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Coll Desenvolvimento Psicológico e Educação PDF
Coll Desenvolvimento Psicológico e Educação PDF
psicológico
e educação
3.
Transtornos do desenvolvimento e
necessidades educativas especiais
2ª edição
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César COLL
.:,,:;, ~ Alvaro MARCHESI
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Tradução:
Fátima Murad
0451 Desenvolvimento psicológico e educação 1organizado por
César Coll. Álvaro Marchesi e Jesús Pnlacios; trad. Fátima Consultaria, supervisão e revisão técnica desta edição:
Murad - 2. ed. - Porto Alegre: Artmed. 2004.
3v. Claudio Roberto Baptista
Psicólogo. DOlltor em Educação pela Università degli Stl.ldi di Bologl1a.
(Transtornos do desenvolvimento e necessidades edl1cativas Professor Adjunto 110 Departamento de Estudos Básicos c
especiais; 3) 110 PPG em Educação da UFRGS.
1. Psicologia - Desenvolvimento - Necessidades educativas
especiais. I. Co11, César. 11. Marchesi. Alvaro. Il!. Palacios. Jesús.
ti
IV Título.
CDU 159.922/.8:376,11.58
ISBN 85-363-0228-3
2004
128 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS.
seu progresso educacional. Nessa perspectiva, seus alunos; que uns professores podem ser vaçao que uma pessoa manifesta está relacio- de suas aprendizagcns. O que busca é a avalia-
não há dúvida de que tais alunos apresentam mais motivadores que outros na mesma maté. nada com as crenças e as metas às quais adere ção positiva de seus professores, pais ou cole-
necessidades educativas especiais. ria; e que o mesmo aluno pode estar mais mo. em um determinado momento. Ou seja, são as gas. As tarefas que tenta rcsolver e fi esforço
As relações entre ausência de motivação, tivado em uma escola do que em outra. representaçôes cognitivas do que se desejaria que dedica a elas estão em função da avalia·
problemas de conduta e atrasos na aprendiza- Essa responsabilidade das escolas e dos conseguir ou evit<U' que influem decisivamen- ção que recebcní dos outros. Sem dúvida, é
gem são difíceis de estabelecer. O capítulo an- professores na motivação dos alunos não pode te na motivação, ou na falta de motivação, para uma motivação que conduz a aprendizagens
terior abordou de forma extensa as diversas fazer com que se esqueça de que essa mesma aprender. Nesta linha. Alonso Tapia (1997) fez mais superficiais, menos estáveis e mais depen-
hipóteses sobre problemas de aprendizagem e motivação para a aprendizagem também é mal. tUnanova leitura das possíveis metas dos alunos dentes da recompensa extema; contudo, os alu-
transtomos do comportamento. Raciocínios si- dada em contextos não-escolares, como a fa· que podem levá-Jos a um maior ou a um menor nos com esse tipo de motivação participam do
milares podem ser feitos, agora, incluindo a mília, a classe social e a cultura. Há alunos cujas~ envolvimento na aprendizagem (ver Figura 7.1). processo ele aprendizagem. Os professores de-
dimensão motivacional. O estudo realizado por condições sociais, cultupis e familiares propor. A diferenciação entre as diversas metas vem tentar que eles se interessem de fonna mais
Galloway, Rogers, Annstrong e Leo (1998) cionam menos estímul~s para considerar atra· de aprendizagem levou a uma categorização autônoma por aprcnder, mas não são alunos que
mostra que os alunos com problemas de aprcn- ente o esforço que supõe a aprendizagem. Os amplamente aceita: os alunos orientados para neccssitem de adaptações do currículo ou de
dizagem associados a um baixo rendimento contextos social e cultural influem igualmente metas de aprendizagem e os alunos orienta- apoios pa.ra avançar em suas aprendizagens.
acadêmico ou a baixas pontuações em raciocí- nas metas que o aluno se coloca e em sua mo· dos para metas de execuçao. Os primeiros são Mais preocupantes são aqueles alunos
nio não-verbal mostram estilos motivacionais tivação para a aprendizagem. O estudo dos alu- os bons alunos: procuram conhecer, aprender cujo principal objetivo é evitm- o fracasso esco-
bem menos acIaptativos que outros alunos. Há nos com pouca motivação para as tarefas es· e melhorar. São movidos por metas pessoais e lar. Sua principal característica é a inseguran-
também alunos com baixo rendimento acadê- colares, em bora às vezes com uma alta moti· autônomas. Seu principal interesse centra-se ça em suas habilidades ou a insegurança de
mico que têm uma boa motivação para a apren- vação para outro tipo de tarefas, não deve dei- mais no processo ele aprendizagem que vão de- que não serão capazes de ter êxito nas tarefas
dizagem, e alunos com níveis médios dc inteli- xar de analisar a influência desse tipo de fato· senvolver do que no resultado final. Entre os escolares. Alguns deles desenvolvem estraté-
gência e de rendimento escolar que apresen- res. O trabalho das escolas e dos professores segundos, de clara orientação extríllseca, po- gias que os levam a resolver as tiu-efas escola-
tam problemas motivacionais. As relações en- enfrenta tais condicionantes, que só podem ser dem-se diferenciar dois tipos de metas: os alu- res e, desse modo, a evitar seus temores. Ou-
tre essas variáveis não são n01'malmente linea- modificados a partir de projetos que transcen- nos que buscam juízos positivos dos outros e tros, em compensação, tentam c!esvinculaJ--se
res nem unidirecionais. O que parece claro, cm dem o estrito trabalho escolar. aqueles alunos cujo objetivo principal é evitar do trabalho na escola. Para esses alunos, ne-
todo caso, é que a falta de motivação é um Este capítulo desenvolve tais temas em o fracasso. Quando a motivação é orientada nhum esforço na escola suporá uma melhora
fator que influi no baixo rendimento dos alu- três itens. O primeiro aborda as teOlias mais para a aprovação dos outros, o aluno leva em em sua auto-estima pessoal ou na valorização
nos, embora nem todos os alunos com baixo importantes sobre a motivação escolar e pro· conta quase que exclusivamente o resultado que os outros façam deles. Suas metas estão
rendimento tenham pouca motivação para a cura explicar, com base nelas, a falta de moti-
aprendizagem escolar. Da mesma forma, o es- vação de determinados alunos. O segundo item
.çasso rendimento es.c.ola,r aumenta o risco de. dá ênfase aos contextos escolm; s'ocial e cultu- ..1
que a motivação para aprender diminua. ral para ampliar as interpretações anteriores. Desejo de domínio
e experiência
A crença tradicional, sustentada por al- No terceiro e último item, apresenta-se um
de competência
-gumas teorias psicológicas, é que a motivação conjunto de iniciativas;'rantoeducativas'como
é um traço próprio de cada pessoa, que se sociais, que podem contribuir para reduzir o
mantém relativamente constante ao longo do número de alunos que não vêem nenhum sen-
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tempo e cuja modificação é bastante difícil. tido na aprendizagem escolar. Necessidade Desejo de
Dessa perspectiva, o aluno é responsável por de aceitação aprender algo útil
seu pouco interesse pela aprendizagem. As te-
orias mais atuais sobre a motivação'e a apren- DESMOTIVAÇÃO E FALTA DE SENTIDO
dizagem, porém, mostram que os motivos de NA APRENDIZAGEM ESCOLAR
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um aluno devem ser entendidos a pa.rtir de suas Necessidade de
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experiências prévias, como um produto da Metas de aprendizagem Desejo de consegUir
autonomia e controle
interação do aluno com os diferentes contex· e metas de execução
tos em que está presente o sentido da aprendi-
zagem escolar. Por essa razão, como assinala Os modelos mais recentes sobre a moti- 5 4
A1onso Tapia (1996), o aluno está motivado vação para a aprendizagem incorporaram o Necessidade de Necessidade da
conceito de "meta" como elemento fundamen- preservar segurança que
ou desmotivado em função do significado que
a auto-estima confere a aprovação
tem para ele o trabalho escolar. Portanto, pode· tal, sem o qual é difícil entender a atividade
se afirmar que uma escola tem condições de propositiva dos alunos. Tanto Dweck (1985)
FIGURA 7.1 Fonte: Alonso Tapia (1997).
favorecer a motivação ou a desmotivação de como Covington (1992) afirmam que a moti-
W·
A falta de interesse curriculares da educação. O,aluno não perce- passam muito suas possibilidades, o aluno que aos 3 ou 4 anos sem interesse OlJ motivação
be que se conta com ele, mas sim que deve se sente incapaz deixa de interessar-se pelo que p,lra as at.ividades escolares. São essas expe-
Alguns, muitos ou todos os contelldos es- aceitar as condições que fonuu impostas por se propõe na sala de aula. Então, inicia a busca riências que condicionam o itinerário acadê-
colares não suscitam nenhum interesse em outros. Nessa situação, determinados alunos ele nOvas metas que tenham sentido para ele, mico elos alunos e que configuram suas expec-
detenuinados alunos. A~sim, não é simples con- optam por distanciar-se da aprendizagem es- porque conseguem manter de maneira signi- tativas, geus interesses, seu estilo atributi-vo e
seguir que se envolvam nas atividades de apren- colar ou por enfrentá-Ia mediante comporta- flcativ;l, a <luto-estima e a valorização dos ou- as estratégias que consideram mais aelequadas
dizagem. O interesse existe quando o aluno mentos antiautoritúrios. tros. Na maioria das vezes, estes são um grupo para manter sua auto-estima. Portanto. o cli-
sente uma certa satisfação pessoal ao traba- É~preciso reconhecer que, diante da mes- ele colegas. seja ela mesma escola que ele ou ele mi1 escolar e as atitudes, expecti1tivas e juízos
lhar determinados conteúdos ou ao tentar re- ma situaçiio de falta ele autonomia. os alunos fora. Outras vezes, porém, podem ser seus pró- de caela professor, jun tam en te com il m etod 0-
solver alguma tarefa de aprendizagem. Às ve- reagem de maneira divers~i. Alguns, abando- prios pais ou seus professores, quando eles são logia que utiliza, S210, em grande meelida, res-
zes, os interesses dos <llnnos não SilO imedia- nando; outros. ao contr;:í.Jio_envolvendo-se nas capazes de propor e valorizar novas tarefas nas ponsáveis pela crescente falta de motivaçào de
tos, 111<lSmuito relacionados com seus objeti- tarefas de aprendizas.im. Por isso, é preciso, quais o aluno se sente competente e interessado. alguns alunos: C01110siío também. é preciso
vos fUlllros: tais ou quais matérias seriio úteis mais uma vez, analisar a possível falm de au- NessC' pOllto, convém resumir o raciocí- reconhecer de forma explícita, pelo crescente
para determinadas opçôes profissionais ou es- tonomia dos alunos com relação às suas expe- nio que se desenvolveu até o momento. No item aumento da motivaçüo intrínseca de outros.
tudos posteriores. riências prévias de aprendizagem, com seus anterior, descreveram-se diversos fatores rela- As pesquisas sobre as escolas elicazes e
A falta de interesse nem sempre f<lzcom objetivos e interesses e com sua capacidade cionados com a falta de motivação: o tipo de sobre a boa pnitica c]()cente evidenciaram que
que o aluno não encontre sentido em suas para resolver com êxito as tarefas de aprendi- atrinuiçiio que se faz. a expcriênci<l aCUInula- há diferenças enl:re as escolas e entre os pro-
aprendizagens. O que costuma produzir de for- zagem. Dessa forma, é mais fúcil compreender ela sobre o~;resultados da aprendizagem, o ní- fessores." Hil escolas melhores e piores panl
ma mais direta é um enfoque superficial cb as diferentes respostas que os alunos dão di- vel ele controle da situação e a husca da valori- alunos de condiçêies socioculturais similares.
aprendizagem (Entwistle, 1988). No entanto, ante da mesma situação de aprendizagem. zaçüo pessoal. Neste item, afirmou-se a im 1'01'- lsso se traeluz, neste Ci1pít.ulo. na afirmação ele
há alguns que são muito pouco interessados tância do sentido da aprendiz.agem e destao]- que há escolas que motivam mais seus alullos
em detcnuinadas matélias e que encontr<lm ou- ram-se alguns fatores que explicam por que al- do que outras, mesmo que os cont.extos socia.is
tras razôes para sua dedicação a elas: a neces- o sentimento de incompetência guns alunos não encontram nenhum sentido sejam semelhantes. Da mesma maneira, há pro-
sidade de passar, a possibilidade de tCl' de fa- nela: a dificuldade de compreender a tarefa fessores mais capazes do que outros de motivar
zer recuperação na disciplina, a auto-estima Possivelmente, uma das principais razC)es, escolar, a falt.a de interesse, o sentimento de seus alunos. Os fatores que influem nessas dife-
ou, simplesmente, o cumprimento, de forma pelas quais um aluno se elesvincula da apren-' subordinação e a desconfiança em suas capa- renças serão coment.ados em itens posteriores.
adaptada e sem mais questionamen tos, do que dizagem é sua avaliação de que n~io é capaz cidades. Contudo, as reflexões feitas até agora A afirmação da importáncia ela escola e
está estabelecido que se faça. de resolver as tarefas propostas. Conseqüen- deram ênfase demais aos alunos. É como se a dos professores na maior ou na menor motiva-
O interesse é suscitado ao longo dos anos temente, a única coisa que obterá ao final do falta de capacidade, de interesse, de auto-esti- ção dos alunos não eleve fazer com que se es-
escolares e também muda em funçiio da ida- processo é um sentimento de esforço inútil, ma e de controle da situação fossem traços pró, queça de que há outros fatores externos_que
o
de. Por suá véz, possível interesse pelas t,lre- - de fracasso, de desvaloriza-ção e -de ausência prios elo aluno, difíceis ele modificar e alheios tam bém são muito importantes e que, por sua
fas de aprendizagem compete com outros gos- de reconhecimento social. Diante ele tais pers- às relações que o aluno viveu ao longo de sua vez, interagem com o contexto escolar. Niio re-
.tos e interesses que o aluno desenvolve. Por pectivas, nã9 I.l.ádúvida, na visão do aluno, história pessoal. Essa reflexão seria claramen- con hecer isso acarreta duas conseqüências n e-
essa razão, é mais fácil manter o interesse, ou de que a aprendizagell1 eseolar é uma inutili- te reducionista e privaria a reflexão educativa gativas. Por um lado. atribui aos professores a
pelo menos a dedicação, dos alunos do ensino dade para ele. da análise dos contextos em que se proeluzem exclusiva responsabilidade pela motivação c1 os
fundamental, já que têm menos capacidade de O sentimento de competência de uma a desmotivação e a ausência de sentido: a pró- alunos. o que é injusto. Por outro. restringe as
decisão própria e um foco de interesses alter- pessoa está relacionado com o autoconceito, pria escola, a família e a origem social e cultu- inieiativas para motivar os alunos ao âmbito
nativos mais concretos e limitados que no en- ele tal modo que, quando as expectativas de ral elo aluno. escolar, que, mesmo sendo um contexto im-
sino médio. eficácia do aluno são positivas, é al tamente pro- portante, n~io é o único a ser levado em cont<l.
vável que se comprometa sem dificuldade na Esses fatores externos à escola, mas que tam-
solução da tarefa proposta. Se o resultado é CLASSE SOCIAL, CULTURA, bém influem nela e nas atitudes dos alunos em
A falta de autonomia positivo, o aluno verá reforçado seu autocon- ESCOLA, FAMíLIA E ALUNO face de suas aprendizagens, são a família, a
ceito e suas expectativas, o que levará a uma classe social e a cultura em que o aluno se de-
O ensino meramente receptivo, a ausên- melhor disposição para a aprendizagem. Ao Um modelo interativo senvolve.
cia de participação e a inexistência de opções contrário, se suas expectativas são negativas Essa formulação focaliza um modelo inte-
para os alunos geralmente conu-ibuem para que ou se sua atividade anterior acabou em fracas- A progressiva desmotivação do aluno vai rativo entre a classe social, a cul tura, a fam.í-
os adolescentes se desvinculem do processo de so, é mais previsível que o autoconceito se de- sendo gerada mediante suas experiências fa- lia. a escola e o aluno para explicar as diferen-
aprendizagem. A necessidade de afirmação teriore e a auto-estima diminua. miliares e escolares. Nenhum aluno, salvo os ças que os estudantes manifestam em suas IllO-
pessoal que o aluno sente muitas vezes choca- Pressionado pela dinâmica escolar a ter que apresentam atrasos profundos e generali- tivações para aprender. Os meios econômicos
se com as rígidas estruturas organizativas e de demonstrar seu valor em tarefas que ultra- zados do desenvolvimento. inQ'ressa na escola de oue uma f8nlíli~ ciisnnp. l11nt"n ("nm .c:Pl1 rrl-
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pessoal com as tarefas escolares e seu nível de 1988), apontam-se as principais lições tira- ações desse tipo de programas indicam que, seqüentemente, uma prática de ensino mais
conhecimentos está muito distante daquele de das da avaliação do program a. Com relação à apesal' de suas dificuldades, são um meio im- motivadora seja a norma de todos os professo-
seus colegas. Nesses casos, é preciso haver pro- motivação dos alunos, destacam-se quatro portante para conseguir um envolvimento mai- res de uma escola.
gramas específicos que possam adaptar-se às conclusões: or dos alunos nas atividades de aprendizagem Um dos programas clássicos para melho-
suas necessidades educativas especiais. Os programas de diversificação cunicular rar a motivação na saJa de aula baseia-se 110
Esse tipo de programa específico não está 1. Os desenvolvimentos pessoal e so- poderão se tomar uma alternativa positiva para enfoque atributivo. Se o estilo motivacion al
isento de riscos ou de problemas. O principal cial dos alunos não podem estar à os alunos desl11otivados se forem projetados inadaptado procede da atribuição do êxito e
risco está em que acabe convertendo-se no des- margem do currículo, mas devem pensando em sua situação pessoal, se forem do fracasso a c<:lusas externas e incontroláveis,
tino de todos os alunos com problemas no en- fazer parte de todo ensino oferecido. oferecidos antes que esses alunos estejam far- é preciso orientar os <:11 unos para que Sllas atri-
sino médio, e em que os professores sejam ten- 2. Uma atitude de confiança e ele res- tos ela escola, e a escola deles, e incluam expe- buições recaiam em causas internas e contro-
tados pela possibilidade de enviar para eles ponsabilida1e ajuda os alunos a se riências fOl-mativas fora da escola. Dessa pers- láveis, como o esforço e a dedicação à tarefa.
seus aJunos problemáticos antes de fazer mu- conhecerem melhor e a aceitarem a pectiva.. parece necessário que, nas instituições Além disso. é necessário que o aluno aumente
danças profundas em sua própria forma ele responsabilidade pelo que fazem. em que se escolarizam alunos com maior risco a confiança em suas próprias habilidades para
ensinar. Os problemas surgem do próprio pro- 3. É necessário estabelecer relações de abandono, se disponha de dois tipos bási- resolver a tarefa. À margem das críticas teóri-
grama, já que projetá-lo e colocá-Ia em prática tutoriais imaginativas e flexíveis. cos de programas de diversificação: o que é cas e experimentais feitas a tal proposta
tam bé~ não é fácil. É um eno pensar que qual- 4. A participação dos alunos em pro- dirigido especialmente aos alunos com maio- (Huertas, Montero e Alonso Tapia, 1997), é
quer programa especial seja bom para os alu- gramas com unitários ou a expe- res atrasos em suas aprendizagens, mas inte- preciso assinalar mais uma vez que ela enfatiza
nos com problemas de motivação e de apren- riência em locais ele trabalho per- ressados no ensino, e o que se destina para os quase que exclusivamente as mudanças que o
dizagem. Normalmente, tais programas têm mite que os alunos ampliem suas alunos que, à margem de seu nível educacio- aluno deve fazer, e se esquece elas modifica-
possibilidades de ser atrativos: há menos alu- habilidades sociais e sua indepen- nal, não têm nenhuma motivação para a apren- çôes que é preciso realizar nos outros pólos do
nos, as matérias são mais globaJizadas. são mais dência. dizagem escolar e costumam provocar tensões processo de ensino e aprendizagem: o profes-
aplicados e a avaliação costuma adaptar-se aos e conflitos na classe. sor e a taref<:l. É preciso reconhecer. porém, que,
ritmos de aprendizagem de cada um. Eles, po- Os programas de diversificação cunicular às vezes. o aluno faz uma boa atribuição quan-
rém, apresentam dificuldades. Não é fácil mo- são a resposta que a LOGSE oferece na Espanha do sustenta que não é capaz de resolver uma
tivar esses alunos, se o que se pretende é mais para os alunos com atrasos significativos em As mudanças na prática docente determinada tarefa e que não quer fazer um
do que passar o tempo, e é preciso professores suas aprendizagens. Suas características apre- esforço maior, porque niío vai servir para nada.
preparados. Às vezes, são destinados a tais pro- sentam três diferenças importantes com rela- /\s modificações que se fazem na cultura, Além disso, é muito possível que a tarefa pro-
gramas professores sem experiência. o que tor- ção ao programa inglês: na organização ou no currículo de uma escola posta nao tenha nenhum int.eresse p<lra ele.
na mais difícil sua gestão. Além disso, os pró- siío orientadas para facilitar a prática dos pro- Portanto, o problema não está principalmente
prios alunos podem ter consciência de que es- 1. .Os alunos aos quais se destinam d.e- fessores na sala de aula. De pouco servem es- nq mudança de atribuição e de expectativas,
tão em um programa menos valorizado, para vem ter mais de 16 anos. sas modificações se, <:10final, os professOl"es não mas em conseguir que o aluno se interesse peb
o qual só vão os alunos problemáticos, e por 2. Não são totalmente separodos do forem capazes de mudar sua forma de ensinar tarefél e considere que ela é formulada ele tal
isso sua- auto-estima e suas expectativas não resto da classe, visto'que'os ·alunos e de relacionar-se com os alunos para conse- maneira que vale a pena fazer um certo esfor-
são reforçadas. devem cursar algumas áreas cunicu- guir despert<1r sua motivação. ço, já que talvez possa resolvê-Ia.
Um dos programas específicos imple- lares com seus colegas. O trabalho em aula dos professores com Conseguir que os alunos confiram algum
mentados na Inglaterra nos anos 1980 foi o 3. É possível obter o diploma de con- os éllunos desmotivados é muito complicado. sentido às suas aprendizagens e se sintam mo
que se refere aos alunos com mais baixo ren- clusão do ensino médio ao final do Às vezes, quando no aluno já se insta]ouuma tivados pal-a elas supôe, no fundo, ensinar bem
dimento acadêmico ("Lower Attair1ing Pupils program a. rejeição da <:Itividade escolar, é quase impossí- Conseqüentemente, os objetivos, os método:
Programme"), O programa era dirigido aos vel ter êxito, salvo, talvez, em programas mais pedagógicos, os sisteméls de organização e re
alunos de 14 a 16 anos com maiores dificul- A primeira diferença, atualmente objeto específicos, como os de diversificação cunicular lação e os clitérios de avaliação que corres
dades de aprendizagem, visando a uma edu- de polêmica na Espanha, expressa a vontade aos quais <:Icabamos de nos referir no item an- pondem a urna boa prática docente s~ioos lllai
cação mais completa e mais adequada às suas de atrasar ao máximo a diferenciação entre os terior. O trabalho de um professor isolado, que adequados para prevenir e reduzir a desm oti
possibilidades. Não era um programa especí- alunos para evitar a discriminação. A segunda deve enfrentar a atitude negativa de alunos em vação. Não parece necessário descrevê-Ias age
fico para os alunos desmotivados, mas mui- pretende evitar a separação total do programa plena adolescência, com uma longa história de ra de fOlma extensa; contudo, pode ser útil apn
tos deles que, além disso, acumulavam sérios e aproveitar vantajosamente o contato com os fracasso, desinteresse e aborrecimento escolar, sentá-los aqui de forma resumida da perspect
aU-asos em suas aprendizagens, foram incor- demais alunos do curso. A terceira procura exige um esforço desmedido com probabilida- va ela mot.ivação dos alunos.
porados. A National Foundation for Educa- conseguir urna motivação maior dos alunos e des de mudança limitadas. O problema da
tional Research fez uma ampla avaliação do dos professores ao se reconhecer o valor aca- desmotivélção dos alunos deve ser abord<:ldo em 1. Ensinar a pensar. - Os alunos deve:
programa, publicada posteriormente em uma dêmico do programa e evitar, desse modo, o todas as aulas e em todos os períodos, de tal entender o significado das atividad
sp.rif' de informes. No nrimeiro deles (Weston. risco de sua desvalorização. As ptimeiras avali- fOlma que a prevenção da desmotivação e. con- escolares e tentar tirar partido dei
:~;~;::
144 COll, MARCHESI, PAlACIOS & COlS. DESENVOLVIMENTO PSICOlÓGICO E EDUCAÇÃO. V. 3 145
tendo em vista seus interesses, sua fiança em si mesmo para abordar a ciais requer iniciativas que abordem de forma algo e que acreditem que isso seja
adaptação social e sua auto-estima. aprendizagem escolar. coordenada todos esses níveis. Os programas possível.
2. Facilitar-que o aluno compreenda o quê 9. Cuidar da auto-estima dos alunos. _ de intervençiio de caréÍter mais global e sistê- 7. Vale a pena o esforço porque se com-
e o ram quê da tarefa, assim como os Os alunos têm de perceber que seu mico, que se mantêm ao longo do tempo e que prova a evolução dos alunos e per-
objetivos e os critérios de avaliação. - compromisso com as tarefas escola. apóiam o fortalecimento do tecido social e cebe-se um apoio permanente.
É importante que o aluno saiba o que res vai conttibuir para reforçar sua associativo ele lima zona para resolver uma 8. Criaram-se as condições para que os
se espera dele em face de uma tarefa valorização pessoal. grande parcela de seus problemas, são, sem profess ores cles ej em con tin u ar tra,
concreta e que critélios se levam em dúvida, uma das esu'arégias mais fi:utíferas para balhando com esses alunos.
conta para avaliá-Ia. a mudança social. Dessa forma, com as conse- 9. A escoln é uma boa escola.
3. Favo/-ecer a pm-ticipação e a autono- A intervenção no contexto social qüências positivas que tais programas geram
mia dos alunos. - Quando o aluno no âmbito da prevenção, haverá nas escolas É evidente que, quando a comunidade
sente que pode participar e que n A resposta educlacional para evita!" o fra- menoS alunos em situação de risco de desmoti- educacional de uma escola compartilha tais
vida escolar não é algo totalmente casso dos alunos em situação de risco deve ser vação e de abandono. sentimentos, os problemas estão sendo supe-
imposto, é possível que encontre um reforçada com iniciativas que conuibuam para rados. A situação mais dramática se apresenta
pouco mais de sentido em determi- superar a desvantagem social em que vivem. quando a maioria deles estéÍ ausente: não há
nadas tarefas escolares. Às vezes, atribui-se à escola e aos professores, A título de conclusão programas sociais nem de apoio, não há parti-
4. Propor tarefas que sejam interessan- independentemente de outras mudanças so- cipação da comunidade educativa, os profes-
tes pam o aluno. - Esse é um fato ciais, a capacidade de acertar na resposta edu- A resposta às necessidades educacionais sores não estão motivados para suscitar o inte-
fundamental. O aluno desmotivado cacional a qualquer problema de seus alunos. dos alunos com pouca motivação para apren- resse dos alunos e existe na escola uma atm os-
não mudará se tiver de continuar É certo que, em alguns casos, isso pode ser pos- der passa por um conjunto de iniciativas am- fera de resignação e de certo fatalismo diante
fazendo a mesma coisa. É necessá- sível e que, sem dúvida, a escola tem amplas plas e globais que afetam o ambiente social da porcentagem de alunos que não querem es-
lia pensar em que atividades podem possibilidades de intervenção. É necessário, dos alunos, a formação de suas famílias, a po- tudar. Nesses casos, a tarefa daqueles que de-
despel1:ar seu interesse e corno se- porém, reconhecer que só mediante propostas lítica educativa, o funcionamento das esco- sejam iniciar uma mudança, seja a equipe de
rão organizadas. mais amplas e mais globais podem-se abordar las, o apoio que os professores recebem e seu direção, sejam alguns professores ou o setor
5. Ajustar a tarefa à possibilidade do os problemas desses alunos com maiores ga- trabalho na sala de aula. De algum modo, tais de Olientação, é gigantesca. Sua pergunta ini-
aluno. - Pouco se avança se o aluno rantias de êxito. iniciativas podem ser resumidas nas seguin- cial é: "por onde começar?".
não é capaz de resolver as novas ta- A intervenção no âmbito social deve le- tes crenças e valores que, quando fazem par- Não é fácil responder a essa pergunta. Niío
refas que lhe são apresentadas. É var em conta três níveis: o nível instituciona!, te da cultura de uma escola, revelam a ade- existe uma causa principal da desmotivação
preciso adaptá-Ias às suas capacida- o nível comunitál"io e o nível familiar. O pri· quação das políticas que estão sendo imple- escolar cuja modificação assegure um compor-
des de tal forma que a experiência meiro refere-se aos fatores ligados à organiza· mentadas: tamento distinto do.aluno, mas há muitas in-
de êxito aument~ sua auto-éstima e ção social e sua';; relações com os' cidadãos: fluências, a maioria delas recíprocas. O com-
seu interesse pelo trabalho escolar. políticas de emprego, de moradia, de saúde, 1. Existem programas para melhorar as promisso da família com 11 educaç~io de seu fi-
6. Favorecer a coopem.ção entre os co- de proteção social e de educação. O segundo condições ele vida, de trabalho e de lho influi no esforço-queeste realiza na escob.
legas. - As atividades cooperativas aponta para as relações qlle as pessoas mano educação das famílias que se encon- Tam bém a organização, o funcionamento e a
permitem uma interação social têm no seio de sua família e com os grupos de trmll em pior condição social. cultura da escola influem no trabalho que os
maior e a possibilidade de que ou- referência mais próximos: amigos e vizinhos. 2. Há um apoio claro dos gestores da professores realizam em sua classe. Uma boa
tros colegas o ajudem a entender A estabilidade da residência afeta de modo sigo educação às escolas que recebem alu· prática docente na sala de aula acaha tendo
melhor a tarefa, a resolvê-Ia ou, pelo nificativo o grau de apoio social que uma fa- nos em situação ele risco. uma clm'a repercussão no interesse de seus alu-
menos, a despertar algum interesse mília recebe dos grupos mais próximos. O ter- 3. Ao avaliar o funcionamento da es- nos e nas metas que se propõem. E a boa prá·
em relação a ela. ceiro refere-se principalmente à formação dos cola, são levadas em conta as carac- tica docente depende da competência do pro-
7. Propiciar experiências de êxito esco- pais, para que colaborem mais ativamente na terísticas dos alunos e as metas es- fessor, de sua própria motivação, das relações
10/: - Quando o aluno consegue re- educação de seus filhos. Todos eles estão pro- pecíficas que se discute com eles. que estabelece com os alunos e de suas condi-
solver bem uma tarefa e recebe o fundamente relacionados: as melhores condi· 4. É necessário que os pais participem ções de trabalho. Mais uma vez, surge a per-
reconhecimento social pelo bom tra- ções de moradia ou de emprego ou a maior do processo educativo, porque sua gunta: "por onde começar?". O primeiro passo
balho realizado, está se abrindo ca- qualificação dos pais favorece a estabilidade e contribuição é emiquecedora. é tomar consciência de que existe um proble-
minho para sua maior dedicação. o maior grau de apoio social, gerando uma ati· 5. É positivo fomentar uma participa- ma e de que os professores podem fazer algo
8. Manifestar expectativas positivas em tude mais positiva e comprometida com a edu- ção maior dos alunos na vida da es- para minimizá-lo. O segundo passo é analisar
relação ao trabalho do aluno. - Se o cação dos filhos. cola e nas decisões tomadas. mais detalhadamente a situação e, ao mesmo
aluno percebe que se confia nele, é Essa estreita relação entre todos os fato- 6. É preciso fazer com que os alunos tempo, avaliar as condições em que se encon-
possível que desenvolva maior con- res envolvidos na melhoria das condições so- estejam interessados em aprender tr~ ~ (.H~rr'll:1·,..r""tovrn ;...,1 ....•1 •••..•.•..........••.....•. :..~.
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acesso, funcionamento da escola, atitudes dos ciso primeiramente criar as condições para q
professores e suas concepções sobre o ensino, os professores percebam que são capazes' de-,
a aprendizagem, a avaliação, assim como aque- abordar o problema e que se est{\ fazendo um'
las relativas às possibilidades de seus alunos. esforço para ajudá-Ias: reduzir o número de'
A partir dessa análise, pode-se constatar que o alunos na sala de aula, organizar desdobramen_.
principal problema está na família, no funci- tos em determinadas áreas ou criar novos pro-"
onamento da escola, na ausência de progra- gramas para os alunos mais desmotivados,
mas específicos para alunos totalmente que faz com que as turmas regulares tenham
desmotivados, na falta de interesse dos alunos alunos um pouco menos heterogêneos. Se, ao
pelo ensino, nas dificuldades dos professores mesmo tempo. são postas em prática iniciati.
para criar interesse ou em todos esses fatores, vas de contato C0111 aS famílias para envolvê-
que atuaram em conjunto ao longo dos anos. Ias mais na educaç10 de seus filhos, pode-se
Chegando a esse ponto, o passo seguinte pensar que a mudança está começando e que,
é decidir a estratégia mais adequada em fun- passados alguns anos, haverá na escola uma
ção das condições da escola. A mais completa
é trabalhar em todos os âmbitos: família, esco-
la e sala de aula. Isso, porém, é algo ambicioso
nova cultura para reduzir a desmotivação e o
abandono dos alunos. TERCEIRA PARTE
demais na maioria dos casos, por jsso é preci-
so fazer uma escolha. A estratégia mais gera- NOTAS Transtornos do Desenvolvimento e
dora de mudança é colaborar com os professo-
res para que se sintam mais competentes e mais 1. O livJ'Ode Marchesi e Martín (1998) analisa o Necessidades Educativas Especiais
motivados para abordar o problema em sua tema. mais detalhada mente no c~pítulo dedi·
tU1111a.Pode-se afirmar de forma contundente cado à avaliação dos alunos. Uma reflexão so-
que motivar os professores para que procurem bre esse tema encontra-se também no Capítu-
lo 16 deste volume.
motivar seus alunos é uma das portas princi-
2. Pode-se encontrar um desenvolvimento destas
pais da mudança. Dessa forma, pode-se avan- idéias no liv1'Ode Marchesi e Martín (1998).
çar posteriormente com mais facilidade na in- 3. Uma análise mais completa da cultura das es-
ter"Venção familiar e no funcionamento da es- colas pode ser encontrada no Capítulo 5 do
cola. Às vezes, os professores não respondem liv1'Ode Marchesi e Martín (1998).
positivamente a essa estratégia. Ass~m, é pre-