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Desenvolvimento

psicológico
e educação
3.
Transtornos do desenvolvimento e
necessidades educativas especiais
2ª edição

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César COLL
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Tradução:
Fátima Murad
0451 Desenvolvimento psicológico e educação 1organizado por
César Coll. Álvaro Marchesi e Jesús Pnlacios; trad. Fátima Consultaria, supervisão e revisão técnica desta edição:
Murad - 2. ed. - Porto Alegre: Artmed. 2004.
3v. Claudio Roberto Baptista
Psicólogo. DOlltor em Educação pela Università degli Stl.ldi di Bologl1a.
(Transtornos do desenvolvimento e necessidades edl1cativas Professor Adjunto 110 Departamento de Estudos Básicos c
especiais; 3) 110 PPG em Educação da UFRGS.
1. Psicologia - Desenvolvimento - Necessidades educativas
especiais. I. Co11, César. 11. Marchesi. Alvaro. Il!. Palacios. Jesús.

ti
IV Título.

CDU 159.922/.8:376,11.58

Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto - CRB 10/1023

ISBN 85-363-0228-3
2004
128 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS.

programa com estas caractenstlcas. O traba- 3. A possibilidade de que as normas


lho com esses temas, de maneira formal ou in- sejam discutidas por aqueles que
cidental, ajuda a transformar as relações entre
os agentes educativos, e é a melhor forma de
auxiliar os alunos com problemas de apren-
dizagem.
têm de obedecê-Ias.
4. A aceitação de que as normas po.
dem mudar se houver boas razões
para isso.
~

7 Os alunos com pouca


motivação para aprender
Muitas vezes, no entanto, os programas 5. O compromisso de que, no fmal, os
preventivos não evitam a aparição de proble- pais e os educadores têm o dever de ÁLVARO MARCHESI
mas de conduta que causam dificuldades no proteger e de educar as Clianças e que
clima da aula e são diruptivos para a relação isso supõe uma relação de assimetria
de ensino e aprendizagem. Nesse caso, o mais à qual não ~e pode renunciar.
eficaz, além da prevenção, que demonstrou ter ~
influência direta no clima da aula, é reconer a Resumindo: uma vez que se tenham se.
sistemas de disciplina indutiva que dão ênfase guido os plincípios da disciplina indutiva, é
aos seguintes aspectos: necessário manter a coerência, exigir seu cum. INTRODUÇÃO o imprescindível para passar, a fim de evitar a
primento e prever a forma (pessoas e regras repetição do ano ou a indisposição da família.
1. A origem consensual ou, pelo me- do jogo) como se determinará se a norma foi Uma das maiores dificuldades enfrenta- Às vezes, essa falta de motivação concretiza-se
nos, refletida das normas. Para isso, cumprida ou não. Ao mesmo tempo, deve-se das pelos professores, especialmente durante apenas em algumas matérias, enquanto em
deveriam participar todos os agen- estabelecer o sistema de sanções, de tal forma o ensino médio, é a de ensinar àqueles alunos outras o aluno tem uma atitude mais positi-
tes educativos inclusive os alunos, que sejam educativas, em vez de ser conside· que não querem aprender. Com pouca motiva· va. Apesar dessas nuanças, os dados expos-
2. A explicação das normas em termos radas como a expiação de uma culpa. Final· ção para as tarefas escolares, sua presença na tos anteriormente, somados aos que proce-
que convençam os que as aplicam mente, é preciso prever as estratégias para re· escola se explica apenas pela pressão dos pais, dem de outras pesquisas (Galloway, Leo, Rogers
e os que têm de obedecê-Ias. É solver os conflitos que ultrapassem o próprio pela responsabilidade da escola ou porque os e Annstl'üng, 1995), indicatll que pelo menos
muito importante dar ênfase à uti- educador. alunos ainda não decidiram abandonar total- 20% dos alunos do ensino médio não manifes-
lidade das normas e aos seus bene- mente as salas de aula, decisão que a grande tam nenhuma motivação para a aprendizagem
fícios sociais e individuais. Para maioria deles tomaria com muito gosto. na maioria das áreas do cunículo comum.
isso, é útil dedicar um tempo à ex- NOTA O número de tais alunos é muito eleva- Os textos sobre os alunos com necessida-
plicação do sentido destas e à dis- do. O informe Keele, realizado na Inglaterra e des educativas especiais não fazem referência
cussão com os alunos sobre as pos- 1. O Capítulo 3 abordou mais extensamente as cujos resultados foram retomados por Michel a eles. Talvez porque se aceite, de forma implí-
síveis mudanças. relações entre os atrasos maturativos e os pro· Bm'ber (1997) em sua análise sobre o sistema cita, na maioria das vezes, que a aprendiza-
bleniàs de aprendizagem: eelucaéional'inglês, assinala que em teimo ele gem supõe esforço e sacrifício e que, conse-
40% dos alunos do ensino médio têm uma fal- qüentemente, uma ampla porcentagem de alu·
ta de motivação geral. Quase 60% estão de nos niio estará muito interessada em aprender
acordo que "contam os minutos" que faltam a maioria das matérias escolares. Talvez por-
para as ,lUlas terminarem: 20% considerarn que que exista 11ma estreita relaçiio entre a falt,] de
o trabalho que se realiza é entediante: 40%, motivação e os problemas de conduta, e são
acham que as aulas são muito longas e quase estes que colocam mais dificuldades aos pro·
um terço deles afirmam que prefeririam nilO ir fessores, os que receheram maior atenção e os
à escola. Nessas condições, não é de se estra· que geralmente se incluem entre as necessida·
nhar que os professores se sintam ansiosos des educativas especiais dos alunos.
quando têm de ensinar a tais alunos e relativa· Parece razmível, contudo, admitir que a
mente impotentes quando essa falta de moti- ausência generalizada de interesse pelo estu·
vação é associada a comportamentos que difi- do está associada a importantes atrasos no ní-
cultam o ambiente de trabalho na aula. vel de aprendizagem dos alunos, o que exige
É verdade que, em muitos casos, esse adaptaçôes na metodologia, na organização
"aborrecimento" dos alunos não se traduz em escolar ou na oferta educativa e também, em
uma atitude oposta à pm·ticipação no processo muitas ocasiôes, recursos complementares para
de ensino, mas faz com que aprendam apenas conseguir um maior envolvimento do aluno em
130 COLL, MARCHESI, PALAGIOS & GOLS. DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUGAÇÁO, V. 3 131

seu progresso educacional. Nessa perspectiva, seus alunos; que uns professores podem ser vaçao que uma pessoa manifesta está relacio- de suas aprendizagcns. O que busca é a avalia-
não há dúvida de que tais alunos apresentam mais motivadores que outros na mesma maté. nada com as crenças e as metas às quais adere ção positiva de seus professores, pais ou cole-
necessidades educativas especiais. ria; e que o mesmo aluno pode estar mais mo. em um determinado momento. Ou seja, são as gas. As tarefas que tenta rcsolver e fi esforço
As relações entre ausência de motivação, tivado em uma escola do que em outra. representaçôes cognitivas do que se desejaria que dedica a elas estão em função da avalia·
problemas de conduta e atrasos na aprendiza- Essa responsabilidade das escolas e dos conseguir ou evit<U' que influem decisivamen- ção que recebcní dos outros. Sem dúvida, é
gem são difíceis de estabelecer. O capítulo an- professores na motivação dos alunos não pode te na motivação, ou na falta de motivação, para uma motivação que conduz a aprendizagens
terior abordou de forma extensa as diversas fazer com que se esqueça de que essa mesma aprender. Nesta linha. Alonso Tapia (1997) fez mais superficiais, menos estáveis e mais depen-
hipóteses sobre problemas de aprendizagem e motivação para a aprendizagem também é mal. tUnanova leitura das possíveis metas dos alunos dentes da recompensa extema; contudo, os alu-
transtomos do comportamento. Raciocínios si- dada em contextos não-escolares, como a fa· que podem levá-Jos a um maior ou a um menor nos com esse tipo de motivação participam do
milares podem ser feitos, agora, incluindo a mília, a classe social e a cultura. Há alunos cujas~ envolvimento na aprendizagem (ver Figura 7.1). processo ele aprendizagem. Os professores de-
dimensão motivacional. O estudo realizado por condições sociais, cultupis e familiares propor. A diferenciação entre as diversas metas vem tentar que eles se interessem de fonna mais
Galloway, Rogers, Annstrong e Leo (1998) cionam menos estímul~s para considerar atra· de aprendizagem levou a uma categorização autônoma por aprcnder, mas não são alunos que
mostra que os alunos com problemas de aprcn- ente o esforço que supõe a aprendizagem. Os amplamente aceita: os alunos orientados para neccssitem de adaptações do currículo ou de
dizagem associados a um baixo rendimento contextos social e cultural influem igualmente metas de aprendizagem e os alunos orienta- apoios pa.ra avançar em suas aprendizagens.
acadêmico ou a baixas pontuações em raciocí- nas metas que o aluno se coloca e em sua mo· dos para metas de execuçao. Os primeiros são Mais preocupantes são aqueles alunos
nio não-verbal mostram estilos motivacionais tivação para a aprendizagem. O estudo dos alu- os bons alunos: procuram conhecer, aprender cujo principal objetivo é evitm- o fracasso esco-
bem menos acIaptativos que outros alunos. Há nos com pouca motivação para as tarefas es· e melhorar. São movidos por metas pessoais e lar. Sua principal característica é a inseguran-
também alunos com baixo rendimento acadê- colares, em bora às vezes com uma alta moti· autônomas. Seu principal interesse centra-se ça em suas habilidades ou a insegurança de
mico que têm uma boa motivação para a apren- vação para outro tipo de tarefas, não deve dei- mais no processo ele aprendizagem que vão de- que não serão capazes de ter êxito nas tarefas
dizagem, e alunos com níveis médios dc inteli- xar de analisar a influência desse tipo de fato· senvolver do que no resultado final. Entre os escolares. Alguns deles desenvolvem estraté-
gência e de rendimento escolar que apresen- res. O trabalho das escolas e dos professores segundos, de clara orientação extríllseca, po- gias que os levam a resolver as tiu-efas escola-
tam problemas motivacionais. As relações en- enfrenta tais condicionantes, que só podem ser dem-se diferenciar dois tipos de metas: os alu- res e, desse modo, a evitar seus temores. Ou-
tre essas variáveis não são n01'malmente linea- modificados a partir de projetos que transcen- nos que buscam juízos positivos dos outros e tros, em compensação, tentam c!esvinculaJ--se
res nem unidirecionais. O que parece claro, cm dem o estrito trabalho escolar. aqueles alunos cujo objetivo principal é evitar do trabalho na escola. Para esses alunos, ne-
todo caso, é que a falta de motivação é um Este capítulo desenvolve tais temas em o fracasso. Quando a motivação é orientada nhum esforço na escola suporá uma melhora
fator que influi no baixo rendimento dos alu- três itens. O primeiro aborda as teOlias mais para a aprovação dos outros, o aluno leva em em sua auto-estima pessoal ou na valorização
nos, embora nem todos os alunos com baixo importantes sobre a motivação escolar e pro· conta quase que exclusivamente o resultado que os outros façam deles. Suas metas estão
rendimento tenham pouca motivação para a cura explicar, com base nelas, a falta de moti-
aprendizagem escolar. Da mesma forma, o es- vação de determinados alunos. O segundo item
.çasso rendimento es.c.ola,r aumenta o risco de. dá ênfase aos contextos escolm; s'ocial e cultu- ..1

que a motivação para aprender diminua. ral para ampliar as interpretações anteriores. Desejo de domínio
e experiência
A crença tradicional, sustentada por al- No terceiro e último item, apresenta-se um
de competência
-gumas teorias psicológicas, é que a motivação conjunto de iniciativas;'rantoeducativas'como
é um traço próprio de cada pessoa, que se sociais, que podem contribuir para reduzir o
mantém relativamente constante ao longo do número de alunos que não vêem nenhum sen-
7 2
tempo e cuja modificação é bastante difícil. tido na aprendizagem escolar. Necessidade Desejo de
Dessa perspectiva, o aluno é responsável por de aceitação aprender algo útil
seu pouco interesse pela aprendizagem. As te-
orias mais atuais sobre a motivação'e a apren- DESMOTIVAÇÃO E FALTA DE SENTIDO
dizagem, porém, mostram que os motivos de NA APRENDIZAGEM ESCOLAR
6
um aluno devem ser entendidos a pa.rtir de suas Necessidade de
3
experiências prévias, como um produto da Metas de aprendizagem Desejo de consegUir
autonomia e controle
interação do aluno com os diferentes contex· e metas de execução
tos em que está presente o sentido da aprendi-
zagem escolar. Por essa razão, como assinala Os modelos mais recentes sobre a moti- 5 4
A1onso Tapia (1996), o aluno está motivado vação para a aprendizagem incorporaram o Necessidade de Necessidade da
conceito de "meta" como elemento fundamen- preservar segurança que
ou desmotivado em função do significado que
a auto-estima confere a aprovação
tem para ele o trabalho escolar. Portanto, pode· tal, sem o qual é difícil entender a atividade
se afirmar que uma escola tem condições de propositiva dos alunos. Tanto Dweck (1985)
FIGURA 7.1 Fonte: Alonso Tapia (1997).
favorecer a motivação ou a desmotivação de como Covington (1992) afirmam que a moti-

132 COll, MARCHESI, PAlACIOS & COlS.


DESENVOLVIMENTO PSICOlÓGICO E EDUCAÇÃO, V. 3 133

ção daqueles alunos, que se desvinculam ela


em outras atividades, seja de caráter mais pro- difIculdades iniciais de aprendizagem acUm\l:' dolescentes é dirigi da pelo desejo de reconhe-
fissional. seja aquelas realizadas pejo grupo de le uma história de fracassos que o leve a consi. ."~i01entoe de valorização. Quando esses jovens aprendizagem escolar.
colegas ao qual estão ligados ou ainda de ca- derar-se incapaz de conseguir por si mesmo o comprovam que na es;:ola não vão conseguir
ráter antinormativo, para obter o reconheci- menor acerto.1 • isso. porque é necessario resolver as tarefas Por que um aluno não encontra sentido
mentos de seus iguais. Em todos os casos há Em bora as experiências repetidas de fra- acadêmicas c ter êxito, o que está fora de suas na aprendizagem escolar
um denominador comum: as tarefas escolares casso costumem conduzir ao abandono do es- possibilidades. desenvolvem comportamentos
que têm de realizar não são capazes de co- forço escolar pelos processos atributivos que alternativos que em outros lugares e por ou· Diversos autores refletira.m sohre as con-
nectar-se à auto-estima dos alunos, possivel- se acaba de apontar, é preciso assinalar que trOS grupOS são valorizados e reconhecidos. dições que contribuem par;] que o~;alunos atli-
mente porque não confiam em suas habilida- nem sempre é assim. Há diferenças individu_ São, portanto, alunos sem motivação para a huam mais sentido ao seu envolvill1ent.o 11<:1
des nem em seu esforço. Os conceitos de auto- ais importantes na resposta que os alunos dão apren dizagcm escolar, m as com um a forte aprendizagem (McCombs e Whisler, 1989:
estima, habilidade, esforço e experiência de a seus repetidos tropeços escolares. A variável motivação para manter sua auto-estima com Solé, 199~):Miras. 1996). A partir dessas anú-
fracasso estão no núcleo explicativo ela des- que se considerou riais relevante para expli- condulas contrárias às normas escolares e ;IS lises. niio é difícil encontrar as razões que le-
motivação generalizada dos alunos. car tais diferenças é a auto-estima dos alunos. nor111as soei ais. vam ao efeito cont.rário. isto é. a qllC os alullos
Covington (1992) ressaltou a importância des- Em resumo, a partir dos estudos revisa- VilO, paulatinamente. deixando de atribuir ~eJl-
se fator na motivação escolar dos alunos. Sem dos até agora, pode-se explicar a falta de mo- tido às suas aprendizagens, se alguma vez che-
Experiência de fracasso, pretender excluir as demais variáveis comen- tivaçiio generalizada pela conOuência de um garam a atribuir-lhe. Há quatro condições que
atribuição e auto-estima tadas até agora, o certo é que a relação que 05 conjunto ele fatores: experiência seguida de conduzem a tal situação: a incompreensão ela
alunos estabelecem entre sua dedicação às ~- fra~asso, falta ele confiança nas próprias possi- tarefa. a falta de interesse, a falta de autono-
O estilo motivacional daqueles alunos I-efas escolares e os resultados que obtêm para i bilidades, atribuição do fracasso a causas ex- mia e o sentimento de incompetência.
com pouca motivação para a aprendizagem sua valorização pessoal ajuda a compreender I ternas e incontroladas, incapacidade para diri-
escolar aproxima-se da "indefensibilidade sua motivação ou sua desmotivação. Quando '! gir a própria conduta e uma avaliação por par-
aprendida" (Seligman, 1975). O aluno tende
a auibuir os êxitos e os fTacassos escolares a
essa dedicação contribui mais para a desvalo-
rização social ou pessoal do aluno, criam·se as
II te do aluno ele que a manutenção da própria
auto.estima não se consegue mediante outro
A incompreensão da tarefa

o primeiro requisito par<l poder enfren-


causas fixas e não-controláveis. A indefensibi- condições para que ele se desvincule por com· tipo de comportamentos. tar uma tarefa ele aprendizagem, seja qual for
lidade aprendida se produz quando existe lima
constante e acentuada tendência a atribuir a
pleto da aprendizagem escolar. Às vezes, o
motivo que subjaz ao abandono ou à rejeição
I Essa explicação inicial da falta de moti-
vação para a aprendizagem, na qual já estão
o resultado flnal. é entender em que consiste e
1 o que se deve fazer para resolvê-Ia. Quando
falta de êxito à falta de habilidade, e a consi- da escola não é evitar as conseqüências pesso- presentes elementos cognitivos e afetivos,
derar que a falta de habilidade está além do ais do fracasso escolar, e sim o de manter a II pode ser completada aprofundando-se um
um aluno não tem claro o que é preciso faz.er e
não consegue entender as explicações do pro-
controle pessoal. O aluno sente que não pode valorização que seu grupo de colegas faz des- pouco mais nas razões pelas quais um aluno
resolver as tarefas escolares devido;' sua falta
de capacidade. A repetição das experiências de
se tipo de comportamentos antiescolares.
_. O estudo clássico 'de Marsh e colabora-
Ii expe.~im~nta um fracasso.seguido.
ência não procede exclusivamente
Tal e"peri-
da falta de
fessor, dificilmente tentará enfrentar a tarefa.
Às vezes, o problenia está em que as deman-"
!. das da tarefa estão muito acima das possibil i-
fracasso leva-o a desvincular-se do processo de
aprendizagem.
dores (1978) formula com clareza essa inter-
pretação. A pesquisa abordou o comportamen-
I adequação ela habilidaele e do esforço do alu-
no com o nível de. dificuldade da tarefa pro-
dades do q.1uno. Em outras ocasiões, o aluno
Eventualmente, sinalizou-se que uma es- to de um grupo de adolescentes do sexo mas- I posta. O processo de aprendizagem implica
não ~n'tende' por que precisa fazer o que lhe
pedem, e nem sequer fatores extrínsecos, como
tratégia positiva para resolver esse círculo para- culino que apresentava uma conduta inadequa- também, e principalmente, o moelo como o
a autoridade do professor, a previsível avali<:1-
lisante de atribuição externa-fracasso-atribui- da, tanto na escola corno em sua faceta de tor- aluno representa para si a situação de apren-
ção negativa ou a reação familiar., têm mais
ção externa é encorajar os alunos a relacionar cedores de um time de futebol local. Os ado- dizagem: suas expectativas e a percepção das peso do que a sensação do aluno ela inutilida-
o êxito com o esforço. Contudo, às vezes. essa lescentes molestavam a classe, enfrentavam os expectativas dos professores e de seus riscos.
de do esforço que lhe pedem. Finalmente, po-
opção inicialmente positiva reforç.a ainda mais professores e não aceitavam as normas habi- O aluno, como destaca acertadamente Solé
dem ser as outras condições indicadas a seguir
o sentimento de impotência quando o aluno tuais para a aprendizagem na sala de aula. As (1993), pode perceber a situação didática
que explicam a dificuldade do aluno para re-
comprova que seu esforço não conduz ao êxi- condutas de hostilidade e enfrentamento tam- como estimulante ou como inabordável, des-
presentar para si o que deve fazer.
to escolar. São muitos os professores que não bém podiam ser observadas quando assistiam provida de interesse e inalcançável para suas
Essas primeiras reflexões põem em des-
avaliam a tarefa pelo esforço realizado e pelo às partidas de futebol nos fins dE;semana. possibilidades. No primeiro caso, o aluno está
taque que os diferentes fatores vinculados à
avanço que tal esforço produz na aprendiza- A interpretação de Marsh e seus colabo- atribuindo sel1cido à sua aprendizagem. No
falta de sentido estão estreitamente relaciona-
gem do aluno, mas sim por sua adequação a radores afasta-se dos estereótipos habituais segundo caso, e por diversas razões, o aluno
dos. A maior ou a menor incompreensão da
níveis de rendimento previamente estabeleci- atribuídos a tais adolescentes: vagabundos, não lhes atribui nenhum sellcído. Perguntar-
tarefa depende também do interesse que sus-
dos. Quando a avaliação não leva em conta os indolentes, desmotivados, sem regra nem con- se por que os alunos encontram ou não en- cite, do nível de obrigatoriedade e exigência
progressos feitos pelo aluno em relação a seu trole nenhum de sua conduta. Ao contrário, contram sentido em suas atividades na escola
que o aluno perceba e do juízo que o aluno
nível inicial, há o risco de que um aluno com sua explicação baseia·se em que a conduta dos contribui para compreender melhor a situa-
faça sobre suas possibilidades de êxito.
134 COll, MARCHESI, PAlACIOS & COlS. DESENVOLVIMENTO PSICOlÓGICO E EDUCAÇAO. V 3 135

A falta de interesse curriculares da educação. O,aluno não perce- passam muito suas possibilidades, o aluno que aos 3 ou 4 anos sem interesse OlJ motivação
be que se conta com ele, mas sim que deve se sente incapaz deixa de interessar-se pelo que p,lra as at.ividades escolares. São essas expe-
Alguns, muitos ou todos os contelldos es- aceitar as condições que fonuu impostas por se propõe na sala de aula. Então, inicia a busca riências que condicionam o itinerário acadê-
colares não suscitam nenhum interesse em outros. Nessa situação, determinados alunos ele nOvas metas que tenham sentido para ele, mico elos alunos e que configuram suas expec-
detenuinados alunos. A~sim, não é simples con- optam por distanciar-se da aprendizagem es- porque conseguem manter de maneira signi- tativas, geus interesses, seu estilo atributi-vo e
seguir que se envolvam nas atividades de apren- colar ou por enfrentá-Ia mediante comporta- flcativ;l, a <luto-estima e a valorização dos ou- as estratégias que consideram mais aelequadas
dizagem. O interesse existe quando o aluno mentos antiautoritúrios. tros. Na maioria das vezes, estes são um grupo para manter sua auto-estima. Portanto. o cli-
sente uma certa satisfação pessoal ao traba- É~preciso reconhecer que, diante da mes- ele colegas. seja ela mesma escola que ele ou ele mi1 escolar e as atitudes, expecti1tivas e juízos
lhar determinados conteúdos ou ao tentar re- ma situaçiio de falta ele autonomia. os alunos fora. Outras vezes, porém, podem ser seus pró- de caela professor, jun tam en te com il m etod 0-
solver alguma tarefa de aprendizagem. Às ve- reagem de maneira divers~i. Alguns, abando- prios pais ou seus professores, quando eles são logia que utiliza, S210, em grande meelida, res-
zes, os interesses dos <llnnos não SilO imedia- nando; outros. ao contr;:í.Jio_envolvendo-se nas capazes de propor e valorizar novas tarefas nas ponsáveis pela crescente falta de motivaçào de
tos, 111<lSmuito relacionados com seus objeti- tarefas de aprendizas.im. Por isso, é preciso, quais o aluno se sente competente e interessado. alguns alunos: C01110siío também. é preciso
vos fUlllros: tais ou quais matérias seriio úteis mais uma vez, analisar a possível falm de au- NessC' pOllto, convém resumir o raciocí- reconhecer de forma explícita, pelo crescente
para determinadas opçôes profissionais ou es- tonomia dos alunos com relação às suas expe- nio que se desenvolveu até o momento. No item aumento da motivaçüo intrínseca de outros.
tudos posteriores. riências prévias de aprendizagem, com seus anterior, descreveram-se diversos fatores rela- As pesquisas sobre as escolas elicazes e
A falta de interesse nem sempre f<lzcom objetivos e interesses e com sua capacidade cionados com a falta de motivação: o tipo de sobre a boa pnitica c]()cente evidenciaram que
que o aluno não encontre sentido em suas para resolver com êxito as tarefas de aprendi- atrinuiçiio que se faz. a expcriênci<l aCUInula- há diferenças enl:re as escolas e entre os pro-
aprendizagens. O que costuma produzir de for- zagem. Dessa forma, é mais fúcil compreender ela sobre o~;resultados da aprendizagem, o ní- fessores." Hil escolas melhores e piores panl
ma mais direta é um enfoque superficial cb as diferentes respostas que os alunos dão di- vel ele controle da situação e a husca da valori- alunos de condiçêies socioculturais similares.
aprendizagem (Entwistle, 1988). No entanto, ante da mesma situação de aprendizagem. zaçüo pessoal. Neste item, afirmou-se a im 1'01'- lsso se traeluz, neste Ci1pít.ulo. na afirmação ele
há alguns que são muito pouco interessados tância do sentido da aprendiz.agem e destao]- que há escolas que motivam mais seus alullos
em detcnuinadas matélias e que encontr<lm ou- ram-se alguns fatores que explicam por que al- do que outras, mesmo que os cont.extos socia.is
tras razôes para sua dedicação a elas: a neces- o sentimento de incompetência guns alunos não encontram nenhum sentido sejam semelhantes. Da mesma maneira, há pro-
sidade de passar, a possibilidade de tCl' de fa- nela: a dificuldade de compreender a tarefa fessores mais capazes do que outros de motivar
zer recuperação na disciplina, a auto-estima Possivelmente, uma das principais razC)es, escolar, a falt.a de interesse, o sentimento de seus alunos. Os fatores que influem nessas dife-
ou, simplesmente, o cumprimento, de forma pelas quais um aluno se elesvincula da apren-' subordinação e a desconfiança em suas capa- renças serão coment.ados em itens posteriores.
adaptada e sem mais questionamen tos, do que dizagem é sua avaliação de que n~io é capaz cidades. Contudo, as reflexões feitas até agora A afirmação da importáncia ela escola e
está estabelecido que se faça. de resolver as tarefas propostas. Conseqüen- deram ênfase demais aos alunos. É como se a dos professores na maior ou na menor motiva-
O interesse é suscitado ao longo dos anos temente, a única coisa que obterá ao final do falta de capacidade, de interesse, de auto-esti- ção dos alunos não eleve fazer com que se es-
escolares e também muda em funçiio da ida- processo é um sentimento de esforço inútil, ma e de controle da situação fossem traços pró, queça de que há outros fatores externos_que
o
de. Por suá véz, possível interesse pelas t,lre- - de fracasso, de desvaloriza-ção e -de ausência prios elo aluno, difíceis ele modificar e alheios tam bém são muito importantes e que, por sua
fas de aprendizagem compete com outros gos- de reconhecimento social. Diante ele tais pers- às relações que o aluno viveu ao longo de sua vez, interagem com o contexto escolar. Niio re-
.tos e interesses que o aluno desenvolve. Por pectivas, nã9 I.l.ádúvida, na visão do aluno, história pessoal. Essa reflexão seria claramen- con hecer isso acarreta duas conseqüências n e-
essa razão, é mais fácil manter o interesse, ou de que a aprendizagell1 eseolar é uma inutili- te reducionista e privaria a reflexão educativa gativas. Por um lado. atribui aos professores a
pelo menos a dedicação, dos alunos do ensino dade para ele. da análise dos contextos em que se proeluzem exclusiva responsabilidade pela motivação c1 os
fundamental, já que têm menos capacidade de O sentimento de competência de uma a desmotivação e a ausência de sentido: a pró- alunos. o que é injusto. Por outro. restringe as
decisão própria e um foco de interesses alter- pessoa está relacionado com o autoconceito, pria escola, a família e a origem social e cultu- inieiativas para motivar os alunos ao âmbito
nativos mais concretos e limitados que no en- ele tal modo que, quando as expectativas de ral elo aluno. escolar, que, mesmo sendo um contexto im-
sino médio. eficácia do aluno são positivas, é al tamente pro- portante, n~io é o único a ser levado em cont<l.
vável que se comprometa sem dificuldade na Esses fatores externos à escola, mas que tam-
solução da tarefa proposta. Se o resultado é CLASSE SOCIAL, CULTURA, bém influem nela e nas atitudes dos alunos em
A falta de autonomia positivo, o aluno verá reforçado seu autocon- ESCOLA, FAMíLIA E ALUNO face de suas aprendizagens, são a família, a
ceito e suas expectativas, o que levará a uma classe social e a cultura em que o aluno se de-
O ensino meramente receptivo, a ausên- melhor disposição para a aprendizagem. Ao Um modelo interativo senvolve.
cia de participação e a inexistência de opções contrário, se suas expectativas são negativas Essa formulação focaliza um modelo inte-
para os alunos geralmente conu-ibuem para que ou se sua atividade anterior acabou em fracas- A progressiva desmotivação do aluno vai rativo entre a classe social, a cul tura, a fam.í-
os adolescentes se desvinculem do processo de so, é mais previsível que o autoconceito se de- sendo gerada mediante suas experiências fa- lia. a escola e o aluno para explicar as diferen-
aprendizagem. A necessidade de afirmação teriore e a auto-estima diminua. miliares e escolares. Nenhum aluno, salvo os ças que os estudantes manifestam em suas IllO-
pessoal que o aluno sente muitas vezes choca- Pressionado pela dinâmica escolar a ter que apresentam atrasos profundos e generali- tivações para aprender. Os meios econômicos
se com as rígidas estruturas organizativas e de demonstrar seu valor em tarefas que ultra- zados do desenvolvimento. inQ'ressa na escola de oue uma f8nlíli~ ciisnnp. l11nt"n ("nm .c:Pl1 rrl-
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preparados nem motivados para ensinar alu-
dizagem dos alunos. Suas proposições básicas nos com essas características.
pital cultural e social, influem poderosamente acadêmico mais baixo, grupos especiais ou sem
foram apresentadas no item anterior e orien- A ql1alidélde da escola em relação 11 sua
nas possibilidades educativas de seus f1Ihos. A qualificação final reconhecida.
comunicação enU-e os mem bros da família, o O informe da OCDE-CERJ (1995) sobre tam o conjunto do capítulo. capacidade de enfrentar a desmotivaçiio e o
nível da linguagem, o interesse dos pais pela os alunos com risco de fracasso assinala sete 3bandono influi, sem dúvida, na atitude que
educação de seus filhos, os métodos de disci- f3tores preditivos que estão estreitamente re- os professores mantêm em sua classe com seus
Escolas e professores desmotivados alunos. Não existe, contudo, uma relação dire-
plina, as atividades culturais que se realizam, l3cionados com a situação de risco: pobreza
oU incapazes de motivar os alunos ta em todos os casos. Há escolas inefIcaz.es e
os livros que se lêem, as informações que se pertencimento a uma minoria étnica, família~
trocam, o tipo de atividades no tempo de lazer imigrantes ou sem moradia adequada, conhe- incapazes, como instituição, de modificar o pro-
Scria ncgativo e inexato que a principal
e as expectativas sobre o nível de estudos que cimento da linguagem majoritária, tipo de es- cesso de deslDotivação de determinados alu-
conseqüência obtida ao ler as páginas anterio-
seus filhos podem aJcançar são fatores que têm cola, lugar geográfico em que vivem e falta de nos nas quais trabalham bons professores, ca-
res fosse que os contextoS social e familiar em
uma influência muito grande na educação dos apoio social. Tais fato}-es, quando não são res- pazes de propor expeliências de aprendizagem
qUC os alunos se desenvolvem são os princi-
alunos. Até mesmo aqueles pais que não parti- pondidos mediante o trabalho educativo, pro- que suscitem o interesse daqueles alunos habi-
pais responsáveis por seus resul tados escola-
cipam desse "modelo de currículo familiar" po- duzem baixo nível escolar, falta de confiança tualmente desengajados de toda atividade es-
res e por sua motivação para a aprendizagem,
dem oferecer experiências enriquecedoras e nas próprias capacidades e baixa auto-estima, colar. Da mesma maneira, há escolas motiva-
como também seria atribuir às csco13s a res-
positivas a seus Iilhos, e sua influência aumen- o que leva à desmotivação, aos problemas de doras com professores pouco sensíveis às de-
ponsabilidade exclusiva pelo desligamento de
ta se a escolatambém as leva em conta. conduta e ao abandono escolar. mandas educacionais dos alunos com maior
seus alunos. As escolas têm o dever de evitar o
Não se pode esquecer que o significado Essas situações de risco dos alunos, que risco de desmoLivação e de abandono.
abandono prematuro de seus alunos, mas se
do êxito e do fracasso escolar depende de cada têm uma clara origem social, foram abordadas O estudo longitudinal realizado por
tal objetivo é mais ou menos difícil de se con-
contexto cultural, e que determinados alunos, de diferentes perspectivas. Três enfoques tive- Teddlie e Stringfield (1993) mostrou que os
seguir em função das condições sociais, fami-
especialmente aqueles que procedem de cul- ram maior incidência nas últimas décadas. O professores nas escolas elementares de baixo
liares e pessoais de seus alunos. stat:us econômico manifestavam menos satis-
turas minoritárias e de classes sociais popula- primeiro modelo é o do déficit cultural. Sua Há escolas que criaram um clima ampla-
res, podem manter valores e expectativas dife- proposta básica é que a linguagem, as normas, fação com o ensino, falta ele capacidade para
mente aceito de estudO e de participação, nas
rentes das que são majoritárias no ambiente os vaJores e as expectativas das famílias em inOuir nos resultados de seus alunos, mais au-
quais há expectativas positivas com re1aç~io
escolar. O ceno é que muitos desses alunos se situação de desvantagem social são menos ade- sências no trabalho e o desejo de trabalhar em
aos objetivos educativos que se estabeleceram,
encontram em situação de desvantagem, a não quados para facilitar o progresso acadêmico de e nas quais se reflete sobre as opções educa- outra escola.
ser que a escola faça um esforço para adaptar- tais aJunos. A resposta educacional a essa hi- Junto com a pesquisa de Tcd cllie e Sning-
tivas, os sistemas de avaliação e os métodos
se à sua situação específica. De outra forma, pótese explicativa concretizou-se nos progra- field, que abordou as características diferen-
pedagógicos mais adequados para conseguir
uma porcentagem importante desses alunos mas de educação compensatólia. O objetivo ciais das escolas ineficazes de níveis socio-
envolver e motivar os alunos em suas apren-
corre o risco, poucos anos depois de começar principal desses programas é "compensar" o econômicos médio e baixo, realizou-se outro
dizagens. o.~ttras, ao contráriQ,_~iio.mais in-
sua escolarização, de não encontrar nenhum_ déficit cultural dos aJunos. o. meio escolhido-é tipo de estudos (Rosenholtz. 1988: Reynolds,
capazes de abordar essas tarefas e não se
sêntidci na aprendi7:agelD.. o acesso à linguagem e aos valores da classe 1996), que destacou os fatores mais relacio·
propõem as mudanças necessárias para con-
A partir dessas considerações, pode-se média, que se adaptam melhor às demanda~ nados com as escolas pouco eficazes.Stoll e
seguir evita·r ou reduzir a desmotivação dos
anaJisa!~ Cop1.1pais precisão dois contextos que feitas pela escola. Fink (1996) assinaJaram, a partir desses estu-
alunos. Entre os dois extremoS, há uma amo
têm uma incidência particular na motivação O segundo modelo proposto é o das dife- dos, o tipo de fatores que predizem a ineftcá·
pia gama de situações capazes de se modifi-
dos alunos: o contexto social e o contexto renças culturais, alternativo ao antelior. Sua cia educativa:
car ao longo do tempo.
escolar. hipótese básica é que os diversos grupos so- É preciso reconhecer, no entanto, que as
ciais e culturais têm normas, valores e estilos 1.
escolas a que tem acesso majoritariamente alu-
de comportamento que também são enrique- nos de minoria étnicas ou de setores sociais
Os alunos com problemas sociais cedores. Seu pouco reconhecimento e o empe- desfavorecidos enfrentam, inicialmente, mui-
nho homogeneizador do sistema educacionaJ tas outras dificuldades: há maior diversidade
Os estudos que anaJisam a influência so- está na origem dos problemas que tais aJunos de alunos nas turmas, menor apoio das famí-
cial no acesso à educação mostram que os alu- encontram na escola. Esse modelo atribui à lias, menos recursos econômicos para reaJiz.ar
nos que vivem em piores condições sociais es- escola a maior responsabilidade pelo h-acasso 2.
atividades complementares e o risco de que o
tão representados desproporcionalmente nos dos alunos que pertencem a grupos minoritá- ambiente extra-escolar dificulte a incorpora-
programas de educação especiaJ, nos cursos de rios ou a classes sociais mais baixas. ção dos alunos ao processo educativo. Essas
formação profissional e nas turmas freqüenta- Finalmente, o terceiro modelo é o inte- dificuldades iniciais podem ampliar-se e con-
das por alunos com melhor nível acadêmico. rativo entre a classe social, a cultura, a famí- solidar-se quando não há um projeto escolar
Tais estudantes têm mais probabilidade de es- lia, a escola e o aluno, que adota uma posição capaz de ir ao encontro das demandas de tais
tar situados em grupos de alunos com avalia- que leva em conta a influência recíproca entre alunos e quando os professores não se sentem
ção mais baixa: turmas cujos alunos têm nível os diferentes contextos que influem n" "m-pn-
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sentem que as promessas e os com- sentem interessados no processo de ensino e para uma cultura mais próxima dos interesses
motivados. Não parece necessário reiterá-Ias
promissos não são cumpridos, o que de aprendizagem. Como destaca Firestone: e das preocupações dos alunos passa necessa-
aqui mais uma vez. O leitor pode facilmente
os leva a uma perda de confiança. (1989, p. 42): riamente por uma participação maior cios pais
voltar a lê-Ios, agora sob a ótica deste capítu-
3. Relações disfuncionais entre os pro-
lo. É conveniente, porém, destacar e desen- e dos próprios alunos na vida da escola.
fessores. Não existe uma política ...visto que os professores e os estudantes volver cinco condições especialmen te impor-
coerente para o desenvolvimento compartilham o mesmo ambiente escolar
tantes para que a resposta a estes alunos seja
profissional dos professores. Suas e que cac!a grupo depende do outro para Participação dos pais
mais eficaz: a transformação da cultura da es-
relações são reativas, com pouca responder às suas necessidades e alcançar
seus éxitos, a alienação cios professores e col~ e da participaç;'Ío, o eompromisso da es-
comunicação e pequena confiança J-l~\ uma grande unanimidade nos estu-
a alienaçiío cios estudantes alimentam.se cola como um todo, a flexibilidade org~ni-
mútua. dos sobre o bom funcionamento das esco:as
reciprocamente. zacion~l, as mudanças na prática docente e a
4. Práticas ineflcaz.es em aula. Baixas em considerar que a participação dos pais é
intervenç~io no contexto social.
expectativas em relação aos alunos, ; um elos fatores respons<Íveis por uma avalia-
poucas relações com eles, pouca or- As mudanças na escola, na forma de ção positiva. t\ participação niío deve centrar-
dem na aula e freqüentes críticas ensinar e nas condições sociais A transformação da cultura se apenas na presença dos pais nos órgãos ou
negativas. nos conselhos de gestão da escola. Sua coope-
da escola e da participação
A resposta educacional aos alunos com raç~w com a educação escolar de seus filhos
As idéias dos professores sobre a motiva- pouc~ motivação par~ a aprendizagem Supõe A cultura da eseol~ reflete as normas e os deve concretizar-se principalmente na partici-
ção dos alunos têm uma enorme influência em uma mudança importante no funcionamento valores dominantes entre os professOl'es, as pação nas atividades escolares e extra-escola-
sua atitude. Se o professor considera que a das escolas. O objetivo principal não pocle ser l'elaçi'Jes entre eles e os diversos setores da co- res e no envolvimento no trabalho de seus fi-
motivação ou desmotivação dos alunos é um simplesmente que os alunos se adaptem ao munidade educacional, os sistemas de partici- lhos em casa.
traço estável de sua personalidade, cuja aqui- funcionamento habitual da escola. Tal estra- pação e ele tomada de decisão existentes e os A participação dos pais no funcionam en-
sição se deu em contextos alheios à escola, di- tégia tem poucas possibilidades de êxito, já modelos vigentes sobre o ensino, a aprendiza- to da escola é particularmente importante
ficilmente tentará modificá-Ia ou manifestará que um dos maiores problemas é que os alu- gem dos alunos e sua avaliação. Muitas vezes, quando há problemas sociais ou familiares;
alguma expectativa de mudança futura. Essas nos não se sentem reconhecidos nem integra- não existe uma única cultura em uma escola, contudo, essa mesma razão dificulta as rela-
perspectivas limitadas reduz.em o interesse do dos, estão pouco interessados nos conteúdos mas diferen tes su bculturas que podem ser for- ções entre a escola e a família. Os pais se sen-
professor em empreender uma mudança em do ensino e percebem que as metas da escola mad~s por valores e comportamentos diferen- tem inseguros ou distantes da educação de seus
sua forma de ensinar e de relacionar-se com os estão pouco relacionadas com sua vida atual tes, às vezes contraditórios e confrontados.:' As filhos. A proposta mais usual, expressão de 11m
alunos para conseguir maior envolvimento des- e com seu futuro. Essa situação provoca mai- subculturas podem estar entre os professores, modelo baseado no déficit cultural ou SOCIaL
tes na aprendizagem. Os mesmos fatores apre- or atraso acadêmico, ano após ano. De forma em funç~io de suas ideologias ou de suas rela- procura fazer com que os pais aceitem e po-
sentados em itens anteriores para descrever a recíproca, alguns professores mantêm pqucas" "ções específicas. Muitas vezes" a subcultura dos nham em prática '\~ normas.escolarcs tradicio-
desmotivação dos alun'os estão presentes na expectativas com relação a esses alunos e se alunos esrc1 à margem da cultura dominante nais que' costumam ter êxito com os alunos de
desclição da desmotivação d o professor. Quan- sentem pouco competen tes para desenvolver na escola, ou até em confronto com ela. Nessa classe média da cultura majoriuíria" É neces-
do este considera que '1 desmotivação de seus um novQ tipo de ensino com eles, o que, por .• situação, é particularmente importante refle- sário modificar esse tipo de estratégias e abrir
alunos foge a seu controle, atribuindo-a a cau- sua vez, reforça as possibilidades de abando- tir sobre a cultura da escola e sobre suas dife- novos caminhos que pcrmitam que os pais par-
sas externas, e não se sente com as habilida- no da escola por esses alunos. rentes suhculturas para conseguir uma sintonia ticipcm e contribuam para a educação de scus
des pedagógicas suficientes para modificar seu A maior parte das mudOJ1ças que é pre- filhos a partir de suas experiências, de suas ha-
maior entre todas elas.
ensino e incidir no comportamento dos alu- ciso realizar nas escolas para despertar o in- Quanelo as normas~ os valores e as expec- bilidades e formas próprias de vida. Um estu-
nos, é previsível esperar que aceite com fata- tel"esse e a motivação dos alunos foi indicada tativas existentes em uma escola estão ajusta- do etnográfico realizado em uma comunida-
lismo, às vezes com amargura e desmoraliza- no último item cio Capítulo 2 ao referir-se às de latino-americana (Torres-Guzmán, MeITa-
dos às possibilidades dos alunos e significam
ção, a falta de interesse e de motivação dos condições mais importantes para se obter es~ um estímulo para cles, é mais fácil que se sin· do, Quintero e Vera, 1994) comprovou que a
alunos. Existe, portanto, urna estreita interação colas inclusivas: apoio especial às escolas e tam ligados às experiências de aprendizagem utilização das habilidades profissionais dos
entre a motivação dos professores e a motiva- provisão de recursos suficientes, ampliação da que lhes são propostas no período escolar. Des- pais (encanamento, eletricidade, etc.) propor-
ção dos alunos. educação infantil, transformação do currícu- sa fOI-ma, os alunos constroem sua próplia iden- cionava elementos significativos para as ati-
Os ambientes escolares que não são ca- lo, formação e desenvolvimento profissional tidade pessoal, qlle afeta também seus senti- vidades de ensino nas áreas de linguagem, de
pazes de responder às demandas dos alunos dos professores, liderança pedagógica, flexi· mentos de pertencimento à escola e o controle conhecimento social e de tecnologia. A m oti-
geram uma dinâmica profundamente negati- bilidade organizacional e adaptação da ins- de suas práticas escolares. Os alunos em situa- vação destes alunos para a aprendizagem foi
va. Por um lado, os professores se sentem iso- trução edueativa na sala de aula. Todos esses ção de risco têm dificuldades para enfrentar muito elevada.
lados e sob uma enorme pressão em seu tra- fatores devem ser levados em conta ao anali- com êxito as tmefas escolares. Esse sentimen- A confluência de alunos desmotivados e
balho. Por outro lado, os alunos que perce- sar as mlldanças educativas que devem ser to de impotência leva à falta de interesse e de. de pais distantes de seus filhos, pela própria
bem o distanciamento do professor não se implememadas na educação dos alunos des- motivação para a aprendizagem. A mudança histólia fOJ11Íliarou porque abandonaram qllal-
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des e suas habilidades. A participa-


quer expectativa de mudança, toma muito di- promisso maior dos alunos com sua eScola e desenvolvem mais amplamente tais
ção dos pais e dos alunos, a que se
fícil a intervenção educacional. Quando os pais um controle mais coletivo das condutas anti- do currículo.
fez referência antes, baseia-se em tal
não sabem o que fazer, ou não podem, ou não sociais e agressivas. convicção.
querem fazer, o desafio que a escola e os pro- A participação dos alunos não deve ser 3. A responsabilidade no fortalecimen-
fessores enfrentam é muito maior. Nesses ca- entendida como a última solução diante de o compromisso da escola como um todo
to da escola. - As escolas aceleradas
sos, a resposta dos professores também pode problemas de desinteresse e de desmotivação pretendem que exista uma ampla
As mudanças necessárias para responder
ser de abandono: já que não é possível nenhu- com relação à aprendizagem escolar. Deve, ao participação para que as decisões
ma mudança no aluno, só resta esperar que à situação de desmotivação dos alunos não afe-
contrário, constituir um dos aspectos nODnais sejam tomadas de forma conjunta e
deixe a escola. Pode haver, contudo, uma res- tam apenas alguns professores da escola, nem
do funcionamento das escolas, indo além do para que os resultados obtidos se-
posta mais ativa, baseada em uma oferta edu- que estabelecem as normas legais sobre a par- se resolvem simplesmente criando programas
jam responsabilidade de todos. A
especificos destinados aos alunos com maiores
cacional mais interessante, na organização de ticipação dos alunos, É uma maneira de en- informação e a avaliação permanen-
programas específicos e na vontade de conse- problemas de aprendizagem. A reforma fun-
tender o ensino, em ~lue se atribui maior reIe- te também estão entre seus traços
guir que os alunos se sintam mais protagonis- damental que deve ser realizada afeta toda a
váncia àqueles que são os destinatários da edu- distintivos.
tas do que aCOITena escola. Nesses casos, como cação. Dessa forma, pode-se envolver um pou- escola. sua equipe de professores. os projetos
em qualquer programa que pretenda conseguir co mais nas tarefas escolares aqueles alunos que se criam, sua organização e sua maneira
maior motivação dos alunos, o fortalecimento com maior risco de desmotivação e de aban- de funcionar. As escolas que buscam de forma
coletiva o tipo de ensino mais adequado para A flexibilidade organizacional
da participação dos alunos na vida da escola é dono, e pode-se conseguir, com o tempo, e os programas especificas
llma estratégia fundamental. minimizar a porcentagem de alunos sem ne- tais alunos são as que têm mais garantias de
nhuma motivação escolar. êxito. A resposta educacional para os alunos
As "escolas aceleradas" são um modelo
mais desmotivados. ou totalmente desvincu-
A participação dos alunos desenvolvido nos Estados Unidos com esse
lados das tarefas escolares, não pode basear-
Cultura e currículo enfoque (Levin, 1987). Sua proposta procede
se em estruturas organizacionais rígidas e ho-
É imprescindível que se avance para no- da constatação de que os esforços feitos nas
mogêneas. Os programas educacionais de que
vas formas de participação dos alunos, espe- o debate sobre a cultura da escola deve últimas décadas para melhorar o nível educa-
esses alunos participam devem ser projetados
cialmente na etapa de ensino médio. Em mui- ser transposto tam bém para o currículo esco- cional dos alunos em situação de risco não fo-
e postos em prática com flexibilidade suficien-
tos casos, as experiências de aprendizagem e lar~ Um currículo que seja válido para uma es- ram capazes de romper seu isolamento na es-
te para conectar-se, de algum modo, com seus
as normas existentes na escola estão muito dis- cola deve levar em conta tanto o conhecimen- cola nem as baixas expectativas que se têm em
relação a eles. As escolas aceleradas têm o ob- in teresses.
tantes da vivência dos alunos. Esse fato aumen- to cultural que os alunos possuem como o Sem dúvida. o programa mais adequado
ta a distáncia entre os objetivos que a escola conhecimento sobre a cultura dos alunos. Es- jetivo de incorporar tais alunos à dinámica nor-
.é o que se desenvolve nasc1asses regulares.
pretende promover e os próprios interesses dos sa distinção, apresentada r.ecentemen te por mal das aulas e de_conseguir que atinjam obje-
dentro do currículo comum e que se comparti-
alunos. Aparticipação dos alú'nos converte-se Hollins (1996), indica uma dupla via de refle- tivos básicos da escola fundamental. Procura-
lha com os colegas habituais. Esses são os pro-
em um dos meios mais poderosos para xão. Em primeiro lugar, propõe que a escola se atingir tais objetivos levando em conta três
gramas mais valoriz·ados. ·os mais reconheci-
incorporá-Ias à dinámica escolar e para que leve em conta as aprendizagens prévias dos princípios básicos: a unidade de atuação, a con-
dos e dos quais participam os alunos com mais
encontrem significado nas atividades educa- alunos. sua linguagem e suas experiências na fiança nas pessoas e a responsabilidade no for-
interesse. Não é fácil para os professores. po-
ClOnals. família e no grupo de colegas para que a apren- talecimento da escola (McCarthy e Levin.
rém. envolver tais alunos. mesmo fazendo
A participação pode assumir formas mui- dizagem seja significativa. Em segundo lugar. 19921 adaptações importantes nas tarefas que se apre-
to diversas, e cada escola deve encontrar as defende que o currículo incorpore os fatos. os sentam e na metodologia didática. conforme
mais adequadas em função dos interesses e das personagens, a história. a língua e os costu- 1. A unidade de atuação. - Os objetivos
da escola são discutidos e decididos se expõe no item seguinte Apenas alguns pro-
atitudes dos alunos que escolariza: A releván- mes do grupo cultural e social de referência fessores com habilidades pedagógicas especiais
cia dos alunos de ensino médio na escolha das do aluno. de forma coletiva e postos em práti-
ca de maneira coordenada. A inten- ou com uma boa disposição para estabelecer
atividades extra-escolares, e inclusive na pró- O currículo não se refere apenas aos ob- vínculos pessoais e afetivos com esses alunos
pria gestão da escola, é um caminho interes- jetivos e aos conteúdos do ensino. Estende-se (,oãoé que a atividade dos professo-
res e do conjunto da comunidade são capazes de trabalhar com grupos hetero-
sante para conhecer os interesses dos alunos e também à organização destes, aos métodos di- gêneos e de envolver todos eles no processo
conseguir seu envolvimento em algumas tare- dáticos e aos critérios de avaliação dos alunos. educativa seja orientada por um sis-
tema de valores semelhante. de aprendizagem. incluindo os mais desmo-
fas realizadas na escola. Sua participação no As caracteristicas dos alunos, seu nível inicial tivados. Em outras circunstâncias. não se pode
estabelecimento das normas de comportamen- e seus interesses devem ser levados em conta 2. A confiança nas pessoas. - As escolas
aceleradas baseiam-se na competên- esperar que os professores consigam interes-
to que regem a escola, assim como no controle quando se ref1ete sobre a oferta educacional e~ sar tais alunos, sobretudo quando eles já têm
e na sanção das condutas contrárias a essas sobre a maneira de ensinar que se implemen- cia de todos os seus membros e tra-
tam de aproveitar suas possibilida- uma longa história de falta de compromisso
normas, é outra forma de conseguir um com- tará em uma determinada escola. Os itens pos-
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pessoal com as tarefas escolares e seu nível de 1988), apontam-se as principais lições tira- ações desse tipo de programas indicam que, seqüentemente, uma prática de ensino mais
conhecimentos está muito distante daquele de das da avaliação do program a. Com relação à apesal' de suas dificuldades, são um meio im- motivadora seja a norma de todos os professo-
seus colegas. Nesses casos, é preciso haver pro- motivação dos alunos, destacam-se quatro portante para conseguir um envolvimento mai- res de uma escola.
gramas específicos que possam adaptar-se às conclusões: or dos alunos nas atividades de aprendizagem Um dos programas clássicos para melho-
suas necessidades educativas especiais. Os programas de diversificação cunicular rar a motivação na saJa de aula baseia-se 110
Esse tipo de programa específico não está 1. Os desenvolvimentos pessoal e so- poderão se tomar uma alternativa positiva para enfoque atributivo. Se o estilo motivacion al
isento de riscos ou de problemas. O principal cial dos alunos não podem estar à os alunos desl11otivados se forem projetados inadaptado procede da atribuição do êxito e
risco está em que acabe convertendo-se no des- margem do currículo, mas devem pensando em sua situação pessoal, se forem do fracasso a c<:lusas externas e incontroláveis,
tino de todos os alunos com problemas no en- fazer parte de todo ensino oferecido. oferecidos antes que esses alunos estejam far- é preciso orientar os <:11 unos para que Sllas atri-
sino médio, e em que os professores sejam ten- 2. Uma atitude de confiança e ele res- tos ela escola, e a escola deles, e incluam expe- buições recaiam em causas internas e contro-
tados pela possibilidade de enviar para eles ponsabilida1e ajuda os alunos a se riências fOl-mativas fora da escola. Dessa pers- láveis, como o esforço e a dedicação à tarefa.
seus aJunos problemáticos antes de fazer mu- conhecerem melhor e a aceitarem a pectiva.. parece necessário que, nas instituições Além disso. é necessário que o aluno aumente
danças profundas em sua própria forma ele responsabilidade pelo que fazem. em que se escolarizam alunos com maior risco a confiança em suas próprias habilidades para
ensinar. Os problemas surgem do próprio pro- 3. É necessário estabelecer relações de abandono, se disponha de dois tipos bási- resolver a tarefa. À margem das críticas teóri-
grama, já que projetá-lo e colocá-Ia em prática tutoriais imaginativas e flexíveis. cos de programas de diversificação: o que é cas e experimentais feitas a tal proposta
tam bé~ não é fácil. É um eno pensar que qual- 4. A participação dos alunos em pro- dirigido especialmente aos alunos com maio- (Huertas, Montero e Alonso Tapia, 1997), é
quer programa especial seja bom para os alu- gramas com unitários ou a expe- res atrasos em suas aprendizagens, mas inte- preciso assinalar mais uma vez que ela enfatiza
nos com problemas de motivação e de apren- riência em locais ele trabalho per- ressados no ensino, e o que se destina para os quase que exclusivamente as mudanças que o
dizagem. Normalmente, tais programas têm mite que os alunos ampliem suas alunos que, à margem de seu nível educacio- aluno deve fazer, e se esquece elas modifica-
possibilidades de ser atrativos: há menos alu- habilidades sociais e sua indepen- nal, não têm nenhuma motivação para a apren- çôes que é preciso realizar nos outros pólos do
nos, as matérias são mais globaJizadas. são mais dência. dizagem escolar e costumam provocar tensões processo de ensino e aprendizagem: o profes-
aplicados e a avaliação costuma adaptar-se aos e conflitos na classe. sor e a taref<:l. É preciso reconhecer. porém, que,
ritmos de aprendizagem de cada um. Eles, po- Os programas de diversificação cunicular às vezes. o aluno faz uma boa atribuição quan-
rém, apresentam dificuldades. Não é fácil mo- são a resposta que a LOGSE oferece na Espanha do sustenta que não é capaz de resolver uma
tivar esses alunos, se o que se pretende é mais para os alunos com atrasos significativos em As mudanças na prática docente determinada tarefa e que não quer fazer um
do que passar o tempo, e é preciso professores suas aprendizagens. Suas características apre- esforço maior, porque niío vai servir para nada.
preparados. Às vezes, são destinados a tais pro- sentam três diferenças importantes com rela- /\s modificações que se fazem na cultura, Além disso, é muito possível que a tarefa pro-
gramas professores sem experiência. o que tor- ção ao programa inglês: na organização ou no currículo de uma escola posta nao tenha nenhum int.eresse p<lra ele.
na mais difícil sua gestão. Além disso, os pró- siío orientadas para facilitar a prática dos pro- Portanto, o problema não está principalmente
prios alunos podem ter consciência de que es- 1. .Os alunos aos quais se destinam d.e- fessores na sala de aula. De pouco servem es- nq mudança de atribuição e de expectativas,
tão em um programa menos valorizado, para vem ter mais de 16 anos. sas modificações se, <:10final, os professOl"es não mas em conseguir que o aluno se interesse peb
o qual só vão os alunos problemáticos, e por 2. Não são totalmente separodos do forem capazes de mudar sua forma de ensinar tarefél e considere que ela é formulada ele tal
isso sua- auto-estima e suas expectativas não resto da classe, visto'que'os ·alunos e de relacionar-se com os alunos para conse- maneira que vale a pena fazer um certo esfor-
são reforçadas. devem cursar algumas áreas cunicu- guir despert<1r sua motivação. ço, já que talvez possa resolvê-Ia.
Um dos programas específicos imple- lares com seus colegas. O trabalho em aula dos professores com Conseguir que os alunos confiram algum
mentados na Inglaterra nos anos 1980 foi o 3. É possível obter o diploma de con- os éllunos desmotivados é muito complicado. sentido às suas aprendizagens e se sintam mo
que se refere aos alunos com mais baixo ren- clusão do ensino médio ao final do Às vezes, quando no aluno já se insta]ouuma tivados pal-a elas supôe, no fundo, ensinar bem
dimento acadêmico ("Lower Attair1ing Pupils program a. rejeição da <:Itividade escolar, é quase impossí- Conseqüentemente, os objetivos, os método:
Programme"), O programa era dirigido aos vel ter êxito, salvo, talvez, em programas mais pedagógicos, os sisteméls de organização e re
alunos de 14 a 16 anos com maiores dificul- A primeira diferença, atualmente objeto específicos, como os de diversificação cunicular lação e os clitérios de avaliação que corres
dades de aprendizagem, visando a uma edu- de polêmica na Espanha, expressa a vontade aos quais <:Icabamos de nos referir no item an- pondem a urna boa prática docente s~ioos lllai
cação mais completa e mais adequada às suas de atrasar ao máximo a diferenciação entre os terior. O trabalho de um professor isolado, que adequados para prevenir e reduzir a desm oti
possibilidades. Não era um programa especí- alunos para evitar a discriminação. A segunda deve enfrentar a atitude negativa de alunos em vação. Não parece necessário descrevê-Ias age
fico para os alunos desmotivados, mas mui- pretende evitar a separação total do programa plena adolescência, com uma longa história de ra de fOlma extensa; contudo, pode ser útil apn
tos deles que, além disso, acumulavam sérios e aproveitar vantajosamente o contato com os fracasso, desinteresse e aborrecimento escolar, sentá-los aqui de forma resumida da perspect
aU-asos em suas aprendizagens, foram incor- demais alunos do curso. A terceira procura exige um esforço desmedido com probabilida- va ela mot.ivação dos alunos.
porados. A National Foundation for Educa- conseguir urna motivação maior dos alunos e des de mudança limitadas. O problema da
tional Research fez uma ampla avaliação do dos professores ao se reconhecer o valor aca- desmotivélção dos alunos deve ser abord<:ldo em 1. Ensinar a pensar. - Os alunos deve:
programa, publicada posteriormente em uma dêmico do programa e evitar, desse modo, o todas as aulas e em todos os períodos, de tal entender o significado das atividad
sp.rif' de informes. No nrimeiro deles (Weston. risco de sua desvalorização. As ptimeiras avali- fOlma que a prevenção da desmotivação e. con- escolares e tentar tirar partido dei
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tendo em vista seus interesses, sua fiança em si mesmo para abordar a ciais requer iniciativas que abordem de forma algo e que acreditem que isso seja
adaptação social e sua auto-estima. aprendizagem escolar. coordenada todos esses níveis. Os programas possível.
2. Facilitar-que o aluno compreenda o quê 9. Cuidar da auto-estima dos alunos. _ de intervençiio de caréÍter mais global e sistê- 7. Vale a pena o esforço porque se com-
e o ram quê da tarefa, assim como os Os alunos têm de perceber que seu mico, que se mantêm ao longo do tempo e que prova a evolução dos alunos e per-
objetivos e os critérios de avaliação. - compromisso com as tarefas escola. apóiam o fortalecimento do tecido social e cebe-se um apoio permanente.
É importante que o aluno saiba o que res vai conttibuir para reforçar sua associativo ele lima zona para resolver uma 8. Criaram-se as condições para que os
se espera dele em face de uma tarefa valorização pessoal. grande parcela de seus problemas, são, sem profess ores cles ej em con tin u ar tra,
concreta e que critélios se levam em dúvida, uma das esu'arégias mais fi:utíferas para balhando com esses alunos.
conta para avaliá-Ia. a mudança social. Dessa forma, com as conse- 9. A escoln é uma boa escola.
3. Favo/-ecer a pm-ticipação e a autono- A intervenção no contexto social qüências positivas que tais programas geram
mia dos alunos. - Quando o aluno no âmbito da prevenção, haverá nas escolas É evidente que, quando a comunidade
sente que pode participar e que n A resposta educlacional para evita!" o fra- menoS alunos em situação de risco de desmoti- educacional de uma escola compartilha tais
vida escolar não é algo totalmente casso dos alunos em situação de risco deve ser vação e de abandono. sentimentos, os problemas estão sendo supe-
imposto, é possível que encontre um reforçada com iniciativas que conuibuam para rados. A situação mais dramática se apresenta
pouco mais de sentido em determi- superar a desvantagem social em que vivem. quando a maioria deles estéÍ ausente: não há
nadas tarefas escolares. Às vezes, atribui-se à escola e aos professores, A título de conclusão programas sociais nem de apoio, não há parti-
4. Propor tarefas que sejam interessan- independentemente de outras mudanças so- cipação da comunidade educativa, os profes-
tes pam o aluno. - Esse é um fato ciais, a capacidade de acertar na resposta edu- A resposta às necessidades educacionais sores não estão motivados para suscitar o inte-
fundamental. O aluno desmotivado cacional a qualquer problema de seus alunos. dos alunos com pouca motivação para apren- resse dos alunos e existe na escola uma atm os-
não mudará se tiver de continuar É certo que, em alguns casos, isso pode ser pos- der passa por um conjunto de iniciativas am- fera de resignação e de certo fatalismo diante
fazendo a mesma coisa. É necessá- sível e que, sem dúvida, a escola tem amplas plas e globais que afetam o ambiente social da porcentagem de alunos que não querem es-
lia pensar em que atividades podem possibilidades de intervenção. É necessário, dos alunos, a formação de suas famílias, a po- tudar. Nesses casos, a tarefa daqueles que de-
despel1:ar seu interesse e corno se- porém, reconhecer que só mediante propostas lítica educativa, o funcionamento das esco- sejam iniciar uma mudança, seja a equipe de
rão organizadas. mais amplas e mais globais podem-se abordar las, o apoio que os professores recebem e seu direção, sejam alguns professores ou o setor
5. Ajustar a tarefa à possibilidade do os problemas desses alunos com maiores ga- trabalho na sala de aula. De algum modo, tais de Olientação, é gigantesca. Sua pergunta ini-
aluno. - Pouco se avança se o aluno rantias de êxito. iniciativas podem ser resumidas nas seguin- cial é: "por onde começar?".
não é capaz de resolver as novas ta- A intervenção no âmbito social deve le- tes crenças e valores que, quando fazem par- Não é fácil responder a essa pergunta. Niío
refas que lhe são apresentadas. É var em conta três níveis: o nível instituciona!, te da cultura de uma escola, revelam a ade- existe uma causa principal da desmotivação
preciso adaptá-Ias às suas capacida- o nível comunitál"io e o nível familiar. O pri· quação das políticas que estão sendo imple- escolar cuja modificação assegure um compor-
des de tal forma que a experiência meiro refere-se aos fatores ligados à organiza· mentadas: tamento distinto do.aluno, mas há muitas in-
de êxito aument~ sua auto-éstima e ção social e sua';; relações com os' cidadãos: fluências, a maioria delas recíprocas. O com-
seu interesse pelo trabalho escolar. políticas de emprego, de moradia, de saúde, 1. Existem programas para melhorar as promisso da família com 11 educaç~io de seu fi-
6. Favorecer a coopem.ção entre os co- de proteção social e de educação. O segundo condições ele vida, de trabalho e de lho influi no esforço-queeste realiza na escob.
legas. - As atividades cooperativas aponta para as relações qlle as pessoas mano educação das famílias que se encon- Tam bém a organização, o funcionamento e a
permitem uma interação social têm no seio de sua família e com os grupos de trmll em pior condição social. cultura da escola influem no trabalho que os
maior e a possibilidade de que ou- referência mais próximos: amigos e vizinhos. 2. Há um apoio claro dos gestores da professores realizam em sua classe. Uma boa
tros colegas o ajudem a entender A estabilidade da residência afeta de modo sigo educação às escolas que recebem alu· prática docente na sala de aula acaha tendo
melhor a tarefa, a resolvê-Ia ou, pelo nificativo o grau de apoio social que uma fa- nos em situação ele risco. uma clm'a repercussão no interesse de seus alu-
menos, a despertar algum interesse mília recebe dos grupos mais próximos. O ter- 3. Ao avaliar o funcionamento da es- nos e nas metas que se propõem. E a boa prá·
em relação a ela. ceiro refere-se principalmente à formação dos cola, são levadas em conta as carac- tica docente depende da competência do pro-
7. Propiciar experiências de êxito esco- pais, para que colaborem mais ativamente na terísticas dos alunos e as metas es- fessor, de sua própria motivação, das relações
10/: - Quando o aluno consegue re- educação de seus filhos. Todos eles estão pro- pecíficas que se discute com eles. que estabelece com os alunos e de suas condi-
solver bem uma tarefa e recebe o fundamente relacionados: as melhores condi· 4. É necessário que os pais participem ções de trabalho. Mais uma vez, surge a per-
reconhecimento social pelo bom tra- ções de moradia ou de emprego ou a maior do processo educativo, porque sua gunta: "por onde começar?". O primeiro passo
balho realizado, está se abrindo ca- qualificação dos pais favorece a estabilidade e contribuição é emiquecedora. é tomar consciência de que existe um proble-
minho para sua maior dedicação. o maior grau de apoio social, gerando uma ati· 5. É positivo fomentar uma participa- ma e de que os professores podem fazer algo
8. Manifestar expectativas positivas em tude mais positiva e comprometida com a edu- ção maior dos alunos na vida da es- para minimizá-lo. O segundo passo é analisar
relação ao trabalho do aluno. - Se o cação dos filhos. cola e nas decisões tomadas. mais detalhadamente a situação e, ao mesmo
aluno percebe que se confia nele, é Essa estreita relação entre todos os fato- 6. É preciso fazer com que os alunos tempo, avaliar as condições em que se encon-
possível que desenvolva maior con- res envolvidos na melhoria das condições so- estejam interessados em aprender tr~ ~ (.H~rr'll:1·,..r""tovrn ;...,1 ....•1 •••..•.•..........••.....•. :..~.
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146 COLL. MARCHESi. PALA CIOS & COLS.

acesso, funcionamento da escola, atitudes dos ciso primeiramente criar as condições para q
professores e suas concepções sobre o ensino, os professores percebam que são capazes' de-,
a aprendizagem, a avaliação, assim como aque- abordar o problema e que se est{\ fazendo um'
las relativas às possibilidades de seus alunos. esforço para ajudá-Ias: reduzir o número de'
A partir dessa análise, pode-se constatar que o alunos na sala de aula, organizar desdobramen_.
principal problema está na família, no funci- tos em determinadas áreas ou criar novos pro-"
onamento da escola, na ausência de progra- gramas para os alunos mais desmotivados,
mas específicos para alunos totalmente que faz com que as turmas regulares tenham
desmotivados, na falta de interesse dos alunos alunos um pouco menos heterogêneos. Se, ao
pelo ensino, nas dificuldades dos professores mesmo tempo. são postas em prática iniciati.
para criar interesse ou em todos esses fatores, vas de contato C0111 aS famílias para envolvê-
que atuaram em conjunto ao longo dos anos. Ias mais na educaç10 de seus filhos, pode-se
Chegando a esse ponto, o passo seguinte pensar que a mudança está começando e que,
é decidir a estratégia mais adequada em fun- passados alguns anos, haverá na escola uma
ção das condições da escola. A mais completa
é trabalhar em todos os âmbitos: família, esco-
la e sala de aula. Isso, porém, é algo ambicioso
nova cultura para reduzir a desmotivação e o
abandono dos alunos. TERCEIRA PARTE
demais na maioria dos casos, por jsso é preci-
so fazer uma escolha. A estratégia mais gera- NOTAS Transtornos do Desenvolvimento e
dora de mudança é colaborar com os professo-
res para que se sintam mais competentes e mais 1. O livJ'Ode Marchesi e Martín (1998) analisa o Necessidades Educativas Especiais
motivados para abordar o problema em sua tema. mais detalhada mente no c~pítulo dedi·
tU1111a.Pode-se afirmar de forma contundente cado à avaliação dos alunos. Uma reflexão so-
que motivar os professores para que procurem bre esse tema encontra-se também no Capítu-
lo 16 deste volume.
motivar seus alunos é uma das portas princi-
2. Pode-se encontrar um desenvolvimento destas
pais da mudança. Dessa forma, pode-se avan- idéias no liv1'Ode Marchesi e Martín (1998).
çar posteriormente com mais facilidade na in- 3. Uma análise mais completa da cultura das es-
ter"Venção familiar e no funcionamento da es- colas pode ser encontrada no Capítulo 5 do
cola. Às vezes, os professores não respondem liv1'Ode Marchesi e Martín (1998).
positivamente a essa estratégia. Ass~m, é pre-

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