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[Org.]
Apresentação
Mitos de Criação
1. O Purusha Sukta (Hino do Homem)
2. A Prajapati
3. A Canção da Criação
4. Cosmogonia no Shatapatha - Brahmana
5. Aitaryea Upanishad
6. A Perenidade da criação na Visão Budista, no Diga Nikaya
7. O mito chinês de Panku
8. Cosmologia daoista em Laozi
9. A cosmologia daoista do Huananzi
Natureza Humana
10. A Visão budista da Natureza Humana no Suttanipata 2
11. Outra visão budista, sobre a natureza humana, no Samyutta
Nikaya
12. A natureza humana é boa – a visão de Mêncio
13. A natureza humana é má – a visão de Xunzi
14. A Natureza Humana é indistinta – a visão de Lubuwei
15. A natureza humana depende da cultura - Huainanzi
16. A natureza humana depende da educação – Dong Zhongshu
A Morte
17 - Hino para ser entoado em um funeral, do Atharva Veda
18. A Morte, a transmigração e a Ação Humana no Manava Dharma
Shastra (As Leis de Manu)
19. A Morte no Katha Upanishad
20. A Morte na Visão Budista no Mojjhima - Nikaya
21. A morte na visão de Zhuangzi
Caminhos para a Sabedoria
22. As Características do Sábio Perfeito no Bhaghavad Gita
23. Uma mestra em busca da sabedoria: A Conversa Entre
Yajñãvalkya e Maitreyi no Brihadaranyaka upanishad
24 A busca de Svetaketu, no Chandogya Upanishad
25. A sabedoria nos Yogas sutras de Patanjali - Formas de Meditação
e de Samadhi
26. O Caminho Budista, descrito no Samyutta Nikaya
27. A redenção pelo estudo, no Zhong Yong de Confúcio e Zisi
28. O dao dos daoístas, de Laozi
29. O dao obscuro de Zhuangzi
30. O Dao da saúde do Neijing (O Tratado Interno) - Tratado sobre a
Verdade Natural nos Tempos Antigos
Vivendo em Sociedade 3
31. A Criação do Mundo e a origem das leis e das castas no
Manavadharmashastra
32. Sobre a Origem e Valor das Quatro Castas no Mahabharata
33. A visão das castas para os budistas no Mojjhima - Nikaya
34. Regras Para um Chefe de Família, no manavadharmashastra
35. Deveres das Mulheres no Manavadharmashastra
36. Regras para um chefe de família budista, no Sutanippata
37. Ode ao rei que lavra a terra, pedindo um ano de abundância, no
Shijing (Tratado dos Poemas)
38. Poema de uma mulher divorciada, no Shijing
39. Lamento de um funcionário sobre a miséria, no Shijing
40. Sobre o labor agrícola, no Shijing
41. Outras gentes, no Zhongyong de Confúcio e Zisi
42. Os deveres de obrigação universal, no Zhongyong
43. A Visão da civilização em Zhuangzi
44. O ciclo da vida humana no Neijing
45. Queixa e apelo de Zhuang Qiang contra o mau trato que recebeu
do esposo, no Shijing (tratado dos Poemas)
46. Contra o Álcool e a Embriaguez, no Shujing (tratado dos livros)
47. Contra o Luxo, no Shujing
48. Sociedade e Educação, no Liji (manual dos Rituais)
49. Como surgiu Li (a cultura) no Liji
50. O papel do indivíduo na estruturação da sociedade, no Daxue
(Grande Estudo)
Deuses, Crenças e Encantamentos
51. A Morte e os Deuses no Rig Veda
52. A Lenda Indiana Sobre o Dilúvio
53. Hino à Indra, no Rig Veda 4
54. Hino à Indra, Varuna e ao Suco sagrado, o Soma, no Rig Veda
55. Hino às diversas divindades, no Rig Veda
56. Hino às diversas divindades, no Sama Veda
57. Os nomes de Indra, no Sama Veda
58. A especulação sobre o Brahman no Isha Upanishad
59. Quem é o criador? No Kena upanishad
60. Prece recitada durante o preparo de um ungüento preservativo
de males e doenças, do Atharva Veda
61. Para obter o amor de uma mulher (idem)
62. Hino às rãs, para que venham as chuvas (idem)
63. Para achar-se um objeto perdido (idem)
64. Para livrar alguém do vício do jogo (idem)
65. Fuxi e Nugua
66. Huangdi, o deus do Meio
67. O País dos Imortais, do Shanhaijing (Clássico das Montanhas e
dos Mares)
68. As Ilhas dos Imortais, do Shanhaijing (Clássico das Montanhas e
dos Mares)
69. Demônios e Feras Bestiais, do Shanhaijing (Clássico das
Montanhas e dos Mares)
70. O Mundo antigo, por Zhuangzi
71. O cofre guarnecido de metal, a história de uma previsão no
Shujing (tratado dos livros)
72. Uma previsão do Tratado das mutações: Hexagrama 18, a
Recuperação do Deteriorado, do Yijing
73. Invocação ao ancestral da dinastia Shang, Tang.
74. Uma antiga cura para depressão, no Liezi
A Arte de Bem Governar 5
75. Os Deveres de um Rei, no Dharma sutra
76. Rei e Punição, no Manavadharmashastra
77. O poder do rei, no Artashastra
78. A política ecumênica de Ashoka
79. Discurso do Marques de Qin, no Shujing
80. As regras do bom governo, no Zhongyong
81. As cinco obrigações do bom líder, no Liji
82. Cinco deveres e quatro erros, no Lunyu (Diálogos) de Confúcio
83. O governo do povo, em Mêncio
84. As proibições, de Guanzi
85. O governo daoísta de Laozi, no Daodejing (tratado da virtude e
do caminho)
87. O Governo, para Shang Yang
88. Regras para o bom governo, de Hanfeizi
Visões da Guerra
89. Benção das armas de um príncipe em sua ida para a guerra, do
Atharva veda
90. A guerra nas leis de Manu
91. Um Soldado pensando no Lar, do Shijing
92. Sobre as proposições da vitória e a derrota, em Sunzi
93. Contra a Guerra, em Mozi
94. A guerra é um massacre, em Mêncio
95. A guerra, em Shangyang
A Ciência de Registrar o Passado
96. A Agitação do Oceano Pelos Deuses, no Vishnu purana
97. Uma passagem do Chunqiu (primaveras e outonos), comentada
pelo Zuozhuan de Zuoqiuming
98. O Canon de Yao, do Shujing 6
99. Contra os áulicos sistemáticos, do Zhanguoce, ou Discursos dos
estados combatentes
100. A Vida de Po Yi, por Sima Qian, no Shiji (recordações
históricas)
Anexo
a) A visão de passado em Shang Yang
b) Grande Tratado sobre a Harmonia da Atmosfera das Quatro
Estações com o Espírito Humano, no Neijing (o tratado interno)
Apresentação
Índia
A Índia não conheceu nada parecido com o conceito de história ou
de ciência histórica, tal como o propomos, em sua antiguidade. A
preocupação fundamental desta civilização atinha-se a uma
libertação espiritual que concebia este plano, material, com uma
espécie de purgatório das almas, e cujo ciclo de eventos era tão
somente algo repetitivo e por isso mesmo, desinteressante. A visão
indiana era da negação da materialidade; conseqüentemente, seu
foco principal dirigiu-se para uma filosofia de cunho metafísico, uma
atenção especial à religião, o que se desdobrava de forma nítida nas
considerações acerca da sociedade e da cultura. Assim, a Índia
antiga não pensou em qualquer forma de antropologia ou sociologia,
senão aquela pautada na interpretação da vida humana como um
processo de transmigração de almas; documentos como o
Arthashastra, um tratado dedicado a política e a administração são
exceções, e mesmo assim carregam o peso da religiosidade consigo.
A história indiana, portanto, é uma reconstrução moderna, muitas
vezes mais baseada na arqueologia do que nos textos. Estes nos
mostram modos de vida ideais, concepções teológicas profundas,
mas às vezes nos escapam como fontes sobre o cotidiano. Uma
divisão moderna situa as origens da civilização indiana como um 9
movimento autóctone, com raízes pré-históricas. Depois, segue-se o
período das primeiras cidades indianas, mohenjo daro e harappa,
que termina de modo relativamente abrupto em torno dos séculos -
18 -15 aec. Há uma aparente descontinuidade, mas emerge desta
época a sofisticada, guerreira e desenvolvida civilização védica,
calcada em seu politeísmo diversificado e na sua consolidada
estrutura de castas (ou varnas), doravante uma marca da civilização
indiana. É desta época a estruturação dos vedas, das cerimônias do
soma – o suco alucinógeno sagrado – mas também, o início de uma
especulação metafísica que só teria sua conclusão em torno dos
séculos -7 -8 aec. Enquanto isso, o mundo indiano dividiu-se em
vários pequenos reinos, cujo poder variava constantemente. A
unidade possível entre eles se baseava nos ritos religiosos, nos
princípios sociais e conceitos comuns, enfim, numa cultura que os
definia em relação aos outros – os estrangeiros.
Este mundo vasto, empreendedor e multifacetado dirigia-se, porém,
ao centro de uma discussão infindável sobre a realidade da vida
espiritual. O período dos séculos -8 -7 aec vê surgir a literatura
upanishádica, conclusão de um longo debate filosófico
acompanhado pelas aranyakas, brahmanas e puranas, todo um
corpus textual inteiramente voltado para a solução das questões
religiosas que amarravam esta sociedade. Deste processo, emergem
situações conflitantes; a busca da unificação política acompanha-se
do surgimento de heresias sócio-religiosas, como jainismo e o
budismo. A presença grega no mundo indiano sacode suas fronteiras
e sua visão de mundo, e nela, o budismo torna-se a primeira religião
proselititsta do mundo, tentando converter os estrangeiros.
Nos séculos -4 -3, a Índia finalmente se vê unificada por uma 10
dinastia, os Maurya, que unem a idéia de indianidade com política. É
desta época que surgem textos como o Artashastra, preocupado com
a administração das coisas públicas – mas também textos como o de
uma política ecumênica universal, como os éditos de Ashoka,
soberano pacifista cuja terrível carreira pretérita como conquistador
o levou a um acurado exame de consciência sobre as realidades da
vida.
Este mundo indiano se veria perturbado, somente, pela vinda dos
kushans entre os séculos -2 -1. Contudo, esta invasão estava longe de
abalar os alicerces solidamente instituídos da sociedade indiana.
A estrutura destes documentos indianos, portanto, é simples: a
primeira geração deles se consigna nos vedas, os primeiros textos do
mundo védico; seguem-se as brahmanas e as aranyakas, textos de
especulação filosófica que começam a analisar a religiosidade védica;
os upanishads concluem esta linha de pensamento, construindo uma
nova mentalidade acerca da filosofia, da sociedade e da cultura que
seria conhecida como bramanismo – com toda a carga religiosa dela
derivada.
Textos auxiliares como o Manavadharmashastra, ou as leis de Manu,
os Dharma sutras e o Artashastra surgem ao longo desta trajetória,
tentando explicar questões variadas, como a administração da lei,
papéis sociais, visões de mundo calcadas na religião, etc. Quanto aos
puranas, estes se estabelecem como formas de histórias religiosas,
como o Mahabharata, o Ramayana e os puranas dos deuses, todos
eles épicos que explicam as teogonias indianas. Juntam-se a estes os
textos budistas, com seu ponto de vista particular sobre a existência.
Por estas razões veremos a ênfase dos textos indianos em questões
centrais da existência de sua sociedade, tais como as castas, a criação 11
do universo, os deuses, a transmigração das almas, etc, deixando de
lado um aprofundamento dos aspectos da historiografia ou da
política.
China
Tendo em vista o quadro da Índia, não será difícil perceber o quanto
a história chinesa é diferente. Embora tivessem (e ainda tenham)
uma mitologia rica e variada, essa nos é pouco conhecida – a paixão
verdadeira dos filósofos e pensadores chineses foi a história, baseada
no desenrolar dos eventos, e investigada a partir de documentos,
relíquias e relatos. Suas escolas filosóficas ativeram-se ao ―real
material‖, buscando a imanência, a realização neste mundo,
deixando para o além o que seria o próprio além. Tão pouco afeitos a
esta metafísica, os chineses sofisticaram o seu pensamento em
direção a uma ciência elaborada, racionalmente explicada, que nos
permite formar um quadro satisfatório da história intelectual
chinesa. Confúcio, o primeiro grande documentarista desta
civilização, legou-nos um vasto conjunto de informações sobre o
cotidiano, hábitos, costumes, e do que seria a busca da sabedoria – o
Dao (via, método, caminho).
Entender a história chinesa, pois, é um desafio sério, mas não pela
carência de informações - e sim por sua abundância, e suas versões
formatadas, que vêm sendo reelaboradas até os dias de hoje. A
cronologia da China é uma hemeroteca de velhas notícias, que
dirigem a interpretação dos acontecimentos, aplicando-lhes lentes
antigas, mas eficazes. Como disse o sábio Hanyu, da dinastia Tang:
No princípio, não me atrevia a ler nenhum livro que não fosse das
antigas dinastias Xia, Shang, Zhou ou da dinastia Han, nem retomar 12
nada que não fosse o ensino de algum grande santo do passado.
Cada vez que me detinha, parecia que havia perdido algo, e cada vez
que continuava a ler, tinha a sensação de ter me descuidado em
alguma coisa. Sempre andava sério como se estivesse meditando, e
perplexo como se estivesse perdido. E, quando de pincel na mão, me
dispunha a pôr em escrito o que brotava do meu coração, queria
suprimir todos os lugares comuns, mas....como era difícil fazê-lo
nessas condições! (Hanyu 768-824).
Este espírito afetou de modo profundo o senso crítico chinês, mas
igualmente o afiou, tornando-o ao mesmo tempo inquiridor,
audacioso, conservador e sintético. A negação do novo é um
fenômeno recente nesta história, pois a cultura chinesa desenvolveu
desde cedo uma paixão inalterável por conservar o patrimônio de
seu passado e, da mesma maneira, encantar-se pelas rupturas
saudáveis do pensamento, pela descoberta do inusitado.
A trajetória que acompanharemos aqui, pois, é temporalmente
semelhante a da Índia, mas totalmente diferente em sua
conformação. A China antiga é um espaço em aberto no seu próprio
território, identificada somente por semelhanças culturais.
Aparentemente, um movimento de unificação de cidades-estado
levou a formação de um reino, conhecido como dinastia Xia, do qual
pouco sabemos, embora esteja comprovado arqueologicamente. Esta
civilização data de algo em torno dos séculos – 18 a -15, mas é
sucedida pela dinastia Shang, bem mais documentada. Entre os
Shang surge, aparentemente, a escrita (se essa não for também uma
conquista dos Xia, mas até agora não surgiram provas disso), mas
uma farta cultural material, depositada em seus túmulos, permite-
nos ter uma cronologia razoavelmente clara dos acontecimentos, que 13
nos permitem saber de sua existência entre os séculos – 15 -12.
Somente nesta época eles serão submetidos à dinastia Zhou, a mais
longa da história chinesa, que institui uma espécie de feudalismo na
administração do território, agora muito mais amplo e sinizado.
A história dos Zhou, longa, é também permeada por fases sucessivas
de poder e decadência; ela divide-se em dois períodos distintos, os
dos Zhou anterior (1027 – 771) e Zhou posteriores (771 - 221),
motivados por uma forçada transferência da capital real. A fase dos
Zhou posteriores divide-se, ainda, no tempo das primaveras e
outonos (771 - 481) e no tempo dos estados combatentes (481 – 221),
quando finalmente a dinastia é derrubada para dar lugar à nova
reunificação chinesa promovida pela dinastia Qin (221 – 206). O
governo Qin, embora eficiente na guerra e na administração, não era
sólido nem coeso, sendo derrubado brevemente pela dinastia Han,
que reinaria até o século 3 ec. Qin construir os grandes monumentos
da China antiga, como a grande muralha e a tumba dos guerreiros de
terracota, mas também queimou livros, prejudicando o estudo do
passado e da filosofia chinesa. Coube aos Han recuperarem parte
destas informações, permitindo-nos compreender esta história
chinesa antiga.
Os documentos de que dispomos – e que aqui apresentaremos – se
constituem basicamente em três corpos distintos: o primeiro trata-se
dos clássicos antigos, que seriam o tratado das mutações (yi), dos
livros (shu), dos poemas (shi), dos rituais (li) e da música (yue), este
último perdido, do qual só sobrou uma parte no Liji. Confúcio os
resgata no século -6, e adiciona a eles as crônicas das Primaveras e
Outonos (Chunqiu), que receberia três comentários explicativos
posteriormente (Zuozhuan, Guliang e Gongyang). Estes livros 14
seriam a documentação básica sobre o passado, que explicaria a vida
nas dinastias antiga e o que seria a cultura Zhou. Depois da revisão
confucionista, temos a vasta e inovadora literatura da época das cem
escolas (contida na transição entre as primaveras e outonos e que se
desenrola no meio dos estados combatentes), quando o debate
filosófico faz surgir toda uma nova quantidade de escritos,
defendendo as mais diversas visões sobre a sociedade e o
pensamento na época. São deste contexto os textos da escola
confucionista, o Lunyu, Zhongyong, Daxue e Xiaojing, dos autores
Mêncio e Xunzi, dos daoístas Laozi, Zhuangzi, Liezi, dos legistas
Shangyang e Hanfeizi, de Mozi, e a coletânea histórica do
Zhanguoce. O terceiro corpo é dos textos da época Han, tempo de
sínteses e da criação de novas teorias. Temos o Huainanzi de Liuan e
o Chunqiu fanlu de Dong Zhongshu, ambos tratados sobre filosofia;
o inovador Shiji, de Sima Qian, reinventando a história chinesa; ou
ainda, o Neijing, tratado sobre medicina chinesa que serve para uma
interpretação multifacetada do pensamento chinês deste momento.
Perceberemos que a presença marcante nesta textualidade é uma
análise pragmatista da realidade. Disso decorre a fundamental
importância nos textos das questões políticas, educacionais e
sociológicas; como dissemos, a China da antiguidade tem seu
pensamento mítico, mas a intelectualidade desta civilização atinha-
se ao que entendia ser a sua ciência, baseada numa busca da razão,
que o afasta de modo indiscutível da conformação da civilização
indiana.
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Mitos de Criação
2. A Prajapati
No início surgiu Hiranyagarbha, (a) nascido senhor único de todos
os seres criados. 19
Ele fixou e sustenta esta terra e céu. Que deus adoraremos
com nossa oblação?
Proporcionador de alento vital, de força e vigor, aquele cujos
mandamentos todos os deuses aceitam:
O senhor da morte, cuja sombra é a vida imortal. Que deus
adoraremos com nossa oblação?
Aquele que por sua grandeza tomou-se senhor único de todo
o mundo móvel que respira e dorme:
Aquele que é senhor dos homens e senhor do gado. Que deus
adoraremos com nossa oblação?
Suas, por seu poder, são estas montanhas cobertas de neve, e
[os homens chamam o mar e Rasa (b) sua posse:
Seus braços são estes, suas são estas regiões celestiais. Que deus
adoraremos com nossa oblação?
Por ele, os céus são fortes e a terra segura, por ele o reino da
luz e a arcada do céu são sustentados;
Por ele as regiões na atmosfera foram medidas. Que deus
adoraremos com nossa oblação?
Para ele, apoiados por sua ajuda, dois exércitos em batalha
olham com tremor no espírito,
Quando sobre eles o sol brilha. Que deus adoraremos com nossa
oblação?
Na época em que as águas poderosas vieram,
contendo o germe universal, produzindo Agni,
Daí passou a existir o espírito dos deuses.
Que deus adoraremos com nossa oblação?
Em seu poder, ele examinou as enchentes que continham
força produtiva e geravam a adoração. 20
Ele é o deus dos deuses e ninguém mais do que ele. Que deus
adoraremos com nossa oblação?
Que nunca possa ele nos ferir, ele que é o criador da terra, nem
ele cujas leis são certas, o criador dos céus,
Ele que trouxe as grandes e luminosas águas.
Que deus adoraremos com nossa oblação?
Prajapati! Só tu compreendes todas essas coisas criadas, e ninguém
mais senão tu.
Atende o desejo de nossos corações quando te invocamos -
que possamos ter muita riqueza em nosso poder.
a) Germe dourada, nome dado ao deus Brama.
b) Nome de um rio mítico.
3. A Canção da Criação
Então não existia o não-existente, nem o existente - não havia
reino do ar, nem céu além dele.
o que encobria, e onde? E o que dava abrigo? Existia água
ali, urra profundidade insondável de água?
Não existia então a morte, nem coisa alguma imortal - não
havia sinal, o divisor do dia e da noite.
Aquela coisa única, sem alento, respirou por sua própria natureza –
a não ser ela, não existia coisa alguma.
Existia treva; de começo oculto na treva, esse Tudo era caos
indiscriminado.
E tudo quanto existia então era vazio e sem forma –
pelo grande poder do calor nasceu aquela unidade.
Daí em diante surgiu o desejo no início, Desejo, a semente e 21
germes primevos do espírito.
Sábios que buscavam com o pensamento e seus corações
descobriram o parentesco do existente no não-existente.
Transversalmente sua linha de separação se estendeu - o que
estava acima, então, e abaixo?
Existiam reprodutores, forças poderosas,
ação livre aqui e energia acima, além.
Quem realmente sabe e quem pode declarar, de onde nasceu
e de onde veio essa criação?
Os deuses vieram depois da produção deste mundo. Quem sabe,
portanto, de onde ele veio pela primeira vez?
Ele, a primeira origem desta criação, tenha formado a mesma
toda ou não a tenha formado,
Cujo olho controla este mundo no céu mais alto, ele realmente
sabe, ou talvez não saiba.
5. Aitaryea Upanishad
ANTES DA CRIAÇÃO, tudo O que existia era o Eu, somente o Eu.
Nada mais havia. Então o Eu pensou: "Criarei os mundos."
Ele criou os mundos: Ambhas, o mundo mais elevado, que está
acima do céu e é sustentado por ele; Marichi, o céu; Mara, o mundo
mortal, a terra; e Apa, o mundo abaixo da terra.
Ele pensou: "Eis os mundos. Enviarei agora os seus guardiões."
Enviou então os guardiões.
Ele pensou: "Eis os mundos e seus guardiões. Enviarei alimento para
os guardiões." Então enviou alimento para eles.
Ele pensou: ―Como poderão existir guardiões sem que eu tome parte
neles?‖.
"Se, sem mim, a palavra é pronunciada, o alento é absorvido, os
olhos vêem, o ouvido ouve, a pele sente, a mente pensa, os órgãos
sexuais procriam, então o que sou eu?"
Ele pensou: "Penetrarei nos guardiões." E então, abrindo o centro
dos seus crânios, entrou. A porta por onde ele entrou é chamada de
porta da bem-aventurança.
Sendo o Eu desconhecido, todos os três estados da alma são apenas
sonho: vigília, sonho e sono sem sonhos. Em cada um deles habita o
Eu: o olho é o local em que habita quando estamos acordados, a
mente é o local em que habita enquanto sonhamos, o lótus do
coração é o local em que habita quando dormimos o sono sem
sonhos.
Após penetrar nos guardiões, ele se identificou com eles. Tornou-se
muitos seres individuais. Assim, conseqüentemente, se um indivíduo 24
acorda do seu tríplice sonho de vigília, sonho e sono sem sonhos, vê
apenas o Eu. Ele vê o Eu morando no lótus do seu coração como
Brahman, onipresente, e declara: "Conheço Brahman!‖
Quem é esse Eu que desejamos venerar? De que natureza é esse Eu?
É ele o eu através do qual vemos a forma, ouvimos o som, cheiramos
o odor, falamos as palavras e provamos o doce ou o amargo?
É ele o coração e a mente através do qual percebemos, comandamos,
discriminamos, conhecemos, pensamos, recordamos, queremos,
sentimos, desejamos, respiramos, amamos e executamos outros atos
semelhantes?
Não, esses são apenas adjuntos do Eu, que é consciência pura, que é
Brahman. E esse Eu, que é consciência pura, é Brahman. Ele é Deus,
todos os deuses; os cinco elementos - terra, ar, fogo, água, éter;
todos os seres, grandes ou pequenos, nascidos de ovos, nascidos do
útero, nascidos do calor, nascidos do solo; cavalos, vacas, homens,
elefantes, pássaros; tudo o que respira, os seres que caminham e os
seres que não caminham. A realidade que está por trás de todos eles
é Brahman, que é consciência pura.
Todos esses, enquanto vivem, e depois que cessam de viver, existem
nele.
O sábio Vamadeva, tendo percebido Brahman como consciência
pura, partiu desta vida, subiu aos céus, realizou todos os seus
desejos, e alcançou a imortalidade.
39
A Morte
O Rei da Morte;
O bem é uma coisa; o prazer é outra. Esses dois, diferindo em seus
propósitos, incitam à ação. Abençoados são aqueles que escolhem o
bem; aqueles que escolhem o prazer não atingem o objetivo.
Tanto o bem como o prazer se apresentam ao homem. Os sábios,
após examinarem ambos, distinguem um do outro. Os sábios
preferem o bem ao prazer; os tolos, levados por desejos carnais,
preferem o prazer ao bem.
Vós, Ó Nachiketa, após haverdes observado os desejos carnais,
agradáveis aos sentidos, renunciastes a todos eles. Vós vos
desviastes do caminho lamacento no qual muitos homens se atolam.
Distantes um do outro, e levando a diferentes desígnios, encontram-
se a ignorância e o conhecimento. Eu vos considero, Ó Nachiketa,
como alguém que anseia pelo conhecimento, pois uma infinidade de
objetos agradáveis foram incapazes de tentar-vos.
Vivendo no abismo da ignorância, embora julgando-se sábios, tolos
iludidos dão voltas e voltas, cegos levados por cegos.
Ao jovem irrefletido, enganado pela vaidade das posses terrenas, não
é mostrado o caminho que leva à morada eterna. Somente este
mundo é real: não existe depois - pensando assim, ele cai uma e
outra vez, nascimento após nascimento, dentro das minhas
mandíbulas.
A muitos não é concedido ouvir sobre o Eu. Muitos, embora ouçam a
respeito dele, não o compreendem. Maravilhoso é aquele que fala a 48
respeito do Eu. Inteligente é aquele que aprende a respeito do Eu.
Abençoado é aquele que, tendo aprendido com um bom mestre, é
capaz de compreendê-lo.
A verdade do Eu não pode ser completamente compreendida
quando ensinada por um homem ignorante, pois as opiniões a
respeito dele, não fundamentadas no conhecimento, variam de um
para outro. Mais sutil do que o mais sutil é esse Eu, e além de toda
lógica. Ensinado por um mestre que saiba que o Eu e Brahman são
um só, um homem deixa para trás a vã teoria e atinge a verdade.
O despertar que conhecestes não vem do intelecto, e sim,
totalmente, dos lábios dos sábios. Bem-amado Nachiketa,
abençoado, abençoado sois vós, porque procurais o Eterno. Quisera
eu ter mais discípulos como vós!
Bem sei que os tesouros terrestres duram pouco. Pois não fiz eu
mesmo, desejando ser o Deus da Morte, o sacrifício com o fogo? O
sacrifício, porém, foi uma coisa efêmera, realizada com objetos
fugazes, e pequena é minha recompensa, considerando que meu
reino só durará por um momento.
A finalidade do desejo mundano, os objetos fulgurantes que todos os
homens almejam, os prazeres celestiais que esperam obter através
de rituais religiosos - tudo isso esteve ao vosso alcance. Porém, a
tudo isso renunciastes, com firme resolução.
O antigo, fulgurante ser, o Espírito que habita interiormente, sutil,
profundamente oculto no lótus do coração, é difícil de ser conhecido.
Porém, o homem sábio, que segue o caminho da meditação,
conhece-o, e se torna liberto tanto do prazer como da dor.
O homem que aprendeu que o Eu está separado do corpo, dos
sentidos e da mente, e que o conheceu por completo, a alma da 49
verdade, o princípio sutil - tal homem verdadeiramente o alcança, e
se torna extremamente satisfeito, pois encontrou a fonte e o local
onde habita toda a felicidade. Verdadeiramente acredito, Ó
Nachiketa, que as portas da felicidade estão abertas para vós.
71
Vivendo em Sociedade
_________
_________
_________
_________
_________
O Julgamento
A Recuperação do Deteriorado possui um supremo sucesso. É
vantajoso cruzar as grandes águas. Antes de começar, três dias;
Depois de começar, três dias.
A Imagem
O Vento soprando ao pé da Montanha simboliza a Deterioração.
Assim, o homem nobre movimenta o povo E fortifica seu espírito.
As Linhas
Seis no fundo: a ruma acarretada pelo pai é reparada pelo filho. Se
tiver sucesso, o pai não ficará desonrado. Perigo, ao fim, fortuna.
Nove no segundo lugar: ao reparar o que foi deteriorado pela mãe,
não se deve ser muito persistente.
Nove no terceiro lugar: reparar o que foi deteriorado pelo pai. Algum
remorso, mas não haverá desonra considerável.
Seis no quarto lugar: tolerar o que foi deteriorado pelo pai. Ao
continuar, é-se humilhado. 148
Seis no quinto lugar: reparar o que foi deteriorado pelo pai,
Encontra-se elogio.
Nove no alto: ele não serve a sacerdotes e reis,- ele se fixa objetivos
superiores.
169
Visões da Guerra
184
A Ciência de Registrar o Passado
203