos. Mais uma vez, deve-se
ficar atento à diferenças exageradas com relação à mudança de luz e perspectiva. Quando já
tiver em mente fotografar para unir cenas numa mesma panorâmica, coloque a máquina num
ponto fixo, de preferência um tripé, para que não ocorram eventuais problemas na montagem.
Não custa relembrar que selecionar apenas os elementos mais atraentes de suas “fotos-
esboços” ainda é uma das regras mais sensatas a seguir.
Fotografia de referência
Aquarela
De posse de todas essas informações, use a fotografia como uma referência a seu favor.
Mesmo diante de tantos recursos, a emoção que você consegue imprimir em seu trabalho é
muito mais importante que uma eficiente reprodução que nada transmita.
Fotografia
http://joserosarioart.blogspot.com/2011/06/fotografia-e-pintura.html