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SENADOR SÉRGIO PETECÃO

PARECER Nº , DE 2017

SF/17876.57730-36
Da COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO, JUSTIÇA E
CIDADANIA, em decisão terminativa, sobre o
Projeto de Lei do Senado nº 224, de 2017, do Senador
Wilder Morais, que altera a Lei nº 10.826, de 22 de
dezembro de 2003, para autorizar a aquisição de uma
arma de fogo de uso permitido por residentes em
áreas rurais.

Relator: Senador SÉRGIO PETECÃO

I – RELATÓRIO

Vem a esta Comissão, em decisão terminativa, o Projeto de Lei do


Senado (PLS) nº 224, de 2017, de autoria do Senador Wilder Morais, que
pretende alterar o art. 4º da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto
do Desarmamento).

Em síntese, a proposição legislativa em exame tem como objetivo


autorizar a aquisição de uma arma de fogo de uso permitido por residentes em
áreas rurais, desde que o adquirente seja maior de 21 (vinte e um) anos e cumpra
os requisitos exigidos nos incisos I a III do § 5º do art. 6º do Estatuto do
Desarmamento.

Segundo a justificação do PLS, a legislação de países desenvolvidos de


dimensão continental, como é o caso dos EUA, assegura a seus cidadãos o direito à posse
de armas para a defesa de suas propriedades rurais, e mesmo naquelas nações onde há leis
bastante restritivas no que se refere ao acesso a armas de fogo pela população civil, como
o Canadá e a Austrália, é assegurado o licenciamento de armas de fogo mediante a
comprovação de alguns requisitos mínimos, como idade superior a 18 anos, bons
antecedentes e certificado de segurança para o seu manuseio. É nessa esteira que propomos
este Projeto de Lei, visando a assegurar aos residentes em áreas rurais o direito de adquirir
uma arma de fogo de uso permitido para utilização em suas propriedades, as quais, não
raro, encontram-se a centenas de quilômetros de um posto policial, o que coloca inúmeras
famílias à mercê do ataque de criminosos ou, até mesmo, de animais silvestres, não
assistindo a elas quaisquer meios de defesa de sua vida e de sua propriedade.

Não foram apresentadas emendas ao PLS no prazo regimental.

Senado Federal, Ala Senador Teotônio Vilela, Gab. 21, Brasília - DF - Tel (61) 3303-6706 – Fax (61) 3303-6714
sergiopetecao@senador.gov.br
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II – ANÁLISE

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Preliminarmente, registramos que a matéria sob exame não
apresenta vícios de constitucionalidade formal, uma vez que, nos termos do art.
21, VI, da Constituição Federal, compete à União “autorizar e fiscalizar a
produção e o comércio de material bélico”. Além disso, nos termos do inciso
I do art. 22, compete privativamente à União legislar sobre direito penal.

Ressalte-se que, sobre a matéria, o Supremo Tribunal Federal


(STF), na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 2.729 (Plenário,
Relator para o acórdão Ministro Gilmar Mendes, DJE 12.2.2014), fixou o
entendimento de que “a competência privativa da União para ‘autorizar e
fiscalizar a produção e o comércio de material bélico’ também engloba outros
aspectos inerentes ao material bélico, como sua circulação em território
nacional”. Ademais, no mesmo julgamento, ficou assentado que
“regulamentações atinentes ao registro e ao porte de arma também são de
competência privativa da União, por ter direta relação com a competência de
"autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico" – e não
apenas por tratar de matéria penal, cuja competência também é privativa da
União (art. 22, I, da CF)”.

Por sua vez, ainda no âmbito da constitucionalidade formal,


entendemos que não se trata de matéria submetida à iniciativa privativa do
Presidente da República, nos termos do § 1° do art. 61, da Carta Magna.

No mérito, temos que a proposição é conveniente e oportuna.

Atualmente, o § 5º do art. 6º do Estatuto do Desarmamento garante


o porte de arma de fogo de uso permitido, na categoria caçador para
subsistência, “aos residentes em áreas rurais, maiores de 25 (vinte e cinco)
anos que comprovem depender do emprego de arma de fogo para prover sua
subsistência alimentar familiar”. Para tanto, o interessado, além de apresentar
a documentação necessária, deverá comprovar efetiva necessidade da arma.

O dispositivo em questão somente é aplicável àqueles que


necessitem do porte de arma de fogo para, por meio da caça, prover a
subsistência familiar. Na hipótese de o residente em área rural necessitar da
arma de fogo unicamente para a defesa de sua residência, não há dispositivo
específico no Estatuto do Desarmamento tratando do assunto.

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Conforme já salientado na justificação do PLS, os residentes em


áreas rurais, em geral, estão afastados dos centros urbanos e,

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consequentemente, da abrangência de rotas de policiamento. Isso faz com que
suas famílias fiquem à mercê de eventuais criminosos ou até mesmo de animais
silvestres, estando, portanto, desprovidas de meios de defesa de sua
propriedade ou de sua vida.

Para a aquisição de armas de fogo, há apenas a regra geral,


constante do art. 4º, onde o adquirente, além de demonstrar efetiva necessidade,
deverá atender aos seguintes requisitos: i) comprovação de idoneidade, com a
apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pela
Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar respondendo a
inquérito policial ou a processo criminal, que poderão ser fornecidas por meios
eletrônicos; ii) apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e
de residência certa; iii) comprovação de capacidade técnica e de aptidão
psicológica para o manuseio de arma de fogo.

Entretanto, nos termos do PLS, entendemos que tais requisitos não


devem ser exigidos do residente rural, uma vez que, quando obtém porte de
arma na categoria caçador para subsistência, é exigido apenas o cumprimento
dos requisitos constantes no § 5º do art. 6º do Estatuto do Desarmamento.
Assim, ao nosso ver, não deve haver a exigência do cumprimento de condições
mais rigorosas quando da obtenção do certificado de Registro de Arma de Fogo,
que, nos termos do caput do art. 5º do referido diploma legal, autoriza apenas
o seu proprietário a manter a arma de fogo no interior de sua residência ou
domicílio, ou dependência desses.

Ademais, como não se trata do porte da arma de fogo, mas de mera


possibilidade de aquisição, entendemos que o requisito de idade mínima pode
ser reduzido, como pretende o PLS, para as pessoas com mais de vinte e um
anos de idade. Sobre esse aspecto, como existe a vedação constante do art. 28
do Estatuto do Desarmamento, que não permite ao menor de vinte e cinco anos
adquirir arma de fogo, apresentamos emenda ao final alterando esse
dispositivo, para excetuar os residentes em áreas rurais do cumprimento desse
requisito.

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III – VOTO

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Pelo exposto, somos pela aprovação do Projeto de Lei do Senado
nº 224, de 2017, com a emenda a seguir:

EMENDA Nº - CCJ
(ao PLS nº 224, de 2017)

Dê-se ao art. 1° do Projeto de Lei do Senado n° 224, de 2017, a


seguinte redação:

“Art. 1º Os arts. 4º e 28 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, passam


a viger com a seguinte redação:

‘Art. 4º.........................................................................
......................................................................................
§ 9º Aos residentes em áreas rurais, maiores de 21 (vinte e um)
anos, é assegurada a aquisição de uma arma de fogo de uso permitido,
desde que atendidos os requisitos constantes dos incisos I a III do § 5º
do art. 6º desta Lei. (NR)

Art. 28. É vedado ao menor de 25 (vinte e cinco) anos adquirir


arma de fogo, ressalvados os integrantes das entidades constantes dos
incisos I, II, III, V, VI, VII e X do caput do art. 6º e da hipótese prevista
no § 9º do art. 4º, todos desta Lei.’ (NR)”

Sala da Comissão,

, Presidente

, Relator

Senado Federal, Ala Senador Teotônio Vilela, Gab. 21, Brasília - DF - Tel (61) 3303-6706 – Fax (61) 3303-6714
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